ISSN 1806-9312  
Sábado, 27 de Abril de 2024
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164 - Vol. 24 / Edição 1 / Período: Janeiro - Abril de 1956
Seção: Várias Páginas: 59 a 69
VÁRIAS
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A 2 de julho do corrente ano realizou-se no Hospital Central da Sta. Casa de São Paulo a cerimônia da posse do Dr. J. E. de Rezende Barbosa na Chefia da Clínica Oto-rino-laringológica daquele Hospital. Havendo o Dr. Mario Ottoni de Rezende solicitado sua demissão da chefia da Clínica assim como o Dr. Roberto Oliva se afastado de suas funções na sub-chefia, por motivo de saúde, foi nomeado o Dr. Rezende Barbosa para dirigir aquela tradicional Clínica submetendo-se a rigoroso concurso de títulos.

O novo Chefe de Clínica não querendo emprestar a cerimônia de sua investidura um caráter de homenagem pessoal resolveu que a mesma se revelasse mais como um preito de homenagem e saudade às figuras dos colegas já falecidos e que contribuíram decisivamente para o progresso e engrandecimento da Clínica e da Otorinolaringologia brasileira. Foram assim evocados nos discursos as figuras conhecidas de Henrique Lindenberg, Schmidt Sarmento, Ernesto Moreira e Francisco Hartung como pilares mestres sôbre os quais se assenta tôda a tradição e o renome da Clínica Otorrinolaringológica da Sta. Casa e de S. Paulo.


A mesa que presidiu a Sessão. Flagrante batido quando fazia uso da palavra o Dr. João Montenegro.


As cerimônias contaram com a presença do Corpo Administrativo do Hospital, Direção Clínica, representantes dos diversos Serviços do Hospital, prof. Antonio de Paula Santos, catedrático da Universidade e seus assistentes, Prof. Mangabeira Albernaz, catedrático da Escola Paulista de Medicina, e seus assistentes, Dr. Hugo Ribeiro de Almeida, chefe do Serviço de O.R.L. da Policlínica de São Paulo, especialistas, colegas e pessoas da sociedade paulistana.


Flagrante de parte da assistência.


Inicialmente foi rezada Missa em ação de graças na Capela do Hospital. As solenidades foram realizadas no Salão Nobre do Edifício Conde Lara e presididas pelo Provedor do Hospital. Usou da palavra inicialmente o Dr. João Montenegro, Diretor Clínico que saudando o novo Chefe de Clínica pronunciou as seguintes palavras:

Exmo. Sr. Dr. JOSÉ EUGENIO REZENDE BARBOSA.

O trabalho e as preocupações inerentes nos concursos foram de muito atenuados naquele em que vosso prestígio colocou-vos ímpar no pleito. Repontastes no ápice dessa pirâmide do saber, alicerçado por vossos estudos, pesquisas, trabalhos publicados, conduta moral e excelente conceito no seio da Classe Médica.

Vossos doutos companheiros, em gesto fidalgo e amigo, abriram-vos ala para que alcançásseis o supremo posto.

Trazendo do berço e na própria constituição as qualidades bem equilibradas que conduzem ao sucesso, ingressastes na mais seleta: de nossas Faculdades de Medicina onde conquistastes brilhantemente vosso diploma.

Estudante ainda, frequentastes simultaneamente o curso do Prof. Antonio de Paula Santos e a Clínica da Santa Casa ao lado do tio, amigo e mestre, Mario Ottoni de Rezende.

Influenciado pela projeção do tio ilustre e provavelmente também atingido pela seta de Cupido, sentistes sublimar vossa vocação pela especialidade que vos conduziria à mais completa felicidade, conjugando o prazer da profissão com a harmonia do lar.

Fácil seria, nesse terrestre paraíso, trocar as asperezas da luta pelas deliquescências do prazer ocioso, ou pela amenidade da gerência latifundiária. Mas, vosso temperamento enérgico e vosso idealismo, vos têm impelido sempre para objetivo mais elevado visando as culminâncias da nobre profissão que escolhestes.

