ISSN 1806-9312  
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1586 - Vol. 39 / Edição 1 / Período: Janeiro - Abril de 1973
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 02 a 12
RINOPATIA ALÉRGICA 1
Autor(es):
FERNANDO CORDEIRO SIMAS 2,
LEONIDAS MOCEITIN 3,
JOIO CANDIDO DA CUNHA PEREIRA 4,
ANTONIO C. NUNES NASSIF 4,
POLAN DUSZACK 4,
JAYME ZLOTNIK 4,
MAURÍCIO HOITZ4.

Resumo: Os autores estudam a bibliografia sobre as Rinopatias alérgicas, apresentam alguns casos de Rino-sinusopatias alérgicas, com Raio-X antes e após a medicação intra-sinusal. Dão a conhecer o resultado de exames histopatológicos e um quadro onde estudaram o exame citológico em 17 casos.

Com algumas considerações iniciais sobre a Rinopatia Alérgica, queremos deixar patente nossa orientação com relação a um assunto que reputamos digno de ser ventilado, pois continua a ser um dos complicados quadros patológicos na clínica diária. Desde que Richet, Hericourt e Portier (1898-1902), estudavam a chamada hipersensibilidade e anafilaxia, surgiu em 1906, o termo proposto por Von Pirquet de alergia, seguida pela proposição da palavra atopia, expressão esta dada por Coca. O conceito definido de alergia é para designar uma extrema sensibilidade de um dado organismo ou órgão isolado agredido por uma determinada substância, que em igual concentração é inócua para outros indivíduos da mesma espécie.

Achamos útil, para fins didáticos, a reprodução da classificação proposta por Van Dishoeck e Majer, pois ela facilita a compreensão e um melhor conhecimento da causa em tela.


"Classificação"



Com relação ao mecanismo de sensibilização e o conflito alergeno - anticorpo, a influência do terreno, a hereditariedade ou familiar tem um papel muito significativo na eclosão do processo alérgico. Em quase todas as estatísticas a porcentagem varia de 50 a 70%. Na grande maioria dos casos os alergenos quase sempre de procedência proteinica, penetram pela via respiratória e são de origem vegetal ou animal. Pela via digestiva seguem também as proteínas animais e vegetais, além de medicamentos os mais variados. A regra segundo Terracol, é que "sensibilização se efetua insidiosa e lentamente, em outros casos ela aparece como uma reação imediata". O mesmo autor relata, que o alergeno provoca a formação de reaginas e estas podem ficar livres na circulação (alergia humoral), ou em parte fixam-se sobre um órgão ou tecido (órgão ou tecido de choque). Supõem-se que o antígeno ao penetrar novamente no organismo, o contato alérgeno - anticorpo provoca um choque que libera a histamina.

Esta brusca liberação de histamina pelo endotélio vascular pode provocar três manifestações principais, associadas ou isoladas: "espasmos dos músculos lisos; aumento da permeabilidade capilar em conseqüência da vaso-dilatação, seguida de edema; hipersecreção glandular". Estas manifestações, da instalação do processo alérgico, são muito freqüentes ao nível dos cornetos inferiores e médios, sede eletiva por sua riqueza vascular. Cauna e Hinderer estudando a estrutura dos vasos sanguíneos da mucosa respiratória nasal, chegaram à seguinte conclusão: "os capilares sub-epiteliais e periglandulares possuem coberturas endoteliais fenestradas, sendo todas circundadas por membranas de base porosa. As vênulas são cobertas por um endotélio continuo, mas as membranas de base dos tubos endoteliais e as células musculares lisas mostram um alto grau de porosidade". Os mesmos autores completam seu pensamento afirmando que o leito vascular serve para a passagem rápida de substâncias fluidas e dissolvidas dos vasos sanguíneos aos tecidos e vice-versa. Ainda Van Dishoeck e Majer, preparam um quadro da sintomatologia da hipersensibilidade nasal, e que achamos oportuno a sua transcrição, visto ser de real valor para consultas e orientação.


