ISSN 1806-9312  
Terça, 10 de Dezembro de 2024
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221 - Vol. 33 / Edição 1 / Período: Janeiro - Março de 1965
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 03 a 06
CONSIDERAÇÕES SÔBRE UM CASO DE OZENA TRAQUEAL
Autor(es):
Leonidas Mocellin (*)

Resumo: O autor após tecer comentários sobre a ozena traqueal relata que examinou nos últimos 17 anos, 382 pacientes com rinite atrófica ozenosa e sòmente encontrou um caso com localização na traquéa. Apresenta a observação e a maneira como foi tratada a paciente.

A história da ozena data da mais remota antiguidade. Segundo informes colhidos por WRIGH (1), há referência à doença no Talmud dos rabínicos e entre os indús, sob a denominação de Putinaska.

Entretanto, foi descrita e catalogada como doença ulcerosa nos trabalhos de H1POCRATES (460 A. C.); mais tarde, TROUSEAU, discordando dessa maneira de entender, descreveu a ozena como uma doença local sem ulcerações.

A sua localização, as investigações bacteriológicas, a histologia e os métodos terapêuticos da ozena sofreram, em seu estudo, a influência de fatores diversos e, no decorrer dos tempos, se alternaram períodos de intensificação das pesquisas com outros de um quase esquecimento da moléstia.

Verificando a literatura mundial sobre a ozena com localização traqueal, constatamos que é bastante rara e que o primeiro trabalho foi apresentado por BAGINSKI (2), em 1876. Outras comunicações foram publicadas, destacando-se entre elas a de MASSEI (3 ), LUC (4), ZARNIKO (5), CITELLI (6), BRINDEI. (7), SARGNON (8), ORLANDINI (9), VIGI (10), MAGGIAROTTI (11), KEESKÉS (12), REYNIER (13), GERSANOVIC (14) e GANDOLFI-SACO (15).

Alguns destes autores descreveram a ozena traqueal como primitiva, mas hoje não temos dúvida ser ela secundária à nasal. Ao nosso ver, sòmente aparece na região traqueal quando o grau de atrofia é bastante acentuado nas fossas nasais e ainda dependendo do fator constitucional. O processo atrófico da mucosa, lentamente, desce a faringe, laringe e traquéa.

Apesar de REYNER (13) ter encontrado em 78 pacientes com ozena nasal, 10 com crostas na traquéa. GANDOLFI e SACCO (15), em 1958, afirmaram que a localização neste orgão é rara, pois, em 60 pacientes com rinite atrófica ozenosa, sómente verificaram um caso. Nos últimos 17 anos examinamos 382 portadores de ozena nasal e encontramos um só doente com localização traqueal, que passaremos a descrever:

Identificação: 13.C., 27 anos de idade, branca, feminino, doméstica, residente em Curitiba-Paraná.

A.M.F.: Pais falecidos, ignorando a causa. Dois irmãos vivos e com saúde.

A.M.P.: Doenças próprias da infância, apendicectomisado e amigadalectomisado em 1962.

História da doença: Mais uo menos com 14 anos de idade, apareceram crostas amarelo-esverdeadas e odor fétido nas fossas nasais.

Submeteu-se a tratamento clínico com antibióticos e vacinas, sem resultado satisfatório. Aconselhada por otorrinolaringologista, tem usado diàriamente lavagens com água levemente salgada, com a finalidade de dimiuuirem as crostas e o matl cheiro. Nos últimos vinte dias ficou afônica e com tosse.

Procurou o Serviço de O.R.L. do Professor CELSO FERREIRA da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, em dezembro de 1964.

Exame objetivo: Inspeção: normal. Palpação: normal.

Rinoscopia anterior: presença de crostas amarelo esverdeadas graveolentes, que ao serem retiradas deixaram ver uma mucosa pálida e fossas nasais amplas. A anosmia era marcante e o grau de atrofia (III) bastante acentuado. As conchas pequenas e afiladas permitiam observar o cavum. Rinoscopia posterior: mucosa isquemiada e recoberta por crostas. Faringoscopia: as parte superior encontramos pequenas e finas crostas e da inferior uma mucosa descorada.

