ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1973 - Vol. 42 / Edição 1 / Período: Janeiro - Abril de 1976
Seção: Artigos Originais Páginas: 38 a 40
O USO DO BLOQUEIO SIMPÁTICO NAS PARALISIAS FACIAIS
Autor(es):
Milton de Souza Leão Santos

Resumo: O autor revisa as bases fisio-patológicas da paralisia facial periférica, apresenta casos tratados com bloqueio anestésico da cadeia simpático cervical e conclui pelo seu uso, como tratamento de escolha.

Introdução

O tratamento das Paralisias Faciais continua sendo, na atualidade, assunto de discussões teóricas, eliminadas as de origens centrais, traumáticas e tumorais.

A teoria vascular, imputando ao espasmo das ramificações da artéria carótida externa - na altura do Canal de Falópio - como causa da paralisia, está universalmente aceita.

A isquemia resultante do espasmo (primária) provocaria uma anoxia das paredes vasculares mais delicadas e em conseqüência uma maior permeabilidade seguida de transudação. O edema contido pela bainha do nervo e pelas paredes ósseas do canal do Facial estrangularia o conteúdo dentro do continente, resultando uma compressão não só das fibras nervosas, como dos vasos venosos e linfáticos (secundária). (Devriese, 1974). A partir deste ponto, toda a terapêutica foi dirigida no sentido de mobilizar o edema causador da angústia. Clinicamente, através dos vasodilatadores, anti-histamínicas, corticosteroides e bloqueio anestésico dos gânglios simpáticos cervicais e cirurgicamente, pelas técnicas de descompressão do nervo facial.

Neste trabalho, apresentamos os primeiros 20 casos de uma série de pacientes tratados pelo bloqueio anestésico da cadeia ganglionar cervical, objetivo de uma pesquisa em andamento.

Bases Fisio-Patológicas

A regulação nervo-vascular do sistema da carótida externa é dada pela ação da cadeia simpática cervical, através das fibras peri-vasculares e é predominantemente vaso-constritora (Porta, 1958).

Isto torna-se particularmente importante quando sabemos, por Bosatra (1957), da existência de um plexo de anastomoses artério-venosas ao longo dos vasos que irrigam o nervo facial e que são suscetíveis aos distúrbios isquémico-edematosos. Desde Broemser (1938), temos conhecimento da dissociação funcional entre a anastomose artério-venosa e a rede capilar subjacente, onde a contração da primeira corresponde a uma dilatação da segunda.

Chambers e Zwuifach (1944) afirmam que, entre a arteríola e a vênula está interposta uma ponte vascular que é uma metarteríola, semelhante a arteríola mas provida apenas de fibras contráteis e de onde partem os capilares. Na emergência dos capilares, há um esfincter que regula a pressão sanguínea. É exatamente nesta formação vascular onde se pode demonstrar a ação reguladora do sistema nervoso autônomo. Seja por exclusão (vaso-dilatação), seja por sua estimulação (contração), como fizeram Schneider (1953) e Grant (1930) em pavilhões auriculares de coelhos.

Além disso, as anastomoses artério-venosas funcionam com um sistema autônomo de movimentos sistólicos e diastólicos constantes, Clarck, (1938) que podem ser interrompidos por estímulos de ordem física, nervosa e farmacodinãmica. O espasmo deste segmento vascular motivaria uma estagnação da circulação da vizinhança, com conseqüente anoxia e todo o círculo vicioso da isquemia primária e secundária. Com base nesse raciocínio e no esquema de tratamento das paralisias faciais de Lathrop, adotado por Mielke (1969), passamos a indicar o Bloqueio do Simpático Cervical, desde março de 1975.

Método

Sempre com auxílio do Anestesiologista, fazemos injetar uma solução diluída de anestésico (4 0 mg de Xilocaina) na região anterior do pescoço, tomando como referência a apófise transversa da 7a cervical, do lado paralisado, após a assepsia da região e mantendo

o paciente em decúbito dorsal durante cinco minutos. A obtenção da Síndrome de Claude Bernard-Horne -miose, ptose palpebral, congestão da conjuntiva, dilatação venosa dos membros superiores - confirma a obtenção de um bloqueio satisfatório.

Casuística e Resultados

Nos primeiros 20 casos tratados no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro II, da F.M.U.F.Pe., os pacientes variaram entre as idades de 7 a 72 anos, não houve distinção entre sexos e o tempo do início do tratamento em relação ao da doença variou desde 24 horas, de instalada a paralisia, até 3 meses. Esta variação decorreu de tratamentos anteriores em outros serviços, obviamente sem sucesso. O número de bloqueios realizados também teve uma faixa de variação muito grande (4 a 26) e em alguns casos não obedeceram a intervalos regulares entre si, mas em 50% dos casos foram necessárias menos de 10 sessões.





Nenhum dos 20 pacientes submetidos ao tratamento conservador (bloqueio) foi conduzido à cirurgia. A grande maioria (70%) recuperou a simetria facial de forma absolutamente completa e se alguma seqüela restou, em poucos deles, (30%), não acreditamos que o tratamento resultasse em melhores resultados.

A dor muitas vezes presente, nos casos de paralisia recém-instalada, esteve aliviada em seguida ao primeiro bloqueio. Nos primeiros casos, foram freqüentes as disfonias provocadas por anestesia do nervo recurrente, no entanto a diluição do anestésico sanou aquela complicação.

Comentários

Acreditamos que o bloqueio da cadeia simpático cervical é a maneira mais racional de conseguirmos ã mobilização do edema intra-canalicular do facial, nas paralisias faciais periféricas.

Agindo na altura das anastomoses arterio-venosas, sua ação vaso-pressora localizada, aumenta a circulação de retorno.

Por não apresentar contra-indicação do ponto de vista clínico, tem suas vantagens ressaltadas em relação aos corticoides e vaso-dilatadores genéricos e deveria ser o tratamento de escolha, nas paralisias faciais periféricas.

Summary

The author reexamine the physopathological basis of the peripheric facial paralysis and pacients several cases managed with cervical sympathetic glands anesthetic blockage and concludes by its use beíng the treatmeant of choise for those conditions.

BIBLIOGRAFIA

Bosatra A. - Contributo alia conoscenza della paralisi idiopatica dei facciale. Ruolo dei dispositivi di regolazione dei flusso sanguígno - Minerva Otorinolar., 7, 2, 77-81,1957.
Bromser Ph, - Diskussionsbemerkung zum referat Clara Arterio-venose nebenschlusse - Vrh dtsch. Ges. Kreisl. forsch, li, 1938.
Chambers R., Zwetfach B.W. - Topography and function of the mesenteric capillary circulation - Am. J. of Anat. 75, 173, 1944.
Clark E.R. - Arterio -venious anastomoses - Phisiol. Rev., 18, 229, 1938.
Devriese, P.P. -Compression and ischaemia of the facial
nerve - Acta Otolaryng., 77: 108-118,1974.
Grant R.T. - Observations on direct communications between arteries and veins in the rabbit's ear Heart, 15, 281, 1930.
Mien1ke A. - Parálisis dei facial - Tratado de Otorrinolaringologia, Tomo nI/1, p. 973-1011, 1969. Schneider M. - Durchblutungsstorun der Organe - Darnstadt: B. Steinkopff, 1953




End. do Autor:
Milton de Souza Leão Santos
Av. Cons. Aguiar, 3105- ap. 105 - B. Viagem Recife-PE.

* Aux. de Ensino da Discip. de Otorrinolaringologia da F. M. U. F. Pe. Hospital Pedro 11
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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