A finalidade deste trabalho é mostrar a incidência de paralisia facial periférica, sobretudo a ontogênica, encontrada em nosso serviço, assim como a sua distribuição quanto a etiologia e os critérios terapêuticos adotados. Em nosso material, a maior incidência foi de infecção, seguindo-se o grupo de paralisias de Bell, posição inversa da maioria dos autores. Em se tratando de criança, devemos salientar certos aspectos especiais que são de grande importância na etiologia da paralisia facial:
a) Desenvolvimento incompleto do canal de Falópio no segmento timpânico, sendo muitas vezes cartilaginoso e deiscente.
b) Deiscência ao nível do gânglio geniculado por falta da lâmina óssea que o recobre, havendo comunicação direta com a fossa média, podendo ser uma porta de entrada do ouvido médio e sistema nervoso central através desta abertura.
c) Por falta de proteção ao nível do foramen estilo mastoideo. Somente a partir do 20 ano a ponta da mastóide começa a desenvolver colocando o facial numa posição inferior dentro do crânio. Enquanto isto não ocorre, o nervo é muito vulnerável neste ponto a problemas traumáticos.
d) O aspecto horizontal, reto e curto da trompa, bem como a maior amplitude de seu Istmo facilita a disseminação de processos infecciosos do naso faringe ao ouvido médio.
e) Presença de vegetações adenoideanas levando à obstrução tubária também favorece a instalação de processos mórbidos no ouvido médio.
f ) Maior freqüência de infecções de vias aéreas superiores na criança.
MATERIAL E MÉTODOSO nosso material consta de 21 casos vistos nos últimos cinco anos, representando mais ou menos 20% do total de casos de paralisia facial periférica atendidos em nosso serviço, incluindo todos os grupos etários. (Vide quadro abaixo). 8 são do sexo feminino e 13 de sexo masculino; a idade variou de 5 meses a 12 anos. Quanto à etiologia, 9 casos foram devidos a infecção otomastóidea, sendo 2 destes tuberculosa; 5 casos de Bell; 2 casos de tumor maligno (1 Rabdomiossarcoma do ouvido médio e o outro metãstase temporal de osteossarcoma do membro superior esquerdo); 1 caso de Herpes zoster (virótico); 1 caso surgido concomitante com surto de febre reumática; 2 com alterações congênitas e 1 traumático.
QUADRO 1 - Relato dos casos.
Diagnóstico
Deve-se ter em mente todas as possíveis causas para o diagnóstico diferencial. Qualquer desvio da normalidade deve ser minuciosamente explorado ao exame clínico e neurológico, além do O.R.L. e otoneurológico. Muitas vezes é difícil determinar a natureza
e localização da paralisia. As crianças muito pequenas não cooperam nem para avaliação dos movimentos faciais, a não ser quando choram. Assim sendo, este deve ser estimulado não só para se ter uma idéia dos movimentos faciais, mas também da presença e quantidade do lacrimejamento. Com isto já se tem uma idéia da localização supra ou infragenicular. Aqui, em se tratando de crianças que cooperam pouco ou nada, o limiar auditivo só pode ser pesquisado por métodos objetivos (E.R.A. ou E.C.G. e algumas vezes pela medida do reflexo estapédio). O estudo radiológico do osso temporal tem especial valor neste grupo de pacientes. Se a criança tem idade suficiente, fazemos o exame otoneurológico completo: avaliação das funções auditivas e vestibulares, RX das mastóides, testes de excitabilidade; mais raramente solicitamos cisternografia e neuronografia.
Tratamento
Na grande maioria a paralisia decorre de doenças que atingem o nervo e mais raramente de doenças próprias do mesmo. O tratamento deve ser conduzido visando primeiramente a etiologia, podendo ser clínico ou cirúrgico, sem se levar em conta o tratamento cirúrgico propriamente dito da paralisia.
Nas infecções o tratamento clínico é feito na base de antibióticos e corticoesteroides. Se há coleção líquida a tendência é intervir de imediato com punção mais lavagem e aspiração do ouvido médio, podendo-se deixar um colar para drenagem contínua. A paralisia é seguida com os testes de excitabilidade. Se não há indício de recuperação entre a 4a e 6a semana, o doente passa a ser candidato à cirurgia descompressiva (dessecação do nervo e abertura de sua bainha).
Nos casos de paralisia facial idiopática,acompanhamos a paralisia seguindo-se os critérios assinalados. Se entre a 4a e a 6a semana não notamos nenhum indício de recuperação, temos tendência em indicar cirurgia. Praticamente todos os casos desta série nos foram enviados tardiamente, onde toda tentativa de tratamento já tinha sido feita, nos restando somente o cirúrgico, dai a alta incidência de cirurgia nos casos de Bell.
Summary
The autoors present 21 cases of infantile facial paralysis of various ethiologies. They discuss the propaedeutic and treatment used in the specific case.
* Médicos do Hospital Felício Rocho