ISSN 1806-9312  
Sexta, 13 de Dezembro de 2024
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1766 - Vol. 45 / Edição 2 / Período: Maio - Agosto de 1979
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 136 a 148
COMPARAÇÃO ENTRE OS MICRORGANISMOS ENCONTRADOS NA SUPERFÍCIE EXTERNA E PORÇÃO INTERNA DAS AMIGDALAS PALATINAS CRONICAMENTE INFLAMADAS*
Autor(es):
Roger Lahorgue Castagno **

Resumo: Através de procedimento rigorosamente seguro e original, foi coletado material da porção interna de 92 amídalas palatinas cronicamente inflamadas e realizado estudo bacteriológico, estabelecendo correspondência, quanto à espécie dos microrganismos, com aqueles encontrados na superfície externa da mesma amídala. Os resultados foram, também, comparados com os obtidos da outra amídala palatina do mesmo paciente.

1. INTRODUÇÃO

Embora o estudo das amídalas palatinas, desde Ceisus no ano 30 até nossos dias, tenha constituído uma considerável literatura, muitas dificuldades ainda rondam os otorrinolaringologistas e pediatras, médicos que diariamente se defrontam com as patologias por elas apresentadas.

As amidalites crônicas são, dentro desse contexto, um problema particularmente intrigante.

Com os avanços verificados nos últimos anos no campo da imunologia, tem sido dada às amídalas maior atenção, graças à sua constituição linfóide. Isso parece aproximar o desvendamento total de suas verdadeiras funções, o que certamente oferecerá reais subsídios para conclusões rigorosamente cient If Ices.

Alguns autores, através de pesquisas recentes, mostram o papel Imunológico das amídalas.

A concretizar-se a opinião de WOLFF, a imunologia, predominantemente uma ciência de laboratório, será, nos próximos anos, de importante aplicação nos problemas clínicos.

A amídala, estrutura linfóide, que historicamente participou como sede de patologia, quando da primeira terapêutica realizada com base em respostas Imunológicas, talvez receba, com privilégios, as aplicações clínicas tão almejadas.

Por outro lado, o elevadíssimo número de amigdalectomias realizadas, tanto em nosso meio como em países de cultura mais desenvolvida, poderá ser decorrência de muitos conceitos clássicos que, embora encerrando verdades, não são profundamente revisados, devido à fascinação com que o homem aceita idéias velhas, fator que dificulta a gênese de estudos que possam levar a modificações de condutas já consagradas.

É sabido que conceitos científicos não podem ser alterados por ilações filosóficas. Entretanto, estas poderão embalar idéias novas, fornecendo energias para suportar os rigores técnicos exigidos pelas normas de pesquisa, no afã de vê-Ias comprovadas ou definitivamente refutadas.

Assim, cada qual será capaz de pinçar aquele fragmento de suas Incertezas, mais suscetível de ser trabalhado no melo em que vive.
No caso das amidalites crônicas, por exemplo, os microrganismos presentes parecem ter importância, também, como fator antigênico. Não obstante, a literatura disponível não evidencia a existência de métodos adequados na coleta do material da porção interna das amídalas e, tampouco, estabelece comparações confiáveis entre os germes existentes na superfície externa e na porção internadas amídalas palatinas. Também não se encontram conclusões sobre a equivalência ou não entre as bactérias encontradas na amídala direita e esquerda de um mesmo indivíduo.

Este trabalho é realizado no sentido de esclarecer essas dúvidas e na expectativa de que alcance conclusões úteis para idéias mais novas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foi realizado estudo bacteriológico do material colhido de 92 amídalas palatinas, correspondentes a 46 pacientes com idades de 2 a 15 anos, portadores de amidalite palatina crônica, com surtos de agudização que variavam de 60 a 90 dias nos últimos dois anos, independentemente do agente etiológico.

Todos eles, no momento da cirurgia, que era realizada no hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Pelotas, não faziam uso de antibióticos nem apresentavam episódios de amidalite palatina há, pelo menos, 30 dias. As intervenções foram executadas durante o primeiro mês da primavera de 1976.

