ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
Listagem dos arquivos selecionados para impressão:
Imprimir:
1617 - Vol. 54 / Edição 1 / Período: Janeiro - Março de 1988
Seção: Relato de Casos Páginas: 11 a 12
FIBROMA OSSIFICANTE DE SEIO FRONTAL - Relato de um caso
Autor(es):
Ivan Carlos Orensztajn*
Gaspare Bosco**
Noya Rocha da Silva Chaves***
Juan Carlos Maiztegui Antunez****
José Roberto Carvalhaes Fernandes*****
Moacir Tabasnik******

Resumo: Os autores relatam um caso de fibroma ossificante de seio frontal constante de sua prática clínica. Constitui neoplasma ósseo central benigno que incide preferentemente em maxilares e mandíbula e de ocorrência rara em seios paranasais, vindo daí o motivo desta publicação.

Conceito

Neoplasma ósseo central que tem causado controvérsias devido à confusão na terminologia e critérios diagnósticos.

O fibroma ossificante tem crescimento lento e insidioso, apresenta limites precisos, geralmente encontrado nas mandíbulas e maxilares. É normalmente assintomático, exceto quando atinge grandes proporções podendo causar dor, edema, parestesia e deformidade moderada.

Devido ao seu crescimento lento pode existir durante anos até o seu descobrimento. As tábuas ósseas corticais e a mucosa suprajacente estão invariavelmente íntegras.

Há grandes semelhanças clínicas e histológicas entre este tipo de lesão e o fibroma cementificante central, tumor considerado pela maioria dos pesquisadores como de origem odontogênica.

Incidência, Localização

As lesões incidem preferentemente após a 2á década de vida, prioritariamente na 2á ou 4á décadas. Afetam mais o sexo feminino e se localizam geralmente nas proximidades das raízes dentárias e nas mandíbulas. Há casos relatados em que o tumor se localiza em ossos longos como tíbia, fêmur e úmero.

O diagnóstico diferencial deve ser feito com cistos ósseos, displasia fibrosa, fibromixoma ou ainda o adamantinoma. Embora seja mais comum encontrarmos lesões únicas; fibromas ossificantes múltiplos podem ocorrer especialmente na raça negra.

Outras Modalidades

Fibroosteoma - É definido como um tumor sólido; bem circunscrito que acomete geralmente a maxila e os seios paranasais. Certos autores classificam os 2 tipos de tumores, fibroma ossificante e fibroosteoma dependendo da localização do tecido ósseo ou fibroso na lesão. Outros acreditam que o fibroosteoma é maior em tamanho, sempre produzindo edema acentuado.

Displasia fibrosa - Esta entidade e o fibroma ossificante têm aparência histológica semelhante, tendo no entanto o fibroma ossificante a presença de uma cápsula.

Características radiológicas - O aspecto radiológico é variável de pendendo da fase de desenvolvi mento. A lesão é geralmente bem circunscrita e delimitada de osso cunjacente ao contrário da displasia fibrosa.

Nas fases iniciais o fibroma ossificante central aparece como um área radiotransparente sem evidência de radiopacidade em seu interior medida que o tumor amadurece há aumento de calcificação de modo que a área radiotransparente fica salpicada com opacidades até que se transforma em massa radiopaca uniforme.

Características histológicas - lesão é composta por inúmeras fibra colágenas entreligadas e entremeadas por numerosos fibroblastos em proliferação ativa. Este tecido conjuntivo apresenta múltiplos focos pequenos de trabéculas ósseas irregulares. Á medida que a lesão evolui as ilhas de ossificação aumentam de número, crescem e por fim coalescem. Isto com o aumento provável do grau de calcificação, explicariam o aumento de radiopacidade das radiografias.

Tratamento - O tratamento de escolha é a remoção completa do tumor por curetagem; enucleação ou excisão.

Embora o tratamento radioterápico nesses tumores tem sido relatado, o risco de malignização é tão presente, devendo ser considerado

Em certas ocasiões, o tumor é tão volumoso podendo apenas ser feita remoção subtotal para preservação cosmética e funcional.

