ISSN 1806-9312  
Sábado, 14 de Dezembro de 2024
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2056 - Vol. 61 / Edição 2 / Período: Março - Abril de 1995
Seção: Relato de Casos Páginas: 162 a 163
ABSCESSO RETROFARÍNGEO PÓS ADENOIDECTOMIA.
Autor(es):
Lucia Della L. Giardini*,
Valéria Maria Prado*,
Mauricio Garcia*,
Rosa Maria A. de Sousa**,
Gilberto G. S. Formigoni***.

Palavras-chave: Adenoidectomia, abscesso

Keywords: Adenoidectomy, abscess

Resumo: Neste trabalho descreveremos um caso de abscesso retrofaríngeo associado à subluxação atlanto-axial pós adenoidectomia. O paciente apresentou evolução favorável com a instituição de antibioticoterapia sistêmica e drenagem cirúrgica. Este tipo de complicação ocorrida após adenoidectomia é bastante rara, devendo o otorrinolaringologista estar atento a mesma. As principais causas de abscesso retrofaríngeo encontradas na bibliografia foram: trauma e ingestão de corpo estranho. As principais complicações pós adenoidectomia encontradas incluíam sangramento, reações referentes ao agente anestésico, hipernasalidade, otalgia, cervicalgia e estenose nasofaríngea.

Abstract: In this paper, we describe a case of retropharyngeal abscess with atlantoaxial joint subluxation after an adenoidectomy. This is a rare complication that the otolaryngologist must be aware because of its potential consequences.

INTRODUÇÃO

As principais complicações pós adenoidectomia incluem sangramento, reações referentes ao agente anestésico, hipernasalidade, otalgia cervicalgia e estenose nasofaríngea1, 2, 3.

Neste trabalho descreveremos um caso de abscesso, retrofaríngio com subluxação atlanto-axial (Síndrome de Grisel) ocorrendo após adenoidectomia.

RELATO DE CASO

Paciente de 4 anos deidade, sexo masculino, foi submetido a adenoidectomia por quadro de obstrução de vias aéreas superiores. Após 24 horas de cirurgia, o paciente apresentou febre, secreção purulenta na orofaringe, cervicalgia com hiper extensão cervical para o lado direito e exantema de tronco e extremidades.

O paciente foi avaliado pelo serviço de pediatria que prescreveu penicilina benzatina (50.000 UI/kg). Após três dias, não houve melhora das condições clínicas sendo então procurado o nosso serviço.

Foram realizados exames radiológicos incluindo; Rx de região cervical nas incidências: lateral e frontal, evidenciando uma imagem sugestiva de secreção na retrofaringe e subluxação da articulação atlanto-axial (Fig. 1).

Foi feita a hipótese de abscesso retrofaringeo, indicada drenagem cirúrgica e antibioticoterapia: penicilina cristalina 75.000 UI/kg e Amicacina 35 mg/kg.

Durante o ato cirúrgico foi observado um "flap" mucoso na rinofaringe formando uma bolsa com a margem superior aberta.



Figura 1.



Figura 2.



Realizou-se incisão longitudinal na mucosa e foi drenado aproximadamente 5 ml de secreção purulenta.

A criança recebeu alta hospitalar no 5° dia pós operatório em boas condições. A radiografia de controle não evidenciou nenhum sinal de recidiva (Fig. 2).

O paciente foi seguido por 1 ano sem desenvolvimento de nenhum tipo de complicação.

DISCUSSÃO

Abscesso retrofaríngeo atualmente é infecção rara da região de cabeça e pescoço e ocorre com maior prevalência na população pediátrica4, 5, 6, 7.

De acordo com Coulthard e Isaacs, em 36 anos de observação, a causa mais comum encontrada de abscesso retrofaríngeo foi trauma ou ingestão de corpo estranho4. Nós não encontramos nenhum caso de abscesso retrofaríngeo pós adenoidectomia na literatura.

Os principais sinais e sintomas clínicos do abscesso retrofaríngeo são: febre, dor, edema cervical e hiperextensão do pescoço.

Como complicações, podemos ter obstrução aérea, mediastinite, emp íema, sepsis, aspiração da secreção purulenta e alterações vasculares7.

O paciente também apresentava a síndrome de Grisel, com complicação. Essa síndrome é secundária ao relaxamento patológico do ligamento transverso na articulação atlanto-axial levando à uma luxação da mesma articulação8.

Infecções da região da cabeça e pescoço, como por exemplo otite, adenoidites e abscesso cervical podem ocasionar essa síndrome devido ao processo inflamatório local8.

O abscesso retrofaríngeo pós adenoidectomia é complicação rara, mas que deve ser lembrado pelos otorrinolaringologistas devido as suas potenciais complicações serem extremamente graves.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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7. THOMPSON, J. W.; REDDIX, P.; COHEN, S. R. - Retropharyngeal abscess in children: a retrospective and historical analysis. Laryngoscope, 98: 589-592, June 1988.
8. BREDENKAMP, J. K.; MACERI, D. R. - Inflamatory torticollis in children. Arch Otolaryngol Head Neck Surg., 116: 310-313,1990.




* Residente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
** Pós-Graduando da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Pauto.
*** Médico Assistente da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Este trabalho foi realizado na Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência: Av. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 255 - 6° andar sl 6021 - CEP 05403-000 - São Paulo - SP.
Artigo recebido em 20 de novembro de 1994. Artigo aceito em 03 de janeiro de 1995,
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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