ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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2010 - Vol. 59 / Edição 1 / Período: Janeiro - Março de 1993
Seção: Artigos Originais Páginas: 08 a 11
O ensino da otorrinolaringologia no curso de graduação de medicina.
Autor(es):
Carlos E. Banionuevo*,
Brenda Hupe Schwabe**

Palavras-chave: otolaringologia, ensino, curriculum

Keywords: otolaryngology, teaching, curriculum

Resumo: O Colegiado do Curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná, está estudando uma reforma no conteúdo e na carga horária do seu Programa Didático. Esta reesiruturação inclui cadeiras básicas e profissionalizantes. O objetivo principal é de preparar melhor o estudante para que ao sair da graduação tenha orais esperiérrcia prática e possa oferecer ran trabalho mais amplo e mais eficiente do dure o atual. Cada Disciplina foi convocada para fazer uma análise critica da sua programação a após revê-la, apresenta as sugestões para a comissão responsável. A Otorrinolaringologia após fazer um levantamento da incidência e prevaléncia das afecções O.R.L. em um ambulatório geral e após avaliar as necessidades do estudante do curso básico, apresenta suas conclusões neste docranento. A proposta poderá servir para uniformizar o ensino da O.R.L. rias diversas Universidades Brasileiras.

Abstract: The Collegiate of Medical School of the Federal University of Paraná is considering changes in contem and duration of credits of its didatic program. The reformulation is to be dane in the basic sciences and clinical courses with the objective of better prepare tire medical student to be able to improve performance with more efficiency in a wider range of clinical situations, soon as he graduates. Each discipline was invited to present a critical annalyses of its program and present modifications to the rewiew board. The discipline of otolaryngology after reviesving the incidence of ENT diseases in the outapatient department in relation to the statistical prevalence of diseases and relating this to the basic needs of the medical student presents as conclusions in this papel. This proporal rnav be helpfull in making uniform the teaching of ENT ili several Medical Facultics in Brazil.

INTRODUÇÃO

O ensino da Otorrinolaringologia obedece aos mesmos príncipios gerais do ensino de qualquer parte da Medicina, Engenharia, Advocacia, etc.

Seja qual for a fase do estudante; "Curso regular, Estágio, Residência, Mestrado ou Doutorado", o método empregado deve satisfazer dois objetivos básicos beta definidos. "O QUE O ESTUDANTE PRECISA APRENDER" e "QUE PROCEDIMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS

DEVEM SER ADOTADOS PARA ATINGIR A META PRETENDIDA".

Entendi que na sua programação, a Reforma do Currículo da Medicina da U.F.P.R., pretende criar condições para que o aluno, rindo seu curso (sem necessitar de pós-graduação), tenha reais possibilidades de executar alguns procedimentos de maneira correta. A aplicação prática desta filosofia está exemplificada no atendimento à um posto de Saúde ou de uma cidade com menor possibilidade de encaminhar o paciente, quando a maioria das soluções devem ser dadas no local. Nas diretrizes da reforma, a graduação deverá oferecer ao recém-formado, subsídios para atuar ampla e satisfatoriamente nestas circunstâncias. Para isso pretende-se imprimir ao curso profissionalizante (Cadeiras Clínicas e Cirúrgicas), um maior cunho prático, porque se entende, que a atual metodologia é muito mais teórica do que prática, não oferecendo condições de formar convenientetnente o que se chama médico generalista. Além disto a comissão da reforma entende também, que ocorre no estado atual unia certa desintegração entre as várias clínicas, justificando que por este motivo, muitos aspectos do ensino estão sendo desnecessariamente repetitivos. Busca então promover um entendimento maior entre os inúmeros componentes didáticos do curso. O que é um nnédico generalista, o que ele deve estar apto a realizar e corno vamos atingir estes objetivos no curso da graduação, parecem ser algumas respostas que a comissão da reforma curricular pretende (e deve) obter das diferentes Disciplinas do Curso de Medicina. Acreditam os preceptores da reforma, que esta filosofia deve ser seguida, por estar de acordo com a necessidade brasileira atual. Aceitando este espírito, tentamos enquadrar o ensino da Otorrinolaringologia, fonnulando e respondendo unia série de perguntas, divididas em três grupos:

a) Formação do estudante; b) Prática do ensino; c) Como integrar a disciplina de ORL no curso de nredicina.

