INTRODUÇÃOGrande variedade de materiais tem sido utilizada em cirurgia para o fechamento das perfurações timpânicas. Com exceção do enxerto de pele, marco inicial das timpanoplastias e hoje praticamente abandonado, bons resultados têm sido relatados com o emprego de veia, válvula cardíaca, pericárdio, peritâneo, pericôndrio, periósteo, gordura, córnea, amnio homogêneos e até mesmo com material heterogêneo, como válvula cardíaca de carneiro (CORNISH e SCOTT, 1968). 0 uso da "fascia temporalis" parece ser o mais difundido nos dias de hoje, não só pelos excelentes resultados, como também pela simplicidade de sua colheita, bem junto ao próprio campo operatório.
ALBRITE e LEIGH (1966) utilizaram dura-máter esterilizada em solução de betapropiolactona e preservada sob refrigeração, com ótimos resultados. MINITI (1969) também recomendou o emprego de dura-máter como implante em timpanoplastias, após experimentos bem sucedidos em ratos.Assim como ALBRITE e LEIGH, acredita que o implante se comporte como uma verdadeira ponte, que é penetrada e organizada pelos tecidos de reparação do hospedeiro, enquanto é envolvido pelo avanço epitelial do meato e da mucosa da caixa. Segundo observações clínicas e experimentais de PIGOSSI et ai (1971) com implantes de duramáter homógena conservada em glicerina, esse material obtém esterilização satisfatória, ausência de antigenicidade, conservação de textura, resistência e elasticidade, conseguindo boa aceitação por parte do hospedeiro; relatam, entre outras observações, um resultado de 79,2% de sucesso em 53 timpanoplastias. RAPOSOAMARAL et a/ (1977), em estudo experimental, concluíram que a dura-máter conservada em glicerina a 95,5% em temperatura ambiente pode ser utilizada na prática cirúrgica, como implante, independente da idade ou sexo do cadáver, ou da duração da conservação, desde que colhida até 60 horas após o óbito.
CASUÍSTICA E MÉTODOSDe um total de 133 timpanoplastias, em que, após a preparação dos bordos da perfuração e o descolamento de retalho tímpano - meatal posterior, o enxerto foi colocado na face interna da membrana timpânica perfurada, sob o cabo do martelo e apoiado na parede óssea posterior do meato, foram separados 98 casos em que a cadeia ossicular era íntegra e o objetivo principal era fechar a perfuração. Em 50 casos foi utilizado enxerto de "fascia temporalis" autógena, colhida no ato. Em 48 casos utilizou-se dura-máter homogênea, conservada em glicerina a 95,5% em temperatura ambiente por um mínimo de 12 dias. Os casos eram assim distribuídos, por sexo e faixa etária:
RESULTADOSOs pacientes foram observados por um período que variou de 2 a 39 meses após a cirurgia, 10,7 meses em média. Alguns não compareceram para o seguimento otoscópico. Com outros não foi possível o seguimento audiológico.
Anotaram-se os seguintes resultados:
Para o seguimento audiológico foi considerada, tanto para o limiar quanto para o "gap", a média obtida nas freqüências de 500, 1000 e 2000 Hz. Os resultados foram separados em dois grupos: 1) BONS - Audição social normal, ou seja, limiares auditivos entre 0 e 30 d8; mais os de limiares acima de 30 dB, mas com "gap" menor que 15 dB; 2) MAUS - Limiares acima de 30 dB e "gap" acima de 15 dB:
Os casos de neotímpano íntegro foram comparados separando-se por sexo e por faixa etária e não apresentaram diferenças significativas. Da mesma forma foram separados os casos considerados de bom resultado auditivo e não apresentaram diferenças importantes, quando comparados por sexo e por faixa etária.
CONCLUSÃOFoi feito um estudo comparativo entre dois grupos muito semelhantes de pacientes: distribuídos eqüitativamente por sexo e por faixa etária; mesma patologia, ou seja, perfuração timpânica com cadeia ossicular íntegra; mesma técnica cirúrgica, com o objetivo de apenas fechar a perfuração, ora com fáscia, ora com dura-máter.
Os resultados foram semelhantes nos dois grupos, quer na integridade do neotímpano, quer na audição. Os casos bem sucedidos, comparados por sexo e por faixa etária também não apresentam variações significativas com fáscia ou com meninge.
Sem pretender discutir as vantagens e desvantagens do uso do enxerto "vivo'' de fáscia, os resultados das observações ora relatadas nos autorizam a reconhecer a dura-máter homogênea também como opção para implante, no fechamento das perfurações das timpanoplastias. De simples preparo, mais econômica, poupa tempo cirúrgico e evita um ato a mais (colheita do enxerto), principalmente nas re operações, em que a melhor porção da fáscia já foi colhida na primeira intervenção
SUMMARYIn order to check an other option on material for sealing off the eardrum perfurations in tympanoplasty, a comparative study was carried out in 98 cases, using .autogenous fascia temporalis in 50 patients and homogenous dura-mater in 48; similar aesthetical and-functional results were observed with both materiais, inde-. pendently on sex or age, in cases with the same pathology and the same surgical procedure.
BIBLIOGRAFIA:1. ALBRITE, J.P. & LEIGH, B.G. - Dural homograft (allostatic) myringoplasty - The Laryngoscope 76. 1687-93, 1966.
2. CORNISH, C.B. & SCOTT, P.J. - Freeze dried heart valves as tympanic grafts - Arch. Otolaryngol. 88. 350-56, 1968.
3. MINITI, A. - Fechamento de perfurações da membrana do tímpano com dura-máter; estudo experimental em ratos - Tese - Fac. Med. Univ. S. Paulo - 1969.
4. PIGOSSI, N., RAIA, A., LEX, A., GAMA, A.H., SIMONSEN, O., HADDAD, J., STOLF, N.A.G., ZERBINI, E.J., MINITI, A. & TENUTO, R. - Estudo experimental e clínico sobre o em
5. RAPOSO-AMARAL, C.M., PIGOSSI, N., LEONARDI, L.S. & MAZZEI, F. M. - O problema da seleção de dura-máter para implante. I: Investigação de algumas variáveis que podem interferir nas suas propriedades físicas. Rev. Paul. Med. -90: 89-92, 1977.
Endereço do Autor:
Rua Dr. João Theodoro n.° 680
1.3800 - MOJI MIRIM - (SP).
Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericórdia de Moji Mirim, Moji Mirim (SP).
Apresentado no XXIV Congresso Bras. de O.R.L. Nov. 1978 - Rio de Janeiro/RJ.