IntroduçãoO abscesso cerebral é a complicação mais grave de uma sinusite. As sinusites maxilares e esfenoidais raramente originam esta complicação; as etmoídites, eventualmente, sendo que as sinusites frontais representam causa importante dos abscessos cerebrais. Um dos motivos pelos quais se pode explicar isto, é a relação anatômica direta que existe entre o seio frontal e o lobo frontal.
A infecção dos seios paranasais pode se difundir intracranialmente por dois caminhos principais: a extensão direta, através de áreas de osteíte e osteomielite, e por tromboflebite retrógrada. O abscesso pode se localizar no espaço extradural, subdural ou intracerebralmente.
Nestes últimos anos, as complicações intracranianas de sinusites têm sido raras, devido, principalmente, à existência de novos e potentes antibióticos. Quando o abscesso chega a se formar, modernos métodos de investigação - como a tomografia computadorizada - nos permitem um diagnóstico mais rápido e início de um tratamento efetivo precoce.
Apresentação do casoPaciente masculino, 38 anos, procurou nosso Serviço queixando-se de dor frontal e maxilar esquerda há aproximadamente dois meses, acompanhada de hipertermia e rinorréia purulenta. Foi tratado em outro Serviço com cefalbsporina e ampicilina sem, no entanto, apresentar melhora. Há dois dias houve piora deste quadro, e o paciente, segundo seus familiares, pass(,u a apresentar alterações de conduta, tornando-se apático, sonolento e incoerente em suas atitudes. Trazia radiografia de seios da face que mostrava total velamento do seio frontal, células etmoidais e maxilar esquerdo (Fig. 1).
Ao exame físico, o paciente mostrava-se extremamente prostrado, obnubilado, reagindo com forte dor à palpação e percussão da região frontal. A fossa nasal esquerda drenava secreção mucopurulenta.
Realizada punção do seio maxilar esquerdo; houve saída de grande quantidade de secreção purulenta de mau cheiro, que o exame bacteriológico revelou tratar-se de anaeróbios.
O exame neurológico mostrava edema de papila óptica esquerda e demais sinais de hipertensão endocraniana. A tomografia computadorizada de crânio constatou volumoso abscesso de lobo fontral esquerdo (Fig. 2).
Foi iniciado tratamento com manitol a 2010, eritromicina, cloranfenicol, metronidazol e drogas anticonvulsivantes. Aguardaram-se 10 dias para a encapsulação do abscesso e esterilização de seu conteúdo. O paciente foi então submetido à craniotomia, para retirada do abscesso cerebral. No transoperatório foi constatada destruição da parede anterior e posterior do seio frontal, havendo comunicação direta com a dura-máter do lobo frontal.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
A evolução foi satisfatória, recebendo o paciente alta hospitalar no 12° dia de pós-operatório, em boas condições. O controle tomográfico realizado após dois meses não revelou qualquer anormalidade (Fig. 3).
DiscussãoApesar de sua raridade, as complicações intracranianas das sinusites sempre devem ser lembradas, principalmente nas sinusopatias de longa duração rebeldes ao tratamento. São, geralmente, pacientes portadores de pansinusite, queixando-se de cefaléia frontal importante, rinorréia purulenta, edema frontal e periorbitário.
Ao exame neurológico apresentam um quadro depressivo, alteração de conduta, obnubilação, edema de papila e outros sinais de hipertensão endocraniana. O diagnóstico é feito pela tomografia computadorizada.
A infecção primária sinusal pode se difundir intracranialmente de duas maneiras: diretamente, por osteomielite e destruição da tábua óssea, ou por tromboflebite retrógrada. O abscesso pode ser extradural, subdural ou intracerebral.
No caso apresentado havia uma destruição tanto da tábua óssea anterior como posterior do seio frontal, com formação de um abscesso intracerebral de lobo frontal esquerdo.
O tratamento deve ser realizado conjuntamente por otorrinolaringologista e neurocirurgião, sendo o tratamento cirúrgico obrigatório quando o abscesso estiver totalmente desenvolvido e encapsulado.
SummaryThe authors report a case of intracranial abscess secondary to frontal sinusites, with osteomyelitis of anterior and posterior table of the frontal sinus The diagnoses was made by computerized the abscess was drained. The patient recovered with tomography. A frontal craniotomy was dope and no evidence of recurrence.
Referências1. BRADLEY, P.J. & SHAW D.M. - Brain abscess secondary to paranasal sinusitis. The Journal of Laryngology and Otology, 98:719-725, 1984.
2. GIL-CARCEDO, L.M.; IZQUIERDO, J.M. & GONZALEZ, M. - Intracranial complications of frontal sinusitis. The Journal of Laryngology, 98:941-945, 1984.
3. MANIGLIA, A.J. & VAN BUREN, J.M. - Intracranial abscesses secondary to ear and paranasal sinuses infections. Otolaryngology, Head and Neck Surgery, 88:670-680, 1980.
4. NEVES-PINTO, R.M. & LIMA, P.E. - Complicações orbitárias, cranianas e endocranianas das sinusites - parte 1. Folha Médica (BR), 89(5-6):389-398, 1984.
5. NEVES-PINTO, R.M. & LIMA, P.E. - Complicações orbitárias, cranianas e endocranianas das sinusites - parte II. Folha Médica(BR), 90(4):183-195, 1985.
6. MOCELIN, M. & NASSIF, A.C.N. - Pansinusite com complicação intracraniana. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 45:170-175, 1979.
Endereço para correspondência Hospital Universitário da PUC Departamento de ORL.
Av. Ipiranga, 6.690 - 1° andar 90000 - Porto Alegre-RS.
Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia do Prof. Dr. Rudolf Lang, do Hospital São Lucas - Porto Alegre-RS.
1 Professor auxiliar de ensino da Faculdade de Medicina da PUCRGS.
2 Professor adjunto da Faculdade de Medicina da PUCRGS.
3 R2 do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital São Lucas.