IntroduçãoO tratamento das sinusites agudas ou das sinusites crónicas agudizadas, após a era dos modernos antibióticos, deixou de sofrer maiores controvérsias.
Alberti (1) afirma que o tratamento inicial deve consistir na administração de um agente antibacteriano, associado a analgésicos e descongestionantes. Sendo a bactéria isolada Gram-negativa, o uso de tetraciclinas ou ampicilinas deve ser preferido à penicilina.
Kutnick et aí. (2) referem que este esquema terapêutico é o mais aceito atualmente e que o antibiótico deve ser ministrado por um período mínimo de 10 dias e o descongestionante de duas a três semanas. Montgomery Smith et al. (3), considerando ser a flora bacteriana nas sinusites agudas constituída de H. influenzae, S. aureus ou S. pyogenes, pela ordem de freqüência, prefere o uso de antibióticos de largo espectro como eritromicinas e tetraciclinas. Refere ainda que, com o tratamento adequado com antibiótico, a duração da moléstia é reduzida drasticamente na maioria dos pacientes. Nas sinusites agudas, 85% responderam adequadamente ao tratamento em 14 dias, enquanto que sem o antibiótico adequado apenas 65% dos pacientes responderam ao tratamento naquele prazo.
Parece, portanto, não haver dúvida da efetividade e necessidade da administração do antibiótico na sinusite aguda. Alguns autores recomendam o emprego do corticóide associado ao antibiótico no tratamento destas afecções. Montgomery Smith et aí. (3) afirmam que o uso simultâneo do corticóide, em baixas doses, promove uma diminuição do edema local, facilitando a drenagem e a cicatrização precoce das lesões. Para cumprir estes objetivos, ele recomenda o uso de corticóide de depósito por via IM, numa única aplicação.
Havendo controvérsia com relação à utilização ou não do corticóide no tratamento das sinusites agudas bacterianas, é que nos decidimos proceder a um estudo clínico comparativo entre dois grupos de pacientes portadores de sinusites. A um grupo foi administrado o antibiótico (lincomicina) e a outro grupo o antibiótico associado à metilprednisolona.
Material e MétodosForam estudados 30 pacientes adultos, de ambos os sexos, divididos em dois grupos (A e B), distribuídos aleatoriamente e portadores de sinusite aguda ou crônica reagudizada (associada ou não a outras doenças das vias aéreas superiores). Estes pacientes não haviam tomado qualquer antibiótico pelo menos até 15 dias antes do início do tratamento.
Ao grupo A, foi administrada lincomicina na dose de 500mg por via oral a cada 6 horas, precedida de uma dose inicial de 1.200mg IM, no primeiro dia. Ao grupo B, foi administrada a mesma droga, na mesma dosagem, porém precedida de uma aplicação IM de uma ampola contendo 40mg/ml de metilprednisolona, em lugar da lincomicina (1.200mg). A ambos os grupos foram administradas, sempre que necessário, drogas para controle sintomático, como descongestionantes, . analgésicos ou antitérmicos. O controle clínico consistiu de um exame inicial, por ocasião da inclusão do paciente no estudo, outro no 4° dia e um último no 10° dia de tratamento, constando os resultados de um formulário próprio. O controle laboratorial consistiu de um exame de cultura do material colhido da fossa nasal no 1°, 4° e 10° dias, desde que a cultura do 4° dia não tivesse sido negativa. Testes de sensibilidade para os germes isolados, com discos de lincomicina, eritromicina, ampicilina, penicilina G e tetracicilina. Pacientes com história de hipersensibilidade à lincomicina e menores de 18 anos não foram incluídos neste estudo, assim como aqueles eventualmente portadores de moléstias hepáticas, cardíacas ou renais, ou ainda gestantes.
ResultadosA queixa predominante nos 30 pacientes estudados foi a de cefaléia, encontrada em 20 de nossos pacientes, ou melhor, 66% deles. Esta queixa foi seguida da de coriza purulenta, em oito casos (26,4%), febre em um paciente e odor fétido nasal em um paciente. Estas queixas eram as principais causas da vinda dos pacientes à consulta.
Ao exame clínico inicial, os 30 pacientes (100%) apresentavam secreção purulenta, visualizada pela rinoscopia anterior, e 27 pacientes (82%), pela rinoscopia posterior.
