A dor à pressão do tragus é um dos sináis mais frequentemente pesquisados pelos pediátras, pelos clínicos e até pelas mães das crianças. Ha quem lhe dê um valor absoluto, um caráter de sinal patognomônico. É curioso notar que a maioria dos autores clássicos nem o menciona ou lhe dá pouca importância. No entanto, foi um sinal que "se popularizou", um sinal que é, geralmente incluido em todos os exames em consultórios de pediatria. Está de tal modo vulgarizado, no nosso meio, que é comum o aparecimento, no consultório do otologista, de mães que pedem o exame ( e até a paracêntése) do tímpano, porque a criança chora quando lhe comprimem o tragus.
A verdade é que o otologista, muito frequentemente, encontra tímpano normal e, se faz a paracêntese, tambem frequentemente nada obtem a não serem algumas gotas de sangue. E a sintomatologia persiste.
Que valor tem, pois, o sinal da compressão do tragus ? É o que pretendemos focalisar, em um pequeno trabalho, em elaboração. No momento, temos apenas, a intenção de comentar a técnico pela qual se faz a pesquisa do sinal em questão.
Foi no X Congresso Internacional de Otologia, reunido em Paris, de 19 a 22 de julho de 1922, que, por ocasião de serem discutidos, em conjunto, os trabalhos de Rendu e Le Mée, o especialista Vacher, de Orléans, chamou a atenção para: "um sinal que eu não vi assinalado em parte alguma e do qual teria feito o assunto de uma comunicação se tivesse experimentado em um maior número de casos. Trata-se da dor provocada nos casos de otite média por uma forte pressão sôbre o tragus. Tomemos uma criança de alguns meses, que dorme: uma pressão sôbre o ouvido médio são, por meio da obturação do conduto pelo tragus, transmitida sôbre o tímpano, não é dolorosa, a criança não desperta. Se, pelo contrário, sua orelha é séde de inflamação, se a caixa contem secreções, exsudatos inflamatórios, a dor provocada a desperta."
Mais adiante:
"Temos, creio eu, nêsse sinal, um elemento de diagnóstico e de certeza de otite média que eu vos proponho experimentar para verificar sua exatidão e utilidade".
Como vemos, o sinal de Vacher deve ser pesquisado na criança, durante o sono. Porque? É claro que, em uma criança acordada, há múltiplas causas capazes de determinar o chôro e que podem induzir a êrro.
Porém nume criança adormecida e que não reage à pressão da lado suposto são, o fato de despertar chorando, pela pressão sôbre o trague do lado suspeito é um sinal de real valor.
A prática de comprimir o tragus em criança acordada traz, consigo, numerosos fatores de dúvida. É, aliás, a prática geralmente adotada por pediátras, alguns otologistas, educadores sanitárias, etc.
Quer nos parecer que a atual pesquisa dêsse sinal é falha e nem é essa a técnica original do sinal de Vacher.
Interessante é notar que, na discussão referida, no X Congresso, Le Mée afirma que êsse sinal já fôra mencionado, em 1909, por Kietschel. Aliás, Le Mée não menciona se Kietschel o pesquisara, em crianças dormindo ou em estado de vigília, mas deixa transparecer que o sinal & Vacher............ não é de Vascher.
Infelizmente não pudemos obter o trabalho citado, de Kietschel.
Porém, percorrendo a extensa bibliografia apresentada junto ao trabalho de Rendu, encontramos, tambem datado de 1909, um artigo, de autoria de Rietschel (e não Kietschel), sob o seguinte título: "Die Klinische Bedeutung der Otitis média des Sanglingsalter" (Therap. Monats, 5 e 6).
Portanto, o sinal que se pesquisa geralmente, não é sinal de Vacher. Mais, ainda: O sinal de Vacher........ é de Rietschel (ou Kietschel).
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