"Sintomatologia da hipersensibilidade nasal"



Na criança é por demais conhecida a sintomatologia da alergia nasal; autores como Lemariey chamam a atenção para a obstrução nasal intensa, mas passageira, algumas crises esternutatórias, rinorréia aquosa, tosse seca e quintosa. Durante o inverno esses sintomas se agravam, com maior obstrução nasal, e rinorréia de aspecto muco-purulento, tosse noturna de origem laríngica mais do que brônquica. A, inspecção objetiva revela intensa _hiperemia das conjuntivas, e nos casos agudos as pálpebras apresentam-se entumecidas. O gotejar constante proveniente das fossas nasais causam vermelhidão e escoriações no vestíbulo nasal e região superior do lábio. Na maior parte do quadro clínico, aqueles fenômenos apresentam-se em sucessivas recidivas, o que levou T. G. Wilson a citar em seu livro, Elegia funeral do século XVII - "Alcance-me um lenço para assoar. Outro lenço, e mais outro, pois o último já está úmido".


ETIOLOGIA


1.º - Herança:

No dizer de Freire Maia, "É fato largamente reconhecido que essas moléstias são de ocorrência familiar, se bem que assumindo formas clínicas diferentes nas diversas pessoas, A teoria de Schwartz admite a ação de um gene autossômico dominante com cerca de 40% de penetrância e capaz de desencadear asma, rinite vasomotora, prurido de Besnier é febre dó feno. De acordo dom esta hipótese, a probabilidade de que um indivíduo afetado (heterozigoto) venha a ter filhos afetados é igual a (0,5) (0,4) = 0,2 (isto é 20%) por gestação". Para Dushan é importante o inquérito alérgico familiar, nascimento e vida nutritiva da criança, resfriados e suas histórias.

2.º - Sensibilidade por proteínas:

Para Birrell, "a reação é devida a proteínas extranhas, ou alergeno com potencial alérgico; a sensibilização instala-se como resultado da inalação, ingestão ou injeção de uma substância de causa". Os alergenos inalantes constituem-se numa ordem formidável dê origens, é estão divididos em sasonais e não sasonais. Nos inalantes sasonais estão incluídos os polens de várias flores, gramíneas, mofo, esporos e fungos. Com relação as proteínas não sasonais estão os alergenos provenientes de penas, pó, lã, emanações animais, sabão, pós de toucador, tabaco e carvões; entre os digestivos mais comuns estão o chocolate, ovos e leite. Apontados como proteínas sensibilizantes em crianças, no período de crescimento estão alimentos como: trigo, ervilhas, feijão, batata, tomate, morango,e, produtos de origem marítima.

Achamos válida a observação de Guthrie, afirmando que é regra encontrarmos alergia alimentar até os 5 anos, e inalatória após os 5 anos. Brown ao citar os trabalhos de Norval Pierce, onde o mesmo escreve que de "fato nos lactentes a mucosa nasal apresenta-sé espessa e formando dobras, que podem reter a infecção, assim como os sinus, e chega a .concluir que uma grande porcentagem dos casos que viu tinham nítidas reações alérgicas na :.mucosa das fossas nasais, sem ter entretanto reações positivas e chama-os de "Near Alergic" ou vasomotor rinitis"; Para Crooks a alergia nasal determina um sofrimento do epitélio, ciliar, tornando-o. inativo, e que em conseqüência do edema sobrevem o fechamento do ostium e posterior infecção da mucosa dos sinus core retenção de secreções.

3.º - Invasão Bacteriana:

