A sintomatologia na doença de Meniére vem desde há muito sendo descrita na literatura médica. Quando se apresenta na sua forma clássica de Vertigem episódica, do tipo giratório, com hipoacusia neurosensorial e zumbido, o seu diagnóstico é relativamente fácil. Quando passamos ao tratamento medicamentoso, nos deparamos com um arsenal bastante rico em drogas e regimens, porém igualmente pobre em drogas específicas, que estabeleçam um controle absoluto da doença. Um número relativamente grande de doentes (mais ou menos 20%) continua sem controle de vertigem, num grau que os incapacita para as atividades normais.
Para esses doentes de há muito tem-se buscado uma solução cirúrgica satisfatória.
Tratamento cirúrgico
Indicada a operação, temos a considerar à luz dos resultados que se conseguem com as cirurgias conservadoras, duas categorias de doentes:
1 - Aqueles com envolvimento uni-lateral há mais de 2 anos e que apresentam no ouvido afetado, audição não aproveitável socialmente: Nível auditivo médio consistentemente maior que 60 dB e discriminação menor de 50%.
2 - Aqueles com audição socialmente aproveitável ou então envolvimento bilateral. Para o 1.º grupo tem sido aceito que o mais indicado é a Labirintectomia total que dá praticamente 100% de eliminação da Vertigem 2, 3, 4, 5, Para o 2.° grupo é que aparecem as cirurgias conservadoras, tentando eliminar a sintomatologia e preservar a audição. As cirurgias preservadoras são em grande número com variações técnicas diversas. Os mecanismos de ação também tem sido os mais variados.
Destacamos nessa categoria:
1 - Aquelas que entendendo ter o Saco Endolinfático, importante papel na fisiologia da Endolinfa, procuram equilibrar a sua alterada função 6, 7, 8, 9,
- Drenagem do Saco Endolinfático usada na escola Portmann 5, 10.
- Decompressão simples do Saco Endolinfático, sem abrir o órgão 11, 12.
- Shunt espaço sub-aracnoideo - Saco Endolinfático 13.
2 - A Saculotomia de Fick 14.
3 - Destruição seletiva do labirinto. Teoricamente é a técnica que visa a destruição do neuro-epitélio da crista ampolar sem danificar o órgão de Corti.
- Inicialmente foi usado o ultra-som por Arslan 16, 15 aplicado ao canal semi-circular lateral.
Modificações técnicas foram feitas por Angel James e col. 17.
- Mais recentemente, Woltson e col. 18, 19, 20, baseados nos experimentos criogênicos de Cooper 21, 22, passaram a utilizar a Criocirurgia aplicada ao canal Semi-circular lateral. Os resultados tem se mostrado progressivamente melhoras a medida que alterações técnicas tem sido introduzidas 23, 24, 25,
Experiência pessoal
Nosso trabalho se desenvolveu nos anos de 1970-1971, quando trabalhamos no Medical College of Pennsylvania e Presbyterian University of Pa. Medical Center. Nesse tempo fazendo parte da equipe do Prof. Robert J. Wolfson pudemos observar os resultados desde o início da Criocirurgia, bem como realizar 32 Criocirurgias do canal semi-circular lateral sempre pela mesma técnica. Dos 32 casos, 24 foram realizados junto com o Prof. Robert J. Wolfson e 8 pessoalmente, usando a mesma técnica. O 1.º caso no Brasil, realizamos em 2-9-72. As conclusões que pudemos tirar são basicamente as mesmas já apresentadas 23, 24, 25,
1 - A Criocirurgia do Canal Semi-circular lateral é efetiva no controle da Vertigem em aproximadamente 75% dos pacientes operados.
2 - 25% dos casos apresentam recidiva vertiginosa.
3 - Não há alterações na audição decorrentes da Criocirurgia.
4 - Não houve incidência de paralisia facial em nenhum dos 33 operados.
5 - A reaplicação da Criocirurgia pode ser feita sem contra indicações.
O caso Brasileiro
Realizado na paciente E. T. de 46 anos, branca. Apresentou-se com quadro típico de doença de Meniére há 3 anos: vertigem giratória episódica com hipoacusia neuro-sensorial à esquerda, e zumbido à esquerda. Tratada clinicamente desde o inicio da sintomatologia. Nos 2 primeiros anos respondeu bem a terapia. Há 1 ano com crises repetidas. Há 6 meses incapaz de desempenhar suas atividades normais face as repetidas crises. Foi submetida à Criocirurgia do canal semi-circular esquerdo à 2-9-72. Sem incidentes no ato cirúrgico e no post-operatório imediato.
A partir do 6.º dia post-operatório não apresentava mais tonturas, tendo recebido alta hospitalar. No dia 6-10-72 apresentou-se com tonturas que cederam prontamente à medicação usual anti-vertiginosa. Passa bem atualmente.
Técnica cirúrgica
E a mesma já descrita na Criocirurgia do Canal semi-circular lateral 23, 24, 25, 26. E realizada Mastoidectomia simples com exposição do Canal Semi-circular lateral. Protege-se o O.M. com vedação atical usando-se cera pura.
Procede-se o afinamento do canal Semi-circular lateral usando-se broca de diamante até a visualização de linha azulada de transparência. Aplica-se geléia de petróleo no local afinado e procede-se a aplicção da prova Criogênica. Nesse caso, utilizamos -180 graus C. por 3 períodos de 2' com 1' de intervalo. Terminado, remove-se a cera e fecha-se a incisão retro-auricular por planos... Não verificamos paralisia facial no post-operatório.
Ação da criocirurgia no labirinto
Trabalhos anteriores de Wolfson 23, 24, 25 sugeriam uma depressão da atividade das células da crista pela baixa temperatura. Trabalho recente de Lundquist, lgarshi, Wright e Wersall27 sugerem a destruição seletiva da crista do canal semi-circular lateral após a aplicação da crioprova à -180 graus C.
Summary
We have presented our experience with the Cryosurgery im Meniére's disease with mention about ather surgicalprocedures. We have also reported the surgical indication and the results with Cryosurgery. We enclueed the first Brazilian case of Cryosurgery of the lateral semi-circular canal and the probable action of the treezing over the Labirinth.
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Endereço do Autor:
Dr. Paulo Afonso Sampaio - Rua São Bento, 807 - Ed. Bradesco 1.º Andar, Telefone: 3412 - Araraquara - SP.
* Fellow em Otologia no Departamento de Otorrinolaringologia do Medical College of
Pennsylvania. (1970-1971).
Assistente estrangeiro no Presbyteryan-University of Pennsylvania Medical Center, (1970-1971).
Atualmente Otologista na Santa Casa de Araraquara, SP.
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