ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1631 - Vol. 54 / Edição 3 / Período: Julho - Setembro de 1988
Seção: Artigos Originais Páginas: 77 a 79
AVALIAÇÃO DA AJUDA AUDITIVA POR SENTENÇAS SINTÉTICAS
Autor(es):
Clemente Isnard Ribeiro de Almeida*
Maria Helena Untura Caetano**

Resumo: Os autores utilizaram o teste das sentenças sintéticas em português da forma descrita por Hayes e colaboradores para verificar a reabilitação de deficientes auditivos, obtendo resultado semelhante ao teste em inglês.

Introdução

A ajuda auditiva é um problema complexo que visa reabilitar os deficientes auditivos.

A reabilitação como objetivo final envolve dois campos diferentes de ciência e técnica, o da eletroacústica o da psicoacústica.

A eletroacústica é responsável pelo desenvolvimento de aparelhos eletrônicos e seus acessórios para o tratamento do som a ser amplificado, bem como equipamentos para verificar a resposta dos aparelhos em laboratório e quando inseridos no ouvido do paciente.

A psicoacústica, por sua vez, desenvolve técnicas de treinamento auditivo, para possibilitar a comunicação do deficiente auditivo nos casos em que a melhor condição da eletrônica é insuficiente para fornecer ao sistema nervoso central estímulo adequado para o entendimento satisfatório da mensagem acústica, bem como testes para verificar o melhor desempenho dos aparelhos eletrônicos, seus dispositivos de tratamento de som e acessórios. É utilizada também para acompanhar todo o processo, avaliando cada fase da reabilitação pela logoaudiometria. (Fig. 1)





O grande problema dos testes destinados à avaliação da ajuda auditiva que os aparelhos eletrônico podem proporcionar ao deficiente auditivo é a condição em que sã realizados. Todos os testes atual mente utilizados são realizados e cabines acusticamente protegida eliminando o ruído ambiente, que não pode ser suprimido da vida re do deficiente auditivo e dificulta entendimento das mensagens acústicas, especialmente nos casos em que há comprometimento das vias auditivas a partir do primeiro neurônio.

Hayes e colaboradores em 1983 estudando uma série de 78 deficientes auditivos que haviam sido sub metidos à ajuda auditiva por meio de aparelhos de amplificação sonora individual adaptados com todo o critério clínico e eletrônico disponível, verificaram que 23% dos pacientes não haviam sido reabilitados, pois avaliaram a ajuda auditiva como insatisfatória ou de auxilio ocasional.





Procurando identificar a causa dos insucessos verificaram que não eram significantes os seguintes fatores: idade do indivíduo, intensidade da queda auditiva, porcentagem de discriminação máxima de monossílabos foneticamente balanceados, porcentagem máxima de reconhecimento de sentenças sintéticas. Criaram, então, um teste que permite identificar os indivíduos que ficariam insatisfeitos com a ajuda auditiva, já no momento da adaptação do aparelho, com a finalidade de tentar outros artifícios eletrônicos ou encaminhá-los a um treinamento auditivo necessário para complementar a ajuda auditiva. O teste procura simular uma situação de vida real em que a sentença destinada a comunicação não era apresentada em silêncio e sim na presença de unia mensagem competitiva.

Utilizaram para essa finalidade o teste das sentenças sintéticas de Jerger, com as sentenças apresentadas a 50 ou 60 dB SPL, dependendo da intensidade da queda auditiva, em frente ao indivíduo e com a mensagem competitiva 10 dB SPL mais intensa atrás. Obtiveram os seguintes resultados: os reabilitados apresentaram um reconhecimento acima de 70% da sentenças e os insatisfeitos abaixo de 50%. As publicações atuais que versam sobre a avaliação da ajuda auditiva utilizam esse teste, que na maioria dos casos é a única forma de diferenciar o aproveitamento de diferentes regulagens (Stach 3, 1987) ou de diferentes dispositivos eletrônicos (Stach 5, 1987).