Na criança é muito comum a- falta de resistência orgânica frente- a um processo bacteriano, o que dá um maior 'potencial alérgico com localização nas vias aéreas superiores. Para Proctor, "a criança alérgica é mais suscetível à infecções, e aquela é mais difícil de controlar durante o processo infeccioso, é a tentativa para controle das reações alérgicas, faz com que o esforço terapêutico tenha pouco sucesso. É mais importante, a eliminação das fontes crônicas de infecções recorrentes, nas crianças com manifestações alérgicas". O mesmo autor, apresenta uma estatística sobre 2.303 pacientes, onde a infecção ocupa o 1.º lugar com 66,2% e a alergia com 4,0%. No trabalho executado por Cooke, Sherman e Growe, a história clínica mostra infecções agudas semelhantes ao sarampo, influenza, pneumonia e outros processos; afetando de preferência as vias respiratórias, bem antes da instalação do processo alérgico, indicando assim o esforço conjugado da infecção bacteriana e suas toxinas, na instalação da capacidade de sensibilização aos vários alergenos. As substâncias e produtos das bactérias, devido a sua lenta produção, são absorvidas em áreas de processos agudos e crônicos; é possível até que exista um verdadeiro parasitismo infeccioso. Este tipo de alergia bacteriana é uma das principais causas das rinites vasomotoras, lesões hiperplásticas, sinusites, asmas, urticárias, etc.

4.º - Equilíbrio Neuro-vegetativo:

A harmonia neuro-vegetativa assume um papel relevante, e é um capítulo importante dentro do plano de estudo das alergias, pois o seu desequilíbrio traz conseqüências as mais variadas.

De há muito, alguns autores consideram a asma, como causa, de uma distonia neuro-vegetativa. A função endócrina é indissociável do sistema neuro-vegetativo e o complexo diencéfalo-hipófiso-supra renal é na opinião de Portmann, "o centro próprio do mecanismo de reações do organismo, e intervém portanto na eclosão das manifestações alérgicas". Muñoz Soler, ao estudar as correlações psicossomáticas, reporta-se a conclusão de Saul, de que, "o fator emocional central encontrado nos casos de alergia de diversas naturezas, é um forte anelo amoroso especialmente dirigido à mãe. Pensa-se, que quando este desejo infantil de proteção e dependência é aumentado ou frustrado, a sensibilidade alérgica aumenta e os sintomas aparecem". Com os trabalhos de Holmes, sobre estudos de reações experimentais na mucosa nasal e cavidades anexas, comenta que tem sido atribuido a "ocorrência de sinusites em crianças, onde a hiperemia nasal e obstrução, acompanham os conflitos emocionais da situação de vida insegura".

5.º - Influência do Meio Social:

Na conjuntura atual de vida agitada dos povos civilizados, com a poluição do ar, traumas psíquicos, e divorciando-se da própria natureza de seu habitat, as condições orgânicas do homem o tornam mais sensível à agressão alérgica. Recásens Siches em sua sociologia, diz: "Não devem ser esquecidos os elementos anti-sociais que atuam na convivência humana". A sociedade é tão constitutivamente o lugar da sociedade como o da mais atroz insociabilidade.

6.º - Fatores físicos:

Estes aspectos físicos, como as condições climáticas, excesso de claridade, calor, frio e umidade, hoje mais do que nunca estão sendo estudados péla biometeorologia. Apolo em seu trabalho, conclui que "no inverno, além do trio, influem no mesmo sentido as freqüentes infecções das vias respiratórias superiores que ocorrem nesta estação, e que atuam baixando o limite de reações do indivíduo ou provocando sensibilidade bacteriana". Para Pizarro e Hazen, a secreção é reduzida nas fossas nasais, quando a umidade atinge 60%, e que a hipersecreção é atribuida às baixas de temperatura, à vaporização, com transformação da pressão osmótica, fatores que fazem o alergeno atingir a mucosa das fossas nasais com maior facilidade.

