INTRODUÇÃOA estimulação mais adequada para os receptores dos canais vestibulares é obtida pela rotação. Mach (1875) realizou estudos de estimulação rotatória no homem para determinar o limiar de excitabilidade vestibular utilizando movimentos oscilantes de pequena amplitude. A impossibilidade de se estudar o nistagmo per-rotatório pela ausência, na época, de aparelho para registro do nistagmo, motivou por muito tempo o uso da prova de Bárány. Esta prova analisa a resposta nistágmica pós- rotatória que ocorre após parada brusca da cadeira giratória, condição fundamental para que a endolinfa, por inércia, tenda a seguir, movimentando-se no sentido do movimento giratório e provocando estímulos dos- cílios. 0 método original de estimulação de Barány parece hoje inadequado em alguns aspectos (intensidade, velocidade, freqüência) em relação ás provas fisiológicas. Por outro lado, não é completamente adequado observar-se diretamente a reação nistágmica vestibular somente durante o período pós-rotatório. Análise exata desta reação é possível por intermédio do registro elétrico.
Em 1849 Ou Sois-Raymond verificou a existência de um potencial córneo-retiniano.
Schutt (1922) e Meyers (1929) foram os primeiros que utilizaram esta descoberta para análise do nistagmo.
Greiner e cols (1961), com uma aparelhagem relativamente simples, usaram este tipo de estimulação analisando as respostas com eletronistagmografia fazendo comparações com os resultados obtidos nas provas clássicas, referindo que este tipo de estimulação fornece informações válidas sobre o sistema vestibular. Concluiu que a prova é de realização simples e rápida, permite o estudo do nistagmo per rotatório, torna possível a comparação imediata da resposta dos dois vestíbulos e coloca em evidência o limiar de excitação vestibular dos dois lados. Permite obter um valor preciso do limiar do aparelho receptor e de estudar separadamente os fenômenos mecânicos do aparelho vestibular. Entretanto este método deve ser considerado não isoladamente mas como complemento do exame otoneurológico.
A finalidade deste trabalho fundamenta-se na comparação das faixas de normalidade de indivíduos jovens (Grellet e Oliveira, 1975) e do grupo etário de maior idade. Acreditávamos que a faixa de normalidade entre esses grupos etários seria diferente o que realmente se confirmou com o término dessa investigação. Pretendemos assim acentuar a importância dos parâmetros utilizados como normais, pois nem sempre um parâmetro considerado normal poderá ser utilizado indiscriminadamente para diferentes grupos etários com o objetivo de avaliar a existência de uma provável patologia.
MATERIAL E MÉTODO0 material e o método empregados para esta pesquisa são análogos aos utilizados no trabalho (Grellet e Oliveira) publicado na Revista Brasileira de Otorrinolaringologia volume 41, n° 3, 1975.
A cadeira "Ototest" fabricada na França, pela Alvar Eletrônica, permite a estimulação rotatória pendular decrescente. Esse agente estimulante fisiológico provoca batimentos nistágmicos do globo ocular. É um método de exame importante para Otorrinolaringologistas e Otoneurologistas. Um polígrafo marca Otographor IV-2TR Alvar, de quatro canais está acoplado ao estimulador pendular (Figuras 1 e II).
Figura I - Posição do paciente e dos eletrodos durante a prova pendular.
Figura II - Polígrafo para o registro do nistagmo per-rotatório.
A prova rotatória sinusoidal inicia no sentido anti-horário com uma torsão máxima permitindo que a cadeira pendular parta com uma aceleração de 18°/S2 girando em torno de seu eixo. A aceleração e a velocidade da cadeira são variáveis. Ao iniciar seu movimento anti-horário a velocidade irá aumentando e a aceleração vai progressivamente diminuindo. Um tambor graduado indicará a velocidade máxima da cadeira quando esta passar pelo ponto zero; sua aceleração será nula nesse instante. Após a passagem do ponto zero a cadeira continua sua rotação no mesmo sentido anti-horário perdendo progressivamente velocidade e ganhando aceleração negativa até chegar a sua excursão máxima. Nesse momento e automaticamente, inicia um movimento no sentido horário, verificando-se que o ganho e perda da velocidade e da aceleração se sucedem na dependência da passagem pelo ponto zero do indicador até atingir o máximo de excursão horária. A rotação tem período de 20 segundos, portanto, com semiperíodos de 10 segundos cada um. 0 número total de oscilações completas é de 18 a 20. A duração dos períodos é constante havendo perda progressiva da aceleração e velocidade. 0 tempo de duração da prova varia de 360 a 400 segundos. A cadeira pendular possui um potenciômetro que permite registrar no polígrafo a amplitude e sua excursão. 0 polígrafo, que está acoplado á cadeira pendular, dá um traçado dos movimentos nistágmicos. Registra o movimento da cadeira e mudanças do sentido de rotação. (Figura III).