Sentimo-nos bem a vontade para citar vossas realizações, porque os mais doutos de vossos colegas já vos consagraram, seja conferindo prêmios a vossos trabalhos ou alçando-os a posição de comando.

Iniciastes vossas publicações no primeiro ano de clínica, pelo levantamento estatístico das afecções oto-rino-laringológicas de duas das doenças que mais nos empolgavam, por serem mais próprias aos climas tropicais e, por isso, menos conhecidas da ciência européia, a leishmaniose e blastomicose.

Rapidamente galgastes os conhecimentos da patologia e clínica para vêr por fim, através da fenestração, as possibilidades de decifrar a otoesclerose.

Em 1944 conquistastes o "Prêmio Honório Libero" pelos estudos da "Audiometria Clínica" trabalho que serve de estalão para aquilatarmos do valor de mais vinte e seis que publicastes.

Três anos mais tarde, juntamente com Ernesto Moreira e Jorge Fairbanks Barbosa, recebestes o "Prêmio Mario Ottoni de Rezende", pela "Contribuição ao Estudo da Ozena".

Paralelamente às atividades de pesquisas fostes o relator de três temas de Congresso, reunião ou semana médica e vos filiastes a dez Congressos Médicos Nacionais e Internacionais.

Com essa recomendação compreende-se a conquista de dezenove honrarias, entre títulos honoríficos, láureas e cargos de Direção onde se destacam o de Ex-Presidente do Departamento de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina, Ex-Primeiro Secretário, e atual membro da Comissão Científica dessa mesma Associação Paulista de Medicina.

Em tôda vossa atuação fostes integralmente dedicado a esta Santa Casa. Aqui aprimorastes vossos conhecimentos e só aqui vos adentrastes na técnica cirúrgica que tão habilmente executais.

Tôdas as vossas pesquisas e observações, que constituem material para vossas publicações, foram colhidas nesta Clínica Oto-rino-laringologica, desde os tempos em que funcionava no acanhado porão do Pavilhão Central até sua majestosa instalação no local em que se encontra.

Vossa vontade firme e atuação amistosa conquistaram as simpatias e admiração, tanto de vossos colegas quanto dos auxiliares leigos.

A escalada de mais essa etapa de vossa profissão, em plena fase de vigor é garantia de amplo triunfo científico e de maior projeção para êste departamento.

Honrareis, estamos certos, o passado e as tradições deixados por Lindenberg, Schmidt Sarmento, Mauro Ottoni de Rezende, Homero Cordeiro, Roberto Oliva, Ernesto Moreira, Paula Assis, Silvestre Passy, Vicente de Azevedo, Hartung, Paulo Saes, Silvio Ognibene, colegas a quem sempre admiramos e votamos ansiedade.

Encontrai-vos, já, entre colegas das mais excelsas quantidades, onde se destacam Mauro Candido de Souza Dias, Haroldo Bastos, Eduardo Faria Cotrim.

Outros virão ainda emprestar-vos cooperação.

A Diretoria Clínica confiante em vosso sucesso, vos declara empossado no cargo de Chefe da Clínica Oto-rino-laringológica do Hospital Central da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e vos convida a receber das mãos do Sr, Provedor Dr. José Cássio Macedo Soares o diploma que vos foi conferido.


DR. J. E. REZENDE BARBOSA.


São Paulo, 30 de Junho de 1955.
DR. JOÃO MONTENEGRO - Diretor Clínico.

A seguir falou o Dr. Mauro Candido de Souza Dias, assistente efetivo da Clínica que saudou, em rápidas palavras, ao Dr. Mario Ottoni de Rezende o Chefe de Clínica que se retirava e deu as boas vindas ao Dr. Rezende Barbosa em nome do corpo assistente da Clínica.

Respondendo o Dr. Rezende Barbosa pronunciou as seguintes palavras:

Ilmo. Snr. Dr. JOÃO MONTENEGRO.