INFECÇÃO E ALERGIA

O quadro de infecção e alergia, é um ponto muito discutido; pois a divisão dos mecanismos patogênicos é de difícil reconhecimento, e sabemos que a infecção pode preparar e condicionar zonas lábeis para a instalação alérgica e vice-versa. A história pregressa e a semiologia na maioria das vezes traduz um resfriado prolongado, repetido e permanente com hidrorréia muco-purulenta abundante no inverno. Melchior em sua monografia, fala que em seus casos, ele observou apenas hiperemia da mucosa nasal, com presença de quantidade regular de secreção no meato médio, e um ligeiro edema; e afirma que, nas crianças de mais idade constatou uma mucosa atrófica por predisposição constitucional devido ao prolongamento da infecção. O próprio Melchior observou igualmente que, a inalação das vegetações adenoides não cura estas crianças, que continuam a respirar pela boca, em razão da congestão e das secreções das estruturas muco-sinusais. Em nosso serviço de Oto-Rino-Laringologia do Hospital de Clínicas, da Faculdade de Medicina do Paraná, numa investigação realizada em 47 crianças com alguns casos de rinite alérgica, constatamos que, 85% dos pacientes tinham lesões em um ou nos dois sinus maxilares, e apenas 14,9% com as cavidades consideradas normais. Nos pequenos alérgicos, longe de produzir efeitos benéficos sobre as lesões mucosas dos maxilares, a adeno-amigdaléctomia não conseguiu as melhoras desejadas; peio contrário, em algumas observações como as de n.os 8 e 16 (Figs. 1 e 2).



Figura 1



Figura 2



Após a adeno-amigdaléctomia, observamos que o quadro radiológico piorou após um mês, quando do Rx. de controle. O quadro clínico igualmente revelou um recrudescimento da sintomatologia, como se de fato tivesse havido um rompimento do equilíbrio humoral, dentro da unidade fisiológica sinu-adeno-amigoaliano. Gorelik, ao fazer a revisão de 93 alérgicos operados de vegetação e amígdalas, mostra o papel do terreno individual nos efeitos post-operatórios, chegando a conclusão de que "1.º) a adeno-tonsilectomia não deu nenhum resultado em casos de asma e rinites vaso-motoras; 2.º) a adeno-tonsilectomia agravou 16 rinites vaso-motoras; 3.0) a adeno-tonsilectomia marcou o início de rinites vaso-motoras em 18 casos que não apresentavam nenhum sinal clínico de alergia, antes da operação e, 4.º) a recidiva do tecido linfóide não é rara nos operados alérgicos". Em 17 casos, em que executamos a punção transmeática para efeito de um exame citológico para fins de estudo em crianças com sintomas de rinu-sinusite verificamos: (Veja tabela página 7)

Nas observações n.os 28, 34 e 42, as amostras das porcentagens nos fazem pensar em processos sub-agudos; já as de n.os 30, 36, 40, 41 e 46, levam nossa orientação para uma manifestação infecciosa em fase aguda; e por fim as de n.os 43 e 44, uma invasão bacteriana aguda ou reagudisação com a eosinofilia sugerindo reação alérgica ou vice-versa. Com relação ao exame citológico há uma divergência de opiniões entre vários autores, assim Hansel considera a presença de granulócitos eosinófilos nas secreções nasais, como uma demonstração da existência de um processo alérgico ou vaso-motor; ainda Hansel recomenda que sejam feitas várias lâminas da secreção nasa!, e obtidas com espaço de algumas horas, para perfeito diagnóstico. Normalmente, encontramos a presença de eosinófilos nas preparações na porcentagem de 4 a 6%, nas rinopatias alérgicas, podem chegar até 50 e mesmo 100%. Nas opiniões de Eggston e Wolff, as secreções provenientes da sinusite crônica, mostram a presença de eosinófilos; porém numa infecção bacteriana, o característico do quadro celular, é a visualização de neutrófilos polimorfonucleados. Salinger, ao citar Goodhill com seus aforismas negativos, conclui em dois dos mesmos que: a eosinofilia não é necessariamente indicada como condição puramente alérgica; a ausência de eosinófilos não rejeita a alergia. Kaiser, em seus trabalhos, mostra que as pessoas com sinus desenvolvidos normalmente, podem sofrer sinusites agudas, mas que raramente tornam-se crônicas, salvo quando complicadas por um processo alérgico, e que deve muito de seus fracassos, por ter deixado de reconhecer e tratar um estado alérgico. O exame local da mucosa nasal nas rinopatias alérgicas, traduz com freqüência zonas edematosas, palidez e, em outras ocasiões a soma de formações poliposas de coloração levemente azulada. Não foge a regra o aspecto moriforme das caudas dos cornetos inferiores, considerado como um sinal evidente de infecção adicional.





