ISSN 1806-9312  
Sábado, 27 de Abril de 2024
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1580 - Vol. 65 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1999
Seção: Artigos Originais Páginas: 504 a 508
Análise e Comparação da Dor Pós-Operatória em Pacientes Operados por Laup e Radiofreqüência para Tratamento do Ronco.
Autor(es):
Mercedes N. Silva*;
José A. A. de Oliveira**;
Denílson S. Fomin***;
Juan C. Vallejo*.

Palavras-chave: dor, laup, radiofreqüência, ronco

Keywords: pain, laup, radiofrequency, snoring

Resumo: Introdução: O ronco e a apnéia obstrutiva do sono leve são tratáveis cirurgicamente com procedimentos como laser assisted uvulopalatoplasty (LAUP) ou coma aplicação de radiofreqüência (RF) no palato mole. O objetivo dos autores foi analisar a dor pós-operatória (PO) em 41 pacientes operados: 27 de LAUP e 14 de RF. Material e Método: Consideramos dor trans-operatória (TO), PO, início, pico máximo, intensidade e duração da dor. Na TO reportaram dor sete pacientes (26%) no grupo LAUP e quatro (29%) do grupo RF. Resultados: A dor PO esteve presente em 25 pacientes (93%) do grupo LAUP e três (21%) do grupo RE No grupo LAUP a dor PO deu início em média após 14 horas e no grupo RF após 11 horas. O pico de máxima dor PO aconteceu: no grupo LAUP após 39 horas e no grupo RF após 27 horas. A intensidade da dor PO no grupo LAUP foi de grau III (severa) em 11 pacientes (41%), de grau II (moderada) em 11 (41%), de grau I (leve) em três (11%) e de grau 0 (nulo) em dois (7%). No grupo RF um paciente (7%) teve dor PO grau II, dois (14%) grau I e 11(79%) grau 0. A duração média da dor no grupo LAUP foi de seis dias e de cinco dias no grupo RF. Conclusões: A aplicação da RF no palato mole ocasiona pouca dor TO e PO, a dor pós LAUP é importante e deve ser tomada em consideração para realizar uma analgesia adequada.

Abstract: Introduction: The snoring and mild obstructive sleep apnea can be surgically treated with Laser Assisted Uvulopalatoplasty (LAUP) or aplication of Radiofrequency (RF) in the soft palate. Objetive: analysis the post-operative pain in 41 patients underwent to the surgery: 27 LAUP and 14 RF. Material and Methods: We considered trans-operative (TO) and post-operative (PO) pain, onset, level, intensity and the total duration of pain. Results: In the TO seven patients (26%) in the LAUP group and four patients (29%) in the RF group reported pain. In the LAUP group the PO pain was present in 25 patients (93%) and in the RF group in three patients (21%). In the LAUP group the pain begin after 14 h., in the RF group after 11 h. The PO'S maximum level pain was in the LAUP group after 39 h. PO, in the RF group after 27 h. The PO intensity pain in the LAUP group was of stage III (severe) in 11 patients (41%), stage II (moderate) in 11 patients (41 %), stage I (mild) in three patients (11%) and stage 0 (nule) in two patients (7%). In the RF's group one patient (7%) had PO pain stage II, two (14%) stage I and 11(79%) stage 0. In the LAUP group, the pain duration average was of six days, in the RF group was of five days. Conclusions: The soft palate RF aplication produce a mild pain. The post-LAUP pain is an important problem and we have to indicate the best analgesia.

INTRODUÇÃO

O ronco e a síndrome da apnéia obstrutiva do sono leve (SAOS) são problemas tratáveis cirurgicamente com procedimentos como laser assisted uvulopalatoplasty (LAUP), ou a aplicação de radiofreqüência (RF) no palato mole.

A LAUP com laser CO2 é uma técnica já consagrada realizada sob anestesia local; o laser produz vaporização dos tecidos pela sua ação térmica, atingindo uma temperatura no nível da mucosa e tecido faríngeo de até 900° C5, causando vaporização da água das células, precipitação de proteínas e hemostasia de vasos em uma espessura de até 0,5 mm, conseguindo um mínimo ou nulo sangramento pós-operatório5, 9. É claro então que o laser ocasiona uma queimadura do tecido, sendo que a dor é um fato esperado. A dor é classificada como somática, tendo como causa primaria a destruição tecidual.

A RF é uma tecnologia que usa energia de corrente alternada de baixa voltagem gerada a uma freqüência de 460 KHz, que produz agitação molecular e aquecimento do tecido intersticial a uma temperatura no nível do eletrodo de 7 0 - 95°C10, controlada automaticamente pelo aparelho, levando à coagulação das proteínas. Essa energia liberada no tecido produz uma lesão mínima, que posteriormente evolui para uma retração cicatricial, e o resultado final é uma diminuição volumétrica nesse nível.

