SECÇÃO DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA PLASTICA da ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião de 17 de Novembro de 1943
Presidida pelo dr. Mário Ottoni de Rezende e secretariada pelo dr. Silvio Marone, realizou-se, no dia 17 de Novembro de 1943, uma reunião ordinária da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.
Nada constou do expediente.
Na ordem do dia, foram apresentados os seguintes trabalhos:
ATRESIA CONGENITA DAS COANAS (apresentação do doente)
DR. J. REBELO NETO
Em meados de maio de 1942 o A. apresentou à essa mesma Secção um trabalho sôbre a via transpalatina no tratamento da imperfuração congênita bilateral das coanas, tendo mostrado um operado, menor de 8 anos de idade. A intervenção datava de apenas pouco mais de um mês. A respiração fazia-se francamente pelas fossas nasais, mas perdurava ainda ligeira rinolalia aberta. Cumprindo a promessa feita naquela ocasião, o A. traz hoje novamente ao exame dos colegas o mesmo paciente, para que todos possam testemunhar o valor prático da via transpalatina. O estado do paciente, como se está vendo, é o seguinte: A respiração faz-se com todo o desembaraço pelas fossas nasais, à esquerda e a direita. A rinolalia desapareceu totalmente. Quer com voz baixa, quer em voz alta, o timbre é absolutamente normal. O estado geral é excelente. Ao exame rinoscópico, percebe-se profundamente, dos dois lados, sem necessidade de retrair previamente a mucosa dos cornetos os dois orifícios operatórios largos, pelos quais a respiração se processa sem nenhum estorvo. A inspeção da abóbada, palatina descobre, com dificuldade, de tal modo a cicatriz apagou-se ligeira sulcagem, traindo, muito de longe a situação das incisões. Parece ao A. que o resultado apreciado, decorridos 19 meses da operação, autorizam falar agora, com mais autoridade do que por ocasião do comunicado anterior na excelência da técnica transpalatina, justificando plenamente o entusiasmo no seu preconício.
O sr. presidente agradeceu ao dr. Rebêlo Neto a apresentação do trabalho.
LESÕES DO OUVIDO INTERNO NA GUERRA POR EXPLOSÃO OU DETONAÇÃO - COMOÇÃO LABIRINTICA (Conferência)
DR. FRANCISCO DE PAULA PINTO HARTUNG
(Trabalho publicado na Revista Brasileira de O. R. L., XII, 1, 1944)
Em introdução o A. comenta a enorme importância das lesões do ouvido interno em resultado das explosões das bombas, morteiros e outros engenhos da guerra moderna como as peças de artilharia de grosso calibre. Faz ver como a situação se modificou no atual conflito em virtude da grande capacidade ofensiva da aviação, que fez com que tanto haja vítimas nas frentes de batalha, como nas zonas urbanas sujeitas a bombardeios. Divide as lesões do ouvido em lesões produzidas pelas grandes deslocações atmosféricas e lesões produzidas especificamente pelo som fora das condições fisiológicas de altura e intensidade. Apresenta ainda um estudo anátomo-patológico coligido na literatura da guerra passada e da atual, terminando por estudar a possibilidade de tratamentos e de meios profiláticos físicos e morais.
O trabalho não foi posto em discussão por se tratar de uma conferência. A seguir, foi encerrada a reunião.
Reunião de 17 de Dezembro de 1943
Presidida pelo dr. Mário Otoni de Rezende e secretariada pelos drs. Sílvio Marone e Luís Toledo Piza, realizou-se no dia 17 de Dezembro de 1943, uma reunião ordinária da Secção de otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.
No expediente, pediu a palavra o dr. Sílvio Marone para fazer constar em ata um voto de pesar pelo falecimento do dr. Nestor Diehl Granja, colega de especialidade e enviar um telegrama de pêsames à família. A proposta foi unânimemente aprovada.
A seguir procedeu-se à eleição da nova diretoria que regerá os trabalhos da Secção durante o ano de 1944. O resultado da eleição foi o seguinte:
Presidente: - Dr. J. E. Paula Assis.
1.º secretário: - Dr. Jorge Fairbanks Barbosa.
2.º secretário: - Dr. Gustavo dos Reis.
O sr. presidente proclamou eleita a nova diretoria.
A seguir, passou-se à ordem do dia, onde foram apresentados os seguintes trabalhos:
UM CASO DE SINDROMO DE GRADENIGO
(Observação de um caso)
DR. FRANCISCO DE PAULA PINTO HARTUNG
(Trabalho publicado na Revista Brasileira de O. R. L., XI: 534, 1943)
O caso referente a esta observação merece ser conhecido por mais de um motivo.
