Poderá parecer estranho que a 2.a "Semana oto-Rino-laringologica" de S. Paulo inicie as suas Sessões no Instituto de Anatomia e que este tenha orgulho de compartilhar, com todos os seus colaboradores, o sucesso certo do trabalho coletivo dos. muitos e valorosos especialistas aqui, agora, bemvindos ! Já ha 10 anos, palmilhou a boa estrada, tomando parte na "1 a Semana` com pesquisas pessoais de Morfologia, um dos meus colegas de labuta diaria, então esplendida promessa, agora realidade viva, e que teremos o prazer de ouvir depois desta modesta palestra.
Nesta ou em outras Sessões, eu e todos os meus Colegas de Laboratorio entendemos exprimir a nossa consonancia fervorosa á atual Reunião dos especialistas de Oto-Rino-laringologia, brasileiros e de outras nacionalidades sul-americanas, não sómente por cordial simpatia e relações pessoais de amizade para com os entusiastas promotores da presente Reunião, mas tambem recordando os intimos liames, que sempre existiram e existem entre a Anatomia, compreendida no sentido mais dato, e a especialidade oto-Rino-laringologica.
Com efeito, foram os grandes Mestres da Anatomia pura, que ligaram o seu nome ao estudo e a descobertas novas no ámbito daquelas partes da "divina fabrica humana", sobre as quais, sucessivamente e como consequencia, os cultores especialisados encontraram os solidos fundamentos para as suas aplicações praticas: e lembramos FALLOPI e EUSTACHI, LANCISI e VALSALVA, COTUGNO e MORGAGNI, SCARPA e Alfonso CORTI, até E. ZUCKERKANDL, HASSE, RETZIUS, ONODI, PETER, SCHAEFFER, KOLMER, HAYECK, de BURLET e muitos outros. Ou então e ainda, são os grandes Mestres da especialidade, os pioneiros como POLITZER d GRADENIGO, KILLIAN e SIEBEMANN e os seus inumeros sucessores de todas as nacionalidades, que fizeram derivar, diréta e insistentemente, das pesquisas pessoais de Anatomia macro e microscopica, normal e patologica do orgão do ouvido, das fossas nasais, da laringe, etc., as razões primeiras do formidavel impulso por eles imprimido á vossa especialidade.
;Mas, havia e ha ainda uma outra razão contingente determinante, que aliás não escapa dos confins acima. evocados, de parentesco entre as disciplinas cultivadas no Instituto por mim dirigido e a Oto-rino-laringologia. Ilustrados Colegas, teria sido uma grande honra para nós o achar-se aqui, como hospede almejado, o ilustre Anatomico de Buenos Aires, o Prof. PEDRO BELOU, tão insigne Mestre e Chefe da escola de Anatomia, particularmente de Anatomia do orgão de Ouvido, quão valoroso cultor da vossa especialidade. Não deveis, pois, estranhar, presados Colegas, que o pequeno grupo de estudiosos de Anatomia da Faculdade de Medicina de S. Paulo, mais que feliz, se sentisse orgulhoso de poder, com a sua colaboração atual, ainda que modesta, á "Semana oto-rino-laringologica", trazer um tributo de homenagem, alta e respeitosa - o un,ico que possa dar - ao eminente Mestre argentino, reafirmando assim, não sómente com palavras, mas demonstrando com factos, a indissoluvel união entre a nossa e as vossas materias !
Relativamente ao assunto que pretendo desenvolver, muito sucintamente, aos Colegas nesta Sessão, devo notar que o que venho expór deriva de uma. longa série de observações sobre a lingua humana e de outros Mamiferos; em realidade, eu me ocupei e preocupei deste estudo desde o primeiro momento, póde-se dizer, em que tive a honra de ser convidado para a Faculdade de S. Paulo; e isto, como para outro assunto, a "cartilagem da plica semilunar palpebral", em obediencia a um motivo sentimental, representando pelo facto de ter sido um meu Mestre, CARLO GIACOMINI, o primeiro a chamar a atenção sobre a existencia da cartilagem da 3º palpebra nas raças de côr, bem como sobre as possiveis diferenças etnicas no comportamento das papilas linguais, especialmente as "pp. vallatae".
