INTRODUÇÃOFoi principalmente a partir da década de sessenta, que autores estrangeiros passaram a preocupar-se com traumas acústicos causadas por ruídos ou sons intensos produzidos por atividades não profissionais ou de lazer. Incluem-se nas atividades de lazer, a prática de tiro, a mecânica amadorística de motores, o uso de motocicletas e a freqüência a casas de danças conhecidas entre nós como "discotecas", assim como o uso de rádio-gravadores portáteis com fones de ouvidos conhecidos como "walkman".
Com a evolução da eletrônica, a potência dos equipamentos de som e também dos instrumentos musicais aumentou consideravelmente. A intensidade das "músicas" nos estabelecimentos musicais chega a ser ensurdecedora, não permitindo, muitas vezes, a conversação entre as pessoas.
Os equipamentos com fones de ouvidos, conhecidos como "walkman", também podem alcançar potências muito altas em seus micro alto-falantes e seus usuários comumente elevam a intensidade para encobrir sons externos como conversação, ruídos de trânsito ou outros ruídos ambientais. Verificou-se que, aqueles que utilizam estes equipamentos, apreciam nível de intensidade sonora que geralmente está entre 70 e 100 dB (A)(KURAS,1974).
No que se refere a este tema, o agravante é que os indivíduos que estão expostos a estas intensidades sonoras são, na maioria, jovens que, mesmo antes de iniciarem as fases produtivas de suas vidas, já podem apresentar lesão de um órgão de comunicação. Há quem chame esta deficiência de "surdez de discoteca". Tudo isto justifica o estudo e o controle destas atividades.
Abre-se a discussão: estariam nossos jovens correndo riscos de lesão auditiva ao freqüentarem discotecas ou usarem aparelhos de amplificação sonora com fones de ouvidos? Os limiares auditivos da juventude estariam se modificando em face à crescente "poluição sonora" a que estes sujeitos estão expostos desde a infância?
RUPP, R.R. (1969) faz interessante introdução em artigo publicado em 1969, cujo título já é curioso: "Efeitos da música barulhenta em ouvidos humanos. Mas, mãe, rock-and-roll tem que ser barulhento!". Baseado neste artigo, alerta os pais para o perigo da música em alta intensidade. Cita o caso de um pai que, vendo (e ouvindo) que sua filha escutava um rádio portátil com fones em alta intensidade, perguntou-lhe: "mas filha, isto não dói?", ao que ela respondeu alegremente: "claro que sim!". Esta sensação pode servir de experiência agradável para o jovem, mas pode ser indício de potencial lesão auditiva, conclui Rupp.
KURAS, J. E. (1974) diz que onde mais se ouve música "pop" é na própria casa. Estudou 25 colegiais entre 18 e 25 anos que tinham o hábito de usar fones 4 ou mais vezes por semana, por pelo menos 30 minutos por dia, e procurou identificar qual a intensidade que mais agrada ao jovem. Descobriu que 75% deles preferem intensidades entre 70 e 100 dB, apesar de 80% afirmarem que quando submetidos a 110 dB, nos fones, sentiam-se desconfortáveis. O autor deixa as questões: os ouvintes estariam aplicando critérios diferentes em termos de conforto, dependendo do tipo de música, lugar e tempo de apresentação? estariam eles expostos à lesão auditiva?
AXELSSON, A. (1981) estudou 538 jovens e suas atividades de recreação, entre elas: prática de tiro, motocicletas, aeromodelismo, uso de variados tipos de máquinas e freqüência em discotecas, uso de "walkman" e seus hábitos de ouvir música "pop" em alta intensidade. Constatou que quase todos ouvem música através de altofalantes e 40% ouvem regularmente através de fones. Um terço freqüenta "discotecas" pelo menos a cada duas semanas. Encontrou vários indivíduos com lesão auditiva e 15% tinham mais de 20 dB NA em alguma freqüência. De 83 sujeitos que apresentavam alguma perda, 81 tinham-nas em tons agudos. O estudo confirma a alta incidência de sujeitos que têm o hábito de ouvir música "pop" em alta intensidade, freqüentemente por meio de fones. Contudo, também não encontrou relação entre esta atividade e perda auditiva, e considera como principais fatores os antecedentes familiares e a susceptibilidade individual nas conclusões apresentadas. Além disto, acha importante o fator intermitência dos sons como menos lesivo à audição.