Primeiro, por tratar-se de sindromo de Gradenigo. Sem ser uma contingência de grande raridade, também nada tem de comum e convém apresentá-la para fins de estatística. Depois, temos a considerar a sua etiopatogenia, que nos pareceu interessante, e, finalmente, a sua evolução excepcionalmente favorável, curando-se o doente sem qualquer intervenção cirúrgica.
Observação - L. D., branca, brasileira, de 32 anos, casada, residente nesta Capital. Procurou-nos no consultório a 7 de Agosto passado. Chegando, pedia-nos que a atendesse com tôda urgência, tais o seu sofrimento e desconforto. De fato na sala de espera a encontrámos em atitude de quem muito padecia. Queixava-se de dôres verdadeiramente lancinantes, que, partindo do ouvido se irradiavam pela metade correspondente da cabeça. Mantinha a mão sôbre o ôlho, que também era muito doloroso, ao mesmo tempo que comprimia a testa. Uma irmã que a acompanhava, disse que este estado se prolongava havia 24 horas.
Contou-me a paciente que há um ano se lhe vinha supurando o ouvido direito. Não se recorda de haver sofrido dêste mal em épocas anteriores, e que mesmo depois só a tem percebido no decorrer de resfriados. Desta vez, começou há duas semanas. Em seguida a um banho, provàvelmente com a entrada de água no conduto. Surgiram-lhe logo corrimento e dor. Há três dias havia piorado considerávelmente. Procurou então um colega. Este como, medida terapêutica, insuflou-lhe pelo conduto um pó antiséptico. Disse a paciente que foi em seguida a esta insuflação, em resultado dela ou por simples coincidência, que se lhe agravaram os seus padecimentos. Cessou a supuração, é bem verdade, mas as otalgias assumiram uma intensidade dramática, ao mesmo tempo que apareceram outras dores atrozes no globo ocular.
Tem tido, também tonturas, febre acima de 38, além de nauseas.
Chama logo a atenção a quem se dirige à doente o pronunciadíssimo estrabismo, resultado da paralisia do "abducens". Foi um sintoma que se instalara na véspera.
A inspecção nada mais há de interêsse. Dor à pressão digital, contra á mastóide.
Pela otoscopia, não é possível vêr o tímpano ao primeiro instante, tal a quantidade de pó insuflado que obstrui, por completo, a parte mais interna do conduto. Tratamos de removê-lo com uma lavagem sob as melhores condições de asepsia possíveis, em atenção à anamnese.
Perfuração de regular diâmetro nos quadrantes posteriores. Algum exsudato. A perfuração não é marginal, nem há indícios de osteite. Além disso, nega a paciente ter percebido jamais qualquer máo cheiro no exsudato.
Nada faltava pois ao quadro clássico do Gradenigo, tal como o descreveu o notável otologista italiano em 1940. Pús no ouvido, dôres irradiadas e paralisia do "abducens". Além da tríade clássica, febre e nevralgia do trigemêo.
Antes de qualquer atitude radical se impunha uma radiografia do rochedo. Enquanto se esperava, tratamento quimioterápico em altas doses, calôr e um antiséptico.
Aconteceu porém um inesperado. A moça não voltou ao consultório no dia seguinte, mandando simplesmente telefonar-me que não havia mais urgência tão grande fora a sua melhoria. Dizia que passara bem a noite, porque tanto as dôres no ouvido como no globo ocular haviam notavelmente metigado em seguida à lavagem. Também não tinha mais náuseas nem febre. Apenas permanecia muito manifesto o estrabismo. Em vista de tais informações, resolvemos aguardar um pouco mais, recomendando porém que continuasse com a sulfanilamida e se radiografasse. Sómente cinco dias depois, apareceu a paciente com a radiografia; estava praticamente curada, apenas com restos do estrabismo. Haviam desaparecido os motivos para qualquer intervenção cirúrgica. Além disso, a radiografia demonstrava que o máximo que podia haver no rochedo seria uma congestão satélite do ouvido médio; nunca um abcesso ou supuração. Lembramos do que diz Eagleton, a respeito da intervenção inoportuna sôbre o rochedo, e o perigo de transformar um simples processo congestivo em uma meningite fulminante. Rememoremos as suas palavras a respeito da cura expontânea de certos tipos de inflamações desta parte do temporal, e do que teria acontecido à paciente se a tivéssemos operado.