Èxaminei até agora, e conservo como preciosa Coleção, cerca de 800 linguas humanas e varias centenas de linguas de outros Mamiiferos; tarribem procurei, naturalmente, conhecer nas exposições originais tudo quanto foi publicado sobre a mucosa lingual, considerada na sua morfologia macro e microscopica, nos ultimos 70 anos.
Resultados parciais das minhas pesquizas, em forma diversa, já tive ocasião de expôr oralmente em "Palestras" ou em "Conferencias", no Instituto Biologico (1931-32), na "Universidade de S. Paulo" e na "Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de janeiro" (1934) ; uma pequena parte dos resultados, relativos ao "sulcus longitudinalis dorsalis" e á "eminencia intermolaris" dos AA., na lingua humana, por nós denominada "torus lingualis longitudinalis", foi já publicada, em nota sucinta, em colaboração com IOCCHI (1932).
No decorrer das minhas pesquizas, em acrescimo á já riquíssima literatura sobre as diferentes particularidades - entre todas eram fundamentais as memorias de MUNCH (1896), de BECKER (1908), de KUNTZE (1915) e de STAHR (1901, 1903, 1906, 1910) - foi publicada por anatomicos toda uma série de trabalhos, trabalhos de conjunto ou limitados a determinados pontos. Neste momento apraz-me citar apenas a série dos de SONNTAG (1920-25) sobre a lingua dos Mamiferos, Homem inclusive, encarando particularmente do ponto de vista comparativo as varias partes da mucosa; a poderosa monografia de JURISCH (1922) sobre as ",papillae vallatae" do Homem; a de NEUFFER (1925) sobre as "pp. filiformes" e, finalmente, a de HOU-JENSEN (1933) sobre as pp. foliatae". Os três ultimos trabalhos, com o de KUNTZE (1915) sobre as chamadas "pp. de transição", representam a mais completa e exáta "mise-au-point" sobre as diferentes formas de pp. linguaes, que possuimos atualmente. E, porisso que nem nesta ocasião se pôde fazer abstração do ambiente pessoal, desejo lembrar tambem uma Tese feita sob a minha direção, de J. Th de AQU1N0 (1928) sobre as "pp. vallatae" dos Xenartra sul-americanos, abem como as duas breves comunicações de O. MACHADO DE SOUSA e O. MARCONDES CALASANS, meus colaboradores atuais, a esta mesma "Semana".
Nos estreitos limites de tempo concedidos, muito mais pela vossa generosa paciencia, que pelas necessidades regulamentares, não posso, naturalmente, estender-me na exposição de mínimos detalhes, ou de descrições parceladas, e muito menos de dados estatisticos concernentes ás diversas particularidades examinadas.
Estudei a lingua humana exclusivamente em cadaveres, i. é, no material destinado á Sala de disseções; é suficiente esta afirmação para que, implicitamente, resulte que tal material compreende indivíduos dos dois sexos, de todas as idades, si bem que na maioria de adultos, e, - especialmente, dadas as caraterísticas do País e as vicissitudes imigratorias, mesmo nos dois ultimos decênios, - material da mais variada procedencia etnica.
Limitando-me a considerar a "côr da pele", direi que examinei leucodermos, melanodermos, xantodermos, faiodermos, isto é, toda a gama cromatica, póde-se dizer, correspondente á conservação ou á afluencia nova de tipos etnicos, relativamente puros, como tambem aos inumeros cruzamentos, já antigos ou recentes, de tais típos. Como facto notavel, desejo lembrar que tambem me foi possível examinar as línguas de uma série de 25 pares de gemeos mono- ou biovulares, tambem estes de paternidade etnicamente heterogenea.
