O objetivo deste trabalho é mostrar a nossa experiência com estes tipos de traumatismos, que de algum tempo para cá, vem se tornando freqüentes principalmente para os especialistas que trabalham nos hospitais de Pronto Socorro.
Por se tratar de um assunto que se apresenta com grande variedade tipos de lesões, esperamos prestar alguma colaboração com este trabalho.
MATERIAL E MÉTODOApresentaremos 17 (dezessete) casos que foram levantados nos últimos 5 anos, sendo 14 do sexo masculino e 3 do sexo feminino; a idade variou entre 16 e 54 anos, com maior incidência entre os 20 e 40 anos, estando em acordo com a faixa etária de maior atividade do homem principalmente no que se refere às profissões braçais e agressividade física do meio ambiente. No quadro que se segue, mostraremos esquematicamente o tipo de traumatismo, a lesão provocada, o atendimento, a conduta terapêutica e o resultado por nós obtido.
DISCUSSÃOOs resultados foram classificados em: EXCELENTE, BOM, SATISFATÓRIO e MAU.
EXCELENTE: Casos em que houveram recuperação anatômica e funcional -- 8 casos.
BOM: Casos com recuperação anatômica é alguma incapacidade funcional, por exemplo: disfonia nos moldes, disfalgia nas estenoses de faringe e esôfago, etc. - 7 casos.
SATISFATÓRIO: Caso que pela sua gravidade, ainda encontra-se em recuperação. Sobre o mesmo teceremos comentários detalhados.
MAU: Não tivemos nenhum mau resultado. ÓBITO: 1 caso.
Quanto ao atendimento IMEDIATO e TARDIO, julgamos de grande importância.
IMEDIATO: Atendimento com boas condições para explorar a ferida, verificando as lesões provocadas, tornando-se mais fácil a reconstituição anatômica, o que certamente contribuirá para um melhor prognóstico.
TARDIO: Nestes atendimentos o paciente nos é encaminhado devido a uma complicação gerada pelo traumatismo. Esta complicação será estenose laringo traqueal, de faringe, de esôfago ou faringostoma, etc.
Comentário do caso n9 17, de C. A., 16 anos: Paciente em pé em um leep sem capota, com alta velocidade; foi suspenso por um arame que havia de uma extremidade à outra da rua, ficando pendurado. Recebeu os primeiros socorros em um Hospital do interior e nos foi encaminhado 3 dias após o acidente. Ao exame constatamos o seguinte:
1 - Sonda naso-gástrica.
2 - Traqueotomia.
3 - Ferida Corto-contusa, suturada, que ia de uma parótida a outra, passando pela região supra-hioídeia.
4 - Paralisia facial direita principalmente do ramo mandibular.
5 - Grande edema de face.
6 - Fratura maxilar superior, com separação do palato duro e restante maxilar bilateralmente.
7 - Fratura do ramo E da mandíbula.
Em exame posterior, constatamos laceração de faringe, que já havia sido suturada. Hematoma de vestíbulo laríngeo e imobilização total da língua, demostrando paralisia bilateral dos hipoglossos.
Após melhora clínica, foi levado à cirurgia para correção das fraturas {Cirurgião Plástico}.
Houve cicatrização total da ferida cervical faríngea e também, regressão do hematoma laríngeo 23 dias após o traumatismo.
A canula traqueal e a sonda naso-gástrica, foram removidas 45 dias da correção das fraturas; nesta época o paciente começou a deglutir líquido com muita dificuldade.
Devido ao estado geral precário e o não consentimento dos país, só tivemos condições de fazer tentativas de anastomose dos hipoglossos 50 e 70 dias após o traumatismo.
1º cirurgia lado D, conseguimos encontrar os cotos do nervo, mas havia uma perda de 3 cm do mesmo. Fizemos enxerto utilizando o nervo lingual D, que também estava seccionado.
As anastomoses foram feitas com o auxílio do microscópio com o fio de seda no 10 - (Zero), e protegidas com tubo de colageno.
2º cirurgia dissecamos os cotos do hipoglosso E, sendo que havia uma distância de 4,5 cm entre ambos, com neuroma de amputação no coto proximal de 0,5 cm. O nervo usado para o enxerto foi o sural E, com suturas nas mesmas condições do lado D.
Três meses após as cirurgias começamos a notar os primeiros movimentos na metade da base D da língua. 4 meses após já se podia notar movimentos discretos da hemilíngua D, até o terço anterior e uma melhora do tonus muscular, passando a deglutir com maior facilidade sem retenção de saliva sob a língua e cavidade bucal, havendo uma melhora na articulação das palavras.
O paciente está sob controle e nota-se melhora progressiva na presente data, já com ganho bem satisfatório.
RESUMO E CONCLUSÕESProcuramos mostrar com este trabalho a nossa experiência sobre traumatismos cervicais em 17 casos que foram catalogados nos últimos cinco anos. A conduta terapêutica variou segundo o tipo de traumatismo, a lesão provocada e o atendimento imediato ou tardio do paciente.
Analisando os dados acima, chegamos a conclusão que o sucesso da terapêutica será tanto melhor e menos trabalhoso quanto mais precoce for o atendimento. É mais fácil tratar o traumatismo inicial que a seqüela deixada pelo mesmo.
Devemos visar não os resultados estéticos, mas sim e primordialmente os funcionais.
SUMMARYThe authors present 17 cases of cervical traumatism registered in the last five years, calling attention to the types of lesions, patient attendance, manner of treatment and results.
They relate in detail one severe case.
BIBLIOGRAFIA1. Butler, R. M. and Moser, F. H.: The Padded Dash Syndrome: Blunt Trauma to the Larynx and Trachea. The Laryngoscope, 78: 1172-1182, 1968.
2. Fitz-Hugh, G. S., Wallenburn, W. M. and McGovern, F.: Injuries of the Larynx and Cervical Trachea. Ann. Otol., 71: 1-24, 1962.
3. Holinger, P. A., Schild, 1. H., and Maurizi, D. 1.: Internal and External Trauma to the Larynx. The Laryngoscope, 78: 944-954, 1968.
4. Alonso, W. A., Caruso, V. G., and Roncace, E. A.: Minibikes, a New Factor in Laryngotracheal Trauma. Ann. Otol., 82: 800-804, 1973.
5. Ogura, 1. H., and Powers, W. E.: Functional Restitution of Traumatic Stenosis of the Larynx and Pharynx. The Laryngoscope, 74: 1081-1110, 1964.
6. Schmiegelow, E.: Stenosis of the Larynx: A new Method of Surgical Treatment. Arch. Otolaryngol., 9: 473, 1929.
ENDEREÇO DOS AUTORES:
Clínica Otorrinolaringológica do Hospital Felício Rocho - Belo Horizonte - MG.
*** Chefe da Clínica Otorrinolaringológica do Hospital Felício Racho - S. H.
Chefe do Serviço de Endoscopia perora] e Cirurgia de Cabeça e pescoço da Santa Casa de Misericórdia - B. H.
** Membro da Clinica Otorrinolaringológica do Hospital Felício Rocho - B. H.
* Médico residente R2 em Otorrinolaringologia do Instituto de Otorrinolaringologia de Minas Gerais, B. H.
Trabalho realizado: Clinica Otorrinolaringológica do Hospital Felício Racho - B. H. Serviço de Endoscopia perorai e Cirurgia de Cabeça e pescoço da Santa Casa de Misericórdia, B. H. Hospital Pronto Socorro Policial - B. H. Instituto de Otorrinolaringologia de Minas Gerais - B. H.