ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1708 - Vol. 4 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1936
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 1185 a 1202
TRATAMENTO DAS HIPERTROFIAS CRONICAS DOS CORNETOS - parte 2
Autor(es):
DR. FABIO BELFORT *

Resumo: O Autor realisa um estudo dos metodos usados no tratamento das hipertrofías cronicas dos cornetos. Após considerações referentes á nomenclatura, histologia normal e patologica dos cornetos no que se relaciona aquelas hipertrofías e á patologia das mesmas hipertrofias, realisa um apanhado da evolução da terapeutica dos cornetos de 50 anos para cá. Aborda o moderno tratamento pelas injeções esclorosantes, especialmente pelos sais de quinino, detendo-se no lactato, que julga ser o mais indicado nas rinites hipertroficas difusas e vaso-motoras. Relata 24 observações do emprego das soluções saturadas de lactato de quinino nestas duas ultimas afecções nasais e conclue que, atualmente, constitue o seu tratamento de escolha.

OBSERVAÇÕES

As observações clinicas que ora apresento não são completas como seria de desejar. É sabido que nem sempre os doentes se prestam á nossa paciencia cientifica, principalmente na clinica particular, ao passo que não mais obedientes nas clinicas gratuitas. De qualquer maneira, preferi relatar os casos observados de acordo com as notas tomadas nas competentes fichas, sacrificando descrições perfeitas, ã. honestidade cientifica.

E. M., branca, natural do Transwaal, solteira, de 24 anos, residente em S. Paulo, veio á consulta na Clínica, dos irmãos Belfort o dia 8 de Junho de 1936. Espirra muito, estando sempre indefluxada. Melhora com aplicação local de coca-adrenalina. Tem verdadeiro acesso.

Ex. rinosc.: Hipertrofía congestiva dos cornetos inferiores, principalmente à, direita. Forte congestão de toda a mucosa nasal.

Feito o diagnostico de rinite espasmodica, indiquei injeções de lactato de quinino.

No dia 13 de Junho injetei 3 c. c. de solução no corneto inferior direito.
Tamponamento com Efresol. Não houve hemorragia.

No dia 15, ao retirar os tampões, já noto inicio de retração.

No dia 6 de Julho, a retração é boa. Permeabilidade satisfatoria. Queixa-se apenas de que o outro lado ainda lhe tapa. Aconselhei a voltar dentro de algum tempo, para injeção do outro lado.

E. dos S. P., branco, brasileiro, solteiro. de 21 anos, residente em S. Paulo, procurou a Clinica no dia 27 de Novembro de 1935. Queixa-se de repetidos defluxos, após ter sido operado do septo pelo Dr. X.

Ex. rinosc.: Septo perfurado, com formação de crostas finas e aderentes ao rebordo da perfuração. Hipertrofia dos cornetos inferiores, principalmente á esquerda. Ao toque naso-faringêo encontram-se restos de vegetações adenoides.

Indiquei a adenoidectomía e ulterior cauterisação dos cornetos. No dia 6 de Dezembro curéto as anenoides.

Voltou no dia 1.° de Fevereiro de 1936. Ainda respira mal, tem defluxos. Mesmo aspeto rinoscopico. Indicadas lavagens das fossas nasais, com salmoura, para retirada das crostas e, mais tarde, injeção de lactato de quinino.

No dia 15 de Fevereiro pratiquei a injeção no corneto inferior esquerdo. Anestesia com neotutocaína-adrenalina. Injetados 2 c. c. da solução.

Voltou no dia 2 de Março. Retração boa. Otima permeabilidade nasal. Indiquei injeção do outro lado mas o paciente, considerando-se curado, pediu que o dispensasse.

E. P. da F. J., branco, brasileiro, solteiro, de 19 anos, residente em S. Paulo, em 20 de Fevereiro foi-me enviado pelo distinto colega Dr. Arruda Sampaio, ao qual consultára a respeito de constantes resfriados, e pelo proveto tisiologo, Dr. Geraldo Franco, ao qual consultára por temer afecção pulmonar. Ambos os colegas nada enontraram de extraordinario, atribuindo tudo a uma causa nasal e remetendo o paciente á Clinica

Ex. rinosc.: Hipertrofia consideravel de ambos os cornetos inferiores, os quais se apresentam fortemente hiperemíados. Rinorréa abundante. Retração facil á percaína-adrenalina.

