O laringectomizado é de fato um ser mutilado, requerendo como tal uma readaptação que o integre novamente no âmbito social a que pertence, de modo a tornar-se útil a si mesmo, superando a incapacidade provocada pela extirpação do seu laringe.
Aspecto psicológico
É como observar, no pós-operatório imediato do paciente submetido a uma laringectomia total, um período de euforia, conseqüente à sensação de estar livre do terrível mal de que, consciente ou inconscientemente, era vítima, e do qual se sente definitivamente liberto. É necessário que o médico sustente essa convicção, e além disso estimule psicologicamente o doente a logo se restabelecer e conseguir total recuperação.
Nesse período é útil colocá-lo em contacto com um ou mais pacientes operados de muitos anos que tenham conseguido excelente voz esofágica.
Esta ação psicológica do médico deve também estender-se aos familiares do laringectomizado, já que de sua atitude otimista, solidária, paciente e carinhosa dependerá em grande parte o êxito na recuperação do enfermo ao estimular sua força de vontade para vencer o seu difícil transe.
Há doentes que mergulham num negativismo muito acentuado. Nessa circunstância, o médico, se necessário com a ajuda de um psicólogo, deverá esmerar-se em sua atuação sem desfalecimento.
Aspecto social
Do ponto de vista social, o laringectomizado costuma ser um retraído, não raro com sérias limitações no que diz respeito à comunicação oral com seus semelhantes.
O ensino da voz esofágica, realizado por foniatra competente, deverá ser instituído o mais precocemente possível, evitando-se assim que o paciente adquira vícios de emissão que, às vezes constituem sérios escolhos para tal tratamento. Infelizmente, o êxito depende em grande parte de disposição especial do paciente, de uma habilidade inata para esse tipo de adaptação, que não pode ser exclusivamente adquirido pelo ensino técnico.
O uso de laringes artificiais (vibradores) deverá ser reservado unicamente aos casos de fracasso.
Acreditamos que os clubes de laringectomizados, que evitam o isolamento do doente, ajudando-lhe indiscutivelmente a recuperação social, são de enorme utilidade.
Muito importante é a educação do meio que os rodeia, em vista de não raro serem evitados por seus semelhantes, entre os quais se incluem familiares e amigos.
Aspecto trabalhista
Há casos de pacientes que se reintegram em sua ocupação anterior com ótimo desempenho, o que depende, por certo, do tipo de atividade a que se dedicavam. Por outro lado, grande contingente, nas imediações da aposentadoria, esforça-se por consegui-ia, alegando incapacidade definitiva real.
De qualquer forma, o laringectomizado apresenta evidentes limitações em trabalhos que exijam certo esforço muscular, ou naqueles em que é necessário falar em excesso ou com voz forte.
Aspecto médico
A sobrevida do laringectomizado se acha condicionada em grande parte pelo êxito terapêutico, dependente de adequada indicação. A fiscalização periódica do operado é fundamental. As metástases ganglionares, próximas ou afastadas, continuam sendo, estatisticamente, uma causa comum de morte.
Não é excepcional a recidiva no rebordo do traquestoma, devida aos gânglios paratraqueais ou à glândula tireóide, infelizmente nem sempre controláveis em sua evolução.
Além disso devem ser levadas em conta as metástases a distância (pulmonares ou ósseas). Não obstante, são comuns os casos em que a laringectomia se praticou há mais de dez anos.
O laringectomizado se expõe a maior morbilidade e mortalidade por afecções broncopulmonares, sobretudo quando se trata de pessoas de idade avançada, dada a ausência da ação protetora das vias respiratórias superiores. Além disso, freqüente o decesso se dá por lesões cardíacas
(W. Benevides)
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