ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1316 - Vol. 2 / Edição 3 / Período: Maio - Junho de 1934
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 207 a 210
CORREÇÃO CIRURGICA DE COLAPSO NARINARIO (1)
Autor(es):
DR. JOÃO ALFREDO (3)

Não obstante as imprecações de vagos retardatarios, espiritos estagnados á margem da evolução da medicina, a cirurgia plastica firma-se dia a dia mais segura sobre as suas realisações e esplende cada vez mais promissora, em afirmações magnificas, a todo o momento objetivadas, por ambos os ramos em que se biparte, o estetico e o reparador.

Tão segura é a sua atuação, e tão positivos se mostram os resultados de sua pratica, que já não pode haver indulgencia, como disse alhures (2) para a "ignorancia que a indica como meio ou instrumento imaginado tão somente para satisfazer vaidades; ela exige ser olhada como capaz dos mais alevantados e beneficos efeitos" pois "não estamos em epoca de olhar os defeitos fisicos provindos de erros da natureza, da ação do tempo ou de acidentes, como tábús, mais dá que o direitos temos o dever de repara-los".

Tão alargado já se apresenta o horisonte que limita o campo de atuação da cirurgia plastica, que o pensamento, medico hodierno, se orienta muito rasoavelmente, no sentido de faze-la uma especialidade á parte.

A vantagem de tal individualisação resalta ao exame mais superficial.

A habilidade, contingente indispensavel na pratica de qualquer dos ramos da cirurgia, é função em vultosa percentagem da pratica intensiva, á qual se adiciona como elemento ponderavel o fator pessoal, decorrente de certa tendencia inata á pratica da arte cirurgica. Assim sendo em geral, na cirurgia plastica, dadas as sutilesas de suas tecnicas e o fato de ser especialidade quase inteiramente desprovida de regras fixas a orienta-la, ao lado daquele fator pessoal a que se deve acrescer ainda, certo censo artistico, no dizer de Joseph, faz-se imprescendivel, mais do que em qualquer outra, treno amiudado e intensivo, que proporcionando intimidade com detalhes especialisados, melhor prepara o cirurgião, para resolver situações sempre novas, diversas em nuances ou profundas alterações morfologicas.

Diz-se de uma narina que está em colapso, quando ha diminuição de sua abertura, por relaxamento ou queda da aza do nariz, acarretando dificuldade á respiração.

O colapso ou aspiração de uma das azas do nariz, dificultando um dos tempos da excursão respiratoria, acarreta perturbações varias, para o lado do aparelho respiratorio, decorrente da deficien-cia funcional de que é causa e que, possivelmente, está ligada á dinamica das colunas aereas que buscam os pulmões, desequilibradas então, pela deficiencia de uma delas.

Algumas vezes congenito, de outras adquirido, o colapso narinario resulta do adelgaçamento da parede da aza do nariz por lesão do seu aparelho de sustentação.

Frequentemente constitui verdadeira desplasia, proporcionando ao seu portador um detalhe fizionomico pouco estetico, nos movimentos de vai e vem com que a aza do nariz acompanha os tempos respiratorios. Posto á margem o detalhe puramente estetico acima referido, o fato desta desplastia diminuir a capacidade respiratoria, é por si só indicação suficiente, para uma correção, tendo em vista as complicações que podem decorrer daquela disfunção.

Não será descabido relembrar que muitos daqueles casos em que os doentes se queixam de dificuldade em realisar de maneira satisfatoria o ato respiratorio e que são imputados a desvio de septo, hipertrofia dos cartuchos, etc. podem depender exclusivamente da lesão de que me ocupo.

Certo, mal não haverá em chamar a atenção para a necessidade de observar o modo como se comportam as azas das narinas dos individuos queixosos de deficiencia respiratoria cronica de origem nasal, na possibilidade de nele encontrar o motivo da desfunção em causa.

Ora singular, ora duplo o colapso narinario pode ser corigido por dois tipos de intervenção: num, lança-se mão de inclusão, resistente,que irá agir á maneira de suporte, impedindo a queda da
aza do nariz, no momento da inspiração; no outro, uma dupla incisão elitica convergente nas extremidades, traçada na face interna da aza do nariz que se pretende corrigir e de limite anterior afastado cerca de um centimetro do seu bordo livre, irá permitir, após a exerese dos tecidos, dentro delas incluídos, a inversão da concavidade externa da aza que se deixa aspirar. Varios outros metodos têm sido ensaiados para corrigir o colapso narinario, como o uso de pequenos aparelhos imaginados para manter a aza do nariz afastada do septo e portanto entreaberta a narina, ginastica, etc., sem que nenhum deles ofereça a segurança do cirurgico.