Com o paciente na mesa de operações, em decúbito dorsal, era realizada a palpação do terço superior do trlgono anterior do pescoço, com o objetivo de estabelecer o grau de hipertrofia do linfonodo subangulomandibular, após o que era feita a indução da anestesia por via endovenosa.
Nessa fase, observadas as regras de assepsia, colocava-se o abridor de boca de Mc Ivor que, ao mesmo tempo, realizava o abaixamento da língua, pondo em evidência as amídalas palatinas. O excesso de saliva era cuidadosamente aspirado.

Após inspeção, anotavam-se o tamanho e tipo anatômico das amídalas, bem como o grau de hiperemia dos pilares anteriores. A seguir, procedia-se à coleta do material da amídala direita através de uma zaragata de algodão" que, era introduzida em duas ou três criptas e passada, ainda, em sua superfície livre. A zaragata de algodão, com o material obtido, voltava ao tubo esterilizado de onde proviera.

Do mesmo modo se procedia em relação à amídala esquerda. Retirado o abridor de boca o paciente era preparado para o ato cirúrgico através de anestesia geral com entubação naso-traqueal e colocado em posição de Rose, com a cabeça em extensão.

Em todos os casos foi usada a técnica cirúrgica de dissecção.

No início do ato operatório, a amídala direita era apreendida em sua superfície medial, ao nível do terço superior, através de uma pinça de Portmann e se observava o aparecimento ou não de secreção ou caseum. Isso anotado (ficha n° 1), prosseguia-se até a completa exérese da amídala, tendo o cuidado de não mudar o lugar de sua apreensão, a fim de evitar a introdução mecânica de germes desde sua porção externa. A amídala extraída era recolhida em gaze esterilizada, permanecendo em temperatura ambiente.

Os mesmos procedimentos eram realizados em relação à amídala esquerda.

Inserir tabela pág 138

Concluído o ato cirúrgico, as amídalas eram colocadas em mesa asséptica, especialmente preparada, onde se encontrava o seguinte material esterilizado: gaze; dois bisturis; duas caretas oftalmológicas dois zeros; dois tubos de ensaio com tampas de algodão; cuba com solução de álcool iodado a 50%.
Junto à mesa, um microscópio cirúrgico marca "D.F. Vasconcellos".
A seguir, observando-se toda a assepsia, apreendia-se a amídala direita em um gaze, deixando sua superfície lateral voltada para cima. Sobre essa parte da amídala, passava-se uma gaze embebida em solução de álcool iodado. Com outra gaze, retirava-se o excesso da solução, secando-a.

Usando o microscópio cirúrgico, com ampliação de 25 vezes, os dois terços inferiores da amídala eram focados e, com bisturi, realizada uma incisão de mais ou menos 5 milímetros e com profundidade suficiente para abrir a cápsula que reveste essa porção da amídala.

Através de careta retiravam-se porções de tecidos pertencentes à estrutura interna da amídala, o que era feito em duas áreas distintas e sob microscopia, a fim de escapar das criptas amidalianas portadoras de material constituinte de sua porção externa.

O material assim coletado era posto em tubo devidamente marcado e a amídala em frasco com solução de formol a 10%.
O mesmo era feito em relação à amídala esquerda.
Ao final de todos os procedimentos relatados, as amídalas eram encaminhadas ao Laboratório de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas e os quatro tubos com material coletado para

o setor de bacteriologia do Laboratório de Análises e Pesquisas Médicas Dr. Leonir Birck. Em todos os casos o tempo levado desde a coleta até o início do trabalho bacteriológico nunca ultrapassou de duas horas.

No laboratório de bacteriologia o material era anotado, obedecendo a um roteiro determinado para todos os casos, segundo preconizam BURROWS e TODD. As identificações bacterianas sempre foram feitas de acordo com a família, gênero e espécie.
3. RESULTADOS
Em todas as culturas realizadas a partir de material colhido da superfície externa das 92 amídalas palatinas, observou-se crescimento bacteriano. Essa observação está de acordo com todos os autores consultados.