KATZ, A. E., em 1982, numa carta ao editor do New England Journal of Medicine dá sua opinião baseada em 2 aparelhos de rádio portáteis analisados através de medidor de intensidades sonoras e de ouvido artificial de Bruell e Kjaer. Verificou que os aparelhos quando usados em volume 4 chegavam a emitir intensidade que ia de 93 a 100 dB (A) e, no volume 8, acima de 115 dB (A) o que, segundo o autor, muito excede os limites de segurança sugeridos pela OSHA (Occupatinal Safety and Health Act) de 1970. Conclui que estes aparelhos são potencialmente danosos à audição.
RICE, C. G., BRESLION e ROPER (1987) analisaram em dois estudos o nível de intensidade sonora que os usuários de "walkman" costumam ouvir. Num primeiro estudo, apresentaram a um grupo um aparelho balanceado e verificaram que os níveis preferenciais em média eram de
80.7 dB (A) e também verificaram que, quando expostos a ruído de fundo, simulando ruído de trânsito de automóveis, o aumento das intensidades passou em média para 85.1 dB (A) o que os autores consideram pouco significativo. O outro estudo foi realizado nas ruas da cidade em indivíduos escolhidos ao acaso. Não encontraram neste caso diferenças significativas dos hábitos em relação a intensidades aplicadas aos aparelhos. Consideram que 25% dos ouvintes usavam intensidades de 90 dB (A) e 5% acima de 100 dB (A). Concluíram que, além destes dados, o tempo de exposição é também importante fator de risco, mas crê que 5% dos indivíduos que se expõem a intensidades acima de 100 dB (A) estão muito mais sujeitos a lesão.
Em outro trabalho, RICE, ROSSI e OLINA (1987) procuram relacionar o hábito do uso de "walkman" com outros dados como idade, freqüência do uso de aparelhos, padrão de uso de aparelhos e sexo, tipo de música, opinião sobre sua própria audição c opinião sobre o uso dos aparelhos. Os dados deste estudo foram levantados na cidade de Turin e comparados com os dados de outros estudos similares em Londres, Nottingham e Southamptom. Concluíram que os hábitos dos ouvintes parecem ser os mesmos, sendo que não há diferença entre o número de homens e mulheres que usam o equipamento, mas os homens costumam usar os aparelhos, em média, uma hora por semana a mais que as mulheres. A maioria demonstrou consciência do potencial lesivo do ruído. Vinte por cento dos usuários reclamam de zumbidos ou abafamento da audição após o uso, o que, segundo o autor, indica potencial de lesão colear. Cita estudos de Fearn e Harrison que observaram aumento na porcentagem de ouvintes com a idade: 9 a 11 anos - 1%, 13 a 16 anos - 12% e 18 a 25 anos -35%. Todos os estudo apontados neste trabalho mostram que aproximadamente 5% dos indivíduos usam intensidades acima de 90 dB.
COSTA, O. A., em 1993 (apud JORGE JR, 1994), e trabalho a respeito do uso de rádio-gravadores portáteis cita o Medical Research Council que em 1986 verificou que
os jovens costumam usar estes equipamentos em média 1,1 horas por semana; cita também Axelsson, em 1988, que confirmou estes dados, encontrando entre jovens média de 1 hora por semana; refere-se a outros autores (Bradley 1987, Rice - 1981, West - 1990), que indicam o uso deste equipamentos de 400 a 600 horas por ano por indivíduo. Neste artigo, estudaram 21 sujeitos normais entre 13 e 33 anos, que foram submetidos a audiometria pré e pós exposição a ruídos e música, para medição do TTS. Além disto, através de um minimicrofone colocado junto à membrana timpânica, mediram o nível de intensidade sonora usado costumeiramente por este grupo de jovens. Observaram que em média os níveis eram de 97,1 dB (A), sendo que atingiam picos de 113,2 dB (A). Concluem que apesar dos altos níveis de intensidade, as vezes, atingiam até o desconforto, resultaram TTS moderados o que, segundo o autor, parecem não causar danos à audição. Opinam que não sabem se estas atividades causam dano subclínico ou influenciam no desenvolvimento de futura perda auditiva induzida por ruído ou mesmo sobre a presbiacusia.
