ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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1588 - Vol. 39 / Edição 1 / Período: Janeiro - Abril de 1973
Seção: Relato de Casos Páginas: 23 a 26
Neurinoma da Glândula Parótida Apresentação de um caso
Autor(es):
Victório de Costa *
T. V. Camilotti **

Resumo: É descrito um caso de neurinoma na glândula parótida, de um paciente sexo masculino com 21 anos de idade. Há 7 anos, notou tumoração crescimento lento e, somente nos últimos meses, passou a sentir dor.

Introdução

O neurinoma é neoplasia benigna raramente encontrada na glândula parótida. Esporadicamente tem sido publicados casos deste tipo de neoplasia localizada nas glândulas salivares principais. A maior incidência desses casos ocorrem na parótida 1, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11. Isto se deve, segundo Pietrantoni e Leonardelli8 por ser a parótida de maior volume e também por apresentar maior morbilidade. O neurinoma é descrito sob várias denominações: neurinoma, lemocitoma, schwanoma, glioma periférico, etc. Caracteriza-se por apresentar crescimento lento e progressivo. Na maioria das vezes é assintomático. Clinicamente a neoplasia é bem delimitada de consistência e volume variáveis'.


Relato do caso

O presente caso é oriundo dos Arquivos do Departamento de Patologia da Universidade Federal de Santa Maria. Paciente do sexo masculino, branco, brasileiro, agricultor, 21 anos de idade. O paciente relata que há sete anos notou crescimento lento e progressivo na região da glândula. Embora apresentasse deformidade facial, não procurou tratamento porque não sentia dor. Todavia, nos últimos meses, o paciente queixa-se de dores na região da tumefação, motivo pelo qual procurou tratamento. Exame clínico especial - Nota-se na região da glândula parótida tumefação de consistência firme com mobilidade relativa, bem delimitada no tecido parotidiano que aos movimentos de palpação apresenta sensibilidade. A inspeção do ponto salivar do conduto de Stenon fluía quantidade normal de saliva.

O diagnóstico clínico foi de tumor misto da glândula parótida. Ato cirúrgico. - Constatou-se processo tumoral intra-glandular, encapsulado, não apresentando nenhuma dificuldade na sua extirpação. Removeu-se somente a neoplasia deixando a glândula salivar, não havendo necessidade de dissecar o nervo facial. Pós-operatório - O paciente retornou após dois meses e apresentava edema generalizado da glândula parótida. Aos 4 meses regressão total do edema e ausência de paralisia facial. Posteriormente o paciente não retornou mais para controle por residir em outro estado. Aspecto microscópico - Foram recebidos dois fragmentos de tecido de forma ovóide revestido parcialmente por cápsula, medindo no conjunto 2,5 x 1,5 x 1 cm, de coloração pardacenta e de consistência elástica. A superfície de corte apresenta-se de aspecto fasciculado de coloração pardacenta e áreas amareladas. Exame Microscópico - Os cortes histopatológicos corados pela Hematoxilina-Eosina, revelam neoplasia encapsulada constituida por células fusiformes de núcleos alongados, que tomam, às vezes, disposição em paliçada Tipo Antoni A. Tais células, às vezes, se apresentam numa disposição desordenada Tipo Antoni B. Noutras áreas observam-se células xantomatosas (Figs. 1, 2).



FIG. 1 - Aspecto do tumor mostrando área de células xantomatosas e área de núcleos fusiformes dispostos em paliçada tipo Antoni A (HE) 25 x.



FIG. 2 -Células apresentando poliforismo (HE) 63 x.