Ao tomarmos posse da Chefia da Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital Central da Irmandade da Misericórdia de S. Paulo estancos cônscios das responsabilidades que repousam sobre nossos ombros tais responsabilidades não decorrem da falta de apóio ou cooperação dêsse conjunto de colegas, brilhantes e eficientes colaboradores que constituem, atualmente, o jovem corpo médico de nossa Clínica; nem tampouco da ausência do irrestrito apóio, moral e material com que há anos a D. D. Mesa Administrativa da Irmandade da Misericórdia de S. Paulo e os Snrs. Diretores Clínicos do Hospital Central honram, distinguem, e prestigiam a Clínica de Otorino; não dependem outrossim do arrefecincento da colaboração seco tréguas de nossas heroínas anônimas, as Irmãs de S. José, incansáveis na orientação e organização material da, Clínica e incomparáveis na ação sumamente cristã no trato da miséria, da dor, do sofrimento.

Tais responsabilidades são o mantermos a tradição desta Clínica; do acervo de mais de 40 anos de labutar sem tréguas na perseguição de um objetivo representado pela vontade de aprender, de aperfeiçoar-se, de observar e pesquisar, de engrandecer a ciência e praticar a caridade.

A Clínica de Otorino destaca-se pelo poderoso vínculo que a une inseparavelmente ao ensino da especialidade em S. Paulo, tanto na sua parte básica quanto no seu aperfeiçoamento. Sob seu teto abrigou-se a Clinica de Otorino da Faculdade de Medicina de S. Paulo, onde, de 1916 a 1927, Henrique Lindenberg, primeiro titular da cadeira, Adolfo Sehmidt Sarmento e Francisco Hartung, assistentes, ensinando executaram demonstrações práticas para, os seus alunos. Mais ainda, desde sua instalação, no insaciável querer aprender, aperfeiçoasse e ensinar, por esta Clínica desfilaram entre os de maior escol na otorrinolaringologia nacional: Lindenberg, Sarmento, Mario Ottoni, Oliva, Hartung, Passy, Moreira, Rebelo Neto, Paula Assis, Sáis, Ognibene, Vicente de Azevedo, Bacellar, Mazsa, Camargo Penteado, Galvão, Aquino Fairbanks, Corrêa da Fonseca, Plínio Mattos Barretto, Mauro Candido de Souza Dias, Faria Cotrine; Augustin Waschiff, Antonio Salim Curati, Moracy Lobo, Duarte Cardoso, Haróldo Bastos, Ferreira da Rosa, Luiz Augusto de Melo, João Vasconcelos e Waldemar Müller, para citar somente aqueles que aqui prestaram serviço por tempo dilatado, além dos atuais membros de seu corpo clínico e dos inúmeros colegas que estagiaram temporariamente.

Sentimo-nos, no momento, como que lançados no espaço a receber uma eflúvio de lembranças e recordações dessa "velha guarda da Clínica" a obrigar-nos a transmitir aos atuais jovens responsáveis pelo renome da mesma, um esmaecido esboço do muito que os seus antigos elementos realizaram dentro do território especializado para dignificar esta Instituição.

Encontramo-nos na obrigação imperiosa, ditada pelo mais singelo dos deveres, o da gratidão, de afirmarmos aos nossos jovens companheiros que tudo aquilo que aprendemos diariamente na Clínica, desde a atitude física no trato com o paciente à maneira de se conduzir em um ambiente cirúrgico; da sistemática de um exame clínico à tática formulada e à técnica empregadas em determinado caso cirúrgico; da prescrição terapêutica mais simples à planificação e execução criteriosa de determinada pesquisa clínica, tudo e ainda mais devemos, sem o perceber, à experiência acumulada e fartamente distribuída por todos que nos antecederam.

Estamos acostumados a ouvir de um grande vulto da medicina, uma cristalina verdade. "na ciência médica, os jovens divisam sempre horizontes mais amplos e promissores cavalgados nos ombros dos mais velhos".

