ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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215 - Vol. 33 / Edição 1 / Período: Janeiro - Março de 1965
Seção: - Páginas: 15 a 21
ESTUDO ANALITICO DE 142 AMIGDALECTOMIAS (*)
Autor(es):
Dr. Luiz de Góes Mascarenhas (**)
Dr. Zenshi Heshiki (***)
Prof. Dr. Octavio Baracchini (****)

Resumo: Os autores realizam o levantamento de 142 amigdalectomias (adenoamigdalectomias) e analisa os vários problemas relacionados com ésse tipo de cirurgia da especialidade. Assim fazem considerações quanto a idade dos pacientes, o sexo, a anestesia empregada e as complicações pós-operatórias. O estudo bacteriológico das amigdalas operadas foi realizado bem como os testes de sensibilidade aos antibióticos e concluem: 1 - a idade dos pacientes não é obstáculo para a indicação cirúrgica. 2 - A anestesia geral foi empregada em maior porcentagem até a idade de 15 anos a local em maior porcentagem nos pacientes acima de 15 anos de idade. 3 - A hemorragia pós-operatória foi a única complicação. Tiveram 15 casos o que equivale a 10.56% sendo 7.0% nas primeiras 24 horas e 3.56% depois de 24 horas da cirurgia. 4 - A hemorragia está condicionada ao tipo de anestesia empregado. Assim a anestesia local condicionou 11 casos (73,33%) e a anestesia geral com 4 casos (26,67%). Aquele com maior porcentagem do tipo imediato (81,8%) e a geral mais do tipo tardio com (75,0%). 5 - Parece que a infecção local não influe na maior frequencia das hemorragias. A análise estatística não foi significativa. 6 - O exame bacteriológico das amígdalas operadas demonstraram alta porcentagem de bactérias patogênicas (87.82%) e a sensibilidade aos antibióticos demonstrou menor resistência ao cloranfenicol, eritromicína e novobiocina.

Introdução

E realizado o levantamento das adenoamigdalectomias efetuadas pelo Serviço de Endoscopia peroral e Otorinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Préto no período de 5-12-58
a 21-7-61 e a análise dos problemas relacionados com a amigdalite crônica e adenoidite hipertrófica. O Serviço registra 474 cirurgias nesse período sendo 142 amigdalectomias ou adenoamigdalectomias.

Material e método

O material compreende as amigdalas de pacientes operados pela equipe do Serviço no Hospital das Clinicas de Ribeirão Prêto ou no Hospital São Francisco. A indicação cirúrgica foi baseada na anamnese, exame físico geral exame otorrinolaringológico e exames de laboratório. Todos os casos foram rotulados como amigdalite crônica ou esta associada à adenoidite hipertrófica. Os pacientes portadores de quadros agudos foram tratados clinicamente e posteriormente submetidos à cirurgia.

Os pacientes operados sob anestesia local eram preparados com pré-anestésico, feita a anestesia tópica da mucosa com solução de neutotutocaina a 2% e em seguida a infiltração ao longo do pilar anterior com solução de escurocaina a 1% ou 2%. Os pacientes que requeriam anestesia geral foram executadas pelo Serviço de Anestesia do Hospital das Clinicas. Todos os casos foram executados com entubação naso-traqueal, e a cirurgia realizada na posição clássica de Rosen.

A amígdala extraída foi imediatamente colocada na placa de Petri esterilizada prèviamente. Êsse material é encaminhado ao laboratório para exames bacteriológicos. O estudo compreende as amígdalas palatinas de 142 pessoas operadas.

Resultados

A idade dos pacientes pode ser resumida na tabela 1. A idade mínima foi uma criança com 9 mêses e a máxima com 57 anos de idade.

Quanto ao sexo tivemos 61 pessoas (42,25%) do sexo masculino e 81 (67,75%) do sexo feminino. Quanto a procedência dos pacientes, tivemos 108 pessoas residentes no município de Ribeirão Prêto e os demais numa área não superior a 150 quilometros.