Propuz o tratamento pelas injeções esclerosantes. Dia 27 de Fevereiro, foi praticada a primeira, no corneto inferior esquerdo, sendo injetado 2 c. c. com a seringa e agulha ordinaria. Hemorragia discreta, logo atalhada com Efresol e adrenalina. Ligeira dor á injeção.

Voltou no dia 22 de Abril, isto é, cerca de 2 mezes após a injeção. Não considerei a retração ótima, praticando, no dia 25 do mesmo mez, nova injeção, com resultado satisfatorio, que ainda perdura, não desejando o paciente fazer outra injeção do lado oposto.

A. M. branco, brasileiro, casado com 25 anos de idade, residente em S. Paulo, procurou-me no dia 1,5 de Abril ele 1936. Queixa-se de respirar mal pelo nariz e de um "corrimento aquoso" constante.

Ex. rinosc: No momento as fossas se acham amplas, permeaveis, secas. O doente respira bem pelo nariz.

Era evidente que o aspeto mudara, tornando-se o doente muito nervoso com a idéa do exame. Mandei vir alguns dias depois, observando, então, o quadro da rinite espasmodica. Propuz o tratamento pelas injeções de lactato.

No dia 16 de Abril, após anestesía com percaina-adrefina, injetei 2 c. c. de solução saturada de lactato de quinino no corneto inferior esquerdo. Hemorragia pequena.

Voltou no dia 11 de Maio, Retração sofrível. Sente-se melhor. Não satisfeito com o resultado, mandei que voltasse, para nova injeção, porem o doente não compareceu mais.

G. P. M., branca, brasileira, solteira, de 20 anos, residente em S. Paulo, veio é, Clinica no dia 13 de Fevereiro do corrente ano. Tem dificuldade de respirar, principalmente a noite. Respira pela boca, Prognatismo.

Ex. rinosc: Fossa direita praticamente impermeavel, devido á enorme hipertrofia do corneto inferior, retratil a percaína-adrenalina. Fossa esquerda, permeavel. Desvio do septo para esse lado.

Indiquei a injeção de lactato no corneto direito e resecção do septo, caso não fosse suficiente a intervenção no corneto.

No dia 17 pratiquei a injeção do corneto inferior direito. Anestesia com percaína-adrenalina. Injetados 2 c. c. da solução saturada de lactato de quinino. Pequena hemorragia, logo atalhada com adrefina.

Voltou no dia 4 de Março, cerca de 15 dias depois. ótima retração do corneto injetado. A fossa continha tapada, em parte, pelo corneto medio, degenerado, que chega a encostar no septo e que só agora é bem visível.

Tendo encontrado, nessa paciente, pansinusite direita, o tratamento proseguiu nesse sentido, o corneto injetado se mantendo em ótimas condições, até o fim de Abril, quando vi pela ultima vez a paciente.

D. P., branco, brasileiro, solteiro, de 22 anos, residente em S. Paulo. Compareceu á Clinica no dia 6 de Janeiro. Queixa-se de faceis defluxos. Respira pela boca.

Ex. rinosc: Forte turgecencia dos cornetos inferiores, os quaes se apresentam muito vermelhos e se retraem bem a percaína-adrenalina, o corneto inferior direito toca o septo nasal. Desvio do septo.

Como de habito, indiquei a intervenção nos cornetos e eventual resecção do septo, vaso não bastassem as injeções.

No dia 11 de Janeiro pratiquei a injeção de lactato de quinino, cerca, de 1 c. c., no corneto inferior direito, com agulha ordinaria fina e seringa comum. Voltou uma semana depois. Boa retração na zona fronteira ao septo, permitindo passagem franca de uma sonda nasal. Para injeção do outro lado, mandei que voltasse um mez depois, mas o paciente não mais compareceu á Clinica.

M. F., branca, brasileira, solteira, de 17 anos, residente em S. Paulo veio á consulta no dia 13 de Março de 1936, por causa de um sibilo no nariz, após ter sido operada de septo nasal, pelo Dr. X. Respira com dificuldade, dorme com a boca aberta, apezar da operação de septo, á qual haviam atribuído a obstrução nasal.