HISTOPATOLOGIA


No epitélio da mucosa nasal, visualizamos lesões hiperplásicas secretantes com uma certa intensidade, aparecimento de numerosas células caliciformes entre o epitélio vibrátil das formações prismáticas altas. A alergia determina diminuição da atividade ciliar, e em fases posteriores é possível constatar o desaparecimento da orla ciliar. Nos casos crônicos é comum a transição para a metaplasia do epitélio plano, bem visível ao nível do pólipos nasais. Para Eggston e Wolff, o processo alérgico cia mucosa nasal apresenta-se de coloração pálida e, com abundância de secreções mucoides e aquosa, em contraste com o tipo de secreção purulenta, quando presentes as bactérias patogênicas. No corion, além do edema causado pelo transudato proveniente dos capilares, existe uma infiltração celular, composta de elementos inflamatórios banais e de células cujo citoplasma acha-se impregnado de granulações eosinofilicas. Para Portmann, a eosinofilia pode atingir 50 a 70% de infiltração no curso de episódios agudos; esta a classificação simplificada de Leroux e Delarue com relação aos pólipos:

- Pólipos inflamatórios mucosos
- Pólipos inflamatórios fibro-mucosos
- Pólipos inflamatórios fibrosos".

Os dois primeiros da categoria acima podem ser sub-divididos em pólipos com eosinófilos e, ou com ausência dos mesmos. Portmann, admite que essas três categorias representam a evolução cronológica de sim mesmo processo.

Na opinião de Dean Lierle, a presença de eosinófilos nos cortes histológicos, nem sempre é indicativa de um processo alérgico, eles podem ser vistos no estágio curativo ou indicar uma infecção crônica.

Van-Alyea, descreve o quadro histopatológico das manifestações alérgicas nasais e das membranas mucosas dos sinus da maneira seguinte:

"1.º - Secreção catarral epitelial mais hiperplasia,
2.º - Aumento e hialinização da membrana basal,
3.º - Intenso edema com degeneração polipoide do estroma, e
4.º - Presença de eosinófilos".

Eggston e Wolff com opiniões formadas, escrevem que: "nas sinusites polipoides ou hipertróficas, o estroma pode conter grande quantidade de células migratórias (polimorfonucleadas), linfócitos e células do plasma. Todavia, a simples presença dessas células; não caracteriza a alergia, no sentido estrito da palavra, e em muitas condições também a eosinofilia não indica um processo alérgico". Carmack, observou ao exame microscópico, a presença de edema, pólipo, formação de abcessos e fibrose com oclusão arterial. Em nossas observações, a histopatologia revelou na maioria dos casos, uma reação edematosa, infiltrado linfo-plasmocitário-eosinofílico, hemorragia focal, congestão, hipersecreção mucosa e espessamento das arteríolas, com proliferação da íntima sub-endotelial.



FIG. 3.



FIG. 4



A observação acima, n.º 43, é de uma rino-sinusopatia alérgica, antes e após a punção transmeática, cujo exame anátomo-patológico n.º 65-143 (Figs. 3 e 4), revela:

Sinusite Crônica, congestão, edema, infiltrado linfo-plasmocitário, hemorragia focal e alguns eosinófilos.

No caso de n.º 40, o corte histológico n.º 6342 (Fig. 5) mostra um edema com discreto infiltrado inflamatório crônico, observando-se ainda um espessamento das arteríolas, e proliferação da íntima sub-endotelial.



FIG. 5



Tratamento:

Infelizmente ainda não possuímos uma arma terapêutica eficiente para a cura definitiva do processo alérgico. Dentro do arsenal terapêutico, existem inúmeros recursos farmacológicos, de que lançamos mão para conseguirmos uma melhoria em tais pacientes.