Sempre que possível, as línguas eram examinadas a fresco e depois fixadas a formol; outras eram retiradas de cadaveres previamente tratados com injeções vasculares de uma solução de formol para conservação, a distancias de tempo diferentes da data da morte.
Devemos notar particularmente estes factos, porque as modalidades, com as quais se apresentam as variadissimas saliencias papilares da mucosa lingual, estão naturalmente em estrita relação com o estado de conservação da mesma mucosa. E mais, ao estado de "cadaver" liga-se implicitamente a "causa de morte" do indivíduo, a molestia aguda ou cronica, ou o.acidente determinante da mesma, fatores estes que, ao menos até certo ponto, seguramente influem sobre a variabilidade dos aspectos oferecidos pela mucosa da lingua cadaverica, a fresco ou depois de fixação. A propria "forma geral da língua" difere, se o orgão é retirado antes a fresco e sucessivamente fixado, ou se é retirado do cadaver, préviamente e com sucesso, injetado com solução conservadora. E creio seja mesmo superfluo lembrar aqui que, para o vivo, ao lado -de uma variabilidade acentuadissima dependente do estado funcional, se tenha uma verdadeira semeiologia da língua e da sua mucosa; isto é, um complexo de disposições ligadas ao estado de saúde geral do indivíduo ou a molestias especialmente vicerais, bem como, por outro lado, disposições particulares da lingua relacionadas á . sintomatologia de molestias nervosas, tanto do sistema nervoso central, como de determinados nervos perifericos. A este respeito não é fóra de proposito lembrar que nenhum outro orgão, além da língua, possue uma inervação proveniente de, pelo menos cinco pares de nervos encefalivos, ao lado da inervação vegetativa propriamente dita.
Outras modalidades que nos oferece a mucosa lingual, seja nas condições que diremos "dinamicas" do orgão em vida, como nas condições lestaticas" do cadaver, são, sem duvida alguma., ligadas ao "tipo constitucional" do indivíduo, á idade do mesmo, particularmente á mais avançada como á infantil, independentement edas respectivas dimensões.
Maiores reservas, ao menos por óra, eu me devo impor no que se refere ás influencias etnicas eventuais sobre a morfologia de cada particular disposição lingual, não tendo até agora podido reunir definitivamente meus dados, para uma afirmação perentoria, positiva ou negativa, a respeito de cada uma delas.
Não é, naturalmente, oportuno que eu me abalance, nesta ocasião, a um exame analítico das polimorfas disposições que gradativamente determinaram a minha concepção da "variabilidade", que direi infinita, das principais particularidades papilares da língua humana, concepção que procurei, já em outra ocasião, sintetisar na frase "cada um de nós tem a propria língua"
Desde os primeiros inícios das minhas pesquizas, voltadas principalmente para as "pp. vallatae" e á região ocupada por elas, pesquizas depois- estendidas forçosamente ás outras regiões da mucosa dorsal, marginal e ventral da língua, tal concepção a principio se esboçára, depois amadureceu, progressivamente, com o aumento numérico das observações, com o estender-se do campo das mesmas, como pelo conhecimento crescente da literatura. E quando se empreendeu, com LOCCHI, um exame descritivo sistematico, por escrito, de cada um dos casos colecionados, as constantes diferenças de caso a caso, as asimetrias tambem extremamente frequentes já entre os dois lados do arco papilar valado, deram á minha concepção da "individualidade" da mucosa lingual uma forma definitiva nitida, como resultado objetivo das longas investigações.
