ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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2134 - Vol. 61 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1995
Seção: Editorial Páginas: 496 a 496
Amígdalas: Operar ou não e porque.
Autor(es):
Otacílio Lopes Filho *

Foi no mínimo preocupaste, assistir num dos programas de televisão de maior audiência no Brasil, um ilustre Médico afirmar ao repórter: amígdalas não se operam mais! e o repórter pergunta: Porque? e ele responde: porque tira a resistência!.

Como se sentiram naquele momento as pessoas que haviam sido amigdalectomizadas e seus médicos?

Não há dúvida de que se trata de assunto polêmico. De uma sistemática indicação cirúrgica há algumas décadas, à indicação mais racional em nossos dias, muitas opiniões ainda são divergentes.

De acordo com noções mais recentes da Imunologia, as amígdalas são estruturas produtoras de células que participam de nossa imunidade local ou sistêmica, quer humoral (linfócitos B) ou celular (linfócitos T).

As células B (produtoras de imunoglobulinas) responsáveis pela imunidade imediata e as células T (linfócitos) pela imunidade tardia também podem ser produzidas no anel linfático de Waldeyer (do qual a amígdala faz parte). A sua remoção poderia trazer danos ao sistema imunitário e em especial à imunidade local. As amígdalas seriam uma primeira barreira de nosso organismo contra agressões do sistema ambiente.

Reconhecendo estas noções como verdadeiras, a amigdalectomia só deveria ser feita quando apoiada em argumentos sólidos.

Recentemente, Bernstein e col. publicaram na Revista da Academia Americana de Otorrinolaringologia (Otolaryngology - Head and Neck Surgery 109,4: 693-700, 1993), os resultados de uma pesquisa demonstrando que as amígdalas cronicamente inflamadas produzemuma interleucina¬-2 defeituosa, que as tornam imunologicamente incompetentes. Esta publicação, de uma das maiores autoridades da Imunologia Americana, vem explicar a razão das infecções recorrentes em portadores de amigdalite crônica.

Tendo por base os conhecimentos da Imunologia da amígdala, as indicações cirúrgicas foram muito reduzidas, porém continua sendo operação absolutamente necessária para grande número de pacientes.

A apnéia obstrutiva do sono (doença que pode levar à morte súbita durante o sono) tem como sua principal etiologia as amígdalas muito aumentadas de tamanho, o que pode ocorrer tanto na criança como no adulto. Nestes, casos a amigdalectomia torna-se operação absolutamente e indiscutivelmente necessária.

Há, no entanto, outras indicações para a cirurgia, que são consideradas relativas, uma vez que não são causa de morte: são as infecções bacterianas agudas e muito freqüentes. Afreqüência e a gravidade de cada crise aguda deve ser analisada com cuidado para a indicação da amigdalectomia. A halitose (quando provocada pela produção de cáseo fétido pelas amígdalas) e a presença de focos de infecção (as bacterides, de acordo com noções finais recentes) constituem-se em outras indicações relativas da amigdalectomia.

Apesar de Bernstein e col. terem demonstrado que as amígdalas cronicamente inflamadas sejam incompetentes para a produção de anticorpos, a indicação para sua remoção só se justifica mediante cuidadosa análise de cada caso, em particular, e na criança, com a participação de seu Pediatra.




* Professor Titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas e Diretor do Departamento de Otorrinolaringologia da Irmandade da Santa Casa de São Paulo.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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