A) FORMAÇÃO DO ESTUDANTE

01) O que o estudante precisa aprender e o que precisa saber fazer.

- Saber examinar (propedêutica e terapêutica clínica ORL)
- Saber o que é mais freqüente.
- Saber o que é mais grave.
- Saber o restante da especialidade (deve saber o suficiente para poder encaminhar).

02) Qual importância da teoria e da prática da ORL na formação do médico generalista?

Tomando corno base o atendimento de um posto cie Saúde da Prefeitura Municipal de Curitiba, (tabela 1-2) concluímos pela freqüência cios problemas ORL atendidos que:

O conhecimento da Teoria ORL

É importante pois tendo conhecimento teórico, o generalista pode solucionar mais do que 90% dos casos, o restante vai encaniiniliar para o especialista, para cirurgia, etc (tabela 2).

O conhecimento da Prática ORL

- A prática clínica é necessária em 100% dos aterdinnentos (propedêutica).

O aluno deve aprender a examinar para poder reconhecer, tratar, ou mesmo encanrinlrar.

A prática cirúrgica não exerce importância significativa no atendimento do generalista. Este ensino no curso de graduação saí tem condições de ser teórico. Este ensino deve fazer parte do curriculuni de forma ponderada pelo bom senso de cada especialidade. Os procedimentos cirúrgicos de aprendizado indispensável, serão relacionados na "PRÁTICA DO ENSINO".

B) PRÁTICA DO ENSINO

01) O que o estudante precisa saber examinar?

02) O que precisa reconhecer (Diagnóstico - Capacidade Cognitiva).

03) Em que precisa atuar - (Intervir - "Capacidade Psiconnotort").

01) Saber examinar.

Precisa saber examinar o paciente otorrinolariongológico-incluindo alguma propedcutica artnadaOtoscopia.

Como aprende a examinar?

Em aula Prática (6 aulas) Objetivos: Propedêutica. Semiologia: normal/patologia (Anexo 2).

02) O que precisa reconhecer.

- Como aprende a reconhecer / diagnosticar.
- Em aula Teórica.
- Em aula Prática (7 aulas) - (Anexo 2).
- O que precisa reconhecer?

a) D que é mais freqüente.

Deve ter ouvido falar sobre TODOS os mais freqüentes.

Aula teórica (6 aulas) - (Anexo 1-aulas: 1 a 6).

Deve ter condições de ver alguns destes problemas se a estrutura permitir - Quais são? Aula Prática (6 aulas) - (Anexo 2).

a) Infecções Agudas e Crônicas; Ouvido, Nariz-Anexos, Faringe, Laringe-Traquéia-Brônquios; b) Corpos estranhos.; c) Neoplasias.

b) O que é mais grave.

Deve ter ouvido falar sobre TODOS problemas graves. Aula Teórica (6 aulas) - (anexo l-aula 7 a 12).
Deve ter condições de ver ALGUNS destes problemas se a estrutura permitir - Quais são?
Aula Prática (Nem sempre é possível. Eventualmente demonstração com paciente inteirado ou ocasional cie ambulatório).

c) O restante da especialidade.

Deve ter conhecimento para poder reconhecer, eventualmente tratar, e saber encaminhar obedecendo as seguintes prioridades:

- Problemas cujo desconhecimento pode levar o paciente a óbito.

Problemas cujo desconhecimento pode levar à prejuízo (LI função.

Problemas cujo desconhecimento impede, dificulta ou retarda a cura.

- Noções de técnica cirúrgica.

Aula teórica (3 aulas): (Anexo 1 aulas 13-14-15). Aula Prática - (apenas circunstancial).

03) No que precisa aluar/intervir

Como aprende a aluar intervir? Como aprende a intervir:

Aula teórica (2 aulas) (Anexo 1 aulas: 7-8). Aula prática (2 aulas) (Anexo 2).

a) Precisa atuar e resolver os problemas clínicos que estão a altura do seu conhecimento e encaminhar os outros (este aprendizado já foi analisado).

b) Precisa atuar ctn "Procedimentos de emergência não cirúrgico".