Caso clínico - A. J. P., 22 anos, solteiro, natural de Goiânia.

HDA: Paciente procurou o Serviço de ORL do Hospital de Clínicas da UERJ, com história de cefaléia frontal irradiada para as regiões parietais e temporais de início há 3 anos. Seguiu-se aumento das partes moles da região frontal que tem evoluído até a data do atendimento.

Ao exame otorrinolaringológico: otoscopia e orofaringoscopia não mostraram alterações significativas. À rinoscopia observamos ingurgitamento dos cornetos inferiores sem hiperemia, ausência de desvio do septo e de secreção mucosa ou mucopurulenta.

Foi requisitado exame radiológico que inclui Rx simples dos seios da face e craniotomografia.

O estudo foi realizado nos planos frontal e lateral para visualização dos seios frontais. Revelou massa densamente calcificada ocupando ambos os seios frontais, sendo mais volumosa à esquerda. A densidade central era homogênea e superior ao osso da calota.

Não havia comprometimento de cavidade craniana. Encontrou-se ainda espessamento da mucosa do seio maxilar esquerdo. Foi tida como conclusão: "Densa calcificação no interior dos seios frontais compatível com osteoma ou displasia fibrosa".

Tomografia computadorizada de crânio realizada através de cortes axiais paralelos à linha canto-meatal, sem a administração de contraste, revelou: Pequeno osteoma crescendo no interior do seio frontal, mais lateralizado à esquerda, respeitando as tábuas internas e externas. Não há extensão intra ou extracraniana. Parênquima cerebral com valores de atenuação dentro da normalidade. Ventrículos laterais, 3° e 4° ventrículos de topografia, forma e dimensões normais.



Fig 1-Tomografia de seio frontal mostrando extensa tumoração ocupando quase todo o seio.



Cisternas, cisuras e sulcos sem alterações.

Foi proposto então tratamento cirúrgico através de técnica osteoplástica de Bergara onde foi feita incisão coronal com posterior descolamento de couro cabeludo e acesso à tábua externa do frontal. Após visualização da tumoração, a qual se exteriorizava através da tábua externa do frontal, foi feita remoção de massa através de goiva e broqueamento nos limites do seio frontal. Encontrou-se aderências entre a dura-máter e a massa tumoral que foram desfeitas,, sendo retirada parte do tumor que se projetava sobre a meninge. Concluise com cranioplastia, tendo sido moldada uma placa com surgical simplex bone cement microlok, reconstruindo a parede anterior do seio frontal.

O material foi enviado para exame histopatológico que revelou fibroma ossificante.

Summary

The authors relate a case of ossifying fibroma of the frontal sinus. The tumor commonly found in the jaws and maxilla grows slowly being quite often asymptomatic except when it reaches great volume, causing pain, edema and moderate deformmity.

Bibliografia

1. SHAFER, W. G.; MAYNARD, H; BARNET, L. - Tratado de Patologia Bucal, 2. edição. 130-32, 1984
2. HUVOS, A. G. - Bone Tumors Diagnosis Treatment Prognosis (2). 9-17, 1979.




Endereço dos Autores
Hospital Universitário Pedro Ernesto.
Serviço de Otorrinolaringologia. Av 28 de Setembro, 87 - Vila Isabel - Rio de Janeiro.12

* Médico da Disciplina de ORL do HUPE-UERJ Rio de Janeiro /RJ
** Prof. Assistente da Disciplina de ORL da FCM-UERJ
*** Profª Assistente da Disciplina de Neurocirurgia da FCM-UERJ
**** Prof. Titular da Disciplina de ORL da FCM-UERJ
***** Porf. Aux. da Disciplina de ORL da FCM- UERJ
****** Prof. Aux. de Ensino de ORL da FCM-UERJ.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


Imprimir:
Todos os direitos reservados 1933 / 2024 © Revista Brasileira de Otorrinolaringologia