Nem todas as porções ou regiões da mucosa lingual apresentam um igual gráo de polimorfismo e nem sempre este polimorfismo tem as mesmas causas geneticas ou o mesmo significado e valor. Todavia, em cada caso e em cada região, mesmo onde a variabilidade individual é praticamente ilimitada, conserva-se sempre um complexo de caráteres, gerais e especificos, peculiares para a nossa especie, da mesma forma que a mucosa lingual dos outros Mamiferos apresenta as suas carateristicas proprias, ás vezes tão diferenciadas, de maneira a poderem constituir um auxilio taxonomico (SONNTAG) bastante preciso, para a determinação de Ordens, de Generos e mesmo, ás vezes, de Especies.
Assim, no que respeita a mucosa da "pars pharingea linguae", a variabilidade, na sua morfologia e na sua arquitetura, dos "dorsos", das saliencias e dos sulcos interpostos correspondentes, atrás do "sulcos terminalis", é acentuadissima ; é bem verdade, porém, que depende de causa essencialmente diferente da variabilidade de outras partes do revestimento mucoso da lingua, sendo ligada mais ao "típo constitucional" do individuo e precisamente ás condições individuais do aparelho ou sistema linfatico. Ora, nós conhecemos muito bem a instabilidade individual, no estado de saúde, ou como reação mórbida ou como estado de evolução ou involução dependente da idade, da chamada "tonsilla lingualis", para que seja necessario dispender excessivas palavras a respeito (v. JURISCH, 1912; SCHUMACHER, 1925; SONNTAG, 1920-25; HELLMANN, 1926; etc.) das infinitas diferenças desta região, observadas no nosso material.
BOVERO - "INDIVIDUALIDADES DA MUCOSA, ETC
E' precisamente a mucosa da "pars buccalis" do dorsum linguae" que, seguramente, justifica o nosso conceito supramencionado, a começar dos limites com a "pars pharingea", isto é, do "sulcus terminalis" e do "foramen coecum" (MORGAGNI), continuando para o apice e para as margens da parte livre da língua. Compreende tal porção toda a zona particularmente e especificamente papilar, apor isso que a peculiar sensibilidade tátil e a sensibilidade específica gustativa se acham localizadas preferentemente nos orgãos especiais aí assestados.
O "sulcus terminalís" e o "foramen coecum" são, devido a sua variadissima morfologia, de grande importancia, como já bem notava JURISCH, para o aspecto do "dorsum linguae", visto representarem a linha de soldadura dos esboços primitivos do corpo lingual. E' relativamente rara a falta completa e absoluta deles, mesmo no adulto, si bem que no féto, no recém-nascido, nos individuos jovens em geral, as duas formações, associadas ou separadas, sejam mais frequentes e, certamente, mais marcadas. E é mesmo de notar-se como sejam, o "foramen coecum" e o "sulcus terminalis", formações, póde-se dizer, quasi exclusivamente humanas (SONNTAG).
Quando falta completamente um sulco reconhecivel como uma simples porção do "sulcus terminalis" e, contemporaneamente, deixa de haver o ponto de convergencia dos dois ramos do V, ou seja, falta um esboço de enfossamento correspondente ao "foramen coecum" de MORGAGNI, a separação entre corpo e a raís lingual é indicada simplesmente pelas modificações, mais ou menos nitidas, dos relevos da mucosa.
Ás vezes o sulco terminal está presente apenas nos lados, sendo assim representado por dois tractos, mais ou menos simétricos ou asimetricos, mais ou menos extensos, que convergem, sem se reunirem, para a linha mediana; e nestes casos falta qualquer traço de foramen coecum" ; ou então, se este existe, mais ou menos profundo, manifesta-se independente de ambos ou de um dos ramos ou braços do sulco. A extensão lateral dos braços do V, sendo elas dirigidos para triz do orgão folhado, é tambem muito diversa, como variada é a intromissão, entre orgão folhado e extremidade lateral do sulco, de formações papilares dispostas em cristas, do dorso para a raís, insinuando-se, ás vezes, tambem entre as saliencias foliculares anteriores desta ultima.