Nossa conduta frente a tais entidades mórbidas, e que usamos em nosso serviço, é a seguinte:

1.º - História - com relação a casos familiares, ou formas adquiridas;
2.º - Exame O.R.L., com cuidadosa observação objetiva;
3.º - Esfregaço nasal - Citológico;
4.º - Contagem leucocitária no sangue;
5.º - Raio-X das cavidades anexas;
6.º - Exame bacteriológico da secreção nasal + antibiograma;
7.º - Pesquisa de carências dietéticas;
8.º - Avaliação endocrinológica;
9.º - Testes cutâneos para alergia;
10.º - Testes mucosos;
11.º - Testes de alergia bacteriana;
12.º - Reação de Praussnitz-Küstner;
13.º - índice Leucopênico;
14.º - Resultado dos regimens de abstenção dos alergenos (provas de eliminação).

Princípios de Tratamento:

1.º - Remoção do alergeno causador;
2.º - Desensibilizante - a) específica b) não especifica;
3.º - Tratamento anti-alérgico geral;
4.º - Tratamento anti-alérgico local;
5.º - Tratamento das condições secundárias.

HIPOSSENSIBILIZAÇÃO ESPECIFICA

Nossa experiência com este tipo de desensibilização, por meio dos extratos de alergenos previamente reconhecidos, (na maioria das vezes executados por um alergologista); é iniciado no outono, com doses baixas e progressivas, até chegarmos a conhecer o limiar de tolerância do doente. Conhecido este limiar, a dosagem ótima será aplicada mensalmente como terapêutica de manutenção durante um ano. O sucesso dessa orientação, para formar os anti-corpos bloqueadores, está em íntima relação com as condições orgânicas, sociais, e ambientais. Nos dias atuais, novos conceitos surgiram com o aparecimento das vacinas orais, para o tratamento específico; principalmente os compostos com princípios à base de antigenos extraídos de substâncias alimentares, inalatórios e de culturas de germes provenientes das vias respiratórias. Os imunologistas e alergologistas, supõem que tais antigenos, quando bem indicados, dão origem a formação de anti-corpos humorais tipo 1g G, que seriam os bloqueadores; e cuja finalidade específica é a de neutralizar os alergenos, para não entrarem em contato com os anti-corpos e reaginas do tipo 1g E dos mastócitos (lshizaka), responsáveis pela liberação da histamina e conseqüente inflamação local. O valor do uso da hiposensibilização pela via oral, ou mesmo através da nebulização sobre as mucosas nasais, é evidente desde que, sejam observadas as indicações formais, e o controle dos principais inalantes do ambiente domiciliar.


DESENSIBILIZAÇAO NÃO ESPECIFICA

Usamos esta, para corrigir algum desequilíbrio tissular ou mesmo humoral que predispõe ao processo alérgico. Essa desensibilização não específica, consta da indicação de: auto- hemoterapia, cloreto de cálcio por via oral, modificação do pH sanguíneo quando houver um desequilíbrio ácido-básico, por meio de aplicação de medicamentos contendo ácido fosfórico, ou de bicarbonato de sódio.

Para aumentar o poder defensivo local e geral e também manter o equilíbrio celular é, de regra o uso de vitaminas do grupo A e C.

Tratamento anti-alérgico geral:

Dentro deste capítulo, utilizamos os anti-histamínicos de síntese, porque diminuem a permeabilidade capilar e melhoram o edema local. Existem formas farmacológicas compostas, em que a ação de um elemento é imediata, e o outro é de ação e eliminação lenta, e atuam como anti-histamínicos e descongestionantes. Outra arma terapêutica à nossa disposição, são os anti-inflamatórios associados à antibióticos, cujo emprego e boa indicação dão muito bons resultados. Esse grupo de associação proporciona o retorno normal do tecido inflamado, e favorece a penetração do agente antimicrobiano para entrar em contato com os microorganismos infectantes. Os corticoides, tanto da primeira como da segunda geração, estão indicados mais nas crises alérgicas e na rinopatia vasomotora. A dosagem e a vigilância sobre o paciente devem merecer um cuidado todo especial, pois é comum a instalação de uma infecção secundária. Kyrmse, em nosso Estado, tem uma experiência excepcional no tratamento das rinopatias alérgicas em crianças, e relata bons resultados com o emprego do cálcio aliado a desensibilização específica e inespecífica, realçando igualmente o valor dos derivados da camomila (camazulene), no tratamento dos processos alérgicos.

