ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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1892 - Vol. 8 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1940
Seção: Várias Páginas: 783 a 792
FESTAS JUBILARES DO PROFESSOR JOÃO MARINHO (2 a 7 de Dezembro de 1940)
Autor(es):
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A "Revista Brasileira de Oto-rino-laringologia" pediu-me que fizesse um apanhado das festas jubilares do Prof. João Marinho, de que este numero é sua maior consagração. Puz mãos á obra, redigi-o e, como sempre faço, entreguei-o ao Mestre para lê-lo. Pela sua carta do topo do noticiário, tem-se a impressão de que o que se vae ler é meu. Mas a proporção que a leitura continua, vai-se aos poucos conhecendo que o estilo é o homem. Tudo foi refundido de tal maneira que o publicado é dele, exclusivamente dele. Entregou-me datilografado, dizendo-me que somente respingara pontos, amputará fatos. Nada disso, fez tudo e mais ainda, pediu que se publicasse a carta que me escrevera. Relutei em levar ao conhecimento dos diretores da Revista tal pedido. Considerei-me suspeitíssimo, principalmente pelo que ela contem de particular sobre mim, palavras generosas ditadas pelo coração. Nada fiz, tudo fizemos. Não fôra a generosidade e estima particular dos diferentes colegas do nosso Pais e dos irmãos do Continente, nada podia ter feito. Tudo é pois o resultado da amizade pela amizade. O sentido personalista desaparece diante desta magnifica prova de carinho e solidariedade continental.

A. M.

Meu querido Aristides.

Com desculpas ao Homero, parece-me preferivel enviar o seu apanhado mesmo em borrão. Entendo-le mais certo do que entregue as interpretações habituais das maquinistas.

Daí o não se mandar passar a limpo, ainda porque o tempo urge.

Como verá, apenas juntei particularidades de uma vida, que Vocês
engrandeceram até à ilusão daquela semana de que Você, meu amigo, foi, como no Congresso de 1938, a grande alma e, como as grandes, sem dar na vista. Muito obrigado.

a) J. Marinho
Petropolis, 14-1-41.

Na semana de 2 a 7 de Dezembro ultimo realizaram-se as comemorações jubilares do 25.° aniversario de atividade professoral do Dr. João Marinho de Azevedo, mais conhecido pela abreviatura de J. Marinho, que preferia ao nome inteiro, menos por comodidade que por conservar o nome por que fôra conhecido o pai - Dr. Marinho, mais tarde o Conselheiro Marinho, medico de larga clientela ao seu tempo.

A diretoria da Sociedade de Oto-Rino-Laringologia do Rio de Janeiro, de que é presidente honorário, tomou a si a iniciativa de organizar-lhe festividades ao jubuleu, debaixo da direção do presidente, Dr. Mauro Pena e de uma comissão especialmente nomeada, de que faziam parte os Drs. Aristides Monteiro, Alberto Ponte e Duarte Moreira.

Organizado o programa, repartiram-se as atividades de modo a preencherem-se as manhãs com sessões operatórias, de especial agrado do homenageado, a quem se deve na Congregação da Faculdade de Medicina do Rio a idéia por muito tempo combatida da "prova de operação no vivo", hoje aceita em tôdas as nossas escolas médicas e, porventura, o Brasil o único país em adotar esse processo decisivo na apreciação de candidato a professor de cirurgia. Completar-se-ião as demonstrações operatórias com outras de interêsse doutrinário em diversos serviços hospitalares que acorreram pressurosos aos desejos da Comissão. Reservar-se-iam duas noites para sessões, uma solene, na Academia Nacional de Medicina, sob o patrocínio de seu digno presidente, o professor Doutor Aloísio de Castro; outra, na Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, a qual, a pedido, não passasse de trabalhos de uma sessão ordinária. A inauguração de seu retrato em uma das enfermarias do Serviço da Especialidade fundado por êle no Hospital S. Francisco (homenagem de que o costume há muito se desobrigara, se o Professor não a preferisse adiada para o fim de sua carreira), completaria a semana jubilar rematada por almoço que lhe ofereceriam os seus amigos, se, ao saber disso, não tomasse a si a oportunidade para agradecer as homenagens que iria receber.

