ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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2208 - Vol. 62 / Edição 3 / Período: Maio - Junho de 1996
Seção: Relato de Casos Páginas: 262 a 264
Abscesso do Septo Nasal com Concomitante Abscesso do Palato Duro.
Autor(es):
Sergio Ramos*,
Rosangela Faria Ramos**.

Palavras-chave: Abscesso do septo nasal, septo nasal

Keywords: Nasal septum abscess, nasal septum

Resumo: O abscesso do septo nasal é patologia relativamente rara e tem sido objeto de pouca atenção na literatura médica. Trata-se de coleção purulenta entre o septo nasal cartilaginoso ou ósseo e o pericôndrio ou o periósteo correspondente. As causas principais são os traumatismos nasais, as hemorragias pós-operatórias de septoplastias ou rino-septoplastias, e até mesmo abscessos subsequentes a hematomas espontâneos no septo. O tratamento do abscesso do septo nasal ou do seu fator predisponente, o hematoma, deve ser o mais precoce possível, porque o seu retardo resulta na clássica deformidade nasal "nariz em sela", além de outras complicações como abscesso cerebral, meningite e perfuração do septo. Os autores apresentam um caso de abscesso do septo nasal que chegou ao otorrinolaringologista tardiamente, já com destruição da cartilagem quadrangular e também abscesso subperiósteo no palato duro, e que evoluiu para "nariz em sela".

Abstract: The nasal septum abscess is an uncommon pathology and has been objett of small attention in the medical literature. It is a purulent collection between the cartilaginous nasal septum or bone and the respective perichondrium or the periosteum. The main causes are the nasal traumatic lesions, the post-surgical hemorrage of septalplasty or rhyno-septalplasty, and also abscess resulting, from spontaneous hematoms of the septum. The treatment of the nasal septum abscess or, of its predisponent factor, the hematom, must be the most precocious because its delay results in the classical nasal deformity "nasal saddle ", besides other complications like cerebral abscess, meningitis orseptum perforation. The authors present one case of nasal septum abscess that arrived late to the otorhinolaryngologist with destruction of the quadrangular cartilage together with a subperiostal abscess in the hard palate that evolved to a "nasal saddle".

INTRODUÇÃO

O abscesso do septo nasal não é patologia muito freqüente, e por esta razão tem sido negligenciado pela literatura médica. Trata-se de coleção purulenta entre septo cartilaginoso ou ósseo e o seu mucopericôndrio mucoperiósteo correspondentes.



Foto 1: Abscesso do septo nasal, mostrando abaulamento do septo com obstrução das fossas nasais e edema da pirâmide nasal.



Foto 2: Abscesso concomitante na linha média do palato duro.



O Abscesso do septo nasal é secundário a hematoma septal que tem como causas básicas traumatismo nasal, procedimento cirúrgico no septo, ou mesmo hematoma espontâneo (1, 2).

O hematoma do septo descola o pericôndrio da cartilagem, privando-a de seu suprimento nutricional que já é por si só deficiente. Este fato, associado a vários outros fatores desconhecidos podem provocar dissolução ou absorção rápida da cartilagem quadrangular, freqüentemente dentro de 24 horas (3). Se ocorre infecção deste hematoma, a absorção da cartilagem pode ser até total (1).

O paciente queixa-se de dor, obstrução e edema nasal. A rinoscopia anterior mostra massa purpúrea, amolecida e abaulada no septo, e obstrução da cavidade nasal em um ou ambos os lados (Foto l).

O tratamento deve ser drenagem precoce do hematoma ou do abscesso e antibioticoterapia adequada para evitar a clássica deformidade nasal "nariz em sela". O tratamento inadequado ou tardio expõe o paciente a outras complicações graves como abscesso cerebral (2, 4), meningites (5) e perfuração do septo (6). A ausência de válvulas nas veias faciais, angular, etmoidal e oftálmica e a extensa drenagem perineural da base anterior do crânio facilita o comprometimento destas estruturas vizinhas (6).

APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente do sexo feminino, de côr branca, de 17 anos de idade, solteira, estudante, atendida com queixas de dor e obstrução nasal, e febre há onze dias, tendo sido submetida no dia anterior a drenagem de abscesso do septo nasal por clínico, não tendo sido usado dreno. Apresentava também abscesso na linha média do palato duro (Foto 2) e queda do estado geral. O exame radiológico mostrava seios de face normal e material com densidade de partes moles ocupando o espaço intranasal. Submetida no mesmo dia à drenagem do abscesso bilateralmente, com saída de grande quantidade de exsudato purulento, tendo-se a sensação, com o toque, que a cartilagem quadrangular já estivesse destruída. Colocação de dreno de Penrose, que foi removido após três dias. A drenagem do abscesso do palato duro foi realizada por três vezes, já que era inexeqüível a colocação do dreno na região. A cirurgia foi realizada sob anestesia local. Foi usado cloranfenicol, Rocefin® e metronidazol. A cultura revelou presença de estafilococo áureo. O palato voltou ao normal e o resultado final foi "nariz em sela"(Fotos 3 e 4), e a paciente foi encaminhada para cirurgia plástica. Na anamnese, a paciente negou traumatismo nasal e relatava apenas manipulação nasal excessiva devido a rinopatia alérgica.

