Senhor Presidente,
Minhas senhoras,
Meus senhores,
Prezados colegas,
Snrs. representantes do "Fundo Editorial Procienx",
caríssimo Mangabeira
Incumbido pelos demais assistentes da E.P.M., venho nesta noite festiva trazer nossa participação, nossa homenagem, nosso regozijo por mais éste magnífico feito, por mais esta brilhante vitória. Longe de nós qualquer idéia de apresentação, pois, seria pedir à uivem errante e anônima que nos apresentasse o Sol; seria pedir à raiz oculta e submersa da majestosa palineira que nos apresentasse o horizonte.
Nossa presença aqui só terra um sentido, o da afetividade; só tem um motivo, o sentimental; só tem um escopo, o de trazer nosso comovido abraço transbordante de alegria nesta festa da inteligência ou melhor, do lançamento de um livro didático.
É tradicional o conceito do livro médico carecer de uma linguagem escorreita é castiça; é ainda verdade inconteste de que tais livros não atendem ao génio da língua, fugindo de certa maneira ao apuro da forma e do vernáculo, ressentindo-se ainda de redação e estilo quando não ausentes, claudicantes. Há também a recíproca ou seja um discreto perdão, uma certa indulgência por parte do estudioso que néle busca pura e simplesmente o conhecimento científico, dispensando o aprimoramento de sua linguagem. E assim, nêsse diapasão, perpetua-se impatrióticamente esse descaso, por todos os títulos, reprovável.
Nesta noite de eleição, todavia, os deuses das letras e da medicina irmanam-se, congraçam-se em invulgar conábio e feliz comunhão, trilhando o mesmo rumo, participando do mesmo destino, perseguindo o mesmo objetivo consubstanciados que estão neste primoroso livro ora reapresentado pelo "Fundo Editorial Procienx". Consagrado pelos Mestres, festejado pela crítica, adotado por especialistas e alunos, reaparece hoje atualizado com novos capítulos, novas roupagens, novas concepções sem perder contudo o sabor primitivo, a graça original de sua primeira edição ousadamente patriótica, mais do que trintenária, visto que, naquela época, mais do que hoje, as dificuldades eram imensas, os tropêços comuns, e constantes os obstáculos. Sómente o impulso irresistivel, a vocação incoercível de ensinar poderiam levar a cabo tão ingente tarefa para sobrepor-se àqueles propiciando o nascimento de um dos primeiros livros didáticos da especialidade, em língua portuguêsa; galardão ésse, a meu ver, justo e meritório.
Sem siquer de leve esboçar qualquer intenção de critica, cumpre-me apenas realçar, ainda que pela rama, o quanto de belo apresenta e que enaltece o autor e a indicina. Logo à primeira página extasia-se com enternecedora dedicatória transbordante de ternura filial cujo lirismo encantador transformou-a em verdadeiro lavor literário, em suave poema de antologia.
Voltando a 2.a página defronta-se a bela e lapidar sentença de B. Beda: "Três são os infelizes: quem sabe e não ensina; queira ensina e não o faz; quem ignora e não interroga". Poder-se-ia encontrar tão adequada moldura para um livro didático?
Poderia o Prof. Mangabeira sublinhar mais expressivamente sua indomável inclinação para o magistério?
A um exame mais atento e circunstanciado repontam sucessivamente numa análise científica admirável os vários capítulos da patologia, engenhosamente ilustrados, descritos com desenvoltura e autoridade de mestre, dentro de um estilo fluente repassado de graça e versatilidade. Aquele que escreve o roteiro de suas aulas, as quais refletem tôda uma carreira vivida no trato com o doente, em verdade assemelha-se ao lavrador que lança a semente na terra adrede preparada e que fatalmente frutificará de antemão sabido, não para si, embora com zêlo, dedicação e labor.
Publicar livro cie ensino, tenho para mim, é possuir o traço comum de nobreza, da mão que se estende ao cego, do bastão que se oferece ao trópego, da luz que se derrama nas trevas, da ferramenta que se entrega ao obreiro.
Mas esta homenagem estaria truncada, incompleta, imperfeita e principalmente injusta não fósse ressaltado e enaltecido aqui o evento incomum, altamente significativo, pois, a poucos é dado esta invejável dádiva de perfazer 25 anos de Cátedra. Meus senhores, 25 anos consecutivos de ensino representaram redobrado espírito de sacrifício, multiplicada carga de responsabilidade, mais noites angustiantes e indormidas, e sobretudo, o constante e incontido desejo de orientar e ensinar.
Mangabeira amigo, permita-me que assim o chame autorizado que estou pelo convívio de 1/4 de século, e, em cuja vivência quotidiana aquêles predicados jamais foram desmentidos, jamais desapontados, jamais traídos; e por identificá-los na sua pessoa integrados que estão na sua invulgar personalidade, é com grande júbilo, nêstc momento inesquecível, seja eu intérprete de seus assistentes que lhe oferecem com estima e admiração êste mimo representativo de seu jubileu de prata.
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