Ex rinosc: Hipertrofía de ambos os cornetos inferiores, principalmente á direita. Septo irregular, apresentando uma perfuração, correspondente ao ponto da incisão operatoria. Tendo feito a percaino-adrenalinisação do corneto inferior direito, que se retraiu bem, verifiquei o desaparecimento do sibilo á respiração. Tive, então a idéa de provocar a definitiva retração do corneto, não só com o fim de abolir o sibilo, mas tambem com o fim de melhorar as condições de permeabilidade nasal.

No dia 27 de Março, após anestesia com percaína-adrenalina, injetei no corneto inferior direito, 1,6 c. c. de solução de lactato. Hemorragia nula.

No dia 15 de Maio volta ã Clinica. Considera-se curada. O sibilo desapareceu. Ao exame noto que a retração é boa, porem não exagerada. Não ha crostas. A perfuração persiste, mas não se ouve o sibilo, a não ser muito atenuado, na expiração violenta.

N. L. de B., branca, brasileira, casada, de 32 anos, residente em S. Paulo, vem á Clinica no dia 30 de Janeiro enviada por seu irmão, medico no Interior do Estado. Queixa-se de ter o nariz tapado, principalmente do lado direito. Sente a garganta irritada.

Ex. faring: Amigdalectomisada. Numerosas granulações na parede posterior do faringe.

Ex. rinosc: Hipertrofia dos cornetos inferiores. Desvio do septo para a direita e crista do mesmo lado.

Indiquei resecção sub-mucosa do septo, após tentar o tratamento pelas injeções de lactato de quinino.

No dia 5 de Fevereiro, após anestesia do corneto inferior direito, com neotutocaina-adrenalina, injetei 2 c. c. da solução de lactato, a qual provocou dor local e nauseas.

Sentindo-se muito bem, voltou no dia 20 de Março, para injeção do outro lado, a qual foi feita, com pequena hemorragia e sem maiores incidentes.

Reexaminada no dia 15 de Maio, apresenta fossas bem permeaveis. Retração ótima. Disse-me que agora dorme bem, com a boca fechada, o que antes não fazia.

C. B. de C., branco, brasileiro, solteiro, de 21 anos, residente em S. Paulo, consultou-me no dia 11 de Janeiro de 1936, por sentir dificuldade de respirar pelo nariz.

Ex. rinosc: Hipertrofia retratil dos cornetos Inferiores. Forte desvio do septo para a esquerda.

Indicada injeção esclerosante de lactato de quinino, é feita a primeira no dia 16 de janeiro, no corneto inferior direito, sendo empregado 1 c. c.

No dia 11 de Fevereiro nota-se: Retração ótima do corneto injetado, que apresenta dimensões normaes. Boa permeabilidade do lado injetado. A esquerda, permeabilidade quasi nula, que corre por conta do desvio do septo. Resolvi repetir a injeção no corneto inferior direito, para deixar uma amplitude bastante grande á fossa direita, que permita colocar o septo na linha mediana, sobrando, ainda, bom espaço do lado direito.

No dia 15 de Fevereiro, após anestesia com neotutocaina-adrenalina, injetei 1 c. c. no corneto inferior direito.

Reexaminado cerca de 3 mezes depois, apresenta ótima retração.

A. D., branco, brasileiro, casado de 30 anos de edade, residente em S. Paulo, consultou-me no dia 23 de Novembro de 1935. Foi operado de repto nasal por um colega e sofreu varias cauterisações, praticadas por outro. Sente que o nariz está tapado, principalmente quando se deita, tapando sempre do lado correspondente.

Ex. rinosc: Cornetos inferiores turgidos, principalmente ã esquerda. Permeabilidade nasal quasi nula.

No dia 2 de Dezembro foi feita a primeira injeção de lactato de quinino. Injetado 1 e. e. Hemostasia com adrefina.

No dia 10 de Dezembro nota-se enorme retração. Corneto coberto de crostas finas. Aconselhei lavagens com agua salgada e voltar para injeção do outro lado.

No dia 21 de Dezembro foi feita injeção no corneto inferior direito, com a mesma tecnica.

No dia 4 de Janeiro de 1936, voltou. Diz que respira bem pelo nariz, tendo aumentado de peso. Retração ótima. Permeabilidade nasal boa.