E quanto à etiologia, o que dizer? Afirma á doente que a sua piora decorreu da insuflação; e mais que a sua melhoria se deu em resultado da lavagem e conseqüente retirada do pó. Nada se pode dizer com certeza, mas parece que a sua impressão traduz a realidade. O excesso do pó deve ter reativado o processo crônico do ouvido médio. Daí uma congestão da caixa e também do rochedo. Outra hipótese será uma eventual fístula desta parte do temporal, cuja obstrução e retenção de exsudato redundaram nos fenômenos pontinos. A 5 de Setembro a paciente tornou a meu consultório. Nada há mais que lembre o seu grave acidente. Nem o menor vestígio do estrabismo. A otite crônica entrou em novo período de silêncio.
COMENTARIOS:
Dr. Paulo Sais. - Há anos, tive dois casos de síndrome de Gradênigo que foram tratados com bom resultado. Naquele tempo usava-se a antrotomia, mais ampla possível. No 1.º caso, (auxiliado pelo dr. Schmidt Sarmento) e no outro obtivemos bom resultado com a abertura ampla da mastóide.
Dr. Rubens Brito. - Sou de opinião de que, quando se usa muito pó, êste impede drenagem havendo congestão mais profunda.
Dr. Prudente de Aquino. - Em um caso de petrosite em diabética, já por diversas outras afeções operada, obtive uma orientação cirúrgica muito bôa, com o auxílio de radiografias em posição de Worms-Bretton, que considero ótima para elucidação de petrosites, por facilitar a comparação dos 2 rochedos na mesma chapa. A doente após operação radical ampla, ficou completamente, curada.
Dr. Rezende Barbosa. - O dr. Cláudio Bardy, do Rio de Janeiro, escreveu excelente trabalho sôbre a radiografia do temporal, para o qual chamo a atenção dos colegas, e onde aborda a questão do diagnóstico diferencial entre inflamação e tumor.
Dr. Mário Otoni Rezende. - Tive ocasião de conhecer Gradênigo, em Nápoles. Fazia naquela ocasião 8 anos do lançamento de seu sindromo e já se achava, naquela época, que a maioria dos casos se resolvia com uma mastoidectomia ampla e radical alargada. A necessidade de radiografia convenientemente obtida é de regra. Facilitando-se a drenagem, que a caixa não faz de modo suficiente, as apicites, desaparecem, na grande maioria dos casos.
QUATRO CASOS DE CONSULTORIO
DR. SILVIO MARONE
O A. apresenta quatro casos de entidades mórbidas pouco freqüentes ou. raramente encontradas no terreno otorrinolaringologico. São os seguintes:
1.º) Fibroma duro da bochecha: - Neoplasia benígna encontradiça em outros setores do organismo teve a sua origem na mastigação contínua da mucosa bucal colocada à frente dos últimos molares (área fissural) de ambos os lados. Tumoração de mais ou menos 4 cms.de comprimento por 2 de espessura. Exérese por meio do bisturí elétrico. Cortes histológicos revelaram grande proliferação das fibras conjuntivas fibrosas intimamente coligadas o que dava ao tumor o seu caráter de dureza.
2.°) Extenso carcinoma espino-celular corneificado da região mandibular: - Trata-se de grande massa tumoral situada na região inframandibular, atingindo a região supra-hióidea e dirigindo-se lateralmente até a márgem anterior do esterno-cleido-mastoideo. O tumor apresentava-se irregular, bocelado, com vários pontos de necrose, de onde saía liquido sêro-purulento e fétido. Determinava dificuldade na abertura da boca, devido à massa tumoral que repuxava a comissura labial esquerda para baixo. Esse tipo de tumor tem também o nome de "Tumor em turbante", pois quando localizado na pele da cabeça se assemelha a um turbante.
3.°) Prolosifiloma localizado no vestíbulo nasal: - O protosifiloma quando localizado no nariz - o que se dá raramente - permite confusão com lesão leishmaniótica. Porisso o A. propõe a denominação de "fôrma pseudoleishmaniótica". A inoculação, no presente caso, como em quase todos êsses casos, foi a dígito-ungueal. O A. nos comentários, chama a atenção para o diagnóstico diferencial entre a lesão inicial luética e a leishmaniótica, apresentando os elementos em que o mesmo se deve basear.