CASUÍSTICA E MÉTODOSNovecentos e cincoenta e sete alunos, de ambos os sexos e na faixa etária de 14 a 26 anos, de uma escola de classes sociais média e alta da cidade de São Paulo, S.P.,Brasil, foram submetidos a exame físico pela otoscopia, a um questionário sobre seus antecedentes pessoais, familiares e seus hábitos em relação a ruídos ambientais e a exames audiométricos para obtenção dos limiares auditivos nas freqüências de 500 Hz, 1 000 Hz, 2 000 Hz, 3 000 Hz, 4 000 Hz, 6 000 Hz e
8 000 Hz.
Utilizamos uma sala de aula onde foi montada uma cabine acústica com dimensões de 1,00 metro por 2,00 metros, com características de atenuação acústica de 25 dB (125 Hz) a 35 dB (8000 Hz) (de acordo com MANUAL DE INTRUÇOES DO AUDIÔMETRO DICTON). Os exames foram realizados com um audiômetro DICTON, modelo CAT 745, com as seguintes características:
- calibragem padrão ISO R 389 (1964)(13, 14, 15, 17, 30, 72)
- faixa de freqüência de 125 Hz a 8 000 Hz (condução aérea);
- faixa de freqüência de 250 Hz a 4 000 Hz (condução óssea);
- faixa de intensidade : - 10 dB a 110 dB em passos de 5 em 5 dB;
- equipado com fones B 1410 (TELEX COMUNICATIONS) similar ao TDH 39 (TELEPHONICS );
- pera para sinalização do examinando.
Baseados nos procedimentos de "screening" sugeridos por GLORIG, A. (1958), que indica o nível de 15 dB NA (nível de audição) como referência para o procedimento, utilizamos inicialmente esta intensidade, em cada freqüência estudada. Assim, ao sujeito era inicialmente apresentado um tom puro de 15 dB e uma vez que tenha sido ouvido passava-se para a freqüência seguinte. No caso de não ser ouvida o tom nesta intensidade buscava-se o seu limiar, aumentando de 5 em 5 dB a intensidade na dada freqüência.
Adotamos como limite da normalidade a marca de 25 dB NA , de acordo com as recomendações ISO-1964 onde estão estabelecidos os níveis de referência (Figura 4). Nesta escala, os limites normais estão entre - 10 dB e 26 dB NA, sendo que entre 27 e 40 dB são níveis considerados como perda leve (DAVIS,1964, 1965, 1966,1970; KATZ,1975).
Foram considerados comprometidos:
a) freqüências com limiar tonal igual ou maior que 30 dB;
b) ouvidos com uma ou mais freqüências comprometidas;
c) indivíduos com um ou ambos ouvidos comprometidos.
Para este estudo foram eliminadas as freqüências de 500 Hz, 1 000 Hz e 2 000 Hz por conhecermos por experiência e pela literatura que a incidência de lesões neurossensoriais em conseqüência de ruídos ocorrem inicialmente nas freqüências agudas, notadamente acima de
3 000 Hz (JERGER,1970; LIPSCOMB,1969; NODAR,1986; RUPP,1969; SMITLEY, 1971).
Portanto, as freqüências consideradas foram as de 3 000 Hz, 4 000 Hz, 6 000 Hz e 8 000 Hz.