No dia 6 de Julho, voltou. Os cornetos apresentam o mesmo aspeto que em Janeiro. Resultado verificado após 6 mezes - ótimo.

L. P. F., branco, brasileiro, casado, de 35 anos de idade, residente em S. Paulo, veio á consulta no dia 10 de Fevereiro de 1936, enviado pelo Dr. Carlos Gama, que atribue o estado de nervosismo do qual se trata, a uma causa nasal. Já se tem submetido a variados tratamentos e exames. Menciona um liquor negativo.

Ex. rinosc: Hipertrofia dos cornetos inferiores, principalmente á esquerda. Septo irregular. Durante as crises de obstrução os cornetos tocam o septo.

Propuz, como de costume, uma primeira intervenção sobre os cornetos e, depois, caso necessario, sobre o repto, colocando-o a prumo.

No dia 17 de Fevereiro, após anestesia á, percaína-adrenalina, injetei 0,8 c. c. no bordo interno do corneto inferior esquerdo. Hemorragia praticamente nula no ato operatorio, porem, mais tarde, o paciente queixa-se de boa perda de sangue.

Volta no dia 11 de Março. Diz que está, muito melhor, "sentindo-se bem dos nervos" Permeabilidade nasal ótima. Retração bôa. Algumas crostas. Aconselhadas lavagens com agua salgada.

R. H., branco, brasileiro, solteiro, de 21 anos, residente em S. Paulo, foi remetido no dia 20 de Dezembro, pelo Dr. Geraldo Franco, com o qual estava se tratando de tuberculose. Teve pleuriz duas vezes. Esteve em Campos do Jordão e os tisiologos consultados são de opinião que o processo se acha fechado. Tem constantes resfriados, dos quais deseja se livrar.

Ex. rinosc: Cornetos aumentados de volume. Estado congestivo de toda a mucosa nasal. Desvio do septo para a direita.

Faringite granulosa.

Indiquei-lhe injeções de lactato de quinino, após ser ouvido o Dr. Geraldo Franco, ao qual pedi novo exame do paciente.

Voltou no dia 7 de Janeiro de 1936, com opinião de que os pulmões se achavam em ótimo estado. A faringite granulosa quasi cedeu ás embrocações de glicerina iodada que prescrevera. No dia 10 de Janeiro é feita injeção de cerca 1 c. c. de solução de lactato, no corneto inferior esquerdo, com a seringa de Silvio Caldas. Tamponamento com efresol.

Voltou no dia 1.° de Fevereiro. Fossa esquerda ampla, bem permeavel. Fossa direita ainda obtruida em parte.

No dia 3 de Fevereiro foi injetado o corneto direito. Anestesia com neotutocaína-adrenalina. Injeção de 1,5 c. c. por meio da seringa e agulhas ordinarias. Hemostasía com efresol. Houve pequena perda de sangue.

Voltou no dia 18 de Fevereiro. Diz que teve gripe e acaba de se levantar do leito.
Ainda tem frequentes resfriados e sente o nariz tapado á direita.

Ex. rinosc: A esquerda, fossa, ampla, com ótima retração. A direita, idem, mas a fossa se acha menos permeavel, devido ao desvio do septo. Ha algumas crostas do lado direito.

Aconselhei oportuna intervenção sobre o septo.

A. B., branco, brasileiro, solteiro, de 20 anos, residente em S. Paulo, é enviado á Clinica pelo Dr. Geraldo Franco, no dia 11 de Março do corrente ano, por se queixar de dificuldade na respiração nasal e de um "catarro no peito".

Ex. Rin: Hipertrofia bilateral dos cornetos inferiores.

No dia 15 de Abril fiz uma injeção de lactato de quinino no corneto inferior direito. Anestesia com percaina-adrenalina, injeção de 1 c. c. Hemorragia praticamete nula. Temponamento com adrefina.

Voltou no dia 20, isto é, 5 dias depois, com a retração em inicio. Examinando um mez após a injeção, verifica-se retração pequena. Ha secreção purulenta entre o corneto e o septo. Julgando que, se torne necessaria nova injeção, mandei voltar dentro de algum tempo, porem o paciente, que já se dizia curado, não mais apareceu.