"A Revista Brasileira de Otorinolaringologia" associou-se logo à consagração, bem como a Faculdade de Medicina e as Associações Medicas de S. Paulo, a Faculdade representada em pessoa pelo Professor Paula Santos, a Sociedade de Medicina e Cirurgia pelos Drs. Francisco Hartung, Moura Campos e Aires Neto; a Revista, por seus diretores, Drs. Mário Ottoni de Rezende e Homero Cordeiro, ex-interno do professor Marinho, de que só não foi assistente por haver declinado o convite, na preferência dada a S. Paulo para o exercício da profissão.

A primeira sessão do programa realizou-se no serviço clínico do professor Anes Dias, no hospital Estácio de Sá, à qual está anexo o de Oto-Rino-Laringologia a cargo do Dr. Mauro Pena. O professor Anes Dias presidiu a sessão referindo-se a carreira de clínico, de professor, rematada na tranquilidade de quem logrou a ventura de poder retirar-se da vida ativa deixando feita uma Escola, hoje estimada por tôda parte. Daí passaram à sala de operações onde o Dr. Mauro Pena demonstrou com desembaraço de cirurgião saído do anatomista e repetido muitas vezes a mesma intervenção no vivo, a técnica da operação radical executada pelo conduto. Voltada a numerosa assistência ao anfiteatro de preleções, foi o resto da sessão preenchida pelo Dr. George Silva, que apresentou com admiração geral casos de plástica facial por enxertos tubulares, e pelo Dr. Homero Carriço, outro, ilustrado pela radiografia, de adamantinoma em que desenvolveu a patogenia diferencial entre os blastomas péri-quisticos provindos de restos paradentários indiferenciados e os originários do esmalte e polpa dentária. Por fim, o Dr. Cláudio Bardy, radiologista da clínica, apresenta várias chapas radiográficas do rochedo e laringe, no que se tem revelado seguro conhecedor.

Da sessão de terça-feira encarregou-se o Dr. Caiado de Castro, conhecido chefe de Serviço da Especialidade no Hospital Pronto Socorro da Assistência Municipal, afamado por sua perícia em extrair corpos extranhos do esofago e bronquios, de estatística já subida a cêrca de um milhar de casos. A sessão foi iniciada pelo Professor Marinho, a quem o Dr. Caiado pediu quisesse operar diante de moços que nunca o tinham visto em ação. De vários casos dados a escolher, preferiu um de mastoidite aguda em adiantado estado de evolução e grande abcesso subcutâneo através de larga brecha na cortical, patenteada à radiografia e no qual verificou, à operação, o que pretendera em mente demonstrar ao escolher o caso, de outra maneira trivial: o quanto em tais circunstâncias coincidentes com destruição extensa da cortical, a descompressão das células provinda do pus extravasados predispõe a formação da osteite condensantes, da qual provêm o fechamento rápido da comunicação normal do sistema mastoidêo com o antro. O desavisado, mas já seguro na lição clássica de jamais deixar de alcançar o antro na operação de Schwartz, procura esculpir no esqueleto já a caminho de eburnizar-se, a passagem que se fechou. Sôbre inútil, a tentativa corre o risco de, à falta de pontos de referência desaparecidos, lesar o canal horizontal, ou o facial. O ouvido médio em tais casos prova o isolamento entre êle e a cavidade mastoidéa supuraste.

Agradecendo referências elogios ao seu desembaraço cirúrgico, declarou que, depois de certa idade, não será fácil encontrar operador digno de apreço, todavia, em qualquer arte persiste o gosto, à conta do qual "onde o fogo ardeu sempre um brasido fica.

A seguir o Dr. Caiado de Castro demonstrou com maestria, que não é só a de extrair corpos extranhos, o modo como opera, por via externa, sinusites fronto-etmodas, por processo que merece nome de original, dada a simplificação que introduziu na técnica e consiste em delimitar o campo operatório de entrada ao etmóide, através da lâmina papirácea, por duas linhas que se encontram em ângulo reto, a horizontal partida do orifício etmoidal anterior ao encontro da outra, perpendicular, levantada da goteira lacrimal. Através da area situada abaixo e atrás dessas duas linhas, esvazia o labirinto etmoidal e chega, com facilidade e larga visão, quando preciso, ao esfenóide. Antes, começa a operação com abertura alta do seio frontal, por onde cureta-o à vontade em todas as direções, como o quê estabelece larga passagem do frontal para a cavidade nasal, através das celulas anteriores do ducto fronto-nasal retiradas.

