DISCUSSÃO
Dr. Sanson - O dr. Ribeiro dos Santos abordou um assunto muito interessante e palpitante. Problema de ordem geral intimamente ligado á nossa especialidade. Recente na patologia, a sua observação é relativamente rara. Consegui até hoje apenas fichar dois casos de angina de Schultz, um caso de angina de Pfeiffer e um caso de angina necrotica. O meu primeiro caso de angina de Schultz, não teve infelizmente, o registro que merecia. Descrita pela primeira vez em 1922 por Schultz - vi em 1925 o primeiro caso numa doente de Minas residente em Copacabana. Acompanharam o caso os Drs. Castro Goyanno e Dr. A. Aguinaga; o segundo, ha cerca de tres anos, com o dr. Mario Duque. N'este caso a evolução da molestia foi controlada pelo laboratorio. Na véspera do falecimento da doente, Senhora de um colega a contagem se me não falha a memoria, registrava apenas duas ou tres centenas de neutrofilos. A angina monocitica, de menor gravidade, se caraterisa pela hiperleucocitose acompanhada da reação dos ganglios cervicais e maxilares N'esta forma de angina a medicação toxica, os banhos de sol dão conta facilmente da molestia. Não esquecer a leucopenia provocada pela ação de certos medicamentos sobre a formula sanguinea. Entre estes figuram o Bismuto, o Mercurio, os Sais de Ouro, certos medicamentos sintéticos, derivados do Amidopírine. Admite-se que a ação destas substancias químicas sobre o organismo difere da ação toxica que se observa na angina agranulocitica.
Poucos dias antes da minha partida para aqui procurou, no meu Serviço da Policlínica de Botafogo, o primeiro caso de angina necrotica de Henoch que me fôra dado observar. O aspecto da lesão era típico com as suas placas gangrenosas, salpicadas de pontos escuros, necroticos, caracteristicos. As culturas pedidas para identificação do bacilo-perfringens, em meios anaerobios, não tinham ainda respondido ás nossas indagações. O pessimo estado do paciente não se valeu do emprego do Sôro anti-gangrenoso.
O estudo d,estas anginas, com modificação do quadro hematico, que tão bem se enquadra nos dominios da nossa especialidade, merece os nossos cuidados, sem nunca esquecer que a terapeutica da qual mais se abusa, por ignorancia é a soroterapia anti-difterica.
Felicito o dr. Ribeiro dos Santos pela sua comunicação.
Dr. Paula Santos - Eu quasi que já conhecia a contribuição do dr. Ribeiro dos Santos, porque é um trabalho de meditação, deito atraves dos seus conhecimentos de hematologia, que, coma vimos, são profundos. Mais, poderá ser aqui imputada de mera hipotese, visto que não foi realizada a comprovação clinica.
Nós, de caso pensado, ficamos á espera de um paciente de angina agranulocitica, nos nossos serviços desde 1933 mas não pudemos deparar um. De modo que a hipotese fica com a documentação cientifica que ele trouxe.
Eu tive um caso de angina grave, em que pensei até tratar-se de angina agranulocitica, caso este, desesperador sob o ponto de vista do tratamento. Este caro que é de conhecimento de alguns colegas da clínica geral de S. Pauto, curou-se de um modo surpreendente com a aplicação do sôro anti-gangrenoso que é a medicação especifica da angina de Henoch, como assunto então atualisado por uma publicação deste Autor na "Presse Medicale", e que me valeu na ilustração do caso e na feliz terapeutica.
Dr. Roberto Oliva - Como acabámos de ouvir pela comunicação bastante documentada do dr. Ribeiro dos Santos, paira ainda uma grande duvida com relação à etiologia da agranulocitose, como com referencia ao papel mais ou menos importante que podem desempenhar as doenças gerais na proliferação maior ou menor dos elementos figurados do sangue. Infelizmente não ha ainda uma teoria que satisfaça plenamente e que possa resistir a uma analise profunda. O dr. Ribeiro dos Santos fala-nos na transformação dos linfocitos em monocitos; Penso que esse é um fato difícil de se demonstrar, pois não se pôde ainda explicar a presença desses elementos no sangue, achando aporem a maioria dos hematologistas que os monócitos provém do tecido retículo-endotelial. Se não nos é possivel explicar satisfatoriamente a presença de certos elementos figurados no sangue, nos casos normais. muito mais difícil será explicá-los em sua contagem patologica.
Um ensinamento devemos tirar da comunicação do dr. Ribeiro dos Santos, e esse é que os exames hematicos devem ser feitos com muito mais frequencia do que têm sido até agora, pois, muitas vedes, somente o laboratorio consegue fazer o diagnostico.
Dr. Mario Ottoni de Rezende - Eu não quero discutir a patologia da angina agranulocitica, nem tampouco o seu tratamento, mas sim continuar o raciocínio do dr. Roberto Oliva, que diz que os especialistas, entre nós, descuidam-se do exame hematologico. Quero justamente fazer a defeza desses especialistas, pois que sabido é que o exame hematologico unico não tem valor absolutamente nenhum. Num caso de angina agranulocita, por exemplo, esse exame pôde e deve ser feito ao mínimo duas vezes ao dia e si possível trez. Ora, os srs. colegas de laboratorio cobram quantias por tal fórma elevadas para cada um desses exames, que torna absolutamente impossivel indica-lo ao doente. A culpa não está no oto-rino-laringologista, mas sim nos laboratorios. Nos laboratorios gratuitos, não sei porque, quando se pede um exame deste tipo, fazem-no de má vontade. Vêm ás vezes quadros hematologicos que eram preferíveis não tivessem vindo, tal a má vontade representada em faze-lo com a minucia necessaria para que se possa seguir, com exatidão, a evolução da molestia, pois que a primeira utilidade do quadro é o diagnostico e em segundo lugar é a evolução e tratamento da molestia. Desde que não se possa, examinando um quadro hematologico, saber determinar si o doente vae melhor ou peor, porque falte os elementos essenciais que o laboratorio não menciona com clareza, este exame nada adiantará ao clinico.
Dr. Ribeiro dos Santos - O prof. dr. David de Sanson esflorou o capitulo da angina agranulocitica e questões afins revelando-se perfeito conhecedor desses assuntos.
Um dos pontos feridos pelo ilustrado professor foi o que se refere a ação patogenica de uns tantos corpos químicos. Vem a proposito lembrar os estudos do prof. M. Bucco italiano, sobre os benzenos (v. prof. Antonio Cardarelli, Lezione aceite di clinica, medica, vol. I), E' interessante notar que segundo o proa. Bucco os benzenos não produzem mieloftisia: reduzem o numero de leucocitos mas não determinam aplasia medular.
O eminente prof. Paula Santos declara que devemos experimentar a nova orientação terapeutica. E' uma opinião que me desvanece dada a autoridade de quem a emite.
Estou de perfeito acordo com o ilustrado dr. Mario Ottoni de Rezende quanto ao valor da formula leucocitaria na angina agranulocitica, já para se firmar o diagnostico já para se acompanhar a evolução.
O dr. Roberto Oliva mostra-se pessimista em face do estudo que acabo de apresentar a culta Assembléa sem, porém, levantar uma objeção sequer a qualquer das partes do trabalho.
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