Quando o sulco resulta de dois braços confluentes, eles, mais ou menos extensos e mais ou menos paralelos ao "arco papilar valado", podem encontrar-se na linha mediana em angulo de amplitude diversa, aberto para diante; ou então, encontram-se em largo arco, regular, como a impressão de uma unha, contava rostralmente. Na maioria dos casos, as duas partes antimeras do ,sulcus" são mais profundas mediadmente que lateralmente, si bem que se verifiquem casos, nos quais a profundidade é mais ou menos igual em toda a sua extensão. E entre a não demonstrabilidade de qualquer traço de sulco terminal e as formas tipicamente e simetricamente constituidas, existem todas as formas de passagem.
O mesmo pode-se afirmar para o "foramen coecum", isto é, passa-se da sua absoluta ausencia apara ligeiras depressões medianas, cuja profundidade não é superior a das porções limitrofes do sulco terminal; e, por fim, pôde haver um verdadeiro canal, sondavel por um ou vazios mm.
Nos casos de existencia de um nitido "foramen coecum". que, em geral, é mediano ou então ligeiramente deslocado lateralmente, tambem muitissimo variavel é a morfologia da sua abertura superficial; esta pôde, com efeito, ser em orla circular lisa ou enrugada, crateriforme ou em fissura, sendo extremamente variavel a sua relação com a "p. vallata mediana posterior", a qual está a distancia diversa do contorno anterior do "foramen". Ou então, a mesma papila se mostra como que implantada na vertente anterior do orificio cégo, ou mesmo situada no fundo dele. h é o caso de lembrar, como uma eventualidade realmente excepcional, a possïbidade da ocorrencia de uma "papila vallata posterior retrocoecalis", como foi mencionada por ZUCKERMANN (1912) num Melanesio (XVII), e minuciosamente estudada, com cortes seriados, por VASTARINI-CRESI (1916) e como eu mesmo observei de maneira indubitavel, pelo menos 3 vezes, em linguas de adultos.
A variabilidade de conjunto do sulco terminal, do ",foramen coecum", a dificuldade de interpretação de formas apenas esboçadas, para as quais geralmente entra muito em jogo um criterio subjetivo, explicam as diferenças enormes encontradas na literatura, quando se trata de definir a sua frequencia e especialmente quando se procura julgar as diferenças numéricas para fins de Anatomia etnica; isto nos deve tornar muito cautelosos na comparação e no julgamento dos resultados discordantes existentes na literatura.
As "papillae vallatae" ou melhor, os "orgãos vallados", como muito oportunamente devem ser denominadas, depois do monumental trabalho de JURISCH (1922), sempre representaram a mais "vexata quaestio" da morfologia papilar da lingua dos Mamiferos ; e talvez subsistam ainda muitissimos pontos merecedores de esclarecimentos.
Da sua falta completa em determinadas Ordens de Mamiferos (Cetacea. - "Hyrax" entre os Perissodactyla; SONNTAG) á sua manifestação sob forma de simples "fissuras lineares", uma ou mais de cada lado da região posterior, do dorso da lingua, mais ou menos convergentes para a linha mediana (certos Rodentia) ; da situação escondida no fundo de verdadeiras escavações da mucosa, que se abrem na superficie lingual com uma especie de porus (certos Marsupialia e Xenarthra; TUCKERMANN, POULTON, OPPEL, SONNTAG, AQUINO, etc.), á redução numerica a duas, uma de cada lado da linha mediana "Octodontidae" entre os Rodentia - Dycotiles entre Artiodactyla SONNTAG) ou mesmo a uma unica mediana (Murinae) ou então a tres, dispostas como os angulos de um triangulo de apice aboral (MUNCH julgava esta ultima como a forma fundamental inicial) ; do seu aumento numerico notavel pela disposição mais ou menos regular em duas fileiras convergentes ;para traz (certos Artiodactyla, SONNTAG), passa-se ás disposições que deveriam ser certamente mais de perto conhecidas porque mais de frequente estudadas, precisamente na nossa especie.