Sobre o Questionário
Os sujeitos responderam a um questionário com 13 itens (Quadro 1) para avaliar antecedentes otológicos pessoais e familiares, hábitos e costumes que possam ser potencialmente lesivos aos ouvidos e principalmente em relação à música eletronicamente amplificada.
As questões 1,2,3 e 8 tratam dos antecedentes pessoais; a questão 4 trata dos antecedentes familiares; as questões 9, 10 e 11 de hábitos de lazer potencialmentes lesivos à audição; as questões 12 e 13 sobre opiniões pessoais a respeito da própria audição; as questões 5, 6 e 7 sobre hábito do uso de "walkman" e freqüência a "discotecas", tema central de nosso estudo.
Música Amplificada Individual (MAI)
Entendemos por exposição à música amplificada individual (MAI) aquela em que o sujeito se utiliza de aparelhos do tipo radio-gravadores portáteis ou não, dotados de fones individuais de ouvidos. São popularmente conhecidos como "walkman". Estes aparelhos são de grande potência, emitindo sons de grande intensidade, sendo que a fonte sonora está junto ao ouvido.
A exposição à música amplificada ambiental (MAA) é aquela que ocorre em ambientes onde há música emitida por alto falantes de aparelhos de grande potência sonora. São os salões de bailes ou as "discotecas". Também aqui são incluídos os grandes shows de "rock-and-roll" ao ar livre, onde a potência dos equipamentos é muito elevada.(JORGE JR.J J )
Escolha e Divisão da Amostra
Dos 957 sujeitos, 49 (5,12%) foram préviamente eliminados por apresentarem deficiência auditiva congênita, rolha de cerúmen, por trabalhar em ambiente ruidoso e um com deficiência auditiva grave, sem diagnóstico; a seguir, eliminamos os sujeitos que responderam SIM à questão 1 (infecção de longa duração nos ouvidos) e que apresentavam alguma perda auditiva. Foram também eliminados os sujeitos que responderam afirmativamente a questão 4 (nasceu com problemas nos ouvidos?) e 9 (costuma praticar tiro?).
Nenhum dos sujeitos serviu às Forças Armadas. Restaram assim 908 sujeitos (557 do sexo masculino - 61,34% e 351 do sexo feminino - 38,66%) que foram alvo do estudo em questão.
Consideramos ainda para o estudo duas faixas etárias, a fim de analisarmos o comportamento do grupo em função da idade: 14 a 17 anos (523 indivíduos ou 57,60%) chamados menores, e 18 a 26 anos (385 indivíduos ou 42,40%), chamados maiores.
Subdividimos a amostra em função dos hábitos de exposição à música eletronicamente amplificada,
considerando sujeitos que:
- não se expõem à música amplificada ambiental (MAA) ou a música amplificada individual (MAI), chamados grupo A;
- expõem-se exclusivamente à MAI, chamados grupo B;
- expõem-se à MAA menos que uma vez por semana, chamados grupo C;
- expõem-se à MAA uma vez por semana, chamados grupo D;
- expõem-se à MAA mais que uma vez por semana, chamados grupo E.
Neste estudo, consideraremos apenas os indivíduos do grupo B. Os demais grupos, apesar de aparecerem nos gráficos e tabelas, serão alvo de estudo a ser publicado posteriormente.
Em relação a exposição à MAI, cabe explicar que 588 sujeitos, ou 64,76% da amostra, declararam usar equipamentos de som com fones de ouvido. O grupo B foi formado por elementos que declararam expor-se exclusivamente à MAI.
