ISSN 1806-9312  
Quinta, 18 de Abril de 2024
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1350 - Vol. 2 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1934
Seção: Associações Científicas Páginas: 524 a 534
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es):
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ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Secção de Oto-rino-laringologia

Sessão de 17 de Outubro de 1934

Presidida pelo Dr. Homero Cordeiro e secretariada pelos Drs. Horacio de.Paula Santos e Rubens V. de Brito, realizou-se no dia 17 de Outubro ultimo, a oitava sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

ORDEM DO DIA:

1°) - DRS. A. MARTINS DE CASTRO, LUIZ SALLES GOMES e MARIO OTTONI DE REZENDE (São Paulo) - "Sobre um caso autoctone de rinoescleroma em individuo de raça preta."

(Este trabalho está publicado na integra em outra secção desta revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Horacio de Paula Santos: Diz que por especial obsequio do Dr. Martins de Castro acompanhou de perto o caso apresentado e que o doente havia sido em primeiro lugar observado no serviço do Prof. Paula Santos, onde a sua observação fôra feita pelo Dr. Nova. Não está de acôrdo com os AA. quando eles dizem que se trata de um preto, pois julga antes um mestiço.

Dr. José Ribeiro dos Santos: Lembra alguns trabalhos publicados sobre o assunto: um do Dr. Werneck Machado e outro, do Prof. Terra, no qual são relatados oito casos, que não póde afirmar se são autóctones.

Dr. Roberto Oliva: Refere-se a um caso citado pelo Dr. Mario Ottoni, que inoculou o rinoescleroma em diversos animais, conseguindo reacções inflamatorias e granulosas, e aparecimento de celulas de Mikulicz. Diz que é uma molestia de periodo de incubação demorada como a lepra e que por isso chega a pôr em duvida a especificidade do bacilo de Frisch.

Dr. Mario Ottoni de Rezende (encerrando a discussão): Diz que recebeu o seu doente na Santa Casa e ignorava que o mesmo havia sido observado por outro colega, pois neste caso deixaria ao mesmo a sua apresentação, pois nestas questões é de ética absoluta. Fala em seguida sobre as ideas do Dr. Salles Gomes, em relação a inoculação da molestia e sobre as qualidades do bacilo de Frisch que alguns autores não consideram como agente etiologico do rinoescleroma. Diz entretanto ser interessante o fato das culturas obtidas no caso apresentado terem sido puras e que os cortes hiato-patologicos tambem o evidenciaram de modo que, se não é ele o causador da molestia, pelo menos exerceria um papel preparador do terreno. Diz finalmente que os casos que poude colectar, foram em numero de oito, exclusive o seu, e não sabe afirmar se os do Prof. Terra estão aí catalogados ou não.

2.° DRS. CARLOS GAMA e PAULO DE TOLEDO (São Paulo) - "Tumores do naso-faringe".

Resumo: Os AA. apresentam dois casos de carcinoma do naso-faringe, invadindo o seio esfenoidal e a base do craneo, com fenomenos acentuados de compressão nervosa.

Fazem o estudo clinico e radiologico, salientando a importancia da verificação da mucosa da parede do naso e buco-faringe, para o estabelecimento do diagnostico.

Para esse fim o Dr. Paulo Almeida Toledo sugere a introdução no naso-faringe
(o doente com a cabeça deitada para traz) de substancia opaca aos raios X (Lipiodol) e desse modo se obtem ótimas radiografias para mostrar o relevo da mucosa da parede posterior do naso-faringe, nos casos patologicos (tumores etc). São projetadas radiografias do aspecto normal e patologico do naso-faringe.

Pergunta aos colegas presentes, se esse seu metodo é original ou se já foi apresentado por algum outro autor, pois empregou-o intuitivamente, e ainda não teve tempo de procurar na literatura se ha algo publicado sobre esse assunto.

DISCUSSÃO:

Dr. Antonio Vicente de Azevedo: Felicita os AA. e diz ao Dr. Toledo que a sua idéa já havia sido posta em pratica por Proetz, o que aliás não desmerece a sua originalidade. Esse autor idealizou um metodo de contraste para as cavidades nasais. Termina falando sobre detalhes da técnica do metodo do Dr. Paulo Toledo e dizendo que já teve ocasião de mandar fazer varias radiografias pelo metodo de Proetz.