No entanto, são justamente os "orgãos vallados" da mucosa lingual humana que, a meu modo de vêr, devido á, sua variabilidade ilimitada, ainda que circunscritos á uma estreita área do dorso lingual e talvez tambem porque tal polimorfismo se manifesta numa série de "orgãos" numerica e topograficamente menor do que para outras formações papilares da lingua humana, são eles, digo, que constituem o motivo primeira da minha concepção pessoal da "individualidade" peculiar da lingua na nossa especie.
O orgão valado compreende a "papila" propriamente dita; o "valo" que a circunda em orla e que delimita, com ela, um "sulco circumpapilar"; isto macroscopicamente, porque microscopicamente dever-se-iam acrescentar as "gdandulas serosas de TIGRIEBNER", a contribuição de ."Endknospen" e de "Endhügel" gustativos (BOEKE), como outras formações relativamente secundarias: o conjunto dos "orgãos valados" forma o "arcus papilaris". A' simples enumeração corresponde, todavia, uma bem maior complicação de variações para cada uma das partes de cada orgão valado, como para o conjunto dos mesmos.
E comecemos pelo "arcus papillaris". Algumas resalvas são necessarias já para a propria nomenclatura: o conjunto dos orgãos valados jamais é, ou sómente como exceção, em forma de "arco"; os orgãos valados se dispõem em duas filas antimeras, convergentes medialmente e aboralmente, de modo a delimitar um V, no qual pôde haver ou não um "orgão" ou ":papila" mediana posterior. Em lugar de uma sã papila mediana, correspondente ao vértice do V, podem ocorrer duas, ou tres, dispostas sagitalmente, e em raros casos um numero maior de "papilas" ou "orgãos valados" medianos. Em tais casos, em vez de um V, ter-se-á a forma em Y; V ou Y podem apresentar um angulo de abertura relativamente fechado ou muito amplo, sendo, pois, facil compreender como se possa passar do Y a uma forma analoga a um T, ou então, em rarissimos casos, faltando a papila mediana posterior tipicamente colocada, á forma de uma linha mais ou menos réta ou apenas ligeiramente concava para diante.
Ainda: em casos excecionais, os orgãos valados da meia fileira de um ou dos dois lados, podem ser acompanhados, especialmente do dada rostral, por dois ou mais orgãos papilares que, á primeira vista, macroscopicamente, podem parecer "orgãos valados" e como tais, ainda que como rara eventualidade, se demonstram ao exame microscopico. Vala-se então de "duplicidade", naturalmente parcial, do arco papilar.
Notamos ainda como, em cada hemifileira, a regularidade de justaposição dos orgãos seja extremamente variada: uma formação valada, verdadeira ou aparente, pôde "sair" da fila, colocandose um pouco mais adiante ou atraz dela.
Os intervalos entre os diferentes orgãos valados de cada fileira estão sujeitos a fortes oscilações, visto que os orgãos valados da mesma fileira distam entre si sem regra que possa ser fixada, nem por posição, nem por extensão e nem mesmo por intromissão de outras formas papilares. Com efeito, de intervalos pôde-se dizer, nulos, por justaposição imediata ou mesmo fusão de valos de orgãos limitrofes, passa-se a intervalos amplos e lisos, ou mesmo mais largos e apresentando saliencias papilares de natureza diversa (pp. de transição, pp. fungiformes, pp. filiformes). jamais ou quasi nunca notamos a disposição geral dos orgãos valados de um lado repetida com absoluta simteria no lado oposto.
