ISSN 1806-9312  
Quarta, 27 de Novembro de 2024
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1693 - Vol. 4 / Edição 5 / Período: Setembro - Outubro de 1936
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 865 a 871
RINOPLASTIA PARCIAL
Autor(es):
DR. ODILON ALVES

CONSIDERAÇÕES - A rinoplastia parcial enquadra-se em parte nas operações que são executadas na rinoplastia total, sómente com algumas reservas.

Limita-se então a reparar a parte do nariz destruido; e o cirurgião deve recompôr, estendendo as reparações as partes adjacentes como acontece nesse doente.

PATOLOGIA - A sifilis teve o seu papel integrante, acarretando a necrose dos ossos proprios, septo, ramo montante do maxilar superior esquerdo. Foi feito o tratamento anti-sifilitico por meio de injeções de mercurio e bismuto; demos tambem arsaminol infantil e calcio.

OPERAÇÃO - Recorri ao método indiano, apesar da cicatriz desgraciosa que sempre deixa na testa; e dei preferencia a esse processa, por se tratar de uma doente rebelde e de nivel intelectual atrazado. Além disso, o enxerto frontal, na opinião de alguns especialistas tais como Nagel, apresenta uma coloração igual ao orgão receptor. Nagel faz estas considerações, quando se trata de pacientes da raça branca, nos quais a cicatriz pôde ser encoberta pela toilete, por meio do cabelo decido sobre a testa, ou lateralmente pelo chapéo.

Nessa doente, preocupei-me sómente, com a facilidade da mobilização do enxerto e pela sua proximidade com o nariz.

Em doentes da raça negra, sabemos que o cabelo não poderia ocultar tal cicatriz.

DESCRIÇÃO - A operação foi feita em 3 fases.

1°tempo: De um enxerto tubulado retirado do lado esquerdo, cuja extremidade livre foi ligada ao sulco nasal esquerdo, depois de préviamente preparado. Deixei
o enxerto nessa situação durante 2 meses; e a nutrição era até então feita pelo pediculo frontal. Depois desse tempo, verifiquei que o enxerto tubulado já tinha circulação na sua parte transplantada, disso me certifiquei após ter amarrado um pequeno fio no pediculo nutridor, sem que houvesse mudança de côr no referido enxerto.

2º tempo: Libertei a extremidade nutridora superiora do enxerto e levei-a junto da extremidade transplantada. Deixei passar mais 2 meses para intervir novamente.

3º tempo: Fiz uma incisão partindo do orifício patologico, correspondente ao ramo montante do maxilar, até a aza do nariz, de tal fôrma que ela não prejudicasse a zona, onde estavam as extremidades nutridoras.

Descolei toda região nasal, partes laterais para fóra da fosseta piriforme e região labial, sem furar a mucosa bucal. Preparei os labios da incisão, fazendo um prévio avivamento, para soldar o enxerto, de forma que fechasse a parte eliminada na região do ramo montante. Abri o enxerto lateralmente, conservando o revestimento cutaneo para o exterior e interior, ligando-o a incisão preparada.

Limitei-me somente a essas 3 operações, deixando de transplantar a cartilagem costal ou costela, pelo fato da doente ter se retirado do Hospital. As fotografias I e I-A mostram a doente em face e perfil antes de operar-se as fotografias II, III, IV e IV-A depois das 1.ª, 2.ª e 3.ª intervenções.

ACIDENTE - Depois da 1.ª intervenção tive como contratempo, após alguns curativos, uma miasis na parte transplantada. Os curativos eram sempre fechados, porém como incomodassem para respirar, a paciente afastou-os ou talvez durante o sono, e ali posou alguma mosca.

Chamo a atenção para esse acidente, comum nos climas tropicais onde abundam esses insetos, mesmo nos hospitais, onde não faltam cuidados. Foi imediatamente debelada sem prejudicar o material transplantado.

Nas fotografias I e I-A verifica-se a posição desgraciosa do orgão nasal, inclinado e desviado para o lado esquerdo. Vê-se tambem o orifício patologico na região do ramo montante do maxilar.

A fotografia II mostra o retalho tubulado, retirado da região frontal pelo método indiano.

A fotografia III apresenta o enxerto libertado fixo na região lateral, apto para ser então ligado posteriormente ao nariz.

Nas fotografias IV e IV-A em face e em perfil, controla o doente depois da 3.ª intervenção, restauração do orgão nasal e obturação da parte óssea eliminada do ramo montante do maxilar. Observa-se que o nariz já está na sua posição mediana quasi normal.

As rinoplastias parciais encontram serias dificuldades, e quando elas são grandes, quasi que se póde enquadra-las na rinoplastia total.

São ingratas e dependem não só da paciencia do doente e do cirurgião, como tambem de recursos monetarios, quando se trata de pacientes que não são incluidos nas enfermarias gerais.

Essas deformidades encontram-se por assim dizer, mais no dominio das classes menos favorecidas, do que mesmo nas camadas sociais afortunadas.

Nos periodos das grandes guerras a cirurgia reparadora aumentou consideravelmente, como atestam as obras de Joseph e outros cirurgiões.

Nesses casos, o cirurgião a par do grande material a seu favor, encontra terreno favoravel para seus trabalhos, por se tratar de doentes jovens e em plena pujança de suas forças.



I - (Antes)



Ia - (Antes)



II - (Depois da 1.ª operação)



III - (Depois da 2.ª operação)



IV - (Depois da 3.ª operação)



IVa - (Depois da 3.ª operação)
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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