Quarta-feira coube, a Clínica de O. R. L. da Escola Fluminense de Medicina homenagear o Professor Marinho. Recebido pelo Diretor da Escola, Professor Barros Terra e pelo professor da Especialidade Dr. Maurilio de Melo, seu ex-assistente longo anos no Hospital S. Francisco de Assis, começaram por visitar instalações recentes aparelhadas a tôdas as cadeiras, em edifício adrede construído, onde se encontram exemplarmente dispostas as da Clínica Otorrinolaringológica, que o Diretor, dia e noite alma da Escola, entre severo e sorridente, atribuía ao professor haver-lhe feito com pouca clareza a conta do por quanto sairia tudo aquilo...

O professor Maurilo discorreu sôbre casos reservados para o entretenimento da manhã, entre os quais o de extenso blastoma do laringe, que teve de operar de urgência, fora do comum por tratar-se de criança e o tumor não prestar-se ao diagnóstico clínico ordinário e pronto de papiloma. Depois, dirigiram-se ao Hospital S. João Batista, onde o Dr. Capistrano Pereira, participante do programa, os esperava e executou uma transmaxilar de Moure por blastoma da região, enquanto seu auxiliar, Dr. Getúlio dos Santos operava, com edificante tranquilidade, em sala anexa, sinusite etmoide-maxilar pelo processo de Ermiro de Lima, o indiscutivel sucesso da Especialidade no presente.

Quinta-feira, o Dr. Pinto Fernandes, Capitão de Corveta médico e chefe do serviço da Especialidade no Hospital da Marinha, recebeu o professor Marinho com o carinho de quem iniciara a aprendizagem de Oto-rino-laringologia no seu Serviço do Hospital S. Francisco, repassada depois com Jorge Portmann, em Bordel. Os já conhecedores da perfeita instalação da Clínica especial no Hospital da Marinha, organizada pela experiência e sabedoria de seu chefe, com renovada admiração voltavam a visitá-la; os da primeira vez não cabiam em si por verem confirmado o que já sabiam de ouvir dizer. De quanto o dirigente houve por necessário, nada lhe regatearam os superiores; os que lhe conhecem a competência imaginam o que não soube pedir e, porquê tudo lhe deram, logo se depreende o que não pediria, desde o audiometro, último modelo, instalado em câmara isolada de ruídos convizinhos, sala de operação com ar condicionado, onde demonstrou o seu desembaraço na operação de Ermiro de Lima, que foi um dos primeiros a praticar, até os boxes, gabinetes completos de exame a que nem falta negatoscópio privativo a cada um; a enfermaria e quartos particulares, destinados ao internamento de oficiais, com as luzinhas de chamar, sem ruído, pela enfermeira e já se apagarem quando chegam, dispositivo sem novidade, salvo o de se ver em hospital geral confiado à administração pública, via de regra parcimoniosa no assunto. Era de ver a satisfação do professor Marinho ao testemunhar o quanto a Especialidade tem progredido, e aperfeiçoados modelos idos buscar aos primitivos da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, nome enorme, como costuma a dizer, a contrastar com a penuria de suas clinicas oficiais, desprovidas atualmente até do trivial, na expectativa de um Hospital de Clínicas, de levantamento adiado até ao desespero.

A recepção no Hospital da Marinha requintou com associarse, o Diretor do Hospital, Contra Almirante, Dr. Flavio de Vasconcellos ao significado da reunião, e saudou o homenageado na recepção que lhe prepara em seu gabinete.