O presente trabalho tem a finalidade de verificar se o teste em português apresenta resultado semelhante ao obtido por Hayes e colaboradores, em inglês.

Método

Foram estudados 20 indivíduos portadores de diversos graus de disacusia com indicação a ajuda auditiva, sendo 10 do sexo feminino e 10 do masculino, com idade variando entre 18 e 80 anos, 8 portadores de zumbido intenso e 16 com recrutamento auditivo.

Para a seleção dos aparelhos compatíveis para cada caso foram realizados os seguintes testes de avaliação: limiar tonal com fone, discriminação máxima de monossílabos com fone, limiares tonais em campo, limiar de detectação vocal (LDV) em campo e intensidade sonora necessária para 50% de discriminação de trissílabos (SRT) em campo.

Pelos resultados obtidos nesses exames foram selecionados de dois a cinco aparelhos compatíveis com cada caso.

Todos os indivíduos foram examinados, em campo e em cabine acústica, utilizando cada vez um dos aparelhos selecionados, por meio dos seguintes testes: limiares tonais, limiar de detecção 50% de trissílabos (SRT) a viva voz, discriminação máxima de dissílabos a viva voz e reconhecimento de sentenças sintéticas apresentadas na intensidade de 65 ou 70 dB em frente do indivíduo com mensagem competitiva na intensidade de 75 ou 80 dB atrás.

Resultados

Dos resultados relacionados nas tabelas 1 e 2 depreendemos que a previsão da reabilitação não depende da idade, presença de zumbido, presença de recrutamento, limiar auditivo e discriminação máxima de monossílabos.

Entre os 20 indivíduos estudado, R notamos que cinco não obtiveram reabilitação da comunicação, após mês de uso do aparelho. Neste grupo observamos que a porcentagem de reconhecimento das sentenças foi de 50% em três e de 70% em dois.


TABELA 2


Entre os 15 indivíduos que apresentaram reabilitação satisfatória, 13 apresentaram a porcentagem de reconhecimento das sentenças acima. de 70% e dois a de 60%.

Comentários

Esse teste é de execução simples e rápida, uma vez que uma lista de 10 sentenças corre em um minuto e meio, o que possibilita, durante a fase de adaptação do aparelho, verificar qual a melhor resposta entre as diferentes regulagens ou qual o aparelho mais eficiente para o caso.

A possibilidade de identificar quais os indivíduos que estarão reabilitados com a ajuda auditiva permite ao médico, que recebe um paciente enviado para adaptação de aparelho de ajuda auditiva, saber em poucos minutos se ele está reabilitado ou se deve procurar outra opção eletrônica, ou ainda, se a opção for definitivamente a melhor, encaminhá-lo para treinamento auditivo ou uso de dispositivo de F M auxiliar como sugere Stach 5, 1987.

Conclusão

O teste das sentenças sintéticas em português, adaptado para verificação da reabilitação auditiva, apresenta resultado semelhante ao teste em inglês.

Summary

The authors applied the SSI test in portuguese with the same method already discribed by Hayes et al. The objective is to verify the reabilitation of Hearing Impaired Patients. It was observed similar results as lhe test in English.

Bibliografia

1. Hayes D., Jerger J., Taff J., Barber B. - Relation between Aided Synthetic Sentence Identification Scores and Hearing Aid User Satisfaetion. Ear and Hearing. 4 (03)158-161,1983.
2. Stach, B.A., Speerschneider, J.M., Jerger, J.F.,- Evaluating The Efficacy of Automatic Signal Processing Hearing Aids. The Hearing, J. 3:15-18,1987.
3. Stach, B. A., Loiselle, L.H., Jerger, J.F., Mintz, S.L., Taylor, C.D. - Clinical Experience with personal F M Assistive Listening Devices. The Hearing J. 5: 1-5,1987.




* Otorrinolaringologista, Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo.
** Fonoaudióloga

Pesquisa realizada em consultório particular.

Endereço dos autores:
Rua Prof. Arthur Ramos, 96 conj. 72
CEP 01454 - São Paulo-SP - Brasil
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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