- Epistaxe - Tannponanrento nasal - Aprende em:

Aula teórica (1 aula) -Epistaxes. (aula 8).

Aula prática (1 aula) - Todos os alunos deverão confeccionar um tampão nasal. Deverão fazer sozinho, pelo menos uma vez o tamponamento anterior e posterior em cabeça de gesso.

"Precisaria" saber atuar nos seguintes "procedimentos cirúrgicas de emergência". (A importância desta parte da Disciplina na formação de um generalista é pouco significativa. Este ensino praticamente só tem condições de ser mostrado em aula teórica). Procedimentos:

- Cricotiroidotornia;
- Traqueostomia;
- Corpos estranhos;
- Drenagem de abcessos. Como aprende:

Aula Teórica: (2 aulas) - (Anexo 1 aulas 7-11). o Tratamento da Insuficiência Respiratória Aguda; (causas-conduta-intubação-traqueostomia- técnica cirúrgica).

- Corpos estranhos (laringe-traquéia-brônquios). Aula prática: (1 aula) - (Anexo 2).
- Opção dos seguintes métodos
- Dissecção em cadáver;
- Modelo de gesso;
- Vídeo.

- A drenagem dos abscessos segue igual orientação da cirurgia geral.
As particularidades anatômicas e funcionais da região deverão ser destacadas pelo professor nas aulas práticas e teóricas.

C) INTEGRAÇÃO DA DISCIPLINA DE ORL NO CURSO DE MEDICINA

1) A matéria da sua Disciplina (Serviço) tem participação significativa em ambulatório geral, posto de saúde e no atendimento de outras especialidades?

A resposta poderá servir como um dos parâmetros indicativos para incluir a matéria no Curso Básico corno "Disciplina" ou "Serviço".

Resposta - ORL (sim).
2) Que matérias do curso básico são indispensáveis ou necessárias para o estudante cursar antes da ORL previamente?

- Anatomia ORL. Fisiologia ORL.

Farmacologia (antibiótico - antiflamatório). o Histologia.

Todas tem valor importante de forma relativa exceto a anatomia.

Estes assuntos necessitam obrigatoriamente serem revisados sob a forma aplicada durante o curso de ORL.

3) Que outras especialidades atendem doentes com mesmo problema que a sua?

PEDIATRIA, CL. MÉDICA, CIRURGIA.
4) O que você esta ensinando é ensinado também por outras disciplinas do curso? Quais?

Sim. PEDIATRIA, CLINICA MÉDICA, CLÍNICA CIRÚRGICA.

A orientação deve ser dada: Junto a elas ou de forma independente?

ORL - De forma independente.
5) Alguma outra especialidade deve dar aulas na ORL para melhorar o conhecimento do aluno?

Como prioridade no espírito proposto pela reforma não vemos necessidade no momento. A ORL é quase auto-suficiente. Existe uma previsão de uma das aulas teóricas de ser dada pela "Comissão de Infecção Hospitalar e Doenças Infectocontagiosas".

6) O número de alunos faz diferença no seu ensina? Sim - Na aula prática (turmas previstas para 10 alunos). 7) A Otorrinolaringologia deve constituir "Disciplina Independente" ou "Serviço". Porque?

Resposta: "Disciplina Independente".
- Participa muito na rotina do generalista. Participa muito na medicina da criança. Participa muito na medicina do adulto.
- Participa muito na cirurgia.
Todos estes setores da medicina necessitam muito conhecimento Otorrinolaringológico.

O aluno terá benefício maior com uma orientação centralizada do ensino, feito por uma "Disciplina" e com aulas práticas nas suas Dependências.

As eventuais repetições dos temas (Exemplo: Na Medicina da Criança), são necessárias e servirão como reforço para fixar os conhecimentos de uma Especialidade com tão grande importante contigente Clínico e Cirúrgico.

Pela sua individualidade já desmembrou-se do "Departamento de Cirurgia" para formar com a Oftalmologia um Departamento Independente. Engloba vários "SERVIÇOS", alguns deles na prática já consideradas outras especialidades como: ENDOSCOPIA; CIRURGIA DE CABEÇA E PE~ COÇO; TRAUMATOLOGIA BUCO-MAXILOFACIAL; AUDIOLOGIA E OTONEUROLOGIA; CIRURGIA DA BASE DE CRÂNIO.