4.º) Cálculo gigante encravado na glândula sub-maxilar: - Trata-se de um caso raro, pela situação do cálculo (encravado no parênquima) e pelo seu tamanho de 4,4 cmts. x 2 cmts., pesando 6,95 grs., com um volume de 5 cc. dagua (o segundo, em tamanho, referido na literatura). O cálculo apresentou recidivas. O A. mostra-o, fazendo ressaltar o seu aspeto exterior irregular, rendilhado devido à sua infiltração nas vesículas glandulares. O calculado, ao corte, apresenta-se formado por camadas alternadas brancas e pretas, em todo semelhante a um cálculo vesical. Chama a atenção para o diagnóstico diferencial com algumas entidades principalmente a lues, com a qual se podem confundir.
COMENTÁRIOS:
Dr. Francisco Hartung. - Todos os casos apresentados pelo dr. Marone, foram muito interessantes, principalmente o último, no qual é possível e rasoável a confusão com a leishmaniose. Trata-se de um caso muito excepcional.
Dr. Rubens Brito. - Em estatísticas da Liga de Combate á Sífilis, não há nenhum caso semelhante fichado. Já tive entretanto, ocasião de notar um proto-sifiloma na língua de um menino de 14 anos.
Dr. Mauro Candido de Sousa. - Como contribuição aos protosifilomas extra-genitais posso referir dois casos, nas amigdalas, observados no Serviço de Saúde da Guarda Civil de S. Paulo. O diagnóstico no primeiro caso só foi feito depois do aparecimento do secundarismo cutâneo, no segundo à custa da pesquisa do treponema do material retirado da ulceração.
Dr. Mário Otoni de Rezende. - O caso de cálculo gigante, da submaxilar, é bastante curioso. Geralmente êle costuma ficar encravado, sendo necessário fazer-se a extração da glândula. O caso de carcinoma, é raro nessa localização dando, quando assim localizado, a idéia de uma actinomicose. O 4.º caso, é também de difícil diagnóstico. Há dias, tive um paciente, enviado de Ribeirão Preto, que se queixava de intensa nevralgia da hemi-face direita. O diagnóstico provável seria de tumor do naso-faringe. O exame revelou um tumor lateral apanhando a região da trompa, e a biópsia demonstrou tratar-se 100% de um granuloma. O exame radiológico do tórax, revelou um aneurisma da aorta ascendente. Era, pois, um sifiloma. Wassermann e Kahn negativos.
SUMULA GERAL DOS TRABALHOS APRESENTADOS NAS SESSÕES DE 1943 SOBRE A OTORRINOLARINGOLOGIA EM TEMPO DE GUERRA
DR. MARIO OTONI DE REZENDE
(Publicado na Revista Brasileira de O. R. L., XII: 202, 1944)
O Snr. Presidente da Secção, antes de encerrar seu mandato, faz uma súmula das diversas conferências realizadas no decorrer do ano de 1943, ao redor do tema "Otorrinolaringologia no tempo de guerra".
Tece uma série de comentários analíticos sobre cada tema separadamente, mostrando os pontos mais tocados pelos diferentes conferencistas, sobressaindo o seu valôr, bem como chama atenção sôbre certa falta de orientação prática de quase todos êles.
Fora da parte de comentários e análises de cada conferência, o A. faz uma apreciação detalhada dos trabalhos mais recentes sôbre a cirurgia de urgência nos ferimentos da cabeça, especialmente do artigo de Converse, em que estuda a manipulação das lesões de guerra da face, inclusive o tratamento das queimaduras da face, e demora-se no estudo do choque, seu diagnóstico, profilaxia e tratamento.
Ressalta, finalmente, que muito embora nenhum de nós estivesse estado em ação em campo de batalha, muito temos que aprender com aquêles que, há quatro anos seguem, de perto, as calamidades e os sofrimentos proporcionados pela guerra.
Não vejo, diz o A. porque sejamos obrigados a nos ater a nossa própria prática, que no caso é nenhuma, deixando de lado a obtida da realidade por colegas distintos e observadores, em partes as mais diversas do mundo e em climas e condições as mais variadas.
A seguir, foi encerrada a reunião.
SOCIEDADE DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DO RIO DE JANEIRO
Ata da 55.ª sessão ordinária
Aos nove dias de Outubro de 1943, reuniu-se em sessão ordinária a Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, sob a presidência do Dr. Aristides Monteiro, para a eleição da nova diretoria no período de 1943-1944. Não havendo numero legal para se proceder a eleição foi encerrada a sessão e convocada nova sessão que segundo os estatutos poderá ser realizada com a presença de 4 associados no mínimo, sendo 3 efetivos.
Ata da 12.ª sessão extraordinária
Aos 9 dias de Outubro de 1943, reuniu-se em segunda convocação a Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, sob a presidência do Dr. Aristides Monteiro, para se proceder a eleição da nova diretoria.
