ISSN 1806-9312  
Sexta, 19 de Abril de 2024
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1413 - Vol. 52 / Edição 4 / Período: Outubro - Novembro de 1986
Seção: Artigos Originais Páginas: 23 a 25
PARACOCCIDIODOMICOSE
Autor(es):
PAULO DIAS FERNANDES 1
LIS TOZATTI FERNANDES 2

Resumo: Os autores fazem uma revisão no estudo da paracoccidioidomicose e relatam sua experiência, dando ênfase à patologia dessa enfermidade no terreno da Otorrinolaringologia. Consideram que talvez passem despercebidas lesões de laringe, e que a incidência das mesmas seja maior nesse órgão.

Histórico

Em 1908, Adolfo Lutz descreveu uma micose que foi denominada blastomicose brasileira, posteriormente blastomicose sul-americana ou micose de Lutz, pelo fato de ser encontrada em outros países. Hoje se prefere chamá-la paracoccidioidomicose.

Distribuição geográfica

Com exceção do Chile, foi encontrada em todos os países da América do Sul, América Central e México. Em nosso país foi encontrada em todas as regiões, embora no Norte a incidência seja menor. São Paulo apresenta o maior número de casos. No Paraná e Rio Grande do Sul cada vez maior número de casos são diagnosticados.

Etiologia

O agente causador é o Paracoccidioides brasiliensis, fungo dimórfico, identificável ao microscópio. Apresenta forma arrendondada, com membrana de duplo contorno. Multiplica-se por brotamento simples ou múltiplo.

Epidemiologia

É uma micose endêmica que se assenta mais no meio rural. O fungo é saprófita da natureza, já tendo sido isolado do solo e vegetais. Segundo Veronesi (1), incide em áreas de solos férteis, vales e proximidades de rios. Padilha-Gonçalves (2) é dos estudiosos que admite hoje ser o pulmão a principal porta de entrada, por via inalatória. As lesões orofaringeanas são secundárias, o fungo chega a esta região por via hematogênica. Já se pensou, como Noronha (3), que o homem do campo se infectava pelo hábito de mascar vegetais ou palitar os dentes com os mesmos.

A elevada freqüência de lesões na área intestinal faz com que se pense na penetração também por essa via.

Quadro clínico

As lesões mais freqüentes da paracoccidioidomicose são na boca e vias aéreas superiores, gânglios e pulmões.

A adenopatia manifesta-se por gânglios invariavelmente infartados; às vezes chegam ao amolecimento e drenam por fístulas.

As lesões pulmonares são diagnosticáveis em 80%, segundo Padilha-Gonçalves (2). Predominam no terço médio e base, com nódulos, infiltrações e fibrose. Embora não seja uma radiografia característica, o diagnóstico clínico pode ser completado pelas lesões orofaringeanas.



Figura 1 - Lesão labial com o fino pontilhado hemorrágico característico.



As lesões cutâneas são variadas e polimorfas: pápulas, nódulos, úlceras, vegetações - normalmente mais que um tipo de lesão. O número é variável, podendo chegar a uma centena de lesões, segundo Rivitti (4).

A lesão orofaringeana é típica e patognomônica, daí sua importância. Com freqüência atinge a laringe, como veremos mais adiante. As lesões apresentam na superfície fino pontilhado hemorrágico característico (estomatite moriforme). Essas lesões provocam sialorréia e dor à mastigação e deglutição.

Casuística

Estudamos 56 casos em que dirigimos nossa atenção para a orofaringe e a laringe. Encontramos lesão na orofaringe em 35 casos (62,5%). Na laringe, encontramos lesão em 24 casos (42,8%). Desses, em 21 havia apenas lesão na laringe, afora pulmão. A incidência na laringe nos faz pensar que os casos tratados em serviços que não praticam exames otorrinolaringológicos sistemáticos devem deixar passar despercebidas lesões laringeanas. Onde não há lesão das cordas vocais não há manifestação disfônica. Não tivemos tumor associado em nenhum caso. Num caso havia tuberculose associada na patologia laringeana. Em dois casos tivemos perturbação grave da função laringeana, devido a retrações.

Diagnóstico

Apenas o encontro do agente etiológico garante o diagnóstico da paracoccidioidomicose, diz Veronesi (1).

A identificação pode ser feita em material obtido por biópsia ou exame direto entre lâmina e lamínula, material obtido por raspagem ou punção. Também podemos encontrar o fungo no escarro.

Consideramos importante o exame radiológico do pulmão. Damos também relevância à origem do paciente - se da zona rural, profissão, idade e sexo.

Tratamento

O tratamento da paracoccidioidomicose era feito durante muito tempo tão-somente através dos sulfamídicos. Primeiro a sulfapiridina, sulfadiazina, as sulfas de ação lenta. Atualmente é muito usada a associação sulfametoxazol/trimetoprim.

A anfotericina B foi considerada a droga mais eficaz no tratamento da paracoccidioidomicose, especialmente empregada nos casos de resistência ou intolerância às sulfas. Entretanto vários efeitos colaterais dificultam seu uso.



Figura 2 - Radiografia mostrando infiltrado intersticial difuso bilateral e aumento ganglionar peri-hilar E.



Figura 3 - Radiogroa mostrando infiltrado de contornos imprecisos envolvendo ambos os pulmões, mais acentuado na região hilar bilateral.



Atualmente contamos com um derivado imidazólico, o ketoconazol. Tem boa absorção por via oral e poucas reações adversas.

Profilaxia
Não se tem como indicar medidas profiláticas, em virtude de serem desconhecidas a transmissão e a aquisição da doença.

Summary

The authors have made a revision in the study of paracoccidioidomicosis and relate their experience on it, giving emphasis to this disease in the field of Otorrinolaryngology.

The authors consider that some laryngological lesions may not be noticed, so the incidente of them may be great in this organ.

Referências

1. VERONESI, R. - Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan S.A., 1976. pp. 755-67.
2. PADILHA-GONÇALVES, A. - Paracoccidioidomicose. ~,, 45(4):17-26, 1983.
3. NORONHA, R. - Blastomicose de Lutz. In: Curso de Dermatologia. Curitiba, Editora Diretório Acadêmico, 1954. pp. 33-34.
4. RIVITTI, E.A. - Paracoccidioidomicose e outras micoses profundas. In.: Dermatologia básica. São Paulo, Artes Médicas, 1985. pp. 343-48.




Endereço para correspondência DR. PAULO DIAS FERNANDES Rua São Paulo, 41
99700 - Erechim-RS

1 Otorrinolaringologista do Hospital de Caridade de Erechim.
2 Acadêmica de Medicina - Universidade de Passo Fundo.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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