Tratamento anti-alérgico local:

Localmente e com muita parcimônia, podemos prescrever as pulverizações nasais com uma solução fisiológica isotônica aliada a uma solução de efedrina a 1/4%. Recentes aquisições terapêuticas, fizeram aparecer os medicamentos compostos por corticosteróides, antibióticos bactericidas e o cloridrato de fenilefrina, para uso tópico; cada um desses componentes agindo pela sua particular indicação. Em nossos casos, usamos as formas acima descritas, sobre os sinus através da punção transmeática, ou utilizando o método de deslocamento de Proetz, com ótimos resultados, desde que a indicação seja para os casos, onde não houver sensibilidade orgânica para um dos componentes medicamentosos. Alguns autores são favoráveis a injeção de cortisona por via sub - perióstica no corneto inferior, no clímax das crises alérgicas. Fabricant, cita a utilização da iontoforese intra-nasal com sulfato de zinco a 1%, tendo o cuidado de proteger a área olfativa, com melhora do quadro clínico.

Glass, apud Fabricant, emprega a ionização com histamina, em doses crescentes, partindo de soluções a 1/2.000, com resultados excelentes. Montgomery, Katz e Gamble, são favoráveis a secção do nervo vidiano, para as formas de rinite vasomotora, que não reagem ao tratamento conservador. Em alguns casos de crianças por nós selecionadas, usamos com extremo cuidado a instilação nasal com sais de prata, pois os mesmos determinam uma pequena esclerose da mucosa do corneto inferior, diminuindo assim as zonas de reflexo. Com relação aos pólipos, somos favoráveis a sua eliminação, tanto pela via nasal como pela transmaxilar, afim de atingirmos as células etmoidais, que são as zonas de implante dos mesmos. Frente a uma hipertrofia óssea do corneto inferior, preconizamos sua luxação, e usamos para tal fim o espéculo de Killiam, já que esta hipertrofia, quase sempre é uma espinha irritativa e a causa do "shunt" alérgico. Em condições especiais, usamos a cauterização elétrica, ou ácido tricloroacético. Os focos dentários, sinusais e de vizinhança deverão ser eliminados pelas técnicas clássicas. As intervenções cirúrgicas sempre limitadas, são aconselhadas na restauração das funções nasais, como é o caso das extirpações de cristas nasais.

Tratamento das condições secundárias:

Nesse capítulo aconselhamos aos pacientes mudança de clima, e a indicação terapêutica inespecifica nos balneários apropriados. Tem importância o estudo pormenorizado dos conflitos psicológicos, que podem dar uma manifestação alérgica; aqui estão indicados os tratamentos psicoterápicos.

Resumo

Os autores estudam a bibliografia sobre as Rinopatias alérgicas, apresentam alguns casos de Rino-sinusopatias alérgicas, com Raio-X antes e após a medicação intra-sinusal. Dão a conhecer o resultado de exames histopatológicos e um quadro onde estudaram o exame citológico em 17 casos.

Summary

The autoors study the bibliography on allergic rhinopathies, presenting some cases of allergic rhino sinusopathies with X rays, before and after medication into the sinus cavities. They present a general view about histopathological and cytological examinations of 17 cases.

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1 CONFERÊNCIA INFORMAL - XXI .º CONGRESSO BRASILEIRO DE OTORRINOLARINGOLOGIA, DE 5 A 8 DE OUTUBRO DE 1972 - RIO DE JANEIRO - GB.
2 PROFESSOR ADJUNTO E PARTICIPANTE DA CONFERÊNCIA INFORMAL;
3 PROFESSOR TITULAR;
4 PROFESSOR ASSISTENTE E AUXILIARES DE ENSINO.
TRABALHO DA DISCIPLINA DE OTORRINOLARINGOLOGIA DA FACULDADE FEDERAL DE MEDICINA DO PARANÁ.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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