ISSN 1806-9312  
Segunda, 29 de Abril de 2024
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1404 - Vol. 52 / Edição 3 / Período: Julho - Setembro de 1986
Seção: Artigos Originais Páginas: 07 a 15
TUMORES DE GLÂNDULAS SALIVARES - ESTUDO DE 70 CASOS CLÍNICOS
Autor(es):
JAIR CORTEZ MONTOVANI 1
ONIVALDO BRETAN 1
MAURICIO ROBERTO ANHESINI 2

Introdução

As glândulas salivares, principalmente a glândula parótida, são sede de grande variedade de processos patológicos, que se apresentam sob a forma clínica de tumor ou tumefação da região afetada. As etiologias são as mais variadas possíveis, incluindo-se desde neoplasias até processos degenerativos. Uma revisão de artigos publicados sobre doença de glândulas salivares permite que se tenha uma noção de tal variedade: oncocitoma maligno, tumor do corpo carotídeo, lipoma, neurilemoma, aneurisma, hemangioma, linfoma maligno, linfossarcoma, cistos, hipertrofia masseteriana, sarcoidose de Besnier-Boeck-Schaiman, actinomicose, tuberculose, tumores metastáticos, doenças de mandíbula, doença de Sjõgren e plasmocitoma (3, 13, 16).

As glândulas salivares constituem a origem de um-número maior de neoplasias que qualquer outra estrutura glandular do corpo humano e entre 5 e 10% dos tumores de cabeça e pescoço seriam tumores destas glândulas (4, 6).

Neste artigo é apresentada uma série de 70 tumores, incidentes nas várias glândulas salivares. Procura-se avaliar atributos como: quanto ao sexo, idade e aspectos histológicos. São traçados também comentários sobre os aspectos clínicos que devem ser levados em consideração a respeito de glândulas salivares, com ênfase para a glândula parótida (1, 4, 7, 12).

Material

Foram analisados 70 casos clínicos da disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP que foram submetidos a tratamento cirúrgico entre os anos de 1975 e 1981. (Tabela 1).


Tabela 1 - Distribuição dos tumores por glândula salivar e por tipo histopatológico



Resultados e discussão

A avaliação anatomopatológica de todos os tumores lato sensu mostrou que 51 (72,8%) deles eram processos benignos, neoplásicos ou inflamatórios e que 19 (29,1%) eram neoplasias malignas (Tabela 1).

Entre os 51 tumores benignos 40 (58,8%) eram neoplasias específicas de glândulas salivares e 12 (17,7%) doenças diversas.

As neoplasias específicas de glândulas apareceram em 44 casos (62,8%) com características de benignidade e em 16 (15,7%) com características de tumores malignos (Tabela 2). Estes resultados estão concordes com os vários autores (12, 15, 16).


Tabela 2 - Temores benignos e malignos segundo distribuição por sexo.



Tabela 3 - Incidência de tumores benignos por faixa etária



A glândula parótida predominou como estrutura mais atingida pelos vários tipos de lesões, com 56 (80%) entre 70 casos. Os processos benignos, neoplásicos ou não, nela aparecem em 40 dos casos e os malignos em 16 do total (lâbela 1).

Repetem-se aqui os valores encontrados nas diversas casuísticas (4, 6, 14, 17). Os tumores benignos específicos apareceram em 34 dos 40 casos de neoplasias de glândula parótida, com 60% de eventos benignos e 40% de eventos malignos (3, 4, 12, 15). Quanto às neoplasias malignas, a parótida foi sede de 89% dos casos e 11% relacionaram-se com as outras glândulas salivares (6, 10, 13, 17).

Estes valores mostram que a parótida é a glândula salivar mais afetada se comparada com as demais glândulas (4, 7, 12, 13, 15, 17).

Por sua vez, o tumor misto apareceu como o mais freqüente entre as neoplasias próprias (66%) entre 52 portadores de neoplasias, específicas ou não. Entre os 70 tumores 48% eram mistos (3, 4, 6, 7, 12, 13).

