ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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2123 - Vol. 61 / Edição 5 / Período: Setembro - Outubro de 1995
Seção: Relato de Casos Páginas: 396 a 398
OSTEOMA DE CONDUTO AUDITIVO INTERNO ASSOCIADO A SURDEZ SÚBITA CONTRALATERAL.
Autor(es):
Ivan Dieb Miziara*,
Mauricio Matthiesen Ianase**,
Ricardo Ferreira Bento***.

Palavras-chave: Surdez súbita, osteoma

Keywords: Sudden hearing loss, osteoma

Resumo: Os autores apresentam um caso de paciente portador de anacusia devida a surdez súbita associada à presença de osteoma de conduto auditivo interno, assintomático, contralateral à perda auditiva. O diagnóstico foi feito através de tomografia computadorizada de alta resolução, enquanto a ressonância magnética de ossos temporais revelou-se normal. A conduta adotada para o caro foi expectante.

Abstract: The authors present a case of a patient with sudden hearing loss associated with a infernal auditory carnal osteoma, in the opposite side of the deafness. The diagnosis was made by the high-resolution CT-Scan, however the magnetic ressonance of the temporal bane has not showed any alterations.

INTRODUÇÃO

Os osteomas e exostoses são considerados tumores benignos. Quando no ouvido, eles são comumente localizados no conduto auditivo externo (CAE) e extremamente raros no conduto auditivo interno (CAI). Em extensa revisão de literatura, DENIA et al. (1979) afirmam que a maioria deles se localiza na mastóide, enquanto o aparecimento desse tipo de tumor no ápex petroso é raro. Os autores também afirmam que estas tumorações são infreqüentes antes da puberdade, enquanto OHHASHI et al. (1984) referem ocorrência mais comum entre as mulheres, na proporção de 2:1.

Há diferença histológica entre os termos "osteoma" e "exostose", embora ambos sejam utilizados como sinônimos. Segundo GRAMAM (1979), os osteomas seriam pedunculados, enquanto as exostoses representariam crescimento ósseo trais homogêneo. Histologicamente, o osteoma consiste de discretos canais fibrovasculares, circundados por lamelas ósseas, com poucos osteócitos. A exostose, por sua vez, é caracterizada pela presença de densas lâminas concêntricas de osso subperiostal, com inúmeros osteócitos e poucos canais fibrovasculares.

Clinicamente, as exostoses caracterizam-se por provocar disacusia de percepção progressiva, unilateral, devida ao crescimento da tumoração e conseqüente compressão do oitavo par craniano. Usualmente, os sintomas se acompanham de zumbidos e vertigem (DOAN; POWEL, 1988).

Os sintomas dos osteomas de CAI são variáveis, podendo incluir disacusia neurossensorial assimétrica (progressiva ou súbita), vertigem, zumbidos, paralisia facial e desequilíbrio.



Fig. 1 - Audiometria e impedaciometria mostrando anacusia à direita



Quanto ao diagnóstico, ele é feito através da história clínica do paciente, audiometria (tonal, supraliminar e de tronca cerebral) e exames radiológicos, incluindo GT e ressonância magnética de ossos temporais.

RELATO DE CASO

J.S.S.I., 32 anal, sexo masculino, deu entrada no ambulatório de ORL da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, referindo que há 3 semanas apresentou quadro de surdez súbita em ouvido direito. Procurou nutro serviço, onde foi submetido a exame audiométrico, sendo constatada anacusia à direita

O paciente foi então internado, recebendo o tratamento usual para surdez súbita, constando de expansor plasmático, vasadilatador e vitamina A, durante: 7 dias. Como não obtivesse melhora, recebeu alta para acompanhamento ambulatorial.

Ao chegar ao nosso serviço, o paciente foi submetido a tomográfico de ossos temporais, o qual revelou presença de osteoma em CAI esquerdo, contralateral ao ouvido atingido pela surdez súbita (Fig.2). Foi também efetuado estudo de ossos temporais através de ressonância magnética (Fig.3), o qual não evidenciou qualquer alteração digna de nota, bem como a audiometria de tronco cerebral. O paciente permanece em acompanhamento ambulatorial, realizando exames audiométricos em intervalos regulares.