Laringoscopia: as cordas vocais apresentavam movimentação normal e no seu afastamento deixavam ver uma massa crostosa na parede traqueal.

Exames complementares:

Radiografias dos campos pulmonares: normal.

Reações para lues: negativas.

Hemograma e hemosedimentação: normal.

Cultura do exsudato e crostas nasais: presença da Klebsiella ozaenae. (Prof. JOSÊ MARIA MUNHOZ DA ROCHA).

Diagnóstico: OZENA NASAL, FARINGÉIA E TRAQUEAL.

Tratamento:

Apresentando a paciente dispnéa que aumentava diàriamente, solicitamos ao endoscopista dr. JOÃO CANDIDO CUNHA PEREIRA uma traqueoscopia e retirada das crostas, com a finalidade de desobstruir o orgão. Houve uma modificação geral na paciente que passou a respirar normalmente, melhorando inclusive a coloração da pele. Durante vários dias foi submetida à intensa cobertura de estreptomicina na dose de 1 gr. diária, nebulizações com Tergentol e vitaminas via oral. Após 15 dias, fizemos nova laringoscopia e não encontramos crostas na traquéa, persistindo entretanto, nas fossas nasais e faringe.

Sendo a localização traqueal secundária, estamos aguardando a melhora do estado geral da paciente, para atacarmos o foco primitivo com cirurgia de Machado-Eyries.

As crostas retiradas da traquéa foram enviadas para exame bacterioscópico e cultura, sómente aparecendo germes comuns. Não foi encontrada a Klebsiella.

SUMMARY

The author after making commentaries about tracheal ozaenaa, relates that he examined in the last years, 382 patients with Atrophic Rhinitis and he only found one case with localization in the trachea.

He showed the observation and the manner by which the patient was treated.

BIBLIOGRAFIA

1) WRIGHT, J. - The etiology and treatment of atrophic rhinitis - Med. Res. New York - 1891.
2) BAGINSKY, B. - Laringo - trachealls Ozana - Ber. Klin. Woch - 1876.
3) MASSEI, F. - Patologia e terapia della faringe e laringe - Milano - 1884.
4) LUC, S. - De l'ozène trachéal. Archives Laryng. - 1887.
5) ZARNIKO, M. - Uber isolirle Ozaena tracheallis - Hamburg - 1897.
6) CITELLI, S. - Contributo clinico all'ozena laringo - trachealle - Arch. Ital. Laring. - 1904.
7) BRINDEL, J. - Ozène tracheal asphixiant - Soc. Med. Bordeaux - 1910.
8) SARGNON, C. - Ozène tracheal. - Soc. Med. de Lion - Mars - 1823.
9) ORLANDINI, M. - Ozène bronchique - X Cong. Paris - 1823.
10) VIGGI, F. -'Terapia dell'ozena laringo - trachealle - Itali - 1932.
11) MAGGIAROTI, V. - Ozena trachealle ignorata - Grupo Piemontese Otorin. - 1936.
12) KEESKÉS, Z. - Der akut trockene kelkopfkatarrh als beschaftigungs - krankheit - Monat. fur Ol,. und Lar. Rhi. - 1938.
13) REYNIER, D. J. - Uber Binem Toliclien Fali von Ozacna laring. - tracheallis - Prat. Oto-Rhino-l,arvng. - 1947.
14) GERSANOVIC, N. - Ozaena der trachea und des Kehlkolpfs - V. Otol. - 1954.
15) GANDOLFI, M.-SACCO, R. - Un caso de ozona trachealle - Annali - Laring. - Otol. Rinol. Faringologia - Fac. IV - Agosto - 1958. OTORRINOLARINGOLOGIA - realizada em Pôrto Alegre, de 11 a 15 de novembro de 1964.

(*) Professor Titular da Universidade Católica do Paraná.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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