Com orgulho afirmamos que na Clínica de Otorrino da Sta. Casa foge-se ao autodidatismo, trabalha-se com o mesmo afã de nossos antigos companheiros, estimulados pela seiva vivificante que já circulava há 40 anos nas profundas raízes lançadas pelo espírito lucilo de Lindenberg e intensificada, posteriormente, por Sarmento e Mario Ottoni.

Aos três Mestres, marcos na evolução histórica da otorrinolaringologia brasileira, devemos a sólida base científica de nossa Clínica. Foram êles que para aqui transplantaram, com todos os sacrifícios de ordem material, que cultivaram com carinho e distribuíram sem limites, a todos que quiseras aprender, os primórdios científicos e técnicos da recém-emancipada Otorrinolaringologia, lançada pelas incomparáveis Escolas Vienense e Alemã.

Filiados pelo espírito a uma escola médica do Velho Mundo, continuamos dentro de nossa Clínica a praticar as mesmas técnicas básicas da especialidade, às vezes com o mesmo material primitivo, que, através de mãos hábeis e carinhosas, foram transmitidas até nós desde Lindenberg.

Os Médicos desta Clínica de há muito vêm honrando a Classe Médica e enaltecendo a especialidade entre nós. Suas atividades não se restringiram ao âmbito de nossas paredes, mas se extravasaram, invadindo as Sociedades Médicas, espalhando-se pelo nosso Estado, cruzando seus limites e transpondo as fronteiras da Nação. Seus Chefes de Clínica, Sarmento e Mario Ottoni, foram distinguidos pelos colegas com o alto cargo de Presidentes da Sociedade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo. O espírito renovador de Rubião Meira, em 1938, fundando essa potência incontestável de nossa Classe Médica, a Associação Paulista de Medicina, célula-mater da Associação Médica Brasileira, encontrou no corpo médico da Clínica de Oto-rino da Sta. Casa companheiros de primeira hora, fundadores, e fundadores também do Departamento de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina que constitue tribuna extra-cátedra, por onde, até hoje, desfilam as gerações de otorrinolaringologistas, demonstrando e divulgando seus sucessos e insucessos na clínica e na pesquisa, Mario Ottoni foi o entusiasta, o organizador e primeiro Presidente do Departamento. Desde então, quase todos colegas da Clínica têm sido distinguidos cosa a direção do Departamento.

Em 1933, verificada a necessidade da divulgação no Brasil e alhures, da crescente e selecionada produção científica da especialidade, Homero Cordeiro e Mario Ottoni fundaram a primeira Revista da especialidade no Brasil. Como veículo de nossa atividade e progresso científicos, o prestígio da Revista alicerçou-se na incansável produtividade dos membros desta Clínica.

Grande número dos eventos importantes da especialidade no Brasil teve raízes neste Serviço. Podemos afirmar, sem errarmos, que os Congressos Brasileiros e Latino-Americanos de Otorrinolaringologia foram a conseqüência lógica de uma série de reuniões científicas anteriores, de âmbito estadual, mas com repercussão benéfica além de nossas fronteiras. As Semanas Paulistas de Otorrinolaringologia, organizadas por Mario Ottoni em 1926 e 1936, seguiram-se, como resultante natural, as realizações de Congressos Brasileiros e Latino-americanos.

Recentemente, desta Clínica, partiu a idéia e últimaram-se os ajustes para o congraçamento de tôdas as Sociedades Brasileiras de Otorrinolaringologia sob a cúpola da Federação Brasileira, órgão máximo administrativo responsável pelas atuais Reuniões anuais da especialidade por todo o Brasil.

Marchando sempre à frente, conduzida pela lúcida visão de seus Chefes, amparados pelo entusiasmo de seus elementos, esta Clínica foi o tronco que gerou fortes ramos, posteriormente transplantados, e que, adquirindo autonomia dentro do Corpo Clínico do Hospital, constituíram os Serviços de Cirurgia Plástica, Endoscopia Peroral e Odontologia e Cirurgia Buco-Maxilar.

