ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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1780 - Vol. 45 / Edição 3 / Período: Setembro - Dezembro de 1979
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 261 a 266
TRAUMA ACÚSTICO****
Autor(es):
Francisco Augustus Soares Bandeira*
Hélio Curado Fróes**
Coolidge Hercos Junior***

Resumo: Os autores observaram grande incidência de disacusia neurosensorial em pessoas empregadas em serviço de segurança, realizando exercícios de tiro duas vezes por semana e usando com relativa freqüência aparelho de comunicação com fone endo-aural (ponto eletrônico). Foram examinados 54 homens com idade média de 39 (trinta e nove) anos. Recomendou-se o uso cuidadoso de protetores auriculares nos exercícios de tiro, afastamento dos portadores de alterações audiológicas e realização semestral de controle audiométrico. Os resultados obtidos em segunda avaliação, após um ano, são analisados.

INTRODUÇÃO:

O trauma acústico configura lesão auditiva que tem a característica audiométrica de disacusia neuro sensorial com queda abrupta na freqüência de 4KHz, preservação das freqüências graves até 2KHz inclusive e das agudas acima de 4KHz. A extensão destas lesões assume aspectos extremamente variáveis na dependência de fatores individuais e do ruído que atua sobre o indivíduo. Estas lesões têm caráter Irreversíveis e evolução habitualmente grave por resultarem em última análise da degeneração de fibras e células nervosas e cocleares. Com a progressão do trauma sonoro as freqüências agudas ficam comprometidas e por última também as graves são igualmente afetadas.

Neste trabalho mostramos a alta incidência de disacusias em indivíduos relativamente jovens, hígidos e submetidos a ruídos em conseqüência da atividade profissional que exercem.

Encontramos variações de intensidade que julgamos configurarem nitidamente os aspectos progressivos do trauma acústico e comprovamos o comprometimento coclear dos afetados.

Nosso material tem peculiaridades individuais e profissionais que podem oferecer valiosa contribuição ao estudo deste assunto.

Lastimamos não conhecer as condições auditivas anteriores dos nossos examinados, mas, por serem todos militares julgamos que já foram expostos anteriormente em maior ou menor grau a ruídos agressores.

MATERIAL E MÉTODOS:

Foram examinados 54 homens com idade média de 39 anos, há mais de três (3) anos empregados em serviço de segurança realizando exercícios de tiro, numa média de 100 tiros por semana, e usando com relativa freqüência aparelho de comunicação com fone endo-aural (ponto eletrônico).

Inicialmente foram feitos exames audiométricos empregando-se audiômetro "Amplaid 307" aferindo-se o limiar tonal aéreo e ósseo em cabine acústica. Os casos que apresentaram alterações destes limiares foram submetidos a exames supraliminares SISI, Tone Decay e a Impedanciometria com o Impedanciômetro "Amplaid 702" verificando-se as medidas timpanométricas e a pesquisa do teste de Metz. Recomendou-se rigor nos meios de proteção, afastamento dos portadores de lesões traumáticas e fez-se nova avaliação após 1 (um) ano.

RESULTADOS:

Na primeira aferição realizada com o propósito de fazer cadastro audiométrico, chamou-nos atenção a elevada incidência de disacusia neurosensorial 63,4% (33 indivíduos) das quais 30,7% (13 indivíduos) apresentavam curva típica de trauma acústico e destes 15% (7 indivíduos) apresentavam alterações só no ouvido direito. Realizamos as provas supraliminares nos que apresentaram alterações e encontramos SISI, elou teste de Metz positivos em quase todas as freqüências afetadas (Cocleopatia de trauma acústico). Considerando-se a baixa faixa etária da maioria dos indivíduos (23 a 50 anos), média de 39 anos - a atividade profissional exercida há mais de 3 anos, atribuímos as alterações auditivas encontradas resultantes do efeito lesivo da exposição do ouvido a agressão traumática e as variações encontradas meramente gradativas. Decidimos recomendar o uso rigoroso dos protetores auditivos individuais nos exercícios de tiro - afastamento dos disacúsicos e controle audiométrico semestral. Não conseguimos o cumprimento das nossas recomendações por vários motivos inclusive pela resistência do pessoal afetado em se afastar do trabalho, considerado prêmio. Assim fizemos uma reavaliação após um ano e encontramos, os resultados inalterados mostrando mesmo um pequeno aumento da incidência de disacusia 67,3% e persistência do mesmo percentual de trauma sonoro.

CONCLUSÃO:

As alterações auditivas observadas inicialmente com tipicidade de trauma acústico apresentam variações nitidamente evolutivas: Trauma acústico unilateral, bilateral, extensão das perdas nas freqüências próximas aos 4KHz com características audiométricos de cocleopatias. A reavaliação feita após um ano mostra irreversibilidade das lesões e em alguns casos o seu agravamento.

Não observamos, embora reconheçamos a utilidade do uso dos protetores individuais nos exercícios de tiro. Não conseguimos afastar os disacúsicos. Elaboramos detalhado relatório às autoridades solicitando a adoção de medidas preventivas adequadas e alertando para a gravidade do problema.]











Summary

The authors have found a high incidence of sensorineural hearing loss among employees in the security services. Those people have shooting exercises twice a week and use frequently a communication device with endaural microphone (eletronic point). 54 men were examined.

The median age was39 years. We recornmenci the use ear mufflers during shooting exercises, the whithdrawing from these exercises of people having sensorineural hearing loss and audiometric examination every 6 months for ali participants in such exercises. The results of audiometric tests done one year later are commenteci upon.

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ENDEREÇO DO AUTOR:
SQS 211 - Bloco "B"
Apt° 101 - Brasília - DF
CEP: 70.274.

* Chefe da Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Forças Armadas.
** Residente (R1) Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Forças
Armadas.
*** Estagiário da Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Forças Armadas.
**** Trabalho realizado na Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Forças Armadas. Apresentado na III Reunião da Soc. Brasileira de Otologia - Belo Horizonte, setembro de 1979.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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