O exame bacteriológico inicial revelou:
Estas culturas foram submetidas a teste de sensibilidade aos antibióticos previamente
determinados, e os resultados foram:
Após o 4° dia da administração da medicação a ambos os grupos, constatamos os seguintes dados: Queixa no 4° dia de medicação - dos pacientes tratados apenas com lincomicina, cinco ainda apresentavam discreta cefaléia, dois tinham uma rinorréia mucosa e sete não apresentavam nenhuma queixa. Do grupo B, nos quais associou-se a metilprednisolona, seis queixavam-se de cefaléia discreta
23,3% 20,0% 10,0% 3,3% 6,6% 6,6% 13,3% 20,0%.
e um apresentava rinorréia mucosa, sendo que seis pacientes não apresentaram qualquer queixa. Exame clinico no 40 da de medcação - dos pacientes do grupo A, um apresentava secreção purulenta na rinoscopia anterior e dois na rinoscopia posterior, enquanto 12 pacientes não apresentavam nenhuma secreção nasal.
Do grupo B, um tinha secreção pela rinoscopia anterior, cinco apresentavam secreção mucosa à rinoscopia posterior e nove não apresentavam nenhuma secreção.
hkame bacteriológico no 40 dia de medcação - no grupo A, a cultura foi negativa em 12 casos, em um, caso encontrou-se o S. aureus e, em dois, germes não-patogénicos.
No grupo B, 10 tiveram culturas negativas, um apresentava o S. aureus e outro o S. pneumoniae e, em três, cresceram gerares não patógenos.
Após o 10° dia de medicação nossos controles revelaram:
Queixa no 10.0 da de medcação - do grupo A, um paciente ainda apresentava queixa de cefaléia, em dois encontramos queixa de secreção nasal. No grupo B nenhum paciente apresentou qualquer queixa.
Exame clínico no 10.0 da - no grupo A, encontramos secreção nasal mucosa à rinoscopia anterior em dois casos. No grupo B o exame foi negativo.
Exame bacteriológico no 100 da - O exame bacteriológico realizado no 10° dia apenas incluiu pacientes em cuja cultura havia crescimento bacteriano no 49 dia. No 10? dia as culturas foram negativas em todos os pacientes.
Análise dos resultados
A análise de nossos resultados revelou a eficácia do antibiótico escolhido, em ambos os grupos considerados.
A prova de sensibilidade-realizada na primeira cultura já oferecia elementos suficientes para considerar acertada a escolha da Lincomicina, entre os antibióticos testados, como o mais eficaz contra os germes encontrados.
Ao contrário dos resultados de Montgomery Smith et al., nossos exames revelaram o predomínio do S. aureus e do S. pneumoniae, ficando o H. influenzae com um contingente menor de casos.
A avaliação clínica de nossos pacientes, no decorrer do tratamento, não revelou diferenças fundamentais entre os dois grupos estudados, sendo que apenas no 10° dia houve alguma evidência da eficácia maior da medicação administrada ao grupo B.
ConclusãoA Lincomicina mostrou-se muito eficaz no tratamento clínico das sinusites agudas ou crônicas reagudizadas. Sua associação com a metilprednisolona não pôde ser avaliada. de modo adequado, em face do pequeno número de pacientes observados.
SUMMARYAuthors conducted a study with carriers of sinusitis in which IS patients received antibiotic therapy with Lincomycin and another IS patients received 40mg methylprednisolone LM. followed by the same antibiotic therapy. Lincomycin proved efflcient in ali cases. Its eombination with methylprednisolone only demonstrated higher effciency on the 10th day of treatment. The Lincomycin and methylpreckisolone combination could not be adequately evaluated due to the small num bei of patients studed.
Bibliografia1. ALBERTI, P. - Inflammatory disease of the Maxillary Sinus and its complications. Symposium on the Maxillary Sinus. The ORL C7inics of N.A., Feb., 1976, p. 153.
2. KUTNICK, S.L. & KERTH, J.D. - Acute sinusitis and otitis. Symposlum on infections of the head and neck. The ORL Clinics of N.A., October, 1976, p. 689.
3. MONTGOMERY SMTT11, J. & SMITH, I.M. - The Medical treatment of sinusitis. Symposium on Surgery of the nasal sinuses, in the ORL Clinics of N.A., February, 1971, p. 39.
Endereço dos Autores:
Clínica de Otorrino - Santa Casa de São Paulo Rua Cesário Motta, 112, 49 andar
01221 - São Paulo, SP
1 - Professor Titular e Chefe da Clínica ORL da Sta. Casa de São Paulo
2 - Médicos Voluntários
3 - Residente da Clínica de ORL
Trabalho da Clínica de ORL da F. CM. da Santa Casa de São Paulo.