Dr. Mangabeira Albernaz: Diz que teve grande interesse em verificar se o Dr. Paulo Toledo havia empregado o metodo de Proetz, sobre o qual o Dr. Vicente de Azevedo acabara de se referir. No entanto, acha que um metodo nada tem a vêr com o outro, pois no deste ultimo autor, esvasia-se a cavidade e se a enche com oleo iodado, por meio de um aparelho especial; isto com dois fins: verificar o tempo que leva para ser expulso do seio e tirar uma radiografia afim de se vêr o delineamento do mesmo. A posição da cabeça varia conforme o seio em questão. Diz que na primeira chapa mostrada pelo Dr. Toledo poder-se-ía usar o metodo de Proetz, porém não sendo preciso por ter sido substituido pelo engenhoso metodo do jovem colega; metodo esse que reputa logico e original, pois que não ha nada a respeito do emprego do oleo iodado comum para a verificação do densenho da mucosa faringéa.

Termina dizendo que pretende trazer em uma das proximas sessões um trabalho sobre o metodo de Proetz.

Dr. Antonio Prudente: Projecta algumas fotografias de casos de tumores do rino-faringe e adjacencias, que foram por ele operados; relatando um caso de cura.

Dr. Homero Cordeiro: Acha engenhoso e original o metodo do Dr. Toledo e de real valôr no diagnostico dos tumores da parede posterior do naso-faringe.

Dr. Roxo Nobre: Diz que o Dr. Gama se referiu, quando falou sobre o primeiro caso de carcinoma apresentado, á evolução mais rapida do tumor em consequencia da sua exposição aos raios X, ao se fazerem as radiografias. Quer fazer a respeito, duas objecções: a 1ª é que tal dose de irradiação não é suficiente para influir na evolução do tumor; a 2ª, é que as doses empregadas para o tratamento foram maciças, não se podendo admitir uma reativação do tumor.

Dr. Carlos Gama (respondendo) : Diz que acha, sob o ponto de vista neurologico, o caso apresentado de muito interesse, pelo facto de haver uma serie de nervos lesados tipicamente: trigemio, motor ocular comum e glosso-faringêo, o que dá tambem uma idéa da extensão do tumor, na base do craneo, como aliás mostra a radiografia.

Está em desacôrdo com o Dr. Roxo Nobre quando este diz que os raios X não têm influencia sobre os tumores, já tendo mesmo apresentado um trabalho sobre os efeitos maleficos e beneficios dos raios X. Termina dizendo não estar convencido de que a radioterapía cure os carcinomas planocelulares.

Dr. Paulo Toledo (encerrando a discussão) : Conforme afirmara antes, dada a pressa do Dr. Gama em apresentar o caso, não teve tempo de consultar a bibliografia não sabendo se outros já tinham empregado metodos semelhantes ao seu. Acha que o Dr. Prudente tem razão em salientar o fato dos tumores se estenderem rapidamente na base do craneo. Leu recentemente um artigo em que o autor chama de craneofaringeomas a todos esses tumores e os englobando, sob o ponto de vista clinico, em sindromes.

3°) - DRS. JOSÉ RIBEIRO DOS SANTOS e HORACIO DEPAULA SANTOS (S. Paulo) - "Considerações em torno de um caso de otite media aguda complicada de tromboflebite do seio lateral. Septico-piomía. Operação e sequencia."

Resumo: Os AA. examinam as seguintes questões:

1) A gravidade impremida ao caso pela ação conjugada do esteptococo hemolitico e da má reação do organismo.

2) A via pela qual se propagou o processo infeccioso, da caixa á mastoide, e desta ao seio lateral.

3) Porque o trombo foi a principio aseptico e depois septico ?

4) A probabilidade da grande extensão do trombo ser devida a um aumento da coagubilidade do sangue e a desvantagem que havia no emprego de anti-coagulantes.

5) Como poude a obstrução da veia emissaria produzir edema atraz do bordo posterior da mastoide?

6) O fato da septico-pioemia não se ter refletido sobre o grafito da temperatura.

7) O resultado negativo de uma primeira hemocultura quando a septicemia já era manifesta.

8) A lucidez de consciencia sempre conservada pelo doente.


DISCUSSÃO:

Dr. Rafael da Nova: Quer fazer algumas considerações teoricas sobre o trabalho, referindo-se sobre a falta de reação macroscopica da parede do seio. Fala do papel de espelho exercido pela parede, com relação ao processo que se verifica na caixa do timpano. No caso em apreço a parede estava aparentemente normal, do ponto de vista macroscopico. Julga que esse fato se explicaria por uma deficiente reação do tecido peri-sinusal devido a um processo de grande toxidez.