A vantagem desta tecnologia é a produção de uma lesão tecidual com preservação da camada mucosa obtendo então um melhor pós-operatório por um menor grau de trauma tecidual; e, portanto, mínimo grau de dor5. Constitui esta a diferença mais importante no que se refere à cicatrização e a dor pós-operatória comparada com a LAUP.

O Objetivo deste trabalho foi estudar e comparar, com os dois procedimentos, a dor pós-operatória, analisando intensidade, evolução e duração da dor nos pacientes submetidos a cirurgia para ronco e SAOS leve com LAUP e RF.

MATERIAL E MÉTODO

Foram estudados prospectivamente 44 pacientes operados no ambulatório de ORL do Hospital das Clínicas da FMRP da USP, por ronco e SAOS leve, 27 de LAUP e 17 com RF, com idades compreendidas entre 18 e 65 anos, de ambos os sexos, no período de fevereiro de 1998 a fevereiro de 1999.

Foram eliminados do estudo três pacientes operados com RF, por apresentarem complicação pós-operatória, ficando um universo de 41 pacientes (27 de LAUP e 14 de RF).

Aplicamos um questionário elaborado no Departamento, considerando os seguintes parâmetros:

- Dor trans-operatória (presente ou ausente).
- Dor pós-operatória (presente ou ausente).
- Inicio da dor pós-procedimento (horas).
- Tempo para atingir o pico máximo da dor (horas).
- Duração total da dor (dias).

Para definir melhor a intensidade da dor, estabelecemos uma escala subjetiva de intensidade, classificando em quatro graus:

- 0= ausente.
- I= leve.
- II= moderada.
- III= severa.

Os procedimentos foram feitos sob anestesia local, com lidocaína tópica, e por infiltração em três pontos no palato (um na base da úvula e dois laterais). Imediatamente após a cirurgia, foi administrado diclofenaco sódico 75 mg por via intramuscular, e foi prescrita igual terapia analgésica consistindo de um comprimido de 50 mg de diclofenaco sódico via oral, de 8 em 8 horas, por uma semana, um anestésico tópico em spray antes das refeições e gargarejos freqüentes com soro fisiológico. Foi orientada uma dieta branda, evitando temperaturas extremas, alimentos irritantes e sabores fortes.

Para efeitos da análise da dor em forma homogênea, a terapia analgésica sempre foi a mesma durante todo o estudo, mesmo naqueles casos que apresentaram dor residual importante.

Os pacientes foram avaliados na primeira e segunda semanas pós-operatória e foram analisadas e comparadas as características da dor nos pacientes submetidos aos dois procedimentos.

RESULTADOS

Foram operados 44 pacientes com uma idade média de 45 anos, sendo 29 (70,7%) do sexo masculino e 12 (29,3%) do sexo feminino. Do grupo RF, eliminamos do estudo três casos por apresentarem complicação PO, ficando 41 pacientes para a analise.

Das 41 cirurgias, 27 foram LAUP (66%) e 14 foram RF (36%) (Figura 1).

Analisando a dor trans e pós-operatória, encontramos os seguintes resultados:

Dor trans-operatória reportaram: sete pacientes (26%) no grupo LAUP e quatro pacientes (29%) no grupo RF (Figura 2). A dor PO é esperado acontecer após terminar o efeito do anestésico, e se apresentou em 25 pacientes (93%) do grupo LAUP e em três paciente (21%) do grupo RF (Figura 3).

Nos casos que tiveram dor PO no grupo LAUP, ela iniciou em média após 14 horas PO e no grupo RF após 11 horas. Quando a dor foi progressiva, o pico de máxima dor foi: no grupo LAUP, após 39 horas PO; e no grupo RF, após 27 horas. PO (Figura 4).

A intensidade da dor PO no grupo LAUP foi: de grau 111 (alta), em 11 pacientes (41%); com grau II (moderada) em 11 pacientes (41%); com grau I (leve) em três pacientes (11%); e com grau 0 (nulo) em dois pacientes (7%).



Figura 1. Pacientes operados.



Figura 2. Dor trans-operatório.



Figura 3. Dor pós-operatória.



Figura 4. Pico da dor pós-operatória.



No grupo RF, um paciente (7%) teve dor PO grau 11 (moderada); dois pacientes (14%) com grau 1 (leve) e 11 pacientes (79°/0) com grau 0 (nulo) (Figura 5).

A duração média da dor no grupo LAUP foi de seis dias e de cinco dias no grupo RF (Figura 6).

DISCUSSÃO

A dor pós-LAUP é um problema com o qual todo cirurgião tem que lidar, constituindo-se em um fator limitante para o médico que realiza cirurgia com laser CO2. A dor ocasiona um grande desconforto nos pacientes, limitando por vezes a realização de suas atividades normais e, inclusive, segundo Dickson, causando ausência no trabalho4. Este fato pode levar também a uma falta de aderência do paciente ao tratamento, para aqueles que precisam ser submetidos a dois ou mais fases de LAUP, resultando em uma limitação no tratamento do ronco.

