ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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2099 - Vol. 44 / Edição 2 / Período: Maio - Agosto de 1978
Seção: Artigos Originais Páginas: 140 a 154
ALGUNS ASPECTOS DA SURDEZ SÚBITA
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ALGUNS ASPECTOS DA SURDEZ SÚBITA

INTRODUÇÃO

A surdez súbita é definida como sendo uma surdez de instalação abrupta, de minutos e algumas horas, geralmente unilateral que acomete indivíduos em perfeito estado de saúde. Trata-se de uma emergência otorrinolaringológica, pois admite-se que as perspectivas de recuperação depetidam da precocidade do tratamento.

Ela pode apresentar várias etiologias (Norrison-1975): processos infecciosos, vasculares e tumoraes, leucemia, diabetes, meningite, encefalite, esclerose múltipla, doença de Ménière, barotrauma ótico, otosclerose coclear, idiopática, ruptura espontânea da janela redonda entre outras.

Segundo ainda o mesmo Norrison, a idiopática é uma das mais freqüentes apesar da sua etiologia não ser ainda bem conhecida. Segundo Rasmussen (1949) Svane-Knúdsen (1957), Van-Dishoeck & Bierman (1957), entre outros, ela seria devido a uma infecção virá[, isto é, uma nevrite'coclear. Segundo outros autores como Hailberg &-Horton (1947), Fowler (1954) e Formigoni e col. (1976), ela seria determinada por um distúrbio circulatório.

Schuknecht (1962) observou em estudos histopatológicos que as lesões virais produzem distúrbios microcirculatórios, pois as mesmas determinam edema das células do endotélio com consequente estreitamento da luz do vaso. Esta vasoconstrição produziria por sua vez (Janhke-1974) minúsculos trombos na microcirculação coclear.

Apesar das inúmeras pesquisas sobre a surdez súbita idiopática em relação a sua provável etiologia, ainda hoje persiste uma grande dúvida como demonstrou Roy (1974) em seu trabalho: "Incógnitas de Ia Sordera Súbita".

Na Clínica de Otorrinolaringologia do Instituto Penido Burnier adotamos as idéias de Schuknecht e de Janhke, isto é, que toda surdez súbita idiopática, seja viral ou vascular, no contexto final` equivale a um distúrbio do tipo circulatório.

Nesta pesquisa procuramos demonstrar alguns dados clínicos e os nossos resultados terapêuticos na surdez súbita de causa desconhecida.

METODOLOGIA

A nossa casuística é constituída por 20 indivíduos portadores de surdez súbita idiopática que nos procuraram nos últimos três anos, num período compreendido entre Janeiro de 1975 a Dezembro de 1977.

Todos os pacientes foram submetidos a anamnese rigorosa, exame otorrinolaringológico, audiometria tonal e vocal, testes supraliminares, impedanciòmetria e testes vestibulares. Eventualmente solicitamos exames laboratoriais (curva glicêmica, hemograma, etc.) ou interconsulta com a cardiologia, neurologia, etc.

Com base nesses dados firmamos o diagnóstico e eliminamos todos os outros casos de surdez súbita que não se enquadrasse no tipo idiopático.

O tratamento foi feito em nível ambulatorial com vasodílatadores de ação rápida por via intra-muscular e anti-espasmógeno vascular por via oral. Os pacientes foram acompanhados por 60 dias, submetendo-se semanalmente a testes de audição.

RESULTADOS

Dos 20 indivíduos de nossa casuística, casualmente, 10 foram do sexo masculino e 10 do feminino. Suas idades variaram de 14 a 71 anos, conforme o histograma abaixo. histograma das idades





0 lado esquerdo foi mais atingido que o direito na proporção de 4 para 1; enquanto que o tempo entre a instalação da doença e o início do tratamento foi bastante variável (quadro 1).


Quadro 1 - Tempo de duração da doença



A curva áudio métrica apresentou-se plana em 16 casos (80%), com queda nos agudos em 2 e nos graves em 2.0 limiar médio das curvas áudio métricas foram muito variável conforme demonstra o quadro 2.


Quadro 2 - Perda média em dB.



O fenômeno de recrutamento coclear esteve presente em 13 casos (65%), em 3 esteve ausente e em um foi duvidoso. A análise áudio métrica após o tratamento nos mostrou 13 casos entre bons e ótimos (quadro 3).


Quadro 3 - Resultados audiométricos finais



DISCUSSÃO

Não tivemos um único caso de surdez súbita bilateral o que vem confirmar a sua raridade.

Em nossa casuística o grupo etário mais afetado foi dos 30 aos 40 anos, enquanto que Sheehy (1960) encontrou dos 40 aos 50 anos. Entretanto as duas pesquisas demonstraram uma curva semelhante, isto é, rara nos jovens e nos velhos.

Não pudemos explicar a predominância do lado esquerdo sobre o direito. Seria devido a própria anatomia do aparelho circulatório? Seria devido a um simples capricho estatístico?

Em relação ao tempo de duração da doença, observamos que os casos tratados mais precocemente apresentaram uma resposta clínica melhor. Para nossa surpresa, entretanto, o caso número 10 que houvera tido uma surdez súbita há 90 dias. respondeu muito bem ao tratamento, tendo uma recuperação total.