Outro fato que quér frizar, é a questão do tratamento: refere-se á escola dos intervencionistas, que procuram evitar que o trombo se espalhe pelo organismo, fazendo a ligadura da jugular. Termina fazendo considerações anatomicas e de patologia sobre a irrigação nervosa do craneo.

Dr. Homero Cordeiro: Diz que acompanhou com interesse o caso e que, em se tratando de septicemia de origem auricular, acha oportuno fazer rapida referencia sobre os tratamentos que ultimamente têm sido feitos no estrangeiro, principalmente na França, para tais casos.

Até bem pouco tempo, quando o causador dessas septicemías era o estreptococo hemolitico, os doentes eram dados como irremediavelmente perdidos. Entretanto, nestes ultimos anos, o tratamento dessas septicemías tem sido orientado de um modo mais seguro, pela aquisição de novos meios terapeuticos que, pelas estatísticas já publicadas, possuem no seu ativo um numero impressionante de curas. Quér se referir á "imunotransfusão" e ao "sôro anti-estreptococico de Vincent".

Como é sabido, a "imuno-transfusão" é baseada nos estudos de Wright e de seus colaboradores Colebrok e Storer. Segundo eles, o sangue possue, não sómente pelos seus leucocitos, mas tambem pelo seu sôro, um poder bactericida que tende a desaparecer nos casos de septicemía. A vacinação em tais casos, não trará a reação imunisante salutar ao doente. Mas, pela inoculação em um individuo são, de germens atenuados (vacina) retirados de um doente, ha um aumento consideravel do poder bactericida do sangue desse individuo são, vis-á-vis a variedade microbiana inoculada. Na pratica, a imunotransfusão é assim praticada: o agente patogenico é isolado do sangue do doente e uma auto-vacina é preparada. O doador, uma vez identificado o seu tipo sanguineo, recebe uma injeção intra-venosa, fraca, de 200 milhões de germens, que ás vezes póde produzir reação apreciavel, mas passageira. Oito horas depois retira-se 100 a 200 gramas de sangue (citratado) do doador, que é imediatamente injectado na veia do doente. Uma nova transfusão poderá ser feita 48 horas depois, aproveitando-se ainda o mesmo doador. Nos casos urgentes, não sendo possivel esperar o preparo da auto-vacina, lança-se mão de "stock-vacina", por ex.: o "Propidon", para a vacinação do doador.

Este meio terapeutico tem dado bons resultados nas mãos de muitos especialistas, principalmente quando empregado precocemente e durante alguns dias.

Outro meio empregado atualmente com grande sucesso no tratamento das septicemias otogenicas, é o "sôro anti-estreptococico de Vincent".

Esse novo soro de Vincent é desalbuminisado, anti-toxico e antimicrobiano, conforme afirmou o Prof. Vincent; na sua comunicação feita á Academia de Medicina, de Paris, em Abril de 1932. Vincent recomenda o emprego diario de 100 cc. de sôro, sendo 50 cc. de manhã (25 cc. intra-venoso e 25 cc. intra-muscular) e 50 cc. á tarde, da mesma forma, até defervescencia da temperatura.

Este sôro tem salvo inumeros doentes em estado desesperador, e na memoravel sessão de 21 de Junho de 1932 da "Sociedade de Laringologia dos Hospitais de Paris", (vide "Annales d'Oto-Laryngologie", 1932, n° 12, pg,. 1384 a 1398) tantos foram os casos de cura apresentados, que essa Sociedade, por indicação de Bloch e Roger, aprovou a seguinte moção: "A Sociedade de Laringologia dos Hospitais de Paris, impressionada pelos bons resultados assinalados durante sua reunião de 21 de Junho de 1932, sobre o tratamento das septicemias pelo sôro anti-estreptococico de Vincent, resolve por unanimidade aprovar o voto para que, apesar do seu preço elevado, seja empregado nos serviços hospitalares o mais amplamente possivel".

Antes de terminar faz um apêlo aos Institutos seroterápicos nacionais, para que procurem indagar do Prof. Vincent a técnica de preparo do seu sôro, para que em breve tempo possamos tê-lo á mão em nosso paíz.

