IntroduçãoA logoaudiometria inicialmente foi utilizada para caracterizar o "limiar de fala", definido pelo nível de inteligibilidade de 50% para dissílabos, e para determinar a discriminação máxima de monossílabos foneticamente balanceados. Nos últimos anos passou a ser cada vez mais estudada a definição dos resultados da curva logoaudiométrica quanto ao desempenho-intensidade (DI), tendo sido descrito o "rollover" que caracteriza uma disfunção auditiva retrococlear(1).
A localização e a quantificação das disfunções centrais foram estudadas por testes que introduziam diversos tipos de deformação nas palavras, o que exigia equipamento complexo e fornecia resultados incertos. Kimura (1961) introduziu os testes de audição dicótica e em seguida Katz (1962) publicou a teste das palavras espondaicas cambaleantes (SSW), que já não necessitava de equipamento complexo mas ainda era de interpretação complexa e de difícil realização em nossa meio, onde se fala o português, que possui pouquíssimas palavras espondáicas.
Finalmente, em 1968, Jerger elaborou a Identificação de Sentenças Sintéticas (SSI) que, usado simultaneamente com a curva logoaudiométrica de desempenho-intensidade de monossílabos, permite com maior facilidade a identificação de disfunção retrococIear e ainda, quando as sentenças são apresentadas com mascaramento logoaudiométrico ipsilateral SSI-ICM ou contralateral SSI-CCM, permite localizar o problema no tronco do encéfalo ou a nível supra-tentorial.
O teste do SSI, além de ser facilmente aplicável em nossa língua, requer para sua execução apenas um audiômetro com dois canais independentes e os resultados são de interpretação muito fácil e segura.
Durante a década de 70, com a divulgação e consagração da SSI como teste útil e de resultados seguros, apareceram tentativas de adaptálo para crianças de 3 a 6 anos de idade, para as quais não podia ser aplicado o SSI que envolve a leitura para resposta. Foram formuladas adaptações do teste de adultos com material de interesse da criança; entretanto, houve o problema da influência da habilidade da linguagem receptiva no desempenho do teste. Finalmente, em 1982, Jerger(5) publicou as características de desempenho-intensidade do teste pediátrico de inteligibilidade- de palavras PSI cujas respostas eram superponíveis às do SSI em adultos.
O presente trabalho consta de elaboração do teste infantil de inteligibilidade de palavras PSI, em português.
MaterialConforme a metodologia utilizada inicialmente por Jerger, foram selecionadas palavras do interesse da criança que pudessem ser desencadeadas pelo estímulo de figuras, primariamente a respeito de alimentos, vestimentos, animais, brinque dos e veículos. Os verbos para ela botar as sentenças foram seleciona dos com o critério de conter u ação, procedimento ou espontaneidade, como comer ou brincar.
Com esses critérios foram elaboradas as listas de monossílabos sentenças para elaboração da curva logoaudiométrica de desempenho intensidade, cujas respostas montadas num mesmo gráfico permitem caracterizar disfunção de vias auditivas centrais.
A caracterização do monossílabo fonético nem sempre corresponde ao monossílabo ortográfico; assim, por exemplo, a palavra peixe é pronunciada como "peix" e é considerada tão monossílabo quanto a palavra flor que o é ortograficamente, da mesma forma que no trabalho original em inglês foram considerados como monossílabos as palavras "knife", "house" e "spoon". As palavras assim selecionadas foram: mão, lápis, boi, pé, trem, pão, gol, peixe, sol e flor, que no teste foram montadas com o prefixo "mostre o" e agrupadas em dois grupos de cinco, correspondentes às pranchas que contêm cada uma cinco figuras, cada uma ocupando o espaço de 12 x 12 cm e distribuídas numa prancha de 32 x 45 cm de forma aleatória, como pode ser visto na figuras 1 e 2.
As sentenças montadas com os mesmos critérios acima descritos para os monossílabos foram as seguintes:
1. Mostre o rato pintando um ovo
2. Mostre o gato escovando os dentes
3. Mostre o cavalo comendo a maçã
4. Mostre o rato pondo o sapato
5. Mostre o gato penteando o cabelo
6. Mostre o gato tomando leite
7. Mostre o rato lendo o livro
8. Mostre o cavalo correndo
9. Mostre o gato comendo sanduíche
10. Mostre o rato jogando futebol Da mesma forma que os monossílabos, foram divididas em dois grupos de cinco, e as figuras foram feitas com o mesmo tamanho e distribuição, como pode ser visto nas Figuras 3 e 4.