Figura III - Registro da rotação da cadeira e do nistagmo per-rotatório durante uma oscilação completa.
Para a obtenção da curva normal utilizando-se a cadeira pendular colocam-se os eletrodos a 1 cm do ângulo externo da fenda palpebral. 0 eletrodo terra é colocado na região frontal. Na frente do paciente há um painel com lâmpada para calibração do aparelho. Ao acender-se a lâmpada da direita, obtém-se no polígrafo traçado ascendente quando o paciente desloca os olhos para esse ponto luminoso e descendente quando desloca os olhos para um ponto luminoso à esquerda. Para um deslocamento de 5 graus calibram-se os canais para obtenção de traçados com 10 mm de altura. A estimulação do canal semi-circular horizontal será obtida ao fletirmos em 30° a cabeça do paciente, que está fixa em um cabeçote. Nesta posição, esses canais permanecem em plano horizontal. Durante a prova rotatória o paciente fica com os olhos fechados, joelhos juntos e fazendo, em voz alta, cálculos numéricos com a finalidade de eliminar a inibição do nistagmo que pode ocorrer com freqüência. Na rotação anti-horária a corrente endolinfática é ampulópeta no canal semi-circular esquerdo, provocando um nistagmo para a esquerda. No sentido de rotação horária a corrente endolinfática ampulópeta é no canal semi-circular horizontal direito aparecendo um nistagmo para a esquerda. No sentido de rotação horária a corrente endolinfática ampulópeta é no canal semi-circular horizontal direito aparecendo um nistagmo para a direita. Foram examinados 25 pacientes de ambos os sexos cuja idade variou de 31 a 65 anos sem queixas relacionadas com o labirinto anterior e posterior. 0 audiograma desses pacientes mostrou um traçado dentro do padrão normal. Para a obtenção da curva normal da freqüência do nistagmo per-rotatório foram escolhidos cinco pontos de aceleração angular 18, 14, 10, 6 e 4°/Seg2, respectivamente. Para cada aceleração angular escolhida mediu-se a freqüência dos dois semi-períodos, sendo estas lançadas em um gráfico cuja abscissa representa a aceleração angular em graus por segundos ao quadrado (0/S2) e a ordenada, a freqüência dos batimentos nistágmicos. (Figura IV).
Figura IV - Curva obtida com as freqüências nistágmicos durante semi-períodos anti-horário.
RESULTADOSPara a obtenção da faixa normal da excitabilidade do labirinto submetido à prova giratória pendular decrescente dos indivíduos entre 31 e 65 anos, tomamos os valores de freqüência máxima e mínima para cada uma das acelerações angulares consideradas como referência, isto é, 18, 14, 10, 6 e 4°/S2 respectivamente. Obtivemos um alargamento da faixa de normalidade em relação à dos jovens (18 a 30 anos).
Para as acelerações mais intensas 18 e 14°/S2 os valores máximos de freqüência foram significativamente maiores e os valores mínimos de freqüência foram também significativamente menores em relação ao dos jovens.
Entretanto, para as acelerações angulares 10, 6 e 4°/S2, os valores máximos de freqüência foram bem maiores ao passo que os valores mínimos de freqüência foram semelhantes aos dos jovens (Figuras V e VI).
Figura V - Faixa de normalidade das freqüências do nistagmo per-rotatório nos jovens (18 - 30 anos).