TABELA 1

Distribuição etária dos pacientes submetidos a cirurgia.
9 meses a 04 a 11 m. -20 casos
5 anos a 09 a 11m. - 18 casos
10 anos a 14 á 11 m. - 08 casos
15 anos a 19 a 11 m. - 13 casos
20 anos a 24 a 11 m. - 33 casos
25 anos a 29 a 11 m. - 10 casos
30 anos a 34 a 11 m. - 17 casos
35 anos a 39 a 11 m. - 04 casos
40 anos a 44 a 11 m. - 03 casos
45 anos a 49 a 11 m. - 4 casos

Quanto à anestesia tivemos 49 pessoas operadas sob anestesia geral sendo o menor destes com 9 mêses de idade e o mais idoso com 33 anos. A anestesia local compreende 90 casos sendo o menor com 11 anos e o maior com 57 anos. Não consta na observação a idade de 3 pacientes.

Quanto às complicações citamos apenas a hemorragia post-operatória. Do total de casos operados (142) tivemos 15 casos de hemorragia (10,56%) com 10 casos nas primeiras 24 horas e 5 casos depois de decorrido as 24 horas. Relacionando os casos de hemorragia post-operatória com o tipo de anestesia empregado tivemos:



Quanto aos resultados de exames bacteriológicos tivemos

TABELA II



Os testes de sensibilidade foram executados para os casos de Staphylococcus aureus coagulase positiva identificados e tivemos os resultados abaixo.

TABELA III



TABELA IV



TABELA V - Hemorragia e tipo de anestesia



Comentários

PASTORE refere que o grupo etário de 3 a 6 anos são mais frequentes para serem encaminhados à cirurgia das amígdalas. Cita como fatores o maior encaminhamento pelos clínicos ao especialista, a maior segurança oferecida pelos progressos da anestesiologia e o melhor controle das hemorragias pós-operatórias. Na nossa casuística tivemos a idade mais baixa de 9 meses e o maior com 57 anos. Tivemos 26,7% até 10 anos de idade e 42,2% entre 25 e 35 anos.

Quanto a anestesia a nossa orientação coincide com os comentários de Villares, Carril e Alba da Escola Argentina que levam em consideração o problema psíquico, a idade dos pacientes e o tipo de anestesia a ser empregado. Lembramos ainda as palavras de Cutin, Reis e Yazaki quando diz: não há motivos para contra indicar a anestesia geral na amigdalectomia em face de um pedido formal de um paciente pusilânime. Na nossa casuística a anestesia geral foi empregada em 49 casos com 85,4% entre 2 a 15 anos. A idade mínima foi de 9 meses e o maior com 33 anos. A anestesia local foi empregada em 90 casos com 78,1% entre 15 a 35 anos de idade. O menor do grupo foi de 11 anos e o mais idoso com 57 anos.

Quanto a hemorragia pós-operatória PASTORE em um inquérito realizado nos Estados Unidos, refere ser a mais importante complicação até o 10.º dia do pós-operatório da amigdalectomia, quando se emprega a anestesia geral. ABU-JAUDEH realizando amigdalectomia sob anestesia geral e injeção de uma solução salina de epinefhinem, teve um caso de hemorragia tardia no grupo controle. WITHERS refere que a hemorragia imediata varia na literatura de 3 a 4%. O autor empregando premarin no pré-operatório conseguiu diminuir de 2,5% para 1% em 200 casos operados. CUTIN cita os trabalhos de KEY-APERG com 1.l% e de KETTEL em 500 intervenções sob anestesia geral e infiltração local com novocaina-adrenalina teve 1.2% de hemorragia imediata e 1,6% de hemorragia tardia. MANGAREIRA-ALPERNAZ cita os trabalhos de SCHIMIDT com 7,5% de hemorragia imediata, PRESTON que em 1808 casos conseguiu diminui de 5,27% para 1,95% de hemorragia pelo uso de vitamina K e KRAUS que teve 1 c/c de hemorragia em adultos usando a anestesia local e 0.16% em crianças operadas sob narcose e 0,18% para os casos submetidos a amigdalectomia e adenoidectomia e ainda FOX que em 1746 casos conseguiu diminuir de 9,9% para 1,3% pela abstenção do emprego de ácido acetil salicilico. O autor apresenta 0,6% de hemorragia pós-operatória em 332 casos operados pelo método da dissecção. Na nossa casuística tivemos 15 casos de hemorragia pós-operatória em 142 casos operados (10,56%). Tivemos 10 casos nas primeiras 24.000 horas (imediato) o que equivale a 7,0% e 5 casos do tipo tardio com 3,56%.