Estas considerações vêm aqui, a proposito de um caso de prolapso narinario, que ha pouco tive a oportunidade de reparar em clinica hospitalar e que obedecendo á lei de seriação, foi logo após sucedido por um outro em clinica civil.

Observações resumidas

1.º

P. M. S. branco, solteiro, pernambucano.

Antecedentes familiares e, pessoais, sem importancia, afóra queixas de perturbações mais ou menos frequentes para o lado do nariz e faringe.

Em janeiro de 1933, procurou a Policlínica do Hospital Centenario, onde o Dr. Sergio Morel, assistente do serviço de otorinolaringologia do Dr. J. de Andrade Medicis, diagnostica amidalite e desvio do septo, sendo realisada então a intervenção necessaria para a cura do desvio.

O estado inflamatorio das amigdalas, melhorou com medicação topica.

Como meses após, as queixas do doente continuassem, o Dr. Sergio Morel nota em novo exame, que a aza da narina esquerda, acompanhava a excursão respiratoria, caindo sobre
o septo, no momento da inspiração, fechando a narina correspondente, á maneira de um operculo.

Aconselhou então seu doente a procurar-me para a realisação da plastica necessaria.

Realisei-a em 10 de Fevereiro do ano corrente, com o auxilio do academico Dioscodio Oliveira.

Como anestesico, 1 cc. de soluto de scurocaina a 0,50% , injetado sob a mucosa da parede nasal a ser corrigida.

As figuras I e II mostram o aspeto das narinas do doente; antes e após a intervenção. O grafito, esquematisa o local da incisão.



J. D. P. R., pernambucano, casado, residente em cidade do interior. Em um de seus passeios a Europa, foi operado em Hamburgo, pelo Prof. Heger, de desvio do septo e polipos nasais (20-VI-29). Continuando porem a queixar-se de dificuldade respiratoria, foi-lhe extirpado o cartucho medio esquerdo, pelo Dr. J. de Andrade Medicis, o que ainda não solucionou a questão.

Verifica então este colega que uma das azas do nariz apresentava mobilidade exagerada, obliterando parcialmente a narina daquele lado e explica ao doente a necessidade de reparar essa anomalia fazendo-o procurar-me para a plastica necessaria, que é realizada em 15 de Março ultimo, com o auxilio da Dr. Bruno Maia e sob anestesia local com Sinalgan.

Este operado, irmão de um colega, clinico aqui em Recife, encontra-se perfeitamente satisfeito com a intervenção realizada, por se ter livrado da sensação desagradavel que lhe provinha da dificuldade respiratoria que constantemente o afligia.

RESUME'

DR. JOÃO ALFREDO - Correction chirurgicale du collapsus narinaire.

L'Auteur démontre l'importance de la chirurgie esthétique et reparatrice qui doit être considerée aujourd'hui comme une specialité tout à fait autonome.

Elle est une art plus que n'importe quelle autre et nécessitte beaucoup de patience et infiniment de dexterité.

L'affaisseinent des ailes du nez, soit congénital, soit acquis, peut être d'un effet fâcheux sur la santé générale et même au point de vue plastique.

Pour rendre â l'aile du nez sa tension normale, deux procédés peuvent être employés. Dans l'un il suffira de faire une petite résection sur la face interne de l'aile, en suturant convenablement les bords de cette résection. Dans l'autre, c'est par l'application d'un soutien qu'on remédiera â la deformation.

L'Auteur décrit deux cas qui ressortissent a la première méthode.



Fig. 1



Fig. 2



Fig. 3



Fig. 4





(1) Comunicação lida na Sociedade de Medicina de Pernambuco, em 2-4-934.
(2) Comentarios a proposito de alguns casos de cirurgia estetica e reparadora - Brasil Medico - n.º 3 - pag. 42 - 20-1-934.
(3) Livre Docente de Tecnica Operatoria e Cirurgia Experimental.
Catedratico de Anatomia e Fiziologia Artisticas, na Escola de Belas Artes.
Membro da "Société Scientifique Française de Chirurgie Plastique, Esthetique et Réparatrice"
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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