O Sr. Presidente lê uma carta do Dr. Maurilio Melo excusando-se de aceitar a Presidência da Sociedade por motivos independentes de sua vontade, razão pela qual procedeu-se a eleição para presidente no período de 1944.
Em seguida, foram escolhidos para escrutinadores, os Drs. Galdino Augusto e Nelson Hora, dando-se início as eleições que tiveram o seguinte resultado:
Presidente - Dr. Duarte Moreira
2.º Vice-presidente - Dr. Sylvio Mello
Tesoureiro - Dr. Milton de Carvalho
Secretário Geral - Dr. Seabra Junior
1.° Secretário - Dr. Bemfica de Menezes
2.° Secretário - Dr. Flavio Aprigliano
3.º Secretário - Dr. Galdino Augusto
Orador - Dr. Fernando Linhares
Bibliotecário - Dr. Nelson Hora
Comissão de redação Dr. Pinto Fernandes
Dr. Ermiro Lima
Dr. Mauro Pena
A seguir foram lidas e aprovadas as atas das duas últimas sessões.
O Sr. Presidente faz referências a presença do Dr. Quinõnes, nosso ilustre colega do Paraguai, passando em seguida a presidência da meza, na ausência do Presidente eleito Dr. Duarte Moreira, ao 1.º Vice-presidente, Dr. Walter Müller dos Reis, tendo o 2.º Secretário eleito, Dr. Flavio Aprigliano ocupado seu lugar junto ao Dr. Müller dos Reis.
O Dr. Walter Müller das Reis convida o novo 1.° Secretário, Dr. Bemfica de Menezes a fazer parte da meza.
Em seguida o Snr. Presidente da meza dirige palavras elogiosas ao novo Presidente eleito.
Não havendo quem pedisse a palavra foi encerrada a sessão.
Ata da 56.ª sessão ordinária
Aos desessete dias de Novembro de mil novecentos e quarenta e três, reuniu-se em sessão ordinária a Sociedade de Oto-Rino-Laringologia do Rio de Janeiro, presidida pelo Secretário Geral Dr. Seabra Junior, e secretariada pelo Dr. Flavio Aprigliano.
Aberta a sessão foi lida a ata da sessão anterior que foi aprovada. Não havendo quem pedisse a palavra no expediente, foi dado inicio a ordem do dia.
CASOS CLINICOS
CANCRO SIFILITICO DA LINGUA - Dr. Humberto Lauria
Identificação: E. R. com 34 anos, branco, brasileiro.
História da doença: Procurou o ambulatório de Oto-Rino-Laringologia do Hospital
S. Francisco de Assis, em Maio de 1943, contando que, tomando banho de mar em uma de nossas praias, tentou partir com os dentes um"siri cosido", ferindo-se na lingua com um fragmento do mesmo. Essa pequena ferida aumentou, queixa-se de dôr no local.
Exame: Pequena ulceração de bordos escavados e irregulares no terço anterior do bordo esquerdo da lingua. O seu fundo é recoberto por enduto fibrinoso. Ganglios sub-maxilares e cervicais palpaveis e sensiveis.
Diagnóstico: Cancro sifilítico, confirmado por exame de laboratório.
Tratamento: Iniciamos uma série de néo-salvarsan, e após a 3.ª ampoula, a ulceração cicatrizou.
COMOÇÃO TRAUMATICA DO LABIRINTO PRODUZIDA POR
CORRENTE ELETRICA - Dr. Carlos Bruno
Resumo do caso: Trata-se de um doente, que em Junho de 1942, procurou o ambulátório de Oto-Rino-Laringologia do Instituto dos Marítimos, queixando-se de tonteiras, surdez e cefaléia. E' o paciente, rádio-telegrafista de bordo, há mais ou menos um ano, quando em serviço, recebeu nos ouvidos, forte descarga elétrica proveniente de um raio caído cerca de 50 metros do seu navio, perdeu os sentidos por alguns momentos e ao recobra-lo notou que estava surdo.Percebeu também que saía um pouco de sangue do ouvido. Procurou varios especialistas porém sua surdez só tem peorado.
Otoscopia - O. E.: cicatriz na parte central da membrana, congestão do quadrante postero-superior: - Audiometria: Surdez tipo mixto no O. E., e tipo percepção no O. D. - Provas labirínticas, tanto calorica como rotatoria, nada revelam de anormal.
Diagnóstico: Comoção traumática do labirinto.
A seguir, o Dr. Bruno, teceu comentários sobre a patogenia da afecção em causa e sobre a raridade da mesma, principalmente tratando-se de acidente por raio.