Figura VI - Faixa de normalidade das freqüências do nistagmo per-rotatório nos adultos (31 - 65 anos).
DISCUSSÃO0 otorrinolaringologista e principalmente o otoneurologista defronta-se, atualmente, com novos procedimentos cirúrgicos. Entre estes, a remoção dos tumores por via translabiríntica ou pela exploração da fossa temporal. Os neurologistas, neurocirurgiões e otoneurologistas procuram trocas de informações para o melhor procedimento numa determinada patologia nessa área tão estritamente ínter-relacionada. Os otoneurologistas necessitam dos testes audiológicos e labirínticos para o possível diagnóstico e localização de lesões centrais e periféricas. 0 cérebro recebe informações através de sistemas receptores proprioreceptivos dos músculos, tendões e articulações dos visuais e peurosensitivos do ouvido interno.
Quando há desordens desses receptores o paciente pode apresentar vertigens ou instabilidade levando-o procurar uma avaliação do complexo vestibulocerebelar. Praticamente, alguns parâmetros tem sido utilizados para interpretar a nistagmografia. A duração foi um critério bem estabelecido nas provas calóricas, Fitzgerald, G. Hallpike (1942). A velocidade angular máxima de componente lenta tem sido apontada como o parâmetro mais sensível da função vestibular nos testes electronistagmográficos com estímulos calóricos. Jongkess (1962). A freqüência dos batimentos nistágmicos é usada como o índice mais sensível para a interpretação dos registros electronistagmográficos quando utilizamos o estímulo rotatório pendular decrescente (Montandon, 1954). Vários autores estudaram os limiares nistágmicos rotatórios de aceleração.
Russbach, 1955, estabeleceu esses limiares em torno de 0,8°/S2.
Em 1958, Fumeaux obteve valores médios de 0,76 a 1,08°/S2, afirmando serem constantes para qualquer idade. Esses autores utilizaram técnica de estimulação rotatória fisiológica não pendular. Os valores encontrados na rotação pendular decrescente (Conraux e cols. 1970) são de níveis mais elevados do que nas provas não pendulares. Morgan e cols. (1970) registraram para jovens normais, cuja idade média estava entre 19 e 20 anos, valores limiares de estimulação nistágmcoa de 3°/S2. Há discordância entre os autores em relação aos valores dos limiares nistágmicos rotatórios de aceleração quer utilizando a prova rotatória não pendular quer usando a técnica rotatória pendular decrescente. Von de Calseyde e cols. (1969) observaram na prova pendular decrescente que a freqüência pode variar proporcionalmente com a idade do indivíduo.
Nossas observações revelaram que os indivíduos entre 31 e 65 anos de idade apresentam maior excitabilidade labiríntica em relação aos jovens, quando submetidos à prova giratória pendular decrescente. Esse achado foi surpreendente pois esperávamos encontrar alteração da faixa de normalidade da freqüência devido a uma provável diminuição da excitabilidade labiríntica. Entretanto, obtivemos alargamento da faixa de normalidade nos indivíduos de maior idade principalmente em relação ao maior número de batimentos nistágmicos. A excitabilidade labiríntica do grupo etário entre 31 e 65 anos é muito mais variável que a do grupo entre 18 e 30 anos.
Torna-se difícil explicar essa maior excitabilidade labiríntica nos indivíduos mais idosos em relação aos jovens. Provavelmente, o fator de inibição labiríntica tem participação nessa variação de excitabilidade dos diferentes grupos etários.
SUMMARYTwenty fixe persons from 31 to 65 years old and without any complaint of labyrinthine were tested by "pendular test". The zone of normaly obtained were compaired with that of another group of younger individuals (18-30 years old). In the first group we observed a greater variation causing, therefore an enlargement in the zone normality. We concluded that the older group showed a greater labyrinthíne excitability than the group composed by young persons.
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Endereço do Autor:
Hospital das Clínicas
Rua Bemardino de Campos - 1.000
14.100 - Ribeirão Preto/SP.
* Professor Livre-Docente e Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia do Dept° de Oftalmologia e O.R.L. da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
** Residente (R2) da Disciplina de Otorrinolaringologia do Dept" de Oftalmologia e O.R.L. da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.