ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1925 - Vol. 49 / Edição 4 / Período: Outubro - Dezembro de 1983
Seção: Artigos Originais Páginas: 15 a 19
TRATAMENTO DO PAPILOMA DA LARINGE
Autor(es):
MARCOS GRELLET 1

Resumo: O papiloma da laringe é uma lesão que origina proliferação exofítica do epitélio escamoso e estroma. O papiloma pode se malignizar e ao invadir o estroma pode atingir sua vascularização e provocar metástases. A etiologia é discutível, parecendo ser viral. A grande maioria dos papilomas são encontrados na raça branca e antes dos sete anos de idade. Sua malignização é rara. O tratamento do papiloma da laringe deve ser clínico e cirúrgico. A ressecção microcinúrgica e a laserterapia são os métodos de escolha para o tratamento cirúrgico. Clinicamente a vacina autógena poderá combater o vírus em sua fase extracelular. Podemos usar o interferon para agir sobre o vírus dentro da célula. Esta associação de tratamento poderá trazer melhores resultados para o grande problema do papiloma, que é a sua recidiva.

O papiloma da laringe é uma lesão que origina proliferação exofitica do epitélio escamoso e estroma (Fig. 1).

O estroma constitui o eixo conjuntivo-vascular. Separando o estroma do epitélio escamoso encontramos a membrana basal. Esta é importante no exame histopatológico porque o seu rompimento pelo papiloma provoca invasão do estroma. Esta invasão pode atingir a vascularização e provocar metástases. Se o vaso for sangüíneo, a metástase pode ocorrer em qualquer região do organismo. Se for linfático, a metástase deverá ser regional (Fig. 2).



Figura 1- Microfotografia do papiloma da laringe.



Figura. 2 - Histopatologia do papiloma da laringe: epitélio escamoso, membrana basal e estroma.



A etiologia é discutível, entretanto parece ser viral. Há semelhança morfológica com papiloma que ocorre em outras localizações onde a origem viral foi comprovada. A regressão espontânea, a expansão ou recidiva, apesar da ressecção adequada do tumor, são aspectos clínicos favoráveis à etiologia virótica. Ulmann inoculou em seu antebraço tecido de papiloma da laringe ressecado. Após três meses apareceram verrugas na região inoculada.

Supeitando de um vírus, inoculou extratos de células livres do tecido laríngeo papilomatoso em seu braço e no de um de seus assistentes. Após período semelhante apareceram verrugas.

Também foi observado que mães de inúmeras crianças portadoras de papiloma da laringe apresentaram condiloma acuminado e lesões de origem virótica, que ocorrem na área genital. Provavelmente, ao nascer, a criança poderia ter-se contaminado no canal do parto, desenvolvendo posteriormente o papiloma laríngeo.

No quadro histopatológico a vascularização das células do epitélio escamoso da laringe faz suspeitar da etiologia virótica. Também a resposta à terapia imunológica é favorável a esta etiologia.

A incidência em relação à raça está acima de 80% na branca. Na raça preta a incidência do papiloma está acima de 14% e, para as demais raças, a presença dessa patologia laringéia ocorre em porcentagem mínima.





A predominância do papiloma no sexo masculino é pequena em relação ao sexo feminino.





A grande maioria dos pacientes adquirem a doença antes dos sete anos de idade.





Clinicamente as crianças podem apresentar rouquidão, freqüentes obstruções das vias aéreas, lesões múltiplas e recidivas. As alterações malignas são raras.

Os adultos apresentam geralmente rouquidão. Entretanto são raras as obstruções das vias aéreas e pouco freqüentes as lesões múltiplas e recidivas. As alterações malignas são mais freqüentes.



O papiloma solitário queratinizado é considerado pré-canceroso em mais de 50% dos casos. A conversão maligna ocorre em 20% dos casos (Fig. 3).

O papiloma múltiplo não queratinizado apresenta alta taxa de recidiva mas sem malignidade.





A papilòmatose da laringe pode ser diagnosticada inicialmente (erros de diagnóstico) como sendo nódulo da corda vocal, paralisia da corda vocal, bronquite, asma, alergia, crupe ou laringomalacia.



Figura 3 - Histopatologia do papiloma da laringe: carcinoma in situ.





Os mais diferentes tratamentos têm sido preconizados sem resultados totalmente satisfatórios.


Como tratamento clínico, têm sido utilizados hormônios, podofilina, antibióticos, levamisole, autovacina e interferon.

O tratamento cirúrgico tem sido feito através da macro e microcirurgia, utilizando-se termocautério, eletrocautério, radiação, microbisturis, microtesouras, criocirurgia e CO² laser.





O termo e o eletrocautério não tiveram seguidores. A radioterapia do papiloma benigno da laringe aumenta a possibilidade de degeneração maligna, podendo provocar também necrose secundária e estenose laringéia.

A criocirurgia perdeu sua ênfase com a CO² laserterapia. Esta, e a ressecção microcirúrgica com microinstrumentos, são os tratamentos cirúrgicos mais utilizados atualmente.

Os papilomas laríngeos não são sensíveis aos antibióticos atualmente conhecidos.

A corticoterapia inibe a síntese e a ação do interferon.

Considerando-se o papiloma da laringe como sendo de etiologia virótica, podemos estruturar seu tratamento com base em suas características.

O vírus é um parasita intracelular. Entretanto até penetrar na célula encontra-se nos humores do, organismo.

Podemos, portanto, através da microcirurgia da laringe ou com CO² laser, ressecar o papiloma. Ao tratamento cirúrgico podemos associar o tratamento clínico através da ação sinérgica da imunidade humoral, que poderá prevenir a reinfecção e a imunidade celular, que combaterá o vírus dentro da célula.

A vacina autógena poderá combater o vírus em sua fase extracelular. Desde que penetre na célula, será protegido por ela, tornando-se insensível à ação exterior, em particular à dos anticorpos.

Podemos utilizar o interferon para agir sobre o vírus dentro da célula. Este intervém no início da infecção, imediatamente após a penetração celular do vírus, impedindo-o de multiplicar-se.

Acreditamos que a associação do tratamento cirúrgico ao clínico poderá trazer melhores resultados considerando-se que o maior problema do papiloma da laringe é sua recidiva.

SUMMARY

Papilloma of the larynx is a lesion which induces exophytic profferation of the squamous epithelium and stroma. The papilloma may undergo malignization and invade stroma up to the vessels producing metastases.

Its etiology is not clear, possibly viral.

In a great majority papilloma are a disease of white, rate, rising before áge seven.

Malignization is rare.

Treatment of the larynx papilloma must be clinical and surgical.

The best treatment is ixcision by microsurgery and the use of laser.

Clinical employment of autogenous vacine may sustain virus in extraceBular fase.

Interferon may be emploied for intracellular fase. This association in treatment may bring the better results for the problem of papilloma which is mainly the ,recidiva.

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1 - Professor Adjunto e Chefe da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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