No estudo, ao analisar a dor pós LAUP, tem sido obtidos resultados similares aos encontrados na literatura9, 4, 7, 1, 8, 6, 11, 2.

A dor e o desconforto pós-LAUP estão presentes nos pacientes em graus variáveis. Muitos autores referem que a dor pós-operatória é um dos fatores mais importantes a serem considerados nesta técnica5, 9, 4, tem duração variável de paciente para paciente e em média é de 8-12 dias5, 9, 10, 7.

Astor e Kamamit1,8 analisaram a morbidade da dor pós-LAUP, observaram que a dor diminui em intensidade após o primeiro procedimento e que, conforme o paciente é submetido a outros, a dor PO é menor. Astor, em sua série, encontrou que os pacientes apresentavam dor significante em 77% dos casos. Na experiência dos autores, assim como na de Coleman3, os pacientes foram submetidos apenas a um procedimento; na casuística utilizada apenas um paciente precisou de uma segunda intervenção, devido às dificuldades técnicas na primeira, que não permitiram terminá-la; portanto, nada há a ser comentado relativamente à dor nas fases subseqüentes de LAUP.



Figura 5. Grau de dor pós-operatória.



Figura 6. Duração da dor pós operatória.



Dickson e colaboradores6 observaram que a dor pós-LAUP teve uma intensidade de moderada a severa, com uma duração media de sete a 10 dias (79%). Krespi9 relata que o pico máximo de dor ocorreu do terceiro ao quinto dia, com alívio total dos sintomas em duas semanas e que a dor era controlada usualmente com medicação como gels anestésicos locais, e analgésicos-antiinflamatórios por via sistêmica. Nos casos em estudo o pico de máxima dor aconteceu do primeiro ao segundo dia e a dor durou em média seis dias.

Sabemos que durante a LAUP se produz uma queimadura extensa na mucosa do palato mole. No intra operatório a dor é bloqueada pelo uso de anestésico local em forma tópica e por infiltração submucosa, e controlada no pós-operatório pelo uso de analgésicos; no estudo, observamos que a dor PO iniciou em média passadas 14 horas da cirurgia, muito tempo depois de o efeito do anestésico local ter terminado; por que então a dor demorou todo esse tempo para aparecer? Acreditamos que estejam envolvidos outros fatores responsáveis; tem provavelmente importância a colonização bacteriana no local da vaporização, que é evidenciada pelo exudado amarelado que aparece no pós-operatório. Isto precisaria ser pesquisado em outro estudo.

Pensamos que uma terapia analgésica bem conduzida pode diminuir a intensidade e a duração da dor. Neste estudo, como já foi descrito antes, a terapia analgésica não foi revisada para manter a homogeneidade na analise da dor. Após ter se fechado o estudo, é revisado e melhorado o tratamento analgésico. Acreditamos que o paciente não pode ficar com uma dor residual sendo que atualmente existem meios terapêuticos suficientes para controlá-a.

A aplicação da RF, uma cirurgia com um grau de lesão tisular menor, como foi descrito na introdução, provoca uma dor pós-operatória menor, dando maior liberdade ao cirurgião para realizar uma segunda ou terceira fase, caso sejam necessárias, possibilitando ao paciente um pós-operatório melhor e uma aceitação maior para continuar o tratamento.

O menor grau de dor pos-RF, comparando com a dor pós- LAUP, pode ser explicado pela não transecção da mucosa, fato que durante uma LAUP acontece em forma extensa10.

A dor PO é um fato real e o paciente tem o direito de receber uma informação completa para estar ciente disso. A equipe médica deverá estar em contínua comunicação com os pacientes e dispor de meios suficientes para um adequado controle da dor.

CONCLUSÃO

A RF e uma técnica moderna, minimamente invasiva, usada atualmente como outra alternativa no tratamento do ronco e apnéia do sono leve, com grande aceitabilidade por parte do paciente, por ser um procedimento indolor e quase sem dor pós-operatória proporcionando um maior conforto. Confirmamos que a LAUP tens como principal inconveniente a dor pós operatória, fator importante que deve ser tomado em conta, para realizar uma adequada medicação analgésica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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* Médica Adida do Departamento de Otorrinolaringologia do HCFMRP-USP.
** Professor Titular e Chefe do Departamento de Otorrinolaringologia do HCFMRP-USP.
*** Médico Assistente do Departamento de Otorrinolaringologia do HCFMRP-USP.

Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.

Trabalho apresentado como pôster no 34° Congresso Brasileiro de Otorrinolaringologia, em 19 de novembro de 1998, em Porto Alegre /RS.

Endereço para correspondência: Prof. Dr. José Antônio Apparecido de Oliveira - Departamento de Oftamologia e Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - Avenida dos Bandeirantes, 3900 - 14096-900 Ribeirão Preto /SP - Telefone: (Oxx16) 602-2523 - Fax: (Oxx16) 633-0186.

Artigo recebido em 21 de julho de 1999. Artigo aceito em 2 de setembro 1999.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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