SESSÃO SOLENE NA ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA

Na noite de quinta-feira, culminaram as festividades jubilares em sessão solene da Academia de Medicina, reunida especialmente para esse fim, conjuntamente com tôdas as sociedades médicas com sé de no Rio de Janeiro e várias dos Estados com representação autorizada. Assim também tôdas as Faculdades de Medicina do Brasil, ou por seus proprios diretores, eventualmente presentes no Rio, ou por meio de representação. Da de S. Paulo, chegara na vespera o professor da Clínica de Otorinolaringologia, Dr. Paula Santos, cuja oração foi vivamente aplaudida assim pela alteza dos conceitos, como pela compostura do orador, de exemplar dição, o conjunto na tribuna a contrastar com o habitual feitio retraído de sua personalidade; pela Faculdade da Baía usou da palavra o seu eminente prof. de Oftalmologia, Dr. Cesário de Andrade; a do Recife, em pessoa, por seu diretor Professor Oscar Coutinho; a de Belo Horizonte, pelo professor Ildeu Duarte, a quem não lhe sofreu o coração não viesse, mesmo em pessoa, para a incumbência tão grata ao homenageado de representar a sua Faculdade; o professor Heitor Anes Dias, a de Porto Alegre por ofício transmitido pelo Diretor; a Faculdade do Paraná investiu o Dr. Aristides Monteiro fazer-lhe as vezes na solidariedade das outras; a Faculdade Fluminense de Medicina, na pessoa do Diretor, Professor Barros Terra, que só voltou para casa, em Niterói, no dia seguinte, dado essa memorável sessão haver terminado depois da meia noite; o professor Rolando Monteiro, por telegrama e em pessoa representou a Faculdade de Ciências Medicas do Distrito Federal; o professor Goulart de Andrade, a Faculdade Halhnemaniana, a quem a Comissão convidou por especial pedido do Dr. Marinho, de compensada veneração pela exemplar moralidade e coragem cívica de Samuel Hahnemann, dando de mão a pingues proventos de extensa clientela, em Dresden, só por lhe parecer imoral continuar no exercício de uma profissão em cujos fundamentos deixara de crer; o professor Tanner de Abreu, o presidente, representou a Sociedade Medica de S. Lucas, da particular estima do homenageado, que se honra em frequentar-lhe as sessões pelo muito que lhe venera o edificante exemplo de afirmar de publico a sua crença nas altas virtudes oraculares de seu patrono, presente em imagem, esculturada, sôbre a mesa da presidencia das sessões e nenhuma começa sem a devida prece invocadora; a Sociedade de Oftalmologia do Rio de Janeiro esteve representada por seu presidente, o Dr. Joaquim - Vidal, e pelo Orador, Dr. Sílvio Abreu Fialho; o Dr. Salles Guerra, pelo Diretor, corpo clínico e Sociedade Médica do Hospital S, Francisco de Assis de que o professor Marinho é sócio fundador e presidente honorário; o Dr. Mário Ottoni de Rezende, sábio, perseverante e benemérito diretor-mantenedor da "Revista Brasileira de oto-rino-laringologia", veiu especialmente de S. Paulo em expressão de seus sentimentos de amizade e, também, portador da solidariedade da Clínica de O. R. L. que chefia na Santa Casa de Misericordia de S. Paulo, do Hospital Municipal, do Sanatório Esperança e do Diretor Geral do serviço clínico da Santa Casa, Dr. Sinésio Rangel Pestana, continuador com engrandecimento da direção herdada das excelsas personalidades que foram Arnaldo Vieira de Carvalho, o glorioso fundador da Escola de Medicina de S. Paulo, e Diogo de Faria, por longo tempo o destacado clínico de S. Paulo; o Dr. Homero Cordeiro, diretor com o Dr. Ottoni da estimada Revista, representou-a, mais a Secção de O.R. L. da Associação Paulista de Medicina e a Clínica de O.R.L. do Hospital Humberto I, da qual é chefe; o Dr. Francisco Hartung, outrora assistente do saudoso prof. Henrique Lindenberg e, com o Dr. Mário Ottoni, seguro testemunho do quanto vale, desde o início, a escola paulista de Oto-Rino-Laringologia, deu ao homenageado a ventura de participar pessoalmente na festividade do jubileu e, mais veio representando juntamente com Mário, Ottoni, Dr. Aires Neto e Moura Campos, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo, de que o professor Marinho é membro honorário; a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, de que é sócio benemérito, representou-se por seu presidente, Dr. Manuel de Abreu e por ela externou-se o professor Maurilo de Melo; pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões, o seu presidente, professor Hugo Pinheiro Guimarães, detentor e fundador de serviço cirúrgico modelar no Hospital Estácio de Sá; pela Sociedade de Dermatologia e Sifilografia, o presidente Dr. Silva Araújo, continuador da celebridade paterna na mesma especialidade; o Dr. Pernambuco Filho trouxe a saudação da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal de que é presidente e, ao tempo da presidência perpétua do saudoso professor Juliano Moreira, foi duas vezes vice-presidente o professor João Marinho; o Dr. Edilberto Campos, oculista de reputação invejável entre os seus pares, recordou do quando, estudante, e mais tarde, médico ao lado do Dr. Guedes de Melo, conheceu o homenageado ao tempo dele ativo no Serviço de Garganta, Nariz e Ouvidos no antigo Hospital de Crianças da Santa Casa, hoje Hospital José Carlos, Rodrigues e remata a carinhosa oração com reminiscências da passagem do orador por Viena. onde encontrou bem vivas saudades de Marinho, no coração de seu mestre, Henrique Neumann e nas lembranças do condiscípulo de então, mais tarde notável otologista, Érico Ruttin; o Dr. Adamastor Barboza, discursou em nome da Sociedade de Pediatria de que é presidente e o professor Marinho sócio fundador; o professor Barboza Viana a quem, por extravio, não chegou o convite da Comissão organizadora, apresentou-se, com apreciada veia cheia de graça a êsse propósito, como representando a Sociedade de Traumatologia e por tudo foi muito aplaudido; a Policlínica de Botafogo, já na aclamação pública "Policlínica Luís Barbosa' e da qual o Prof. Marinho é sócio honorário, participou nas homenagens por seu fundador e presidente perpétuo, em comissão com o Dr. Luís Torres Barbosa e Carlos da Silva Costa; a Policlínica Geral do Rio de Janeiro de que o homenageado é sócio benemérito, esteve presente por seu presidente, o Dr. Afonso Mac Dowell notável clínico, discípulo dileto de Miguel Couto; a Sociedade de Tisiologia, por seu presidente, Dr. Reginaldo Fernandes de juventude já marcante na especialidade que abraçou; o Instituto e a Associação Médica Penido Burnier de que o professor Marinho é membro honorário, compareceu, em mente, por telegrama de seu fundador e, em pessoa, por um dos diretores, Dr. Gabriel Porto, o interno mais demorado que teve o professor Marinho e mais tarde seu assistente; a Sociedade Médica de Petrópolis, de que o professor Marinho é sócio honorário, enviou à Comissão expressivo telegrama de participação no jubileu.