A. F., branco, brasileiro, solteiro, de 19 anos, residente em S. Paulo, comparece á Clinica no dia 12 de Março de 1936, queixando-se de barulho nos ouvidos e má respiração nasal.

Ex. otosc: Timpanos ligeiramente retraídos.

O exame dos ouvidos levou ao diagnostico de sequelas de catarro cronico tubario.

Ex. rinosc: Fossa direita, permeavel, apezar de enorme hipertrofia do corneto inferior. Fossa esquerda praticamente obstruida por desvio do repto e rinite hipertrofica.

Atribuindo o barulho dos ouvidos á má aeração da caixa, consequencia do processo tubario, pela hipertrofia dos cornetos, opinei pela intervenção imediata nesses ultimos, deixando o tratamento dos ouvidos para mais tarde.

No dia 18 de Março foi feita a injeção de 2 c. c. de lactato no corneto inferior
direito. Hemorragia pequena. Tamponamento com efresol.

Reexaminado no dia 8 de Abril, observa-se resultado ótimo na parte anterior. É necessario praticar nova injeção na cauda do corneto. O paciente diz que respira melhor, porem ainda tem barulho no ouvido direito.

No dia 13 de Abril fiz nova injeção na parte media do corneto inferior direito. Hemorragia abundante. Tamponamento com adrenalina.

No dia 3 de Maio. nova injeção no corneto esquerdo. Hemorragia nula. Tamponamento com efresol.

Como não me satisfizesse a retração desse lado, pratiquei nova injeção no c. i. esquerdo, em fins de Maio.

Reexaminado no dia l e de Junho, mostra ótimo resultado. Considera-se curado. Está, fazendo exercício militar ás 4 horas da manhã, em pleno inverno, passando ótimamente. Não tem resfriados.

Ex. rinosc: Corneto inferior direito, bem retraído. O esquerdo não se retraiu tanto e se acha coberto de crostas. Permeabilidade ótima.

Mandei lavar as fossas nasaes com salmoura e voltar dentro de 15 dias para iniciar o tratamento dos ouvidos.

No dia 1.° de Julho, voltou, queixando-se de que o nariz estava tapado á esquerda. Ao exame verifico a existencia de um eczema do vestibulo nasal, com formação de crostas e saída de liquido soro-sanguinolento, tudo obstruindo em grande parte a entrada desse lado.

Prescrito tratamento do eczema e voltar, mais tarde, para o tratamento dos ouvidos.
R. T., branco, brasileiro, casado, 30 anos, residente em S Paulo, consultou-me, no dia 26 de Abril, por ter o "nariz entupido". Foi operado pelo Dr. X, que lhe resecou o septo.

Rinolalía clausa - Eczema do labio superior, que se estende ao vestíbulo.

Ex. rinosc: Hipertrofia dos cornetos inferiores, retratil a percaína-adrenalina.

Indiquei o tratamento do eczema pelas aplicações topicas de nitrato de prata e loções com alcool. No dia 27 de Maio foi feita injeção de lactato de quinino no c.i. esquerdo. Injeção de 2 c.c. por meio da seringa de Silvio Caldas. Nenhuma hemorragia.

Examinado no dia 16 de Junho, sente-se bem, embora a retração não se tenha feito perfeitamente.

Reexaminado no dia 10 de Julho, isto é, 43 dias após a injeção, nota-se boa retração. Permeabilidade boa. O Paciente reclama outra injeção, pois a voz lhe melhorou após a primeira e ele deseja trabalhar como "speaker" em uma estação de radio.

V. C., branca, brasileira, de 16 anos, residente em Botucatú, é examinada no dia 8 de Janeiro de 1936. Queixa-se de que o nariz "está preso" na altura dos angulos internos das lendas palpebrais, bem como de que tem a voz nasalada. Tem dores de cabeça, pensando em sinusite.

Ex. rinosc: Forte desvío do septo para a esquerda. Hipertrofia do corneto inferior do mesmo lado. Não ha secreção nos meatos medios, nem após a manobra de Fränkel Transiluminação negativa. Não tem restos de adenoides.