O mesmo não ocorreu, entretanto, em relação ao material colhido da porção interna das mesmas amídalas, de cuja semeadura não resultou crescimento em 35 oportunidades, ou seja, em 38,04% das vezes. Este dado mostrase bastante distinto daqueles apresentados por ALMEIDA & BOLOGNANI e POLVOGT & CROWE, que referem não haver obtido crescimento em 2% e 1 % dos casos, respectivamente. Também diferem de KING e MION, que observaram crescimento em todos os casos.

Sabe-se que o valor de uma cultura bacteriana não só depende da escolha de meios apropriados mas também, e principalmente, da técnica de coleta do material, passo fundamental para a obtenção de uma resposta correta. Nesse particular, as criptas constituem uma considerável dificuldade, podendo tornarem-se fator determinante de falhas na coleta de material da porção interna das amídalas.

Comparando-se as tabelas 3.1, 3.2 e 3.3, observa-se que, na maioria das vezes (56,52%), os microrganismos da superfície externa das amídalas encontravam-se em associações duplas, enquanto em 28,26% dos casos ocorriam em associações triplas e, em 15,22%, sem associação alguma.

No que se refere aos microrganismos da porção Interna, tabelas 3.4 e 3.5, nunca houve associação tripla, ocorrendo a dupla em 6,52% das vezes e a ausência de associação em 55,43% das oportunidades. Em 38,05% dos casos, conforme já foi relatado, não se deu crescimento bacteriano.

Na tabela 3.6, distribuem-se as freqüências em que os diferentes microrganismos ocorreram na superfície externa e na porção interna das amídalas, bem como o número de vezes em que se verificaram coincidências dos germes que se encontravam na superfície externa da amídala direita e esquerda, no interior da amídala direita e esquerda e, finalmente, as coincidências entre os que estavam na superfície externa e porção interna.


TABELA 3.1 - Bactéria observadas, em associação dupla, na superfície externa de 92 amidalas palatinas cronicamente Inflamadas - Pelotas, 1976.



TABELA 3.2 - Bactérias observadas em associação tripla, na superfície externa de 92 amídalas palatinas cronicamente inflamadas - Pelotas, 1976.



TABELA 3.3 - Bactérias observadas, sem associação, na superfície externa de 92 amídalas palatinas cronicamente inflamadas - Pelotas, 1976.



TABELA 3.4 - Bactérias observadas, sem associação, na porção interna de 92 amídalas palatinas cronicamente inflamadas - Pelotas, 1976.



TABELA 3.5 - Bactérias observadas, em associação dupla, na porção interna de 92 amídalas palatinas cronicamente inflamadas - Pelotas, 1976.






A prevalência dos tipos de microrganismos poderá ser expressada como segue:





SUMMARY:

By means of a rigorously safe and original procedure, material was collected from the inner part of 92 chronically inflamed palatine tonsils and a bacteriological study was made establishing a relation as to the species of the micro-organisms to those found on the external part of the same tonsil. The results were also compared with those obtained from the other palatine tonsil of the same patient.

RÉSUMÉ:

L'auteur a pris un morceau de tissu de I'intérieur de 92 amygdales palatines aves inflammation chronique par I'utilisation de moyens essentiellement rigoureux et originaux. Les études bactériologiques sur I'espèce de germes trouvés dans Ia su-Oicie intérieure et extérieure de Ia même amygdale on été comparés entre eux. Ces résultats ont été aussi comparés avec ceux de I'amygdale opposée d'un même patient.

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ENDEREÇO DO AUTOR: Anchieta, 2112 Pelotas 96.100

* Extrato da Tese apresentada à habilitação ao concurso de Livre-Docência em Otorrinolaringologia. Universidade Federal de Pelotas, RS. Aprovada com distinção.
** Professor-Titular de Otorrinolaringologia da Universidade Católica de Pelotas. Professor de Departamento de Medicina Especializada da Universidade Federal de Pelotas.
Recebido para Publicação em 23.04.79.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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