Tôda a atividade constante, o estado de ebulição permanente nesses 4° anos de vida da Clínica, decorreram, sem dúvida, do alto padrão científico da Medicina aqui praticada. As Revistas, Arquivos e Anais Médicos aí estão a atestar o valor das centenas de trabalhos que engrandecem o renome da Clínica. No que tange à pesquisa puramente clínica quase todos os recantos da especialidade foram estudados. Alguns capítulos, esmiuçados com tal carinho, por anos a fio, que o que foi dado a concluir constitue roteiro na patogenia, diagnóstico, terapéutica-clínica ou na técnica cirúrgica dentro de nosso território.

A diversos de nossos colegas foi conferida a maior láurea com que a Associação Paulista de Medicina premeia os otorrinolaringologistas, por concurso de trabalhos originais e inéditos, e que tens por patrono Mario Ottoni de Rezende.

O índice de produção dos que aqui trabalham não pode ser aquilatado apenas pelos valores numéricos das centenas de milhares de pacientes atendidos ou das dezenas de milhares de intervenções cirúrgicas praticadas, mas, sobretudo, pela qualidade do material científico produzido, pela melhoria constante da organização técnica, pela aquisição e execução de novos processos de tratamento médico-cirúrgico. Enfim pela evolução em ascendência demonstrada desde que Sarmento ensinou, pela primeira veis no Brasil, a técnica do Sluder, até a introdução da acumetria eletrônica, da cirurgia enloura e, finalmente, da cirurgia microscópica do ouvido culminada com a arrojada fenestração labiríntica.

Meus colegas:

O lema: "dar de si, aprendendo e aperfeiçoando, ensinando e transmitindo sem pensar em si" foi o daqueles que nos precederam e continuará a ser o nosso. Lembramo-nos, como elos que somos, entre os que se foram e tanto deixaram e os que conosco prosseguem, deixar patentes em quadras as personalidades dêsses marcos incontestáveis do saber, do esforço, da tenacidade e perseverança que muito honram a nossa Clínica, para a apreciação da futura geração de otorrinolaringologistas.

Lindenberg o, fundador, do ensino da Otorrinolaringologia entre nós, o introdutor e divulgador da moderna cirurgia otorrinolaringológica em S. Paulo e precursor do estudada otologia atual.

Sarmento, espírito forte e lutador, que compartilhou com Lindenberg da árdua jornada de fixação e desenvolvimento do ensino na então jovem Faculdade de Medicina de S. Paulo, e que, concomitantemente transmitiu a esta Clínica os conhecimentos firmes e seguros de sua ilustração e de sua técnica elegante e aprimorada.

Mario Ottoni, discípulo de Lindenberg e companheiro de Sarmento na luta pelo aperfeiçoamento da otorrinolaringologia; nosso real incentivados na pesquisa, um estudioso e mestre incansável da ato-neurologia, entre os que mais lutaram no Brasil pelo conhecimento e divulgação da especialidade; planificador e realizador da renovação material da Clínica, é um verdadeiro idealista cujo exemplo e estímulo servirão para impulsionar as atividades deste Serviço.

Estes Chefes de Clínica tiveram, para a realização de seus ideais, a colaboração inteligente de companheiros como Moreira e Hartung.

Moreira estará sempre vivo em nossa memória, dando-nos o exemplo da sua tenacidade, o estimulo da sua constância e a pertinácia no amor à observação e pesquisa, consubstanciados no legado magnífico de sua obra sôbre o problema da ozena.

A Clínica nunca poderá esquecer-se de Hartung, o especialista estudioso e competente, o artista emotivo e sentimental, que nos legou copiosa messe de trabalhos, todos baseados em sua sólida e brilhante cultura filósofo-científica.