Na seleção das figuras para os monossílabos, bem como na confecção daquelas para os dissílabos, houve a preocupação de serem coloridas com cores vivas para despertar maior atenção da criança.
A partir desse material foi feita uma gravação com voz feminina, como o teste em inglês, sendo tanto os monossílabos quanto as sentenças pronunciadas em 3 segundos, observando-se um intervalo de 7 segundos entre cada uma delas, destinado à resposta que é feita pela criança pela indicação da figura.
Numa segunda pista da mesma fita foi feita a leitura de uma história infantil pela mesma locutora, tanto na gravação dos monossílabos quanto nas sentenças, para possibilitar a competição logoaudiométrica ipsi e contralateral.
Equipamento utilizadoUtilizamos para realização do teste um audiômetro marca Amplaid modelo 300, acoplado a um módulo 301 para possibilitar a ampliação independente de cada uma das faixas da fita. A leitura da fita foi feita por um "tape deck" marca Akai modelo CS 705 D e para apresentação do sinal foram utilizados fones TDH 39 com coxim MX 41.
Fig. 1 - Recortes correspondentes às palavras mão, boi, trem, pé e lápis.
Fig. 2 - Recortes correspondentes às palavras pão, peixe, flor e gol.
Fig. 3 - Recortes correspondentes às sentenças de números 1 a 5.
Fig. 4 - Recortes correspondentes às sentenças de números 6 a 10.
ComentáriosA logoaudiometria pediátrica utilizando figuras para resposta tem sido utilizada largamente a alguns anos; entretanto, a forma apresentada no presente trabalho foi profundamente estudada por Jerger e colaboradores(5, 6). Demonstraram que a função desempenho-intensidade (DI) do material PSI de palavras não sofre influência com a idade cronológica, tanto em silêncio como com competição, o mesmo acontecendo com o PSI de sentenças em silêncio; já a função DI aumenta ligeiramente com a idade no PSI de sentenças com competição, tendo sido notado um desvio de 9dB entre as curvas DI de crianças de 3 a 6 anos, o que para fins clínicos pode ser considerado como desprezível.
A aplicação do PSI em crianças, entre 10 e 15 anos, mostrou que o limiar logoaudiométrico era semelhante ao de adultos com o teste de SSI.
O fenômeno do "rollover" que caracteriza disfunção retrococlear também apareceu no PSI com as mesmas características observadas nos testes para adultos dos monossílabos e SSI.
Pelo desempenho dos testes de PSI, tanto na fase experimental como posteriormente em publicações de casos clínicos(7), ficou demonstrado que pode ser aplicado em crianças a partir de 3 anos de idade para todas as finalidades para as quais são utilizadas as listas de monossílabos foneticamente balanceadas e sentenças sintéticas em adultos.
SummaryUsing the same parameters described in the literature, authors construced the PSI test related to monosyllabes and sentences. The magnetic tape recording as well the necessary equiprnent to the test application was described.
Bibliografia1. Jerger J., Jerger S. Diagnostic significance of PB Word function. Arch. Otolaringol. 93: 573-80,1971.
2. Kimura D. Some effects of Temporal lobe damage on auditory perception. Can J Psychol 15: 166-71, 1961.
3. Katz J. The use of staggered spondaic words for assessing the integrity of the central auditory nervous system. J Aud Res 2: 327-37, 1962.
4. Jerger J., Speaks C., Trammel, J.L. A new approach to speech audiometry. J. Speech Hearting Dis. 33(4): 318-28, 1968.
5. Jerger S., Jerger J. Pediatric Speech Intelligibility test: Perfornance-Intensity Characteristics. Ear Hear. 3: 325-34, 1982.
6. Jerger S., Jerger J. Speech Audiometry in the Young Child. Ear Hear. 4: 56-66,1983.
7. Jerger S., Jerger J. Neuroaudiologic Finding in Patients with Central Auditory Disorders. Seminars in Hearing 4: 133-159, 1983.
* Otorrinolaringologista, Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo.
** Mestre em Fonoaudiologia pela Escola Paulista de Medicina.
*** Acadêmica em Medicina na Universidade de São Pauto.
Pesquisa realizada em consultório particular:
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