PROPOSTA DIDÁTICA
De acordo com as informações acima, com as necessidades do curso básico e com a possibilidade da nossa infraestrutura,julgamos razoável o tempo didático do otorrinolaringologista em:

- 50% Ensino teórico.
- 15(horas) - (programa no anexo 1). 50% Ensino prático.

Clínica 13 (horas) - (programa no anexo 2). Cirúrgica 2 (horas).

ENSINO TEÓRICO

ÉPOCA DO ANO DIAS:

HORÁRIO: LOCAL:
ENSINO PRÁTICO

ÉPOCA DO ANO: DIAS:

HORÁRIO: LOCAL: TURMA: TOTAL DE HORAS: 30 horas PERÍODO DO CURSO:


ANEXO 1 PROGRAMA TEÓRICO SEMESTRAL (15 HORAS) DIAS HORÁRIOS LOCAL

A) Mais Freqüentes

B) Mais Grave

01) Antibiolicoterapia em Otorrinolaringologia. o Noções atualizadas das doenças "Infecto Contagiosas- em ORL - Difteria - TB - Lepra - AIDS - Síflis. 02) Ouvido.

- Patologias Agudas e Crônicas do Pavilhão - CA. Externo - Ouvido Médio.

03) Nariz.
- Anátomo
- Fisiologia.
- Patologia Infecciosas Agudas
- Patologia Infecciosas Crônicas Ozena Granulomatose Nasal.

04) Faringe.
- Patologia do Orofaringe
- Diagnóstico e tratamento
- Neoplasias.

05) Laringe.
- Anátomo-Fisiologia
- Laringites Agudas e Crônicas
- Neoplasias.

06) Estomatologia.
- Noções de Clínica e Tratamento.

07) Insuficiência Respiratória Aguda.
- Causas
- Conduta
- Indicações e Técnicas de Cricotireïdotomia
- Traqueostomia e Intubação.

08) Epistaxe
- Etiologia
- Avaliação
- Tratamento.

09) Complicações das Otites Médias Crônicas.

10) Infecções dos Espaços Profundos do Pescoço.

11) Corpos Estranhos da Laringe
- Traquéia e Brônquios.

12) Noções em Traumatologia Buco-Maxilo-Facial.

C) Restante da Especialidade

13) Ouvido - Noções Sobre Deficiência Auditiva - Noções Sobre Síndromes Vestibulares.

14) Exame do Pescoço - Sibmilicado das Massas Cervicais. 15) Relação da Órbita com a ORL - Patologia do Seio Frontal - l;imóide - Esfenóide - A Otorrinolaringologia e a Cirurgia de Base do Crânio.

ANEXO 2 PROGRAMA PRÁTICO (15 HORAS) DIAS HORÁRIO LOCAL

01) Ouvido (03 horas):
- 01 hora: Otoscopia.
- 02 horas: Infecções Agudas
- Tipo de Surdez Corpos Estranhos.

02) Nariz (03 horas):
- 01 hora - Semiologia.
- 01 hora -Patologia
- 01 hora - Exames Complementares.

03) Faringe (03 horas):
- 01 hora - Semiologia.
- 01 hora - Patologia.
- 01 hora - Tratamento.

04) Endoscopia (02 horas):
- 01 hora - Laringologia.
- 01 hora -Exame - Endosopia - Intubação.

05) Semiologia em Cabeça e Pescoço (01 hora): - 01 hora - Massas Cervicais.

06) Epistaxe - Confecção de Tampão e Tamponamento Anterior e Posterior

07) Atendimento a Insuficiência Respiratória Aguda - Abertura do Cricotiroideo - Traqueostomia. Traumatismo Buco-Maxilo-Facial - Semiologia e mediadas de urgência (01 hora)

TOTAL: 15 HORAS




* Professor Adjunto de ORL da UFPR.
** Médica da Prefeitura de Curitiba. Trabalho realizado no Hospital de Cínicas da UFPR. Posto de Saúde da Prefeitura de Curitiba. Endereço do Autor:

Carlos E. Barrionuevo - Bispo Dom José 3505 - 80.420 - Curitiba - PR. Apresentado a "Comissão de Reforma Curricular" da UFPR-Julho 1991.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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