O tumor de Warthin apareceu em três casos (4,2%) entre 70, sendo que os resultados de diversos autores, em se tratando de tumor de Warthin, não são coincidentes (1, 16).

A glândula parótida apareceu envolvida em 27 dos 34 (79%) tumores mistos. De 70 casos de neoplasias benignas e malignas 56 (80%) incidiram sobre esta glândula. Por sua vez, a incidência de tumores foi pequena nas demais estruturas glandulares, aparecendo com maior destaque a glândula submandibular, com sete casos, dos quais um era neoplasia maligna (2, 9, 10).


Tabela 4 - Incidência de tumores malignos por faixa etária



Em relação aos tumores malignos, o carcinoma adenocístico apareceu quatro vezes (21%) (8, 9) e o carcinoma epidermóide maligno três vezes (15 %), entre os 19 casos de neoplasias malignas (lâbela 2) (3, 5, 6, 16).

Apesar de a amostra ser pequena quando comparada com resultados de outros autores, mostrou percentuais de incidência aproximadamente semelhantes quanto aos tumores tato sensu, nas faixas de zero a 39 e de 40 a 79 anos. Os tumores mistos aparecem na faixa de 20 a 79 anos, tornando-se mais freqüentes, entretanto, entre 40 e 79 anos (23, ou 69% dos casos) (3, 7, 15, 17).

A incidência por faixa etária (Tabela 4 e figura) mostrou percentuais de incidência semelhantes
aos tumores lato sensu nas faixas de zero a 39 e 40 a 79 anos. Os adenomas pleomórficos são os tumores mais freqüentes, principalmente após a quarta década.

Os cistos e hemangiomas apareceram nas faixas mais jovens, ou seja, entre zero e 29 anos. As neoplasias malignas, por outro lado, apareceram principalmente acima dos 50 anos (83% dos casos) (6, 16, 17).

A distribuição por sexo (Tabela 3) mostrou uma predominância significante, concordando com resultado de outros autores.

Foram de 59% (para todos os tumores) em homens e de 41% em mulheres (3, 15). Para as neoplasias malignas, os resultados foram de 57 e 43%, respectivamente para homens e mulheres. O tumor misto, o mais freqüente, incidiu em 53,8% dos homens e em 46,2% das mulheres (6, 17).



Figura - Adenoma pleomórfico com transformação maligna com blocos de células neoplásicas, escamosas, infiltrando o estroma denso (hematoxilina-eosina 63x).



Comentários

Por fim, salientamos que os achados cirúrgicos e os resultados dos exames anatomopatológicos são imprescindíveis na adequada conduta terapêutica e freqüentemente surpreendem o cirurgião, mesmo nos casos considerados benignos com uma longa evolução clínica, devido à possibilidade de malignização (ver figura).

Embora o conceito de que as neoplasias malignas de glândulas salivares são radiorresistentes, a conduta em nossos casos foi a de associar cirurgia mais radioterapia - com bons resultados e sobrevida de cinco anos em todos os nossos casos. Ambas as condutas, ou seja, cirurgia mais radioterapia, têm a vantagem de não serem incompatíveis, tendo mesmo sido um sucesso terapêutico.

Conclusão

Os autores revisam 70 casos de tumores de glândulas salivares no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu - SP, e concluem que os adenomas pleomórficos incidem mais freqüentemente na glândula parótida, principalmente após a quarta década da vida, sendo as neoplasias benignas mais freqüentes nas glândulas salivares. Quanto às neoplasias malignas, a conduta terapêutica cirurgia mais radioterapia possibilitou uma sobrevida de cinco anos em todos os pacientes.

Summary

The autorrs have presented 70 cases of salivary gland tumors. They concluded that pleomorphic adenoma was the most frequent neoplasia and it was observed mainly in the parotid gland. Most of the patients were adults and males.

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Endereço para correspondência JAIR CORTEZ MONTOVANI Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia Campus de Botucatu
18610 - Botucatu-SP.

1 Professores assistentes da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP. Mestre em Cirurgia.
2 Residente em Otorrinolaringologia (R3) da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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