Dr. Horacio de Paula Santos (encerrando a discussão) : Responde que o caso apresentado era de grande responsabilidade, porque se tratava de uma jovem em vesperas de seu casamento. Refere-se ao fato de ter a familia feito criticas severas por ter sido praticada a paracentése inicialmente.

O que cahmou a atenção para a gravidade do caso foi a febre e o sinal de Grisinger, que fizeram com que se interviesse no 12.° dia de molestia. Esse fato demonstra a virulencia do germen em questão. Tudo correu como se esperava e o exito letal não trouxe surpreza alguma.

Termina, dizende já ter visto referencias á cura de septicemias com o novo sôro anti-estreptococico de Vincent.

Sessão de 17 de Novembro de 1934

Presidida pelo Dr. Homero Cordeiro e secretariada pelos Drs. Paulo de Faria (secretario ad hoc) e Rubens V. de Brito, realisou-se no dia 17 de Novembro deste, a nona sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina.

No expediente, depois da leitura e aprovação da áta da sessão anterior, péde a palavra o Dr. Roberto Oliva, que, fazendo o necrologio do Prof. Alves de Lima, pronunciou a seguinte oração:

"Meus Senhores: A classe medica e a sociedade paulistas foram ha poucos dias atingidas por um profundo golpe com a morte do Prof. Alves de Lima.

Cidadão dos mais prestantes, medico-cirurgião acatado, dos que mais o foram, tradúz o seu desaparecimento uma perda notavel, principalmente em nossos meios medico-cientificos.

Nada afeito á inercia, procurou, desde os albores de sua carreira, nos estudos e na observação diaria de seus doentes, forrar-se de apreciavel cabedal, que o levou ás mais destacadas posições na classe.

Catedratico eminente, sua palavra era ouvida com o interesse que desfrutam os sabios, e a sua técnica impecavel, foi sempre paradigma, que norteou os passos de seus discipulos.

A "Sociedade de Medicina e Cirurgía de S. Paulo" teve-o por duas vezes como seu presidente e anda hoje góza do influxo de sua operosidade.

Esta "Associação", escolhendo-o para seu presidente, na penultima diretoria, galardoôu-o com seu mais alto posto, premiando assim o interesse que Alves de Lima demonstrava por tudo quanto neste meio se passava.

Como seu companheiro de diretoria, posso afirmar o quanto lhe merecia esta Associação. Nunca faltou ás sessões semanais da diretoria, aconselhando a todos nós com sua palavra franca e ponderada, sem intransigencias, acatando tambem os nossos conceitos.

Ao tempo em que a oto-laringologia não era ainda praticada em S. Paulo por especialistas, a habilidade de Alves Lima levou-o a praticar operações da nossa especialidade, e de que ainda ha pouco se ufanava.

Colheu-o a morte quando cogitava em instalar-se no seu novo pavilhão da Santa Casa, de que foi um dos propugnadores mais fervorosos e eficientes.

Acolhedor e bondoso para com os pobres, muita lagrima dirá hoje em seu eloquente silencio e na sinceridade de seu recolhimento, a falta que ele faz, bem como entoará hinos de gratidão á sua memoria.

Sr. Presidente, a Secção de Oto-rino-laringología da Associação Paulista de Medicina, inserindo na áta de suas sessões um voto de profundo pesar pela morte do Prof. Alves Lima, praticará uma homenagem, a mais alta que lhe compéte, á memoria do insigne amigo, que acaba de desaparecer. É o que tenho a honra de propôr".

Aprovado esse voto, pede a palavra o Dr. Gabriel Porto, para tambem prestar uma homenagem á memoria do Prof. Henrique Guedes de Mélo, recentemente falecido no Rio de Janeiro. Termina pedindo a casa, como derradeira homenagem ao illustre morto, para de pé, fazer um minuto de silencio.

Por ultimo fala o Dr. Guedes de Mélo F.° para agradecer as homenagens prestadas em memoria do seu inesquecivel pai.

ORDEM DO DIA:

1°) - DR. FRIEDRICH MÜLLER (S. Paulo) - "Das relações existentes entre a resonancia nasal (da cabeça) e a altura do som".

