ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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2220 - Vol. 55 / Edição 4 / Período: Outubro - Dezembro de 1989
Seção: Artigos Originais Páginas: 176 a 178
Bilateralidade dos tumores do glomus jugulare no osso temporal (*)
Autor(es):
Otacilio Lopes (**)
Estelita T. Betti (***)
Renato Medeiros (****)

Resumo: Os autores apresentam um caso de Tumor do Glomus Jugularas bilateral em uma mulher jovem. Os sintomas que levaram a paciente à consulta foram: deficiência auditiva e zumbidos. A raridade da bilateralidade deste tumor que costuma comprometer o ouvido, justifica a apresentação deste caso.

Introdução

A ocorrência de tumores glômicos (Paraganglioma acromafínico, Glomangioma ou Chemodectoma) em ambos os ouvidos médios parece ser um achado raro.

HOUSE (1) descreve um caso de ocorrência bilateral e concorda com sua raridade, pois apenas 3 casos haviam sido descritos na literatura pesquisada por ele em 1972.

CASTERLINE & JAQUES(2) publicaram em 1978 um caso de ocorrência bilateral porém sem comprometer o ouvido (era de localização cervical).

ROSENWASSER(3) refere haver removido há mais de 30 anos um enorme tumor que ocupava o ouvido médio (mastóide e área da jugular) tendo deixado um fragmento junto ao bulbo jugular. Este autor veio a identificá-lo como um tumor originário de uma estrutura que havia sido descrita por GUILD(4) em 1948 e que se localizava na adventícia do bulbo de veia jugular e, esta estrutura, recebeu o nome de "Glomus Jugulare" (pequenas estruturas localizadas na cúpula da veia jugular, histologicamente reconhecida e composta primariamente de pequenas arteríoIas que se conectam diretamente com veias e possuidoras de rico suprimento nervoso). Posteriormente outros nomes como: "Paraganglioma acromafínico", "Glomangioma" ou "Chemodectoma" lhe foram atribuídos.

Os tumores originários destas estruturas (tumor do "Glomus Jugulare" e tumor do "Glomus tympanicum") embora benignos podem ócorrer em localizações muito críticas e invadir estruturas importadas na base do crânio.

A localização usual do tumor do "Glomus jugulare" e no bulbo jugular. Quando situados apenas no ouvido médio costumam se originar ao longo do nervo de Jacobson (ramo timpânico do nono par craniano) e do nervo de Arnold (ramo auricular do décimo par).

Quando o tumor se confina ao ouvido médio é denominado de tumor do "Glomus tympanicum" em contraste com o tumor do "Glomus jugulare", quando proveniente do bulbo da jugular, e se estende a outras estruturas especialmente a base do crânio.

JENKINS & FISCH(5) preferem classificar os tumores glômicos da seguinte maneira:

Tipo A: Tumores glômicos limitados à fenda do ouvido médio;

Tipo B: Tumores limitados a área timpanomastóidea, sem ènvolvimento do compartimento infralabiríntico do osso temporal;

Tipo C: Tumores que se estendem e destróem o compartimento infralabiríntico com extensão para o apex;

Tipo Dl: Tumores com extensão infracranial de menos de 2cm de diâmetro;

Tipo D2: Tumores como os anteriores e com tamanho maior do que 2cm.

Preferimos designá-los: tumor do "Glomus tympanicum" quando apenas localizado à fenda do ouvida médio e tumor do "Glomus jugulare" quando se estende a outras áreas.

Seu aspecto histológico é muito similar a estrutura de onde se origina com tecido vascular, neural e muscular.

Segundo GOODHILL(6) os tumores do "Glomus jugulare" costumam ter seu suprimento vascular originado do ramo farfngeo ascendente da carótida e muito raramente do sistema vertebro-basilar. O tumor do "Glomus tympanicum" é suprido pela artéria timpânica inferior e pelas artérias caroticotimpânicas.

O mais comum deles, o tumor do "Glomus jugulare" se inicia no soalho da cavidade timpânica e cresce lentamente para o ouvido médio vindo a deslocar lateralmente a porção da membrana timpânica.

Quando se situa apenas no ouvido médio, este tumor costuma dar como sintomas iniciais a sensação de pulsação no ouvido e em outros casos, o sintoma pode ser apenas uma pequena perda de audição do tipo condutiva.

Um de nós (LOPES FILHO(7)) descreveu pela primeira vez na literatura mundial, em 1972, a possibilidade do diagnóstico precoce (e de modo objetivo) de tumores glômicos muito pequenos no ouvido médio através da timpanometria antes mesmo que outros sintomas pudessem chamar a atenção do paciente.