COMENTARIOS:
Dr. Seabra Junior: - Agradeceu ao Dr. Carlos Bruno, a apresentação do seu caso clínico, fazendo referências elogiosas ao mesmo.
Nada mais havendo a tratar foi encerrada a Sessão.
Ata da 57.ª sessão ordinária
Aos dez dias de Dezembro de 1943, reuniu-se em sessão ordinária a Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, presidida pelo Dr. Walter Müller dos Reis e Secretariada pelo Dr. Flavio Aprigliano.
Aberta a sessão, foi lida a ata da sessão anterior, que foi aprovada.
No expediente, o Sr. Presidente lê uma carta do Dr. Duarte Moreira, na qual, apresentando razões de ordem exclusivamente particular, lamenta não poder ocupar o cargo de Presidente, no período para o qual fora eleito na sessão de 9 de Outubro p.p.
Ainda no expediente, pede a palavra o Dr. Seabra Junior, que alegando razões pessoais, pede sua demissão do cargo que ocupa na diretoria desta Sociedade, como também do quadro de Sócios da mesma.
O Sr. Presidente aceita o pedido de demissão do Dr. Seabra Junior do cargo que ocupava na Diretoria.
Pede a palavra o Dr. Aristides Monteiro, que apela para que o Dr. Seabra Junior não abandone o quadro de Sócios desta Sociedade, onde por tantos anos vem prestando eficiente auxilio.
Em seguida, com a palavra o Dr. David Adler, que apresenta suas despedidas à Sociedade, por motivo de viagem à América do Norte, onde coloca seus préstimos a disposição dos amigos.
O Sr. Presidente, agradece o oferecimento do Dr. David Adler e pede para que se inicie a ordem do dia. Não tendo porém comparecido os relatores dos casos clínicos e não havendo mais nada a tratar é encerrada a sessão.
Ata da 13.ª sessão extraordinária
Aos dez dias de Dezembro de 1943, reuniu-se em sessão extraordinária a Sociedade de
O. R. L. do Rio de Janeiro, sob a presidência do Dr. Walter Müller dos Reis, para preenchimento do cargo vago de Presidente desta Sociedade, baseado no artigo 46 dos estatutos em vigor. Não havendo porém número legal para se proceder a eleição, foi a mesma encerrada, tendo o Sr. Presidente anunciado nova sessão dentro de 5 minutos.
Ata da 14.ª sessão extraordinária
Aos dez dias de Dezembro de 1943, reuniu-se em sessão extraordinária a Sociedade de
O. R. L. do Rio de Janeiro presidida pelo Dr. Walter Müller dos Reis. Aberta a sessão e havendo numero legal, foi pelo Sr. Presidente verificado o número de sócios que segundo os estatutos poderiam votar, estavam presentes a sessão em número de 10. Foram enviados para escrutinadores, os Drs. Bemfica de Menezes e Nelson Hora e para fiscal o Dr. Duarte Moreira.
Feita a apuração, foi eleito para o cargo de Presidente o Dr. Walter Müller dos Reis.
O Dr. Müller dos Reis, em breves palavras agradece a todos os presentes a confiança nele depositada para ocupar tão honroso cargo.
Antes de encerrar a sessão o Sr. Presidente consulta a casa se deve realizar nova sessão para preenchimento de 2 cargos vagos na diretoria, os de Vice-presidente e Secretário Geral.
Com a palavra o Dr. Pinto Fernandes, propõe que se realize outra sessão extraordinária para se proceder a eleição para preenchimento dos referidos cargos vagos.
O Sr. Presidente põe em votação a proposta do Dr. Pinto Fernandes, sendo a mesma aprovada pela maioria. Foi então encerrada a sessão, e convocada nova sessão dentro de 2 minutos.
Ata da 15.ª sessão extraordinária
Aos dez de Dezembro de 1943, reuniu-se a Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, em sessão extraordinária, para preencher os cargos vagos de Vice-Presidente e Secretário Geral. Não havendo porém número legal foi a mesma encerrada, sendo convocada nova sessão dentro de 2 minutos.
Ata da 16.ª sessão extraordinária
Aos dez de Dezembro de 1943, reuniu-se em sessão extraordinária a Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, para preenchimento dos cargos de Vice-Presidente e Secretário Geral.
Aberta a sessão, o Sr. Presidente convida os Drs. Pinto Fernandes e Aristides Monteiro para escrutinadores e Dr. David Adler para fiscal.