Todo o conjunto do "arco papilar" póde ser pouco saliente sobre a mucosa lingual visinha e apenas ser distinguível por causa da diferenciação de superfície. Ou então, pôde ele, gradualmente, mostrar-se, mais ou menos simetricamente, elevado, como saliencia em orla convexa, justificando, em tais casos, a denominação de "torus lingualis transversus" dada pelos AA. a esta forma de arco papilar. E' bem de notar que um "torus transversus" foi por mim encontrado exclusivamente no adulto e que se deve ter muita cautela para não ser interpretado como um °`toros transversos" o aspecto assumido pela região em línguas, nas quais a má conservação haja determinado uma perda mais ou menos completa da camada epitelial.
Dificilmente poder-se-á acrescentar muito ao que JURISCH (1922), com material extremamente abundante (2264 línguas, do nascimento aos 89 anos), magistralmente ilustrou sobre as diferentes partes do orgão valado.
O " valo" pôde ser continuo e bem circunscrito, mesmo em relação ás partes visinhas; ou então pôde continuar-se com essas partes, sem linha nítida de demarcação. Pôde tambem apresentar se constituído de uma ou mais porções, de extensão diversa, em forma de proeminencias separadas por sulcos superficiais ou profundos; os quais rodeiam completa ou parcialmente a papila. Emfim, podem faltar completamente as formações constituindo um valo, estando assim as pp. vallatae livres, entre as pp. filiformes. Estes os típos principais, com uma numerosa série, porém, de formas de transição de um para o outro.
Para a "papilla vallata" propriamente dita, deve-se considerar o volume maior ou menor, conforme a posição, notando-se mais frequentemente que se mostram maiores as formações pipilares mais laterais de cada braço do arco, sempre porém, ou quasi sempre, asimetricamente, para o que se refere ao tamanho e á forma
Mutavel tambem é o modo de implantação, vertical ou obliquo, na fossa valar. O :aspecto da superfície da papila vai de encontro, por sua vez, a uma inumera série de variações, apresentando-se ela. ora quasi perfeitamente lisa, ou granulosa, ou sulcada por finos sulcos; os sulcos podem ser mais profundos, até a produção de uma verdadeira lobulação ou mesmo dar lugar a uma "duplicidade" ou subdivisão maior da formação pipilar endovalar
Raro é o caso que, numa língua, não ocorram um ou mais orgãos valados com "lobulação", ou "duplicidade" ou "triplicidade" da formação papilar endovalar.
A questão das pp. vv. "duplas" ou "multiplas" torna naturalmente complicada a "numeração" das papilas de cada língua, na qual, como acontece de frequente, para não dizer constantemente, os "orgãos valados" não seja mda forma escolarmente típica; quer dizer, não se apresentem "como uma unica e grossa formação, papilar claviforme ou em cogumelo, circundada por uma orla de crista romba, o valo". Muitas divergencias entre os resultados das observações dos AA., quanto ao "numero" das pp. vv., a propria incerteza sobre as oscilações numericas das mesmas, dependem seguramente da maneira de computar as chamadas pp. duplas, em confronto com as simples.
As pp. vv. multiplas assumem, por sua vez, formas muito diversas: duas pp. mais ou menos iguais, ou maior uma, e menor outra, compreendidas no mesmo valo; duas formações justapostas como grãos de café, mais frequentemente no sentido transversal, mais raro em direção anteroposterior; dois lobos ou papilas de um orgão unico, que afloram igualmente á superfície, ou salientandose mais uma que a outra.
Uma advertencia é necessaria, para uma interpretação menos incerta das formas duplas ou multiplas, visto como um lobo do "valo" pôde salientar como uma gibosidade dentro da fossa vaiar
e dar a impressão (falaz de que se trata de uma verdadeira Papila. Ou ainda, póde acontecer que o valo se apresente fragmentado por sulcos radiais, dando assim a impressão, mesmo se as porções, interpostas não fazem saliencia do lado da papila endovalar, de que se trata de uma das formas de multiplicidade papilar, ao passo que o que se deu foi uma segmentação do valo. A mesma eventualidade pôde apresentar-se quando os sulcos da orla vaiar correm mais ou menos paralelos á direção geral da propria orla.