Requisitada uma radiografia, mostrou-se longe de satisfazer tecnicamente. A titulo documentário, transcrevo o relatorio do radiologista:

"Hiperplasía do cartucho. direito e ligeira opacidade do maxilar direito"

Prescreví alguns banhos de luz de cabeça de Brünings. Após os dois primeiros banhos de luz, consegui convencer a paciente, que era extremamente emotiva, a permitir a injeção de lactato de quinino, a qual foi realisada no dia 21 de Janeiro. Anestesia com percaína-adrenalina. Injeção ne 2 c. c. de solução por meio da seringa ordinaria. Parte se perdeu devido á indocilidade da paciente.

Logo após a injeção, começou a sentir-se mal, queixando-se de fortes dores de estomago (sic). Pessoa da família que a acompanhava explicou-me depois que se tratava de colicas uterinas, que a paciente dissimulava, por pudor. Tratava-se, evidentemente, de ação do quinino sobre a musculatura uterina, fato que se repetiu com a paciente D. N. cuja observação segue adeante. Após cerca de 1/2 hora, as dores cederam e a paciente poude se retirar para casa.

Examinei-a novamente no dia 31 de Janeiro. Faz, nesse intervalo, banhos de luz diarios, na Clinica e já não sente peso na raiz nasal nem as dores de cabeça.

Ex. rinosc: Corneto inferior esquerdo, injetado, se acha bem retraído. Boa permeabilidade nasal. Ha raras crostas sobre o corneto.

No dia 5 de Fevereiro nada mais sente. Fez banhos de luz diarios. Raras crostas ainda se observam sobre o corneto injetado. Fossas nasais bem permeaveis. Sente-se em ótimas condições.

Aconselhei reeducação respiratoria por meio de ginastica adequada.

J A., branca, brasileira, casada, residente em S. Paulo, com 26 anos de idade, consultou-me no dia 21 de Fevereiro de 1936, por ter o "nariz tapado".
Ex. rinosc: Hipertrofia dos cornetos inferiores, retraindo bem á, percaína-adrenalina.

No dia 27 foi feita injeção de lactato de quinino no corneto inferior direito. Injetados 2 c. c. com a seringa e tecnica habituais. Perda de algumas gotas de liquido. Hemostasía com adrefina. Hemorragía praticamente nula.

A tarde voltou com pequena hemorragía, sendo feito novo tamponamento.

No dia seguinte retirado o tampão, o corneto se apresenta ainda volumoso, porem palido. Reexaminada no dia 20 de Março, nota-se uma grande redução no volume do corneto, embora esteja ainda hiperemiado. Ha algumas crostas na fossa nasal correspondente. Aconselhadas lavagens com agua salgada.

Como o corneto oposto se apresente normal e a paciente respire bem, dispensei a injeção do lado esquerdo e dei-lhe alta.

A. S., branco, brasileiro, solteiro, de 19 anos de idade, residente em S. Paulo consulta no dia 7 de Abril de 1936. Ouve mal dos dois ouvidos, sendo que do direito, já ha algum tempo. Á otoscopia retração do timpano, de ambos os lados, notando-se que as membranas se acham um tanto esbranquiçadas.

Ex. rinose: Cornetos inferiores turgidos, fortemente hiperemiados" principalmente á esquerda, bem como a mucosa do septo nasal. Retratilidade á percaína-adrenalina. Permeabilidade deficiente.

Como preliminar ao tratamento otologico, resolvi restabelecer a permeabilidade e volume normal dos cornetos, não só com o fim de melhorar as condições do cavum, como com o fito de conseguir passagem para as sondas de Itard.

No dia 15 de Abril injetei cerca de 1,5 c. c. de solução saturada de lactato de quinino, no corneto inferior esquerdo. Hemorragía insignificante. Tamponamento com adrefina.

Reexaminei no dia 28 de maio. Não julgando suficiente a retração, tornei a injetar mais 2 c. c. na cauda do corneto. Tamponamento com efresol.

No dia 22 de Junho diz que nada mais sente para o lado do nariz, nem dos ouvidos. Respira bem. Permeabilidade ótima Tem raras crostas na fossa correspondente. Passei á terapeutica auricular.

M. H. L., branco, brasileiro casado, de 47 anos, residente em S. Paulo, veio ã consulta no dia 12 de Junho de 1936. Queixa-se de que tem o nariz tapado, principalmente ã esquerda, escorrendo pela garganta materia amarela.

Ex. rinosc: Nihil.

Mandei voltar quando estivesse com o nariz obstruido.