Discussão

A presença de células xantomatosas é comum nos neurinomas2. Raramente foram descritas células apresentando polimorfismo. Essa variação morfológica não é, de maneira alguma, indicação de mudança para malignidade do neurinoma4. Foi Ibraz, em 1927, o primeiro autor a estudar amplamente o neurinoma localizado no interior do parênquima glandular. Dada a sua raridade, descreveu-o com a denominação de "formas excepcionales de tumores parotideos". O'Keefe, em 1949, numa revisão bibliográfica, encontrou somente 15 casos de neurinoma. Raros são aqueles que podem produzir paralisia facial7. Por outro lado, Pietrantoni e Leonardelli8, em 1958 encontraram 172 casos de neurinomas cefálicos extra-craniais e, destes somente quinze se localizavam na glândula salivar. Este neoplasma, por ser pouco freqüente e por ter sintomatologia similar aos outros tumores da glândula parótida, é tido antes da intervenção, como tumor misto ou parotidite crônica3, embora mais raramente possa apresentar sintomatologia própria diferente das outras afecções. O neurinoma da parótida não apresenta características clínicas peculiares para que se possa fazer diagnóstico somente com os dados clínicos Entretanto para Vandooren1, o neoplasma apresenta uma peculiaridade caracterizada por uma pequena sensibilidade na palpação prolongada, embora este não seja um sinal patognomônico, mas um dado que serviria para orientar o diagnóstico clínico de neurinoma. O caso apresentado por Aliprandi e Bargo1 apresentava, em sua história clínica, dor durante a mastígação, acompanhada de sinal de tensão e tumefação da glândula parótida. Todavia não apresentava sensibilidade na palpação prolongada. O nosso caso é semelhante, na história clínica, aos de Aliprandi e Bargo1 e Virno e Rocchi11, por apresentar sensibilidade à palpação. O exame sialográfico também não orienta no diagnóstico do tumor. Na sialografia apresentada por Aliprandi e Bargo1 o diagnóstico foi também de tumor misto ou cilindroma, mas somente o exame operatório e sobretudo histopatológico poderá indicar o verdadeiro diagnóstico de neurinoma. A histogênese deste blastoma apresenta ainda motivo de discussão pois não se sabe ainda se sua natureza é mesenquimal ou neuroectodermica. Mas após os trabalhos experimentais realizados por Murray e Stout. cit. 12 comprovaram que o tumor se origina das células de Schwann.

Summary

A case of neurinoma in the parotid gland, is related.

Bibliografia

1. Aliprandi, G. & Bargo, M. - Localizzazioni rari dei neurilemmoni a livello cefálico extracranico. Arch. Ral. Otol., 74:933-948, 1963.
2. Andreson, W. A. D. - Tratado de Patologia, 5.a Edicion, Inter-Medica, 1968, pág. 1819.
3. Bartual Pastor, J. - Neurinoma plexiforme de la parotida. Aspectos clinicos e histopatologicos dei mesmo. Acta. 0. R. L. Iber-Amer., 3:263-276, 1966.
4. Evans, R. W. - Histological Appearances of tumours; E & S Livingstone Ltt, London, 1956, pág. 251.
5. Ibraz, P. L. - Formas excepcionales de tumores parotideos. Anales de Ia Fac. de Med. Montevideo, 12:540557, 1927.
6. Milazzo, F. - Peculiari aspetti strutturali in un caso di neurinoma della ghiandola salivari parotide. Minerva Otorinolaringologia, 16 : 19-23, 1966.
7. O'Keefe, J. J. - Neurinoma of the facial nerve in the parotid gland. Ann. Otol. Rhin & Laryng., 58:220225, 1949.
8. Pietrantoni, L. L. & Leonardelli, G. B. - I neurilemmoni solitari extracranici de ('estremo cefalico. Tumori, 44, Fasc. 1, 1958 cit. 1.
9. Roos, D. et aI. - Neurilemomas of the facial nerve presenting as parotid gland tumors. Ann. Surg., 144:258266, 1956.
10. Stevens, B. V. - Parotid neurilemmoma. Arch. Otolaryng., 81 : 87-90, 1965.
11. Virno, F. & Rocchi, V. - Neurinoma dei facciale intraparotideo. Progr. Med. (Napoli), 21 :120-122, 1964.
12. Willis, R. A. - Pathology of tumours, Forth Ed. Butterwarths, London, 1967, pág. 842.




* Assistente do Departamento de Patologia (Secção Patologia Oral) da U.F.S.M.
** Professor Adjunto do Departamento da Fala da Universidade Federal de Santa Maria.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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