DISCUSSÃO

É imperativo tomar-se cuidado especial no exame otorrino laringológico do paciente que sofreu trauma nasal, sobretudo em relação ao septo. Mesmo a cura espontânea do hematoma do septo pode deixar como seqüela grau variável de fibrose entre a cartilagem septal e o pericôndrio, criando grande espessamento do mesmo e retração da porção distal do nariz, se a cartilagem de suporte for insuficiente (7).


 
Fotos 3 e 4: " Nariz em sela " de frente e perfil, resultado final do tratamento inadequado do abscesso de septo.



Apesar da etioogia mais freqüente do hematoma, e conseqüentemente do abscesso do septo, ser o trauma nasal, a literatura também associa gripe, sinusites e furúnculo nasal. No caso considerado, o único relato é alergia nasal crônica severa, e a paciente iniciou seu quadro com dor nasal seguida de edema intenso da pirâmide nasal, obstrução nasal e febre. Provavelmente, a infecção se deu após irritação prolongada do epitélio de revestimento do vestíbulo nasal pelo uso contínuo e repetido do lenço, levando à destruição das camadas epidérmicas da pele e do vestíbulo nasal e conseqüente infecção da região, e por continuidade ou por via hematogênica infecção do espaço sub-pericondral.

O septo mantém contacto direto com todo o assoalho do nariz e o espaço morto criado pelo levantamento do pericôndrio e do periósteo drena o exsudato purulento para baixo (8) e, provavelmente, por continuidade provocou o abscesso do palato duro.

Todo paciente com obstrução nasal aguda, dor nasal e febre deve ser examinado cuidadosamente em relação ao septo, mesmo não tendo história de traumatismo nasal. Em 65,6% dos pacientes com abscesso do septo sua etiologia foi desconhecida, enquanto somente em 30,4% a etiologia foi traumatismo nasal (2). Muitos pacientes são dispensados do ambulatório sem exame intranasal cuidadoso porque não têm trauma externo no nariz. Deve-se ter maior conhecimento clínico das condições do hematoma ou de abscesso do septo para eliminar-se os erros de interpretação entre o abscesso do septo e o pólipo nasal, o tumor ou edema alérgico e pior ainda esperar pela complicação.

A complicação de deformidade nasal acontece em 50% dos casos (2) em que se desenvolveu o abscesso do septo e é por esta razão mais um motivo para alertar quanto ao exame adequado dos pacientes com queixas de obstrução nasal e dor nasal e, quando houver diagnóstico de hematoma ou abscesso do septo, realizar o mais precoce possível o tratamento de drenagem e colocação de dreno e antibioticoterapia adequados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- CARRAWAY, J. H. & MELLOW, C. G. - Simple suction drainage: an adjunt to septal surgery. Ann. Plast. Surg. 24: 191-3, 1990.
2- CHUKUEZI, A. B. - Nasal septal haematoma in Nigeria. J. Laryngol. Otol 106(5): 396-8, 1992.
3- DONALD, P. J. - Minor intranasal procedures. Otolaryngol. Clin. North Am. 6 (3): 715-25, 1973.
4- McKASKEY, C. H. - Rhinogenic brain abscess. The Latyngoscope 61: 460-7, 1951.
5- EAVEY, R. D. - Bacterial meningitis secondary to abscess of the nasal septum. Pediatrics 60: 102-4, 1977.
6-AMBRUS, P. S.; EAVEY, R. D.; BAKER, A. S.; WILSON, W. R.; KELLY, J. H. - Management of nasal septal abscess. The Laryngoscope 91: 575-82, 1981.
7- RENNER, G. J. - Management of nasal fractures. Otolaryngol. Clin. North Am. 24(1): 195-213, 1991.
8- TEICHGRAEBER, J. F. & RUSSO, R. C. - Treatment of nasal surgery complications. Ann, Plast. Surg. 30(1): 80-8, 1993.




* Professor Adjunto Doutor da Disciplina de Otorrinolaringologia do Departamento de Medicina Especializada do Centro Biomédico da Universidade Federal do E. Santo.
** Mestra em Otorrinolaringologia e Doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina.

Endereço: Av. Saturnino de Brito, 256 - Praia do Canto - Vitória - ES. CEP 29055-180.

Tema Livre apresentado durante o XXXV Congresso Médico Estadual da AMES, realizado em Vitória, ES, de 18 a 22 de outubro de 1994.

Artigo recebido em 05 de novembro de 1995.
Artigo aceito em 05 de fevereiro de 1996.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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