Muito cuidado deve ser tomado para não confundi-lo com pólipos do conduto auditivo externo. REZENDE BARBOZA(8) descreve-os como muito sensíveis e dolorosos ao toque.

Para WELSH e col(9) em virtude da sintomalogia e dos achados otoscópicos, o diagnóstico diferencial deve ser feito com: Otíte média não resolvida, hemotímpano idiopático, colesteatoma congênito e extensão de outras formas de tumores da área do bulbo da veia jugular



Fig. 1 - A tomografia mostra o tumor glómico do lado direito invadindo a fossa posterior.



Fig. 2 - O tumor glôraico do lado direito num corte sagital mostrando ser bem maior do que parecia na tomografia de corte coronal.



ROSENWASSER, quem primeiro descreveu este tumor no ouvido, acreditava que a radioterapia era o tratamento mais adequado, porém com o tempo ele passou a acreditar que sua remoção cirúrgica seria o melhor tratamento. Parece haver, atualmente, uma concordância entre os autores de que o melhor tratamento para os tumores glómicos e a sua remoção cirúrgica, uma vez que nem sempre eles respondem de modo muito satisfatório a radioterapia.



Fig. 3 - Do lado esquerdo o tumor parece bem maior e invade a fossa anterior.



Após a descrição de ROSENWASSER de sua localização no ouvido médio inúmeros trabalhos têm sido publicados a respeito, porém sua bilateralidade no osso temporal parece ser extremamente rara, daí o interesse desta publicação.

Apresentação do caso

M.A.R., sexo feminino, 25 anos, doméstica procedente de M.G.

QD - Diminuição bilateral da audição há 13 anos.

HFMA - Paciente refere diminuição da audição mais acentuada no ouvido esquerdo com zumbido, com caráter progressivo.

Há 12 anos apresentou dois episódios de sangramento pelo ouvido esquerdo. Há 1 ano e 6 meses foi operada do ouvido esquerdo tendo piorado o zumbido 3 meses após a cirurgia.

Exame ORL = Otoscopia direita revela massa avermelhada fazendo saliência na membrana timpânica. Otoscopia esquerda revela pequena cavidade com tecido fibroso sem características definidas, cicatriz retroauricular. Rinne negativo em ambos ouvidos, Weber indiferente.

Desvio lateral da língua para o lado direito com fasciculação de sua músculatura (IX par). Laringoscopia revela diminuição da mobilidade da hemi-laringe direita (IX par)

Summary

The autoors present a case of a bilateral of Glomus Jugularis tumor in a young woman.

The symptoms that caused the patiente to seek medical advice were: hearing deficiency ano tinnitus.

This tumor, which usually affects the ear, only rarely is a bilateral condition; the presentation of this case is thus justified.

Referências bibliográficas

1. HOUSE W.F. & GRAHAM M.D.: Bilateral Glomus Tumor of the Temporal Bone,Arch. Otolaryng. 98:58-59,1973.

2. CASTERLINE, P.F. & JAQUES, D.A.: Simultaneos Recorrente Multiple Chemodectomas. Arch. Otolaryngol. 104: 157-160, 1978.

3. ROSENWASSER, H: Long term results of therapy of Glomus Jugulares Tumors. Arch. Otolaryng. 97: 49-54, 1973.

4. GUILD, S.R.: A hitherto unrecognized structure, the Glomus Jugularis, in Man. An Rec. (Suppl) 79: 28-29,1941.

5. JENKINS H.A. & FISCH, U: Glomus Tumors of the Temporal Region Arch. Otolaryngol. 107: 209-214,1981.

6. GOODHILL, V.: Ear - Diseases, Deafness ano Dizziness. Harper & Row Pub. Inc., New York, 1979.

7. LOPES FILHO, O.C. e col: The Early Diangonis of a Glomic Tumor in the Middle Ear by Means of Acoustic Impedance. Imp. Newsletter, vol. 1, num. 5, 1972.

8. REZENDE BARBOZA: Comunicação pessoal.

9. WELSH e col.: Glomus Jugulare Tumor. Arch.Otolaryngol. 102: 507-510, 1976.




Endereço dos autores
Faria Lima 1541, sala 5-E - 01451S. Paulo - SP

(*) Trabaffio da Clinica de Otorrinolaringologia da Inrwndade da Santa Casa de S. Paulo e da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Medicas.
(**) Diretor do Departamento de Otorrinolaringologia, Oftabnologia e Professor Titular de Otorrinolaringologia.
(***) Assistente Voluntário.
(****) Residente meter o ouvido (era de localização cervical).
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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