Resumo: O A. inicia o seu trabalho dizendo que, a sonoridade de um tom depende, primeiramente, do tubo sonóro, que no homem é constituido pelas vias aéreas superiores. Afirma que é na parte superior destas, nariz e cavidades anexas, que se dá a chamada "resonancia da cabeça". Crê, que sem uma perfeição anatomo-fisiologica destas regiões, não pode haver perfeição no canto, e que portanto, todos os estudantes de canto deveriam submeter-se á priori, a um exame rinologico, afim de não vêrem baldados os seus esforços, isto é, para obter a bôa resonancia nasal ou cefalica, não ser preciso esforço enorme da voz, para conseguir tons relativamente altos.

Motivaram estas considerações o seguinte caso: Uma senhora de 35 anos, cuja voz tinha o registro correspondente á mezo-soprano, notava que esta se quebrava sempre, na passagem da voz de peito para a cabeça. Como tinha alguma dificuldade na função respiratoria, já havia algum tempo, contava que já tinha-se submetido á galvano-cauterizações, sem grandes resultados.

Friza o A. que a paciente, na consulta que lhe fizéra, não aludíra á voz. Como tratamento, removeu a hipertrofia dos cornetos inferiores, que era bastante acentuada, obturando o corredor nasal dos dois lados. Dias depois teve a surpreza de ouvir da doente que os sons já se formavam na altura primitiva. Diz que fôra a propria doente que observára o fáto da melhoria do vóz. É de opinião que o timbre vocal poderá muitas vezes ser melhorado por meio de operações cosmeticas nasais internas. Acredita que muitos desses doentes sejam classificados como fonastenicos, quando nesta categoria devem ser compreendidos só os doentes de voz enfraquecida em consequencia de um ensino técnico errado, embora a constituição seja normal.

Acha justa a opinião de que os fonastenicos não devem ser operados, mas sim submetidos a um tratamento técnico-vocal, pesquisando bem antes se não se trata de pseudo-fonastenicos.

Cita o que disse Sokolowski sobre essa questão, em seu trabalho sobre as relações da foniatría com a laringo-rinología cirurgica, apresentado á Sociedade alemã de foniatria e de oto-rino-laringología, em Leipzig, 1931. Diz esse A. que no mais das vezes péca-se cirurgicamente, nos casos que, na vida comum, o paciente respira normalmente pelo nariz; e que portanto, antes de se orientar um tratamento cirurgico, deve-se fazer um minucioso exame funccional, ás vezes aliás muito dificil de uma conclusão exata. Menciona ele tambem um trabalho de Merovitsch que verbéra a polipragmasia nas intervenções nasais para melhoria da voz e do canto, indicando para tais casos injecções de parafina na mucosa dos cornetos, para tornar mais estreito o nariz.

Está em desacôrdo com Merovitsch quanto a inclusão de parafina e é de opinião que para alcançar a altura normal do tom, a respiração nasal deve se encontrar desembaraçada.

Termina aconselhando os estudantes de canto ou cantores formados, que sofram de perturbações da voz, para se submeterem a um exame nasal, pois em muitos casos será possivel uma melhoria do canto.

DISCUSSÃO:

Dr. Rebelo Néto: Diz que quér fazer algumas considerações sobre a relação entre a perturbação da voz falada e as modificações endo-nasais. Tem observado esse fato nas reparações plasticas das fendas congenitas da abobada palatina. A reparação cirurgica dessas fendas traz uma melhoria consideravel da voz, maximé quando se intervem precocemente, antes da creança ter começado a falar, em seguida se fizer uma educação foniátrica bem orientada.

Dr. Roberto Oliva: Durante a exposição do Dr. Müller ocorreu-lhe a idéa de que não sómente as condições anatomicas poderiam alterar a voz cantada ou falada, mas tambem as patologicas, como as sinusites, que perturbam a permeabilidade dos seios paranasais. Acha que os cantores, quando com a voz alterada, devem se submeter a um exame rinologico, e caso sejam encontradas essas perturbações patologicas, devem ser logo removidas, e talvez assim, voltassem a ter a antiga voz.

2°) - DR. MANGABEIRA ALBERNAZ (Campinas) - "a) Soluto concentrado para anestesía do timpano. (Vide in extenso em "Notas clinicas"). b) Epidermoide (colesteatoma da região cerebelar."

Resumo: Trata-se da observação de um caso de um grande tumor colesteatomatoso, congênito, da região cerebelar direita, que foi casualmente descoberto em seguida a um processo inflamatorio da orelha media, do qual se originou a infecção do blastoma. O doente foi operado e curou-se. Friza que os casos deste tipo são raros. Cushing, em 2023 tumores do endocraneo só encontrou três desse tipo. Os casos publicados até agora não chegam a setenta.