Reexaminado no dia 18 de Junho, notei grande turgecencia dos cornetos inferiores, retraindo-se bem á percaína-adrenalina. Desvio alto do septo para a esquerda.
Indicada injeção de solução saturada de lactato de quinino e ulterior resecção sub-mucosa do septo.

No dia. 19 de Junho injetei 2 c. c. de lactato no corneto inferior esquerdo, com a seringa de Silvio Caldas e anestesia com percaína-adrenalina. Tamponamento com efresol.

Reexaminado no dia 6 de Julho de 1936: A retração não foi ótima. Mandei voltar para nova injeção.

D. N., branca, brasileira, solteira, de 21 anos, residente em S. Paulo, vem á consulta, pela primeira vez, no dia 2 de Dezembro de 1933. E portadora de uma afecção dos ouvidos, tendo percorrido numerosos especialistas de S. Paulo, variando os diagnosticos e tratamentos.

Dispenso-me de transcrever essa longa observação, que vae para tres anos, limitando-me a referir que, havendo sempre um marcado grão de impermeabilidade nasal, resolvi praticar, no dia 24 de Junho de 1935 uma cauterisação do corneto inferior esquerdo. Essa intervenção pouco adeantou. No dia 2 de Março de 1936 pratiquei, com seringa e agulha ordinarias, uma injeção de cerca de 2 c. c. de lactato, após -anestesia com neotueocaína-adrenalina. Devido ao nervosismo da paciente, perdeu-se parte do liquido. Saiu bastante sangue, após a retirada da agulha. Hemostasía com efresol. A paciente sentiu tonteiras, dor de cabeça intensa e sensação de ter o O. E. tapado. Seguiram-se fortes colicas uterinas, que cederam após 1/2 hora, mais ou menos.

Reexaminada no dia 27 de Junho de 1936: Corneto inferior direito em ótimas condições. Corneto inferior esquerdo, ainda um pouco turgido. Permeabilidade ótima.

L. F., branco, brasileiro, solteiro, com 32 anos, residente em S, Paulo, veio a Clínica no dia 10 de Janeiro de 1936. Queixa-se de nariz tapado sendo sujeito a contínuos resfriados. Em criança, teve crostas, com mão cheiro no nariz. Sente-se muito nervoso e atribue esse nervosismo a causa nasal.

Ex. rinosc: Hipertrofia do corneto inferior direito retratil a percaína-adrenalina. Consideravel hipertrofia do corneto medio esquerdo que chega a alcançar o septo. Septo irregular, em S.

No dia 6 de Fevereiro foi feita uma pequena injeção no corneto inferior direito. 13 dias depois se nota que a fossa direita se acha ampla. A fossa esquerda se acha praticamente obstruída pela forte hipertrofia do corneto medio e pelo desvio do repto para esse lado. O corneto inferior esquerdo não se acha hipertrofiado. Injetei 2 c. c. da solução de lactato no corneto medio esquerdo. Hemorragía relativamente grande. Tamponamento com adrenalina.

Voltou no dia 24 de Março, isto é, cerca de um mez depois. Diz que o nariz lhe tapa á direita. Não verifiquei isso ao exame. Mandei fazer lavagens com salmoura, para eliminar as crostas, e voltar para nova injeção.

Voltou no dia 1.° de Junho de 1936. O corneto medio esquerdo quasi não se beneficiou com a injeção. Pretendendo fazer a cornetomía, uma vez que o corneto em questão se apresenta esbranquiçado, de aspeto lardaceo, não se retraindo a percaína-adrenalina. Nesse dia injetei 1 c. c, no corneto inferior direito.
Tamponamento com efresol. Hemorragía quasi nula.

J. C. B., branco, brasileiro, de 14 anos, residente em S. Paulo, conduzido a Clinica por seu pae no dia 7 de Dezembro, de 1935, por ter batido com o nariz no fundo de uma picina, ao dar um mergulho. Tem fortes dores de cabeça que localisa na região frontal esquerda. Forte dor a pressão ou percussão dessa região.

Ex. rinosc: Nada de anormal. Não ha pús nem secreção no meato medio esquerdo.
A radiografia feita no dia 12 de Dezembro, pelo Dr. Manoel Covello, revelou:

"Discreta opacidade do seio frontal esquerdo; opacidade do seio etmoidal esquerdo. Fenda nasal esquerda reduzida por hiperplasia mucosa do septo e hipertrofia do corneto inferior esquerdo".