A distribuição dos 908 sujeitos, em função dos hábitos em relação a música eletronicamente amplificada individual, revelados nas respostas das questões 5 e 7, do sexo e da faixa etária, está representada na Tabela 1. Considerando a divisão da amostra nos diversos grupos estudados, encontramos:
Grupo A - 123 sujeitos (68 masculinos -M- 55 femininos -F-) que não estão expostos à MAA ou MAI e que passará a ser o grupo controle;
Grupo B - 170 sujeitos (104 M e 66 F) expostos unicamente à MAI;
Grupo C - 358 sujeitos (206 M e 152 F) que se expõem à MAA menos que uma vez por semana;
Grupo D - 194 sujeitos (139 M e 55 F) que se expõem à MAA uma vez por semana;
Grupo E - 63 sujeitos (40 M e 23 F) que se expõem à MAA mais que 1 vez por semana;
O Gráfico da Figura 1 mostra a distribuição percentual destes grupos.
ANALISE ESTATISTICAOs dados obtidos foram analisados estatisticamente através do teste de x2 (qui quadrado) de Pearson, aplicado aos testes de hipóteses (Ho = hipótese nula e HI = hipótese alternativa), observando-se nível de significância de 5% (alfa = 0,05). Também aplicamos a correção de continuidade de Yates, quando cabível (x2 corrigido). Nos casos em que não foi possível usar esta prova, por limitações inerentes a ela, utilizamos a prova exata de Fisher que se constitui em cálculo mais preciso, principalmente quando o número de ocorrências é pequeno( BERNÓ, 1980; GUEDES, 1988; SIEGEL, 1975).
Comportamento da População em Relação aos Hábitos de Exposição a Música Eletronicamente Amplificada em Função das Faixas Etárias
As Tabelas 2 e 3 mostram a distribuição dos grupos em função das duas faixas etárias estudadas. Podemos observar que estas comportam-se, percentualmente, aproximadamente da mesma maneira em relação à divisão dos grupos, isto é, aos hábitos da população estudada, não se modificam da faixa mais jovem (14 a 17 anos ) para a faixa dos maiores de idade (18 a 26 anos), o que nos levou a pensar que os indivíduos mais velhos estão expostos mais tempo à música eletronicamente amplificada, pois mantêm os mesmos hábitos.
Em relação aos indivíduos que se expõem exclusivamente à MAI (grupo B), encontramos 19,5% na faixa de 14 a 17 anos e 17,66 % na faixa de 18 a 26 anos. Estatisticamente esta diferença não é significante (x2=0,47; 1 g.l.; a=0,05).
Comportamento da População em Relação à Exposição à Música Eletronicamente Amplificada Individual em Função do Sexo
O Gráfico da Figura 2 mostra a dístribuição da amostra em função do sexo, em cada grupo estudado.
Observando o grupo controle (Tabela 4) verificamos em primeiro lugar que não há diferença estatisticamente significativa entre os sexos, a nível de 5% (xz = 1,37; 1 g.l.; a = 0,05).
Comparando o grupo exposto à MAI com o grupo controle, observamos que não há diferença estatisticamente significativa a nível de 5% em relação ao número de sujeitos masculinos e femininos (x2 = 1,00; 1 g.l.; a = 0,05).
Figura 1 - Gráfico da distribuição da amostra em relação aos hábitos de exposição à música amplificada.
A - grupo controle (13,55%)
B - expostos à música amplificada individual (18,72%)
C - expostos à musica amplificada ambiental menos que uma vez por semana (21,37%)
D - expostos à música amplificada ambiental mais que uma vez por semana (6,94%)
Análise da Distribuição dos Sujeitos Comprometidos Dentro de Cada Grupo
Analisamos em cada um dos cinco grupos as distribuições dos sujeitos comprometidos nas duas faixas etárias escolhidas (14 a 17 anos e 18 a 26 anos) e também entre os sexos.
Grupo Controle (Grupo A) (123 sujeitos):
Os sujeitos deste grupo foram distribuídos, conforme observamos na Tabela 5, considerando o número de sujeitos comprometidos e não comprometidos que assim se dividem:
a) 63 (34 M e 29 F) estão na faixa de 14 a 17 anos e 2 destes são considerados comprometidos (3,17%);
b) 60 (34 M e 26 F) estão na faixa de 18 a 26 anos e 7 destes são considerados comprometidos (11,67%).
No total de 123 sujeitos, 9 estão comprometidos (7,31%).