Agradecendo as palavras amáveis e elogiosas do Dr. João Montenegro, Diretor Clínico dêste Hospital e do prezado companheiro Mauro Candido de Souza, fazemos questão de frisar que a posição que agora ocupamos nunca foi objetivo nosso e decorre apenas da conseqüência da retirada voluntária da Clínica de colegas anais aptos a ocupa-la, muitos dos quais foram levar a outros campos é a outros ambientes o que aqui aprenderam e aperfeiçoaram, contribuindo, como verdadeiros apóstolos, para a transmissão do seu saber e confirmando o provérbio: "Quem espalha, espalha felicidade, quem reune, reune tristeza".

Usaram ainda da palavra o Dr. Mario Ottoni de Rezende agradecendo a homenagem que recebia e o Prof. João Marinho que, em brilhante improviso traçou um esboço da história da Otorrinolaringologia brasileira procurando situar o papel desempenhado pela Clínica de O. R. L. da Sta. Casa de S. Paulo.

Foram em seguida inaugurados retratos dos colegas falecidos: Henrique Lindenberg, Schmidt Sarmento, Ernesto Moreira e Francisco Hartung e também do Chefe de Clínica que renunciava Dr. Mario Ottoni de Rezende.

Encerrando as cerimônias, o Prof. Mangabeira Albernaz levantou um brinde de honra ao Dr. Rezende Barbosa.

PREMIO "ELISEO SEGURA"

Grandes homenagens prestadas ao Prof. J. Marinho, primeiro titular desse premio, na Academia Nacional de Medicina em 15-9-55

No III.° Congresso Latino-Americano de O . R. L. e Br.-Esof. reunido em Carácas, na Venezuela, em fevereiro de 1955, foi instituído, com aprovação unânime, o prêmio "Eliseo Segura", para ser outorgado em vida, à personalidade otorrinolaringológica que mais se tenha destacado por seu trabalho científico, social e docente e, na mesma ocasião foi aprovado por aclamação, como primeiro titular dêsse prêmio, o emérito Prof. João Marinho. E a sua entrega seria feita em reunião solene no Rio de Janeiro, em data que seria previamente marcada, com a presença de maior número possível de professores catedráticos de O.R.L. das Universidades Latino-Americanas, como também de colegas, discípulos e amigos do ilustre homenageado.

A Federação Brasileira das Sociedades de O.R.L. e Br.-Esof. ficou incumbida da efetivação dessa solenidade, e, com o apóio da Academia Nacional de Medicina e da Universidade do Brasil, marcou a sua realização para o dia 15 de setembro de 1955, às 21 horas, na sede da própria, Academia.

E nessa memorável noite, de excepcional grandiosidade para a Academia, o seu recinto, - repleto de discípulos, colegas e amigos do Prof. Marinho, vindos até dos mais distantes locais do país e das repúblicas sul-americanas, - ouviu discursos dos mais impressionantes pelo que neles se continha e por quem os proferia.

Foi a maior consagração recebida por um professor brasileiro, e o Prof. Marinho bem o merecia, como prêmio de sua nobre vida de labor pela Medicina e pela Ciência, da qual se destaca a criação de uma prestigiosa escola brasileira de oto-rino-laringologia, no Hospital S. Francisco, onde centenas de jovens, espalhados hoje pelo Brasil, aprenderam a especialidade na lida prática com os doentes, esclarecida pelo estudo bem orientado.

Apesar de jubilado em 1945, ainda não deu o Prof. Marinho por encerradas suas atividades científicas, continua a frequentar e ser figura de grande brilho, relevo e acatamento nos congressos de O.R.L. brasileiros e latino-americanos que tem comparecido nestes últimos tempos, prestigiando assim a O.R.L. nacional e o conceito científico do nosso país no estrangeiro.