Fazendo-se uma correlação entre o tipo de anestesia empregado e a hemorragia pós-operatória observamos que a anestesia local condicionou 11 casos de hemorragia principalmente nas primeiras 24.00 horas (81,8%) e a anestesia geral apresentou 4 casos sendo a maioria do tipo tardio (75,0%). Computando com o total de casos operados sob anestesia local e 4 casos (26,67%) nos casos casos operados sob anestesia loca e 4 casos (26,67%) nos casos operados sob anestesia geral.

Quanto aos resultados do exame bacteriológico, citamos os estudos de PASTORE com 57,4% de positividade para o Streptococcus B hemolitico. ROGERS ressalta a importância da remoção do foco como fator preventivo da febre reumática. TRENCH estuda a etiopatogenia das pneumopatias, principalmente do estafiolococcus devido ao emprego rotineiro dos antibióticos em clínica diária. D'AGATA estuda a sensibilidade do Stafilococcus aureus e conclua que existem cepas resistentes a eritromicina. Na nossa casuística encontramos 87,82% de positividade para bactérias patogênicas e a prova de sensibilidade do Stafilococcus aureus coaguláse positiva demonstrou maior sensibilidade para eritromicina cloranfenicol e novobiocina. Com os resultados obtidos por êste levantamento e considerando a importância do problema da infecção focal êste assunto será analisado com maiores detalhes em outro trabalho.

WITHERS refere que a infecção seria uma das causas da hemorragia imediata. A análise estatística da tabela IV demonstra que não existe diferença significativa de hemorragia nos grupos infectado e não infectado.

BIBLIOGRAFIA

PASTORE, P, N. - Adenoid, tonsils, and two decades of chemo-antibiotic therapy. The Laryngoscope - 69/5 - 519-528 May 1959.
VILLARES, J. E. - Discussões sôbre o tema Anestesia em Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia - II Congresso Latinoamericano de Otorrinolaringologia e II Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia. pg. 318 - julho 1951.
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CUTIN, M. RESI, G. YAZAKI, R.L. - A amigdalectomia so anestesia geral no adulto - idem pg. 236/242.
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TRENCH, N. F. - Pneumonias estafilococicas, pneumatoceles e empiema pleural na criança. - Rev. Paul. de Med. 58 (2) 89-100 fev. 1961.
D'AGATA, A. - Sensibilitá ai nuovi antibiotici di ceppi di Stalhiylococcus anreus penicilino-resistenci - Giornale di Malatie infective e parassitaire - 10-55. luglio 1958.

(*) Trabalho realizado no Serviço de Endoscopia Peroral e Otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Prêto. - Congresso Brasileiro de Cirurgia - S.P.
(**)Chefe do Serviço de Endoscopia Peroral e Otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Prêto.
(***)Monitor voluntário do mesmo Serviço.
(****)Professor da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Prêto e Chefe de Serviço do Instituto Adolfo Lutz (secção de Ribeirão Prêto). Ribeirão Prêto - U.S.P. - Apresentado na XV Semana Brasileira de Debates Cientificos em Santa Maria - R.G.S. e no VI
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Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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