O Provedor da Santa Casa da Misericordia do Rio de Janeiro, sua Excelência Doutor Ari de Almeida e Silva, presente a sessão inteira, distinguiu sobremodo o festejado, querendo êle mesmo, conforme declarou, ser o portador de honroso ofício de agradecimento pelos bons serviços prestados desde o tempo de estudante, como interno, a principio adjunto e depois efetivo e mais tarde como organizador e médico da secção de oto-rino-laringologia do Hospital de Crianças, de que foi um dos fundadores na direção do saudoso Dr. Fernandes Figueira e onde lecionou, desde 1909, a estudantes, e médicos, alguns a se prepararem para concursos profissionais a cargos na Prefeitura.

Falou em nome da Academia Nacional de Medicina, o professor Augusto Paulino, presidente da Secção de Cirurgia Geral a qual pertence o professor Marinho, e jamais acabou consigo passar para a especializada, por saudosa reverência ao seu amigo e mestre Dr. Daniel de Almeida, a quem substituiu na colenda congregação, para onde entrou no ano de 1919, com a monografia fundamental em nosso meio, "Relance de Anatomia Medico-cirurgica às Intervenções no Seio Frontal: A operação de Taptas-Kuhnt", de menção honrosa do saudoso e severo Professor Domingos de Góis, ainda inédita quando no ano seguinte serviu de sugestão à tese de doutoramento de seu interno, hoje reputado especialista em S. Paulo, Dr. Homero Cordeiro e, em 1922, de novo aparecida nos Anais da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro ao tempo da Diretoria Aloísio de Castro, que tão bem sabia, pelo exemplo e pela persuasão, animar os professores a não lhe deixarem em branco os Anais, sempre a ponto durante o tempo em que governou a Escola.

Ao assumir a presidência da memorável sessão, o professor Aloísio de Castro, em improviso longamente aplaudido, declara o quanto lhe era grato receber, como presidente da Academia, quem há vinte e cinco anos, como Diretor da Escola de Medicina, investira no cargo de professor, recem-nomeado após memorável concurso, "em que (lendo excerto do que então dissera ao recepiendário) o valor das provas redobraram-se com os dons tão raros da boa graça e da galanteria". Em seguida dá seu testemunho da vida escolar do professor, ao qual como diretor acompanhou dez anos ou quantos durou na direção da Faculdade e termina jubiloso por ver o tempo sancionar a previsão que fizera a carreira professoral de João Marinho, com o quê volta a ler novo trecho do que em 1915 vaticinara ao recebê-lo: "Batemos as palmas ao concurso que aqui vos trouxe. Trazieis lá de fóra merecida reputação, que facilmente confirmastes, pelo que estamos certos de que o futuro não desdirá com o presente; a mesma inspiração vos assistirá nos trabalhos a que agora entrais e fica entregue ao vosso ardente zelo".