Feita a apuração, foram eleitos respectivamente para Vice-Presidente e Secretário Geral, os Drs. Duarte Moreira e David Adler.
O Sr. Presidente convida os dois novos membros da Diretoria para fazerem parte da meza e em breves palavras, põe em destaque as qualidades dos novos companheiros.
Não havendo nada mais a tratar foi encerrada a sessão.
Ata da 58.ª sessão ordinária
Aos 14 dias de Abril de 1944 esteve reunida em sessão ordinária a Sociedade de Oto-Rino-Laringologia do Rio de Janeiro, sob a presidencia do Dr. Walter Müller dos Reis e secretariada pelo Dr. Flavio Aprigliano.
Aberta a sessão foi lida a ata da sessão anterior que foi aprovada. Com a palavra o Snr. Presidente, comunica que recebeu por intermédio do Dr. Aristides Monteiro, carta circular do Dr. Oreggia, de Montevidéo, comunicando a realização, em Outubro próximo, do 2.º Congresso Sul-Americano de Oto-Rino-Laringologia.
Encerrado o expediente, passou-se a ordem do dia, cuja 1.ª parte consiste de uma homenagem postuma ao Dr. Caiado de Castro. O Sr. Presidente comunica que ao ter conhecimento da dolorosa trajédia, encarregou o Sr. Cayres, para enviar em nome da Sociedade, uma coroa de flores aos funerais e um telegrama de condolencias à família. A seguir, com a palavra o Dr. Werneck Passos, que pronunciou a seguinte oração : (Publicada á página n.° 321).
Com a palavra o Sr. Presidente que manifesta seu sentimento de pezar pelo inesperado e doloroso acontecimento, lembrando em breves palavras o muito que o saudoso companheiro tinha produzido, e a lacuna que deixou em nosso meio médico a na Sociedade de Oto-Rino-Laringologia.
ORDEM DO DIA:
Prof. Mangabeira Albernaz:
NODULO DOLOROSO DO PAVILHÃO AURICULAR
Não podendo comparecer, Dr. Mangabeira Albernaz enviou sua conferencia ao Dr. Walter Müller dos Reis, este, passa a presidencia ao Dr. Duarte Moreira, e inicia a leitura da conferencia.
CONCLUSÕES:
1 ° - O nódulo doloroso do pavilhão auricular foi descrito por Winkler, de Lucena em, 1915. Supoz-se a princípio ser um processo inflamatório, de onde o nome, ainda empregado até hoje, de chondrodermatitis nodularis chronica helicis dolorosa.
2.°) - Caracteriza-se clínicamente a afecção: 1) pela sede, quase de modo exclusivo na face externa da borda livre da hélice, apenas na parte superior desta; 2) pelo aspecto - lesão pequena, redonda ou oval, escura; nodular, dura, coberta quase constantemente por pequena escama-crosta. Esta se reproduz de três, de quatro em quatro dias, mas pode durar mais tempo, se o paciente não a extirpar. 3) pela dôr, verdadeira sensação de penetração de um espinho, quando o paciente se deita sôbre a pavilhão, dor que, entretanto não se manifesta, se a lesão for pinçada entre os dedos.
3.° - Pouco se sabe a respeito do início do mal; o paciente percebe-o quando já constituído. Dura então anos sem sofrer alteração, nem no aspecto, nem no tamanho.
4.º - A causa é desconhecida, embora muitos opinem pela hipótese traumática, a nossa ver inadmissível.
5.º - O nódulo ostenta quadro histo-patológico característico: na epiderme, hiperceratose ás vêzes enorme, e hiper-acantose também muito intensa; no derma, proliferação vascular pronunciada de tipo angiomatoso.
6.º - O diagnóstico clínico não apresenta dificuldades, facilitando-o o tipo dá lesão, a sede, e a dôr.
7.º - O prognóstico é sempre favoravel, pois a doença é benigna e não apresenta complicações.
8.º - O tratamento consiste na excisão cirúrgica.
9.º - De acordo com o estudo histo-patológico dos cinco nódulos observados, fica patente ser êste um verdadeiro neoplasma, um hemângio-acanto-ceratoma.
CASOS CLINICOS
Dr. Armando Pinto Fernandes
FISTULA SALIVAR D A PARÓTIDA
D. D. C., cor branca - 40 anos de idade. Ficha n.º 11.134 da Clínica Otorrinolaringológica do H. C. M.
Procurou-nos em 11-11-43 por indicação de um colega de outra clínica do mesmo hospital, já trazendo feito o diagnóstico, aliás evidente: Fístula salivar da glândula parotida direita.
