IntroduçãoA cirurgia do septo nasal teve seu início no século passado com Kreig (1889), tendo no começo deste século um grande impulso com Freer (1902) e Killian (1904), quando descreveram ao mesmo tempo, porém de maneira independente, a cirurgia da ressecção submucosa. Foi Metzenbaum (1929) quem descreveu a técnica para correção de desvio da porção anterior do septo, técnica esta que foi aperfeiçoada por Seltzer (1944), chamando-a de swinging door techmque. Outra técnica de grande repercussão foi a descrita por Cottle (1948 e 1958), com seus famosos túneis através do acesso na maxila pré-maxila.
Estando a cirurgia do septo em adultos desenvolvida, começaram os estudos para a cirurgia em crianças, já que a idade mínima estabelecida era de 16 anos para mulheres e 18 anos para homens.
Pensando nisto é que muitos autores começaram a estudar o desenvolvimento do septo nasal com a finalidade de desenvolver uma técnica para se operar septo em crianças, entre eles Cottle (1939), Jennes (1964) e Farrior & Cannolly (1970).
Willemot (1969) propôs as técnicas de Goldman para desvios simples e a técnica de Cottle para desvios caudais.
Pirsig (1975) fez oito cirurgias em crianças operadas anteriormente por desvio de septo num período de 1, 2 a 3, 9 anos após a primeira cirurgia, onde a obstrução nasal voltou por recidiva do desvio. Na reoperação foram retirados fragmentos de cartilagem da borda anterior, da base e região central, sendo enviados para análise. Em todos os casos havia regeneração e crescimento da cartilagem de 3 a 4mm.
Vetter e col. (1983 e 1984) fizeram estudos histológicos, quando retiraram fragmentos de áreas diferentes de cartilagens de septo, em pacientes de faixas etárias distintas (puberdade, seis a 10 anos; adolescentes, 11 a 16 anos e adultos, 17 a 35 anos), relatando que a região anterior do septo mostrou grande atividade na puberdade até a fase adulta, a região da pré-maxila mostrou grande índice de crescimento apenas na puberdade; já nas regiões posterior e central da cartilagem septal o índice de crescimento foi menor.
Causasa. Desenvolvimento
- Intra-uterino
- Luxação no parto
b. Traumatismo na infância
A luxação do septo pode ocorrer durante a gestação por uma pressão prolongada sobre o nariz do feto provocada por um mioma uterino ou pela própria mão do feto.
A distância entre o dorso do nariz e o occipital é a mesma que entre o mento e o occipito (llcm), porém, a porção cartilaginosa do septo acrescenta cerca de 2cm a,distância occipitonasal, tornando-a a maior distância da cabeça do feto e mais suscetível a traumatismo no canal do parto (Jazbi, 1974).
Existe uma aparente relação entre a apresentação fetal (e conseqüente direção de rotação da cabeça durante o trabalho de parto) e a freqüência da direção do deslocamento do septo.
A maior freqüência de apresentação em OEA (70-8Q07o) é acompanhada pela maior incidência de desvio do nariz para a direita e conseqüente desvio do septo para a esquerda (70-80%) (Jeppesen & Windfeld, 1972).
Esta hipótese é também sustentada pela maior incidência de desvio em primogénitos.
A grande incidência de luxação no parto varia conforme o autor:
Jazbi (1969) - 1%
Jeppsen & Windfeld (1972) - 3,19%.
Sostres (1974) avaliou 358 crianças entre um e seis anos, tendo encontrado 44 com desvios de septo.
Fizemos um levantamento em 100 crianças até 14 anos com obstrução nasal e achamos 10 casos com desvio de septo como a causa principal da obstrução.
Figuras 1 e 2 - Pré e pós-operatório, paciente de sete anos.
Figuras 3 e 4 - Pré e pós-operatório, paciente de 12 anos.
Indicação e técnica cirúrgicaIndicação
Indicamos a cirurgia em pacientes a partir de sete anos, pois é em torno de cinco a sete anos que os sintomas de outras patologias como hipertrofia de adenóide e rinite alérgica, que são as causas mais freqüentes de obstrução nasal, aparecem de modo mais intenso, contribuindo para que os sintomas dos desvios se acentuem.
Willemot (1969) descreve que suas indicações são em fraturas recentes, onde a redução foi inadequada, com persistência da obstrução; nas fraturas consolidadas e nas alterações do desenvolvimento, onde o desvio leva a um distúrbio funcional importante.
Técnica cirúrgica
- Anestesia geral.
- Infiltração do mucopericôndrio com solução de adrenalina 1:100.000.
- Incisão hemitransfixante do lado côncavo do desvio, evitando traumatizar a cartilagem na sua porção caudal.
- Descolamento do mucopericôndrio do lado côncavo do desvio.
- Retiradas conservadoras de fragmentos de cartilagem para alinhamento do septo. - Sutura com categute 3-0.
- Tampão nasal bilateral por 48 horas.
Casuística
seja precisa. Temos por norma levar à cirurgia apenas aqueles pacientes que realmente apresentam uma dificuldade respiratória importante, depois de afastadas outras causas como rinite alérgica, hipertrofia de adenóide e outras patologias nasais.
Achamos que a técnica de Goldman (deslocamento bilateral) e a de Cottle são muito agressivas (Schultz, 1983), sendo que com cirurgia conservadora. (Metzenbaum, 1929 e Fomon & col., 1948) respeitando as áreas de maior crescimento (porção anterior de septo e supra pré-maxila) podemos ter uma boa função é um desenvolvimento normal não só do nariz como de toda a face, já que uma infância com respiração oral poderá acarretar grandes alterações em toda a face.
Foram operados 10 pacientes com idade variável entre sete e 14 anos, sendo dois do sexo femirtino e oito do sexo masculino. Todos apresentaram obstrução importante e passaram a ter uma boa função no pós-operatório.
ComentárioSem dúvida a cirurgia de septo em crianças é uma cirurgia eficiente, desde que a sua indicação
SummaryNasal septal surgery in children has been condemned because it can impair normal nasal growth, This paper presents 10 cases of surgery in children and discuss indications and technique emploied to obtain good nasal function and normal nasal growth.
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1 Professor Assistente de Disciplina da ORL da Universidade Federal do Paraná. Mestre em ORL.
2 Professor Assistente da Disciplina de ORL da Universidade Federal do Paraná.
3 R1 da Disciplina de ORL da Universidade Federal do Paraná.
Endereço dos autores
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