A análise estatística demonstrou que, quando comparadas as duas faixas, não há diferença significante em relação ao número de sujeitos com comprometimento dos limiares auditivos (x2.".8.do= 2,14; 1 g.l; a = 0,05).
O mesmo resultado - não significante - ocorreu na comparação dos limiares comprometidos entre os sexos nas duas faixas etárias (xzcmr. .dó 1,61; lg,l.; a = 0,05).
Análise da Distribuição dos Sujeitos Comprometidos Dentro de Cada Grupo
Analisamos em cada um dos cinco grupos as distribuições dos sujeitos comprometidos nas duas faixas etárias escolhidas (14 a 17 anos e 18 a 26 anos) e também entre os sexos.
Grupo Exposto à Música Amplificada Individual (Grupo B) (170 sujeitos):
O número de sujeitos comprometidos e não comprometidos que compõe o grupo B está demonstrado na Tabela 6 e assim se divide:
a) 102 (58 M e 44 F) estão na faixa de 14 a 17 anos e 8 destes estão comprometidos (7,84%);
b) 68 (46 M e 22 F) estão na faixa de 18 a 26 anos e 8 estão comprometidos (11,76%).
No total de 170 sujeitos, 16 estão comprometidos (9,41%). A exemplo do grupo controle, também não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes quando comparadas as faixas etárias em relação ao número de sujeitos com comprometimento dos limiares auditivos (xz - 0,72; 1 g.l.; a - 0,05). Quanto aos sexos, em relação ao número de sujeitos com comprometimento de limiares auditivos, também não foram encontradas diferenças significantes (x2 - 0,17; 1 g.l.; a = 0,05).
Grupo Exposto à MAI em Relação ao Grupo Controle
Dos 170 sujeitos do grupo exposto à MAI (grupo B), 16 (9,41%)apresentam limiares auditivos comprometidos (Tabela 6). A Tabela 5 mostra o grupo controle (A) em que do total de 123 sujeitos, 9 (7,31%) têm limiares comprometidos. A comparação entre estes totais não apresenta diferença estatística significativa (x2 = 0,40; 1 g.l.; a = 0,05) - Figura 3.
O mesmo ocorre quando comparamos os grupos dentro de cada faixa etária conforme mostra a Tabela 7.
DISCUSSÃOProcuramos neste trabalho a avaliação estatística dos hábitos e da audição de nossos jovens que se expõem a estes equipamentos sonoros. Estaria havendo nesta população mudança dos limiares auditivos em função de sua exposição freqüente aos sons intensos, envolvendo a música amplificada eletrônica?
Os diversos autores discutem se realmente os níveis de intensidade sonora produzidos por estas fontes seriam lesivos ao aparelho auditivo. Os que pesquisaram as pressões sonoras dos equipamentos mostraram níveis altíssimos que ultrapassavam os limites de riscos já conhecidos.
Em relação à exposição à música amplificada individual, vimos na literatura e sabemos por observação, que as pessoas gostam de usá-los em níveis de intensidade muito altos. Assim se exprimiu uma filha a seu pai, segundo Rupp, R.R a respeito da intensidade em que ouvia seu Aparelho: "doi mas é bom!". De acordo com Kuras, 75% deles gostam de intensidades entre 70 e 100 dB e Rice verificou que 25% dos jovens utilizavam o equipamento acima dos 90 dB e 5% acima dos 100 dB. Portanto, sugerem: é na própria casa que os sujeitos correm maior risco de lesão auditiva com o uso destes equipamentos.
Figura 2. Gráfico da distribuição por sexo, em porcentagem, dos sujeitos da amostra em função dos grupos estudados.
Observamos, durante a fase de obtenção dos dados, que vários alunos adentravam o recinto do exame portando seu equipamento de áudio em volume tão elevado que se podia ouvira grande distância a música que saía pelos fones. Notamos, também, em entrevista individual com alguns dos indivíduos, que a maioria não se importava com o problema e que também desconhecia qualquer risco para sua audição.