A história da doença era a seguinte:
Cerca de 5 meses antes, em conseqüência de um traumatismo na face, sobreveiu uma inflamação aguda na região, exigindo intervenção cirúrgica que foi logo feita, em uma enfermaria da Clínica Traumatológica. Saiu pús, tudo declinou, baixavam os tecidos, mas resultou um escoamento de saliva através parte da incisão que não fechou, e essa fístula salivar permanece ha meses inalterada, a saliva a escorrer sempre pela face, exigindo curativo oclusivo, com muito incômodo para o doente, que não se conforma com a situação. Sente dores, pouco intensas porém freqüentes e pertinazes. Tentativas de fechamento cirúrgico e de ressecção do trajeto fistuloso foram feitas naquela clínica sem lograr resultado.
Nossa conduta: - Procuramos verificar qual o estado do sistema dos canais excretores da glândula: o Stenon e seus afluentes.
1.º Cateterisamos o canal com as sondas lacrimais de Bowmann: a serie de 1 a 6 passou bem, penetrando tôda a sonda.
2.° Injetamos pelo orifício bucal de Stenon uma solução de azul de metileno: nada saiu pela fístula.
3.° Fizemos a sialografia, mediante injeção no canal de 4 cc. de Iodipina a 20%.
A radiografia n.° 1566 revelou integridade do sistema dos canais excretores da glândula. Era possível já agora estabelecer o plano para o tratamento isto é, para o fechamento da fístula, que se sabia então não provir de uma solução de continuidade em canal ou canalículo de importância. Era apenas a glândula ferida em um de seus cachos, no parenquima periférico.
As fístulas salivares constituem eventualidade pouco freqüênte. Uma das causas principais é a incisão de uma operação de mastoide atingir a glândula no extremo inferior daquela.
Como tratamento recomendam os autores que se tem ocupado do assunto:
a) Galvano-cauterização da fístula;
b) Radioterapia, esta exigindo meses de tratamento com várias aplicações por mais de uma série;
c) Cirurgia.
Só compreendemos e admitimos a escolha da terapêutica cirúrgica mediante o estudo e determinação do segmento lesado.
Simples sutura dos tecidos ? - A saliva continuará a escoar entre os bordos e não haverá o fechamento.
Ressecção do trajeto fistuloso ou do que aparece como tal ? - A glândula permanecerá aberta para o exterior.
Procurar desviar a fístula para a cavidade bucal ? - E' uma bela operação, mas só si houver lesão do canal Stenon e é preciso conhecer em qual ponto está a solução de continuidade. Então a sialografia torna-se indispensavel.
Embora não tivéssemos ainda experiência pessoal sôbre o assunto, resolvemos usar a galvano-cauterisação, pela simplicidade do método, mas sobretudo por nos parecer racional e capaz de proporcionar o êxito almejado.
A escara da cauterisação transformada em crosta, pela evolução natural, por pouco que permanecesse aderente ao local, isto é, durante alguns dias, bem poderia propiciar o fechamento da superfície de escape da saliva.
Praticamos então uma galvano-punctura da fístula em 28-11-43, pouco profunda, mediante anestesia por imbebição (Percaina a 2%). Não houve escoamento de saliva durante 7 dias completos. Ao fim dessa semana, inspecionando o curativo com cuidado, sob nossas vistas destacou-se a crosta já muito reduzida em tamanho e a fístula reapareceu. Estavamos contudo satisfeitos com a experiência e recomeçamos a tentativa, resolvidos agora a atuar algo mais profundamente. Anestesiamos por infiltração e cauterisamos um pouco mais em profundidade em várias direções no sentido dos raios de uma circunferência. E foi o bastante. Quando a crosta desapareceu, mantida que foi cuidadosamente o maior tempo possível, estavam os tecidos completamente cicatrizados e desaparecida a fístula como pudemos verificar em exames posteriores e sucessivos.
Concluindo: - A verificação do estado dos canais excretores, propiciada principalmente pela sialografia, permitiu a adoção de um processo simples, racional e eficaz de tratamento de uma fístula salivar, qual a banal galvano-cauterisação.
Terminando o relato do seu caso clínico, o Dr. Pinto Fernandes comunica à Sociedade que tendo sido designado pelo Ministro da Marinha, partirá brevemente para a América do Norte em viagem de estudos.
Dr. Müller dos Reis: - Agradece a apresentação do interessante caso clínico e felicita o Dr. Pinto Fernandes, por ter sido designado para visitar a América do Norte em viagem de estudos.
Nada mais havendo a tratar foi encerrada a sessão.