Foi, portanto, com grande alegria que os seus inúmeros discípulos e amigos receberam a noticia auspiciosa de ter sido o Prof. Marinho escolhido, por aclamação, para primeiro titular do prêmio "Eliseo Segura". E essa distinção muito comoveu o grande Mestre, pois teve êle em vida a oportunidade de sentir quanto é admirado e estimado pela grande família otorrinolaringológica sul-americana.

A sessão solene da Academia Nacional de Medicina foi aberta pelo seu Presidente, o Prof. Deolindo do Couto que, após enaltecer o motivo daquela memorável reunião, deu a palavra ao Prof. Eduardo Casteran, da delegação da Argentina e Secretário Permanente dos Congressos Latino-Americanos de O.R.L. e Br.-Esof., que, após brilhante discurso de saudação, entregou ao Prof. Marinho, de baixo de salvas de palmas, o prêmio "Eliseo Segura'', que constava de uma medalha de ouro com respectivo diploma.

Em seguida sucederam-se na tribuna os delegados estrangeiros e nacionais inscritos e que foram: Prof. Justo Alonso, professor catedrático de Montevidéu, grande amigo do homenageado; Prof. Franco Torres, catedrático de Assumpção (Paraguai); Prof. A. Paula Santos, catedrático da Faculdade de Medicina de S. Paulo; Prof. Clementino Fraga, representante da Congregação da Faculdade de Medicina do Rio; Prof. Almeida Prado, representante da Faculdade de Medicina de S. Paulo, da Associação Paulista de Medicina e da Academia Paulista de Medicina; Dr. Gabriel Porto, representante do Instituto Penido Burnier, de Campinas (S. Paulo); Dr. Flávio Aprigliano, representante dos discípulos da escola do Prof. Marinho; Dr. Aluysio Novis, representante da Federação Brasileira das Sociedades de O.R.L. e Br.-Esof. e, por último o Prof. Pedro Calmon, magnífico Reitor da Universidade do Brasil.

Para finalisar, o Prof. Marinho pronunciou memorável oração, recapitulando sua vida e sua ação na medicina brasileira e, externando, ao terminar, os seus sinceros agradecimentos aos promotores da homenagem e a todos que o honraram com a presença.

A "Revista Brasileira de O. R.. L." cumprimentou cordialmente o Prof. Marinho pela grande e merecida homenagem recebida, por intermédio de seus representantes na sessão .solene, os Drs. Mario Ottoni de Rezende, Homero Cordeiro e J. E. de Rezende Barboza.

R. MAYOUX, "La Rev. Lyonnaise de Med." 359, 9, 1955 - "Minerva-Médica", N.º 13, 14 de fev. de 1956, pp. 434.

COMPLICAÇÕES DAS RINO-FARINGITES

Em contacto permanente com o ambiente externo, pouco protegida pelo muco, muito menos defendida que a cutis, a mucosa das vias aéreas superiores, é, entre todos os tecidos, o mais exposto às agressões externas, seja o frio, o pó, as bactérias, os vírus ou os alergenos.

Muitas doenças microbianas, é sabido, têm um início rino-farirtgeo. O tecido linfático da faringe constitue também, mais freqüentemente, a porta de entrada do bacilo de Koch.

A flora microbiana de rinofaringe está muito mudada nestes últimos anos, sobretudo por causa dos antibióticos; e si o streptococ é ainda encontrado com a mesma freqüência, o pneumococo tornou-se muito mais raro, enquanto que maior importância, tomou, sob êste aspecto o estafitococo.

Um pôsto importante deve ser reservado aos vírus. É sabido como a maior parte das febres eruptivas têm sua sede de inoculação na faringe.

A mesma importância se manifesta no campo alérgico. A mucosa rino-faringea e as criptas do tecido linfóide representam a porta de entrada de inúmeros alergenos, mais ainda que o resto da mucosa respiratória e da digestiva.

Estamos frente a uma das modalidades de sensïbilisação das mais freqüentes, paralelamente ao que se observa no campo das afecções microbianas, cujo mecanismo representa certamente um dos mais freqüentes da imunidade adquirida.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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