Em relação à exposição à música amplificada eletronicamente através de aparelhos portáteis ou não com uso de fones de ouvidos, observamos que dos 908 sujeitos estudados, 588 (64,76%) declararam usar estes equipamentos, sendo que 170 (18,72%) declararam expor-se exclusiva e regularmente a este tipo de fonte sonora. Axelsson, A. , na Suécia, observou que 40% de um grupo de 538 jovens que estudou ouviam regularmente música desta maneira. Também Rice, C.G., analisando a audição de 500 estudantes de Turim, Itália, observou que 32% tinham o mesmo costume, 20 % declararam não usar estes equipamentos e o restante não respondeu ao uestionário. Estes dados comprovam a tendência universal a juventude de aderir a este hábito
Analisando o comportamento deste grupo de 170 elementos em função das faixas etárias, observamos, em osso estudo, que este hábito está presente percentual e statisticamente, na mesma proporção em ambas as faixas (de 14 a 17 anos, 19,5% e de 18 a 26 anos, 17,7%). Isto é, o hábito parece não mudar da faixa mais jovem para a mais velha. Estes números não concordam com estudos de Fearn e Harrison em 1984 (apud Rice, C.G.), onde observaram que há tendência ao aumento da porcentagem de ouvintes, proporcional ao aumento da faixa etária: de 9 a 11 anos, 1%; de 13 a 16 anos, 12%; de 18 a 25 anos, 35%.
Em relação aos sexos e ao hábito de expor-se à MAI, não encontramos diferença estatisticamente significante entre eles apesar de observarmos (Tabela 6) tendência a ser maior no sexo masculino, o que concorda com os achados de Rice, C. G. em 1987 no estudo realizado em Turin.
Nos artigos revisados, não fica bem estabelecida a relação de horas/semana a que os sujeitos estão expostos a estes equipamentos. Além disto, em relação à música amplificada individual, o indivíduo tem controle da duração da exposição à fonte sonora e do nível de intensidade sonora. Estes indivíduos, além de não utilizarem estes equipamentos por horas seguidas, exercem um autocontrole sobre a intensidade do som, diminuindo-a ao se sentirem incomodados e pararece-nos que talvez seja este o fator que os protege da exposição prolongada e contínua que poderia levar à lesão auditiva. Assim, é difícil especificar danos produzidos exclusivamente por estas fontes e estimar satisfatóriam ente os riscos reais da exposição a elas.
CONCLUSÕES1- A maioria dos jovens deste estudo (64,76%) têm o hábito de expor-se à música amplificada individual (MAI), sendo que 18,72% dêles o fazem exclusivamente.
2 - Não foram encontradas diferenças, neste hábito, em relação ao sexo e faixa etária;
3- Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes em relação ao número de jovens com limiares auditivos comprometidos, nas freqüências estudadas (3 000 a 8 000 Hz), entre os sujeitos que se expõem exclusivamente à MAI e o grupo controle (que não se expõe a música amplificada).
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* Prof. Coordenador da Disciplina de Otorrinolaringologia da Ciências vlédicas de Sorocaba, PUCSP.
** Prof Assistente Doutor da Disciplina de Otorrinolaringologia da USP.
*** Fonoaudióloga da Santa Casa de São Paulo e da Unidade de Fonoaudiologia Otorrinolaringologia SC Ltda.
**** Fonoaudióloga da Unidade ne Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia SC Ltda.
**** Fonoaudióloga.
Endereço: José Jarjura Jorge Jr. - Rua Borges Lagoa, 402, Vila Clementino, S Paulo, SP -
CEP 04038-000.
Trabalho realizado na Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de edicina da Universidade de São Paulo.
Extraido de Tese de Doutoramento de José Jarjura Jorge Jr., apresentada à disciplina de ORL da Faculdade de Medicina da U.S.P.
Artigo recebido em 27 de fevereiro de 1996.
Artigo aceito em 15 de maio de 1996.