DISCUSSÃO

O diagnóstico diferencial de osteoma localizado no CAI inclui neuroma do nervo acústico, schwanoma do nervo facial, meningiomas, hemangiomas, lipomas e colesteatoma congênito da pirâmide petrosa (ESTREM et al., 1993), de características radiológicas diversas.

A doença de Paget, a osteopetrose, deficiência de vitamina A e as malformações congênitas do CAI, por sua vez, usualmente se exprimem através de envolvimento difuso do osso temporal que, secundariamente, atingem o CAI. De outro lado, tanto o osteoma quanta a exostose do CAI se manifestam como crescimento ósseo que se projeta para a luz canalicular de forma discreta. O diagnóstico diferencial entre estas duas lesões é eminentemente histopatológico, devido ao fato delas serem tão raras que os achados radiológicos ainda não são específicos e bem delimitados.



Fig. 2 - CT de ossos temporais, evidenciando a presença de osteoma em CAIE



Fig. 3 - Ressonância magnética "normal"



Embora nosso caso apresente osteoma corri pedículo evidente à tomografia, o que poderia diferenciar o osteatoma da exostose, este fato só seria comprovado se o paciente fosse submetido à intervenção cirúrgica, o que não ocorreu devido à peculiaridade do paciente ser anacúsico do lado contralateral. Assim, nosso caso torna-se muito semelhante ao descrito por BLALE e PHELPS (1987).

Detalhe que fala a favor de o tumor visualizado no CAI à tomografia ser mesmo osteoma, repousa no fato de que o exame de ressonância magnética (RM) mostrou-se negativo. Ainda que, hoje em dia, este seja o método por imagem de escolha na avaliação de lesões retrococleares, convém lembrar que estruturas ósseas não são bem visualizadas à RM. Devido a sua configuração eletromagnética, exostoses, osteomas e outras lesões ósseas facilmente escapam à detecção da RM. É possível, no entanto, que a RM possa detectar estreitamento intracanalicular por força de distorção do conteúdo do CAI, mas este é achado sutil que, pode passar despercebido ao mais experiente radiologista.

Em relação aos sintomas, os osteomas de CAI apresentam variedade muito grande (BEALE, PIIELPS, 1987). pode haver perda auditiva neurossensorial progressiva ou súbita, vertigem, zumbidos e paralisia facial periférica. No nosso caso, o paciente está absolutamente assintomático até o momento, o que reforçou nossa decisão de tomar conduta expectante.

CONCLUSÃO

A associação de quadro de surdez súbita unilateral com presença de osteoma em CAI no lado oposto é extremamente rara. Não encontramos nenhum caso semelhante em toda a revisão bibliográfica por nós realizada. A apresentação deste caso, portanto, serve para alertar os otorrinolaringologistas sobre esta possibilidade, assim como para a dificuldade que se tem acerca da conduta mais adequada a ser tomada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DENIA,A.; PEREZ,F.; CANALIS, R.R.; GRAHAM, M.D. Extracanalicular osteomas of the temporal tone. Arch Otolaryngol., 105, p.706-9, 1979.
2. GRAHAM, M.D. Osteomas and exostosis of the external auditory canal. Ann Otol Rhrinol Laryngol., 88, p.566-72, 1979.
3. OHHASHI, M.; TERAYAMA,Y.; MITSUI, H. Osteoma of the temporal bone - a case , report. Nippon Jibiinkoka Gakkai Kaiho, 87, p.590-5, 1984
4. BEALE, D.J.; PHELPS, P.D. Osteomas of the temporal tone: a report of three cases. Clin Radiol, 38, p.67-9, 1987.
5. DOAN, H.T.; POWELL, J.S. Exostosis of the internal auditory canal. J Laryngol Otol, 102, p.173-5, 1988.
6. ESTREM,S.A.; VESSELY, M.B.; ORO, J.J. Osteoma of tire Internal auditory canal. Otolaryngology - Head and Neck Surgery, 108, p.293-7, 1993.




* Assistente Doutor da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
** Médico residente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
*** Professor associado da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Trabalho realizado na Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Artigo recebido em 11 de maio de 1995.
Artigo aceito em 26 de junho de 1995.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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