Antes de terminar, o A. apresenta um aparelho de protecção para o rosto, afim de evitar, que durante exames ou operações, os pacientes nos cuspam. Trata-se de uma folha de papel "cellophane", adaptada a dois aros que se prendem nos pavilhões auriculares.


DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Diz que apreciou muito o aparelho de protecção apresentado, que é muito mais simples do que outros indicados para o mesmo fim. Tambem achou interessante o novo anestesico; crê que os resultados com ele obtido serão superiores aos que se obtem com o liquido de Bonain, pois que evita a compressão dolorosa do timpano. Quanto a questão do colesteatoma, diz que as teôrias modernas tendem a aceitar a ideia que ele é primitivo, quando antigamente todos admitiam que o era sempre secundário, devido a perfuração timpanica, e consequente penetração do epitelio de revestimento externo pelo orificio timpanico, de modo que se formava um tumor de descamação epitelial. Porém o fato de terem sido encontrado esses tumores em regiões onde esse epitelio não existe, como os encontrados em plena massa cerebral, fez com que se admitisse a hipotese de serem eles primitivos. Chegou-se já ao extremo de se considerar todos os colesteatomas, como primitivos, e aqueles que eram considerados como secundarios, não eram mais do que os primeiros infectados pela otite média. Os secundarios nunca podem obter um volume respeitavel, limitados ao antro ou á celulas peri-antrais. Os de grande dimensões são considerados primitivos.

O caso apresentado pelo Dr. Mangabeira é interessante, porque se presta, pela radiografia, a confusões, com outras entidades morbidas, tais como mastoidites, lesões do couro cabeludo etc., e tambem porque houve fistulisação na região mastoidéa. Acha que o tumor provinha da dura-mater. Já teve ocasião de apresentar um caso do mesmo tipo, que não decorreu tão bem, pois o doente ficou com hemiplegía. O caso tinha radiologicamente a confirmação da hipotese de mastoidite. Operou o doente, tendo verificado que a mastoide era normal. Drenou depois com fino tubo de borracha, ocasionando isso a rotura do seio lateral, aspiração de embolo gazoso e finalisando com uma hemiplegía. Felizmente tudo desapareceu com o tempo.

Dr. Guedes de Mélo F.°: Diz que o aparelho de protecção apresentado pelo Dr. Mangabeira, vai prestar ótimos serviços aos especialistas. Refere a um aparelho semelhante, uma folha de "cellophane" ligado ao espelho de Clar, usado nos hospitais europêos e que ha muito adóta no serviço do Instituto Pernido Burnier. Acha que o apresentado pelo A. é muito mais pratico. Quanto á mistura anestésica apresentada, sem duvidar dos resultados colhidos pelo Dr. Mangabeira, não compreende como êle obteve efeito anestésico sobre o timpano, pela simples instilação, uma vez que, em principio, a formula proposta só difére da de Bonain pelo substituição da cocaina pela néotutocaína.

Dr. Mangabeira Albernaz (encerrando a discussão): Diz que muito de proposito não tocou na questão da divisão dos colesteatomas, pois essa questão, que está sendo atualmente muito debatida na Alemanha, não foi ainda solucionada. Quanto a mascara apresentada, diz que é uma modificação do processo usado nos hospitais europêos - uma tira de "cellophane" no espelho de Clar. Antigamente fixava a folha transparente no rosto, por meio de esparadrapo, mas agora, fixando-a em dois aros que se prendem no pavilhão auricular, acha muito mais comodo.

Em relação ao anestésico, diz que o Dr. Guedes tocou no ponto nevralgico da questão: não sabe tambem porque a cocaina não anestesía pela simples instilação, em quanto que a novocaina e a néotutocaína o fazem. Diz que no seu anestésico é empregado o ácido fenico sêco cristalizado, ao passo que no de Bonain é usado o nevôso; talvez nessa diferença existisse o "porque" da questão. Diz finalmente que tem tido muito poucos insucessos com esse anestésico, e que em geral, isto se dá quando o timpano está engordurado.

Antes de encerrar a sessão, o Sr. Presidente lembra aos presentes que no dia 17 de Dezembro proximo realizar-se-á a eleição da nova mesa que presidirá os trabalhos da Secção durante o ano de 1935. Portanto solicita nesse dia o comparecimento de todos os associados.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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