Tendo regredido o processo inflamatorio externo consequente ao traumatismo e tendo eu verificado não haver deformações resolvi corrigir essa hiperplasia do corneto inferior esquerdo, por meio das injeções esclerosantes.

No dia 9 de Janeiro de 1936, injetei 2 c. c. da solução de lactato.

No dia 17 de Fevereiro o paciente voltou, queixando-se de hemorragias nasais bilaterais. A rinoscopía se verifica que o sangue provem, de ambos os lados, do Loccus de Klesselbach. O corneto anteriormente injetado se acha ótimamente retraído. Ha pús na fossa esquerda e no meato medio do mesmo lado. Pedida radiografía, veio o seguinte relatorio:

"Opacificação do seio maxilar direito e diminuição de transparencia do seio frontal esquerdo; aspeto de sinusite".

Assim verificavamos que, independentemente de qualquer causa anterior, se desenvolvêra um processo de sinusite, o qual passamos a tratar pela vacinação antipiogena, combinada com injeções de ortofenol, adrefina nasal e banhos de luz de cabeça.

Tendo tudo entrado em ordem, pratiquei, no dia 2 de Março a dupla cauterisação do Loccus de Kiesselbach.

F. B. B., branco, brasileiro, solteiro, de 28 anos, residente em S. Paulo, vem a Clinica no dia 22 de Abril de 1936, queixando-se de que está sempre indefluxado. Sofreu uma cauterisação nasal feita por colega especialista.

Ex. rinosc: Fossa direita, permeavel. Nada de anormal. Septo não desviado. Forte turgecencia retratil do corneto inferior esquerdo.

No dia 26 de Abril é feita a injeção de 2 c. c. de solução de lactato de quinino, com a tecnica habitual.

No dia 22 de Junho voltou para se dizer completamente curado. Respira bem. ótima retração do corneto injetado. Permeabilidade perfeita.

Pratiquei a injeção de lactato de quinino em 30 casos de hipertrofias de cornetos de diferentes especies. Desses, 6 não puderam ser observados, pois não voltaram á Clinica após a primeira injeção. Os outros 24 casos obtiveram os seguintes resultados, que vão abaixo tabulados, para mais facil apreensão:





As injeções foram principiadas em Dezembro de 1935. Temos, assim, um prazo maximo de 7 mezes de observação. Em alguns casos, apenas poucos dias. Naturalmente esses resultados revestem um carater provisorio. Entretanto creio que as observações de mais de tres semanas têm um carater definitivo, pois o tecido fibroso, uma vez formado, não pode sofrer alteração notavel. Com essas reservas, julgo podermos estabelecer as seguintes

CONCLUSÕES

1.° Na rinite vaso-motora e na rinite hipertrofica difusa, o tratamento pelas injeções esclerosantes dá bons resultados, de maneira geral.

2.° Esse processo é melhor recebido e suportado pelos doentes do que as cauterisações galvanicas.

3.° É provavel que não disponha tanto á rinite atrofica secundaria, pois não ha lesão apreciavel da mucosa, e sim do tecido cavernoso.

4.º As injeções não dão as sinequias que se observam muitas vezes com o metodo de galvanocaustía e cuja correção, na opinião de Körner, "é o trabalho mais penoso do especialista".

5.º De extrema simplicidade tecnica, pode esse tratamento ser executado até por medico não especialista, que não disponha de instalação eletrica para galvanocaustía.

6.º Dos agentes esclerosantes empregados em terapeutica nasal, o lactato de quinino parece ser nitidamente superior aos outros

a) Porque pode ser empregado em menores quantidades;

b) Porque a maior concentração permite uma lesão mais intensa e rapida da tunica vascular interna e, consequente, retração mais perfeita

c) Porque suas soluções são auto-esterilisaveis, sendo mais faceis de preparar;

d) Porque não produz grandes destruições de tecido, como foi observado com relação aos sais hidrocloricos de quinino, por Riddoch.

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* Oto-rino-laringologista da Clinica, doa Irmãos Belfort e da Liga Paulista Contra a Tuberculose
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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