O discurso do professor Marinho será publicado juntamente com os demais, limitando-nos agora apenas a dizer que, passada meia noite quando terminou a sessão, não se havia retirado um só da assistência que enchia a bancada reservada aos acadêmicos, nem do salão nobre repleto.

Na sexta-feira reuniram-se em sessão operatoria no Hospital S. Francisco de que participaram o Dr. Caiado de Castro, ainda uma vez demonstrando sua segurança e elegância de operador em um caso de mastoidite aguda, e o Dr. Paulo Brandão executando a operação de Ermiro de Lima segundo técnica e instrumental original do professor Marinho, publicados em sua monografia ao relatar o têma proposto ao Brasil pela Comissão organizadora do l.° Congresso Sul Americano de Otorrinolaringologia reunido em Buenos Aires em Abril de 1940:

À noite foi a reunião na Sociedade de Otorrinolaringologia do Rio de Janeiro, abrilhantada com a presença dos Professores Paula Santos, Ildeu Duarte, e dos Drs. Mário Ottoni de Rezende, Homero Cordeiro, Francisco Hartung, Gabriel Porto e Procopio Teixeira, tendo despertado vivo interesse, considerações acêrca do resultado da sulfanilamida na Especialidade, discussão em que, alem dos mencionados, participou o Dr. Paulo Brandão.

Por ocasião de inaugurar-se o retrato no Serviço do homenageado no Hospital S. Francisco, usou da palavra o Dr. Paulo Brandão, a que respondeu o Professor Marinho historiando a fundação da clínica em tempo de Diretor da Saúde o Saudoso Professor Carlos Chagas que logo lhe deferiu o pedido atendido prontamente por quem superintendia a remodelação do hospital, o Dr. Carlos Villela e consistia em lhe darem duas enfermarias, uma para homens, outra para mulheres (e aqui a inovação). com repartição onde se pudessem internar crianças, reunião realizada pela primeira vez entre nós e defendida na ocasião pela farta cópia de crianças no exercício da Especialidade, depois pelo fundamento de mulher e criança entenderem - se, por instinto, muito bem, presuposto evidente só em enunciá-lo e ratificado plenamente pela experiência. Completou-se o aparelhamento com serviço de ambulatorio, modelo aos que se vieram a instalar em outros hospitais da Cidade; mas salas de operações e anfiteatros para preleções. Para aí mudou-se com largueza e eficiência a Clínica dá Faculdade, antes em um desvão da Santa Casa de Misericordia. Enaltece os valiosos serviços de seus assistentes, Drs. Paulo Brandão, Estevam de Rezende e Aristides Monteiro, aos quais atribue a grande parte da eficacia do ensino aí ministrado e pesquisas, mais de uma originais, ao adiantamento da Especialidade.

Com o almoço no Aeroporto, pretexto de agradecimento do Professor às manifestações recebidas, encerrou-se a semana consagrada às festividades do seu jubileu, ao qual concorreram com trabalhos cientificos, os professores E. V. Segura, da Argentina, F. Vientemillas, da Bolivia, Conde Jahn, da Venezuela, Justo Alonso, do Uruguai, catedraticos de Oto-rino-laringologia nos respectivos países, alem de outros eminentes nomes sul-americanos e nacionais, de professores e especialistas que honram as paginas deste numero especial, à guisa de "Livro de Ouro".



Parte da mesa que presidiu a sessão solene da Academia Nacional de Medicina por ocasião das homenagens prestadas ao Prof. Marinho pelas sociedades sabias do país.

Da esquerda para a direita: Desembargador Ataulpho de Paiva, Prof. Marinho, Prof. Aloysio de Castro, presidente da Academia Nacional de Medicina e o Dr. Mauro Penna, presidente da Sociedade de Oto-rino-laringologia do Rio de Janeiro.



Grupo feito na reunião extraordinaria da Sociedadede Oto-rino-laringologia do rio de Janeiro em homenagem ao Prf. Marinho.



Almoço no restaurante do Aero-porto oferecido pelo prf. Marinho aos seus discipulos e amigos.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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