A curva plana foi a mais encontrada e seus resultados foram variados, porém aqueles que apresentavam queda nos graves foram os que apresentaram os piores resultados (casos 8 e 11).

A presença do recrutamento não teve significado na evolução, pois tivemos resultados excelentes e péssimos na presença e na ausência deste fenômeno.

A análise dos resultados finais foi muito difícil pois não tivemos um grupo padrão para comparar, isto é, um grupo de pacientes que não tomaram medicação alguma. De um modo geral entretanto, os nossos resultados foram parecidos com os de Norrison, que obteve recuperação em torno de 60% dos casos. Mas estes são também os resultados apresentados pela maioria dos autores, usando medicações variadas (vasodilatadores, corticosteroides, histaminas, etc.). Por isso acreditamos que ainda cabe esta pergunta: "Qual seria o resultado se não usássemos medicação alguma?"

CONCLUSÕES

Do exposto acima achamos que podemos concluir: - A surdez súbita não tem preferência pelo sexo. - Ela acomete com mais freqüência o adulto da 3.a a 4.a década. - O lado esquerdo parece ser o mais comprometido.

0 tratamento precoce é da maior importância.

SUMMARY

The clinical findings in 20 patients with sudden deafness are presented. A vasodilatador treatment was institudes an thier resultd are showed.

PROTOCOLO DAS OBSERVAÇÕES

Caso 1
Ficha 200588, feminina, 53 anos. Surdez súbita E. há 12 dias



Caso 2
Ficha 200913, masculino, 28 anos. Surdes súbita D. há 4 dias.



Caso 3
Ficha 208212, masculino, 31 anos. Surdez súbita E. há 1 dia.



Caso 4
Ficha 210749, feminina, 66 anos. Surdez súbita E., há 20 dias.



Caso 5
Ficha 204673, masculino, há 14 anos. Surdez súbita E. há 1 dia.



Caso 6
Ficha 195577, feminina, 31 anos. Surdez súbita D. há 60 dias.



Caso 7
Ficha 19866, masculino, 44 anos. Surdez súbita E. há 1 dia.



Caso 8
Ficha 221003, masculino, 38 anos. Surdez súbita E. há 1 dia.



Caso 9
Ficha 200553, feminina, 27 anos. Surdez súbita D. há 7 dias.



Caso 10
Ficha 214541, feminina, 33 anos. Surdez súbita E. há 90 dias.



Caso 11
Ficha 221958, masculino, 44 anos. Surdez súbita E há dias.



Caso 12
Ficha 129828, masculino, 71 anos. Surdez súbita E. há 1 dia.



Caso 13
Ficha 223909, feminina, 44 anos, surdez súbita há 30 dias.



Caso 14
Ficha 225033, masculino, 22 anos. Surdez súbita E. há 4 dias.



Caso 15
Ficha 225547, feminina, 60 anos. Surdez súbita e. há 15 dias.



Caso 16
Ficha 218332, feminina, 50 anos. Surdez súbita E. 4 dias.



Caso 17
ficha 228271, feminina, 48 anos. Surdez súbita E. há 4 dias.



Caso 18
Ficha 228499, feminina, 39 anos. Surdez súbita D. há 3 dias.



Caso 19
ficha 228957, masculino, 28 anos. Surdez súbita E. há 7 dias.



Caso 20
Ficha 228978, masculino, 36 anos. Surdez súbita E. há 2 dias.




BIBLIOGRAFIA

1.FORMIGONI, L. e col. Contribuição ao tratamento da surdez súbita Rev Bras. ORL., 42: 2, 1976.
2. FOWLER, E. Sudden deafness. Ann Otol. Rhinol. Laryngol., 59: 9801950.
3. HALLBERG, O. & HORTON, B. Nerve deafness; treatment by the intra venous administration of histamine Proc Staff. Meet. Mayo Clinic, 22: 11. 145, 1947
4. HILGER, J. & GOLTZ, N. Some aspects of inner ear therapy. The La ryngoscope, 61: 697, 1951
5. JAHNKE, V. O que pode ser feito para prognosticar a surdez súbita. Munch Med. Wschr, 116: 417, 1974
6. JUERS, A. Clinical observations on end organ deafness; a correlation with cochlear anatomy. The Laryngoscope, 64: 190, 1954
7. NORRISON, A. Management of sensorineural deafness. Butterworths, Londres, 1975
8. RASSMUSSEN, H. Sudden deaf ness. Acta Otolaryngol., 37: 67.
9. ROY, A. & ARIAS, M Incognitas de Ia Sordera súbita. Rev. Bras. ORL., 40:307, 1974
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11. SHEEHY, J. Vasodilatador Therapy in sensory-neural hearing loss The Laryngoscope, 70: 885 1960
12. SVANE-KNUDSEN, V. Sudden lesion of aural function. Acta Otolaryngol., 47: 270, 1957
13. VAN DISHOECH, H. & BIERMAN, The Sudden perceptive deafness and viral infections. Ann. Otol. Rhinol. Laryngol., 66: 963, 1957.




Endereço do Autor
Instituto Penido Burnier
R. Andrade Neves, 611
13.100 - Campinas - SP

* Otoneurologista do Instituto Penido Burnier - Campinas - SP
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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