Segundo a minha experiencia, tais formas de multiplicidade papilar, verdadeira ou aparente, ocorrem mais frequentemente nos orgãos valados laterais, os quais se manifestam ás vezes como verdadeiras placas salientes, muito evidentes precisamente pelas_ diposições lembradas.
Tambem o "sulco circumpapilar" pôde ter frequentes variações, sendo mais ou menos uniformemente profundo, no seu percurso; pôde ter, aqui e ali, uma direção diferente, devido ás modalidades de implantação da ou das pp., isto é, conforme seja a morfologia geral, variadissima, destas. O sulco pôde, como é de regra, ser continuo ou completo, circular ou em crescente; ou pôde ser discontinuo, pela simfise mais ou menos extensa papilovalar, apresentando-se então mais ou menos regularmente, nessas "formas atípicas", em ferradura ou diversamente. Emfim, o sulco pôde coexistir com a papila mesmo quando falta um verdadeiro valo.
As "formas atípicas" dos orgãos valados nos levam a tratar das chamadas "formas de transição" entre as pp. fungiformes e as valadas, especialmente bem estudadas por KUNTZE (1915) nos Primatas, por JURISCH (1922) no Homem. Estas formas de transição, cuja morfologia exáta só pelo exame microscopico pôde ser bem determinada, representam um achado frequentissimo, particularmente em imediata proximidade e rostralmente aos dois braços do arco papilar, na parte central da abertura angular circunscrita pelos mesmos braços. Não são infrequentes na linha mediana, logo adiante da papila mediana posterior, onde muitas vezes dão precisamente a impressão de determinarem a constituição de um braço sagital do "arco papilar" e por isso a forma de um Y. E podem aparecer tambem, se bem que mais raramente, entre e na mesma linha dos orgãos valados dos braços laterais ou, em casos excecionalissimos, atraz dos braços.
E superfluo acrescentar que tais pp. de transição se distinguem pelo seu volume, intermedio entre o das pp. valadas e o das fungiformes, pelo seu, diremos, "erraticismo" no ámbito da região citada; pela. existencia e posição dos botões gustativos, pela % são ou coalescencia do tronco dermoepitelial com o valo mais ou menos bem diferenciado.
Na morfologia polimorfa dos orgãos valados, típicos e atípicos, joga certamente um papel importante a idade do indivíduo; quer dizer, a diferenciação progressiva das partes diversas, que as constituem na juventude; a estabilidade provavelmente não absoluta na maturidade; a involução, em determinados casos evidentissima, na velhice, como resulta das observações de JURISCH.
Mas sobre esta mutabilidade macroscopica dos orgãos valados da língua humana durante o curso da vida do indivíduo, â qual corresponde por exemplo uma mudança topografica e numerica dos botões gustativos (AREY, TREMAINE e MONZINGO, 1935), e até que ponto possa ela modificar o tipo individual, quasi nada ou nada sabemos. Certo é que tal' demonstração poderá ser dada de maneira segura, sómente acompanhando-a "no vivo", por série de anos !
A' lei de extrema variabilidade "individual", que creio comum a todas as "saliencias" da mucosa lingual, lei que me orgulho de haver muito claramente contribuído a fixar, não fóge certamente o orgão marginal de MAYER ou "orgão folhado" da língua humana. Como os orgãos valados, e á parte a sua morfologia diferente dentro de amplos limites, especialmente pela idade, tem ele o valor de um orgão específico do sentido do gosto, permanente e constante, devendo ser colocado, para a função gustativa, junto aos orgãos valados e, hierarquicamente, antes das "pp. fungiformes".
Segundo os estudos recentes de HOU-JENSEN (1933) dignos continuadores dos de JURISCH sobre as pp. valadas, devem ser distinguidas no "orgão de MAYER" a "papila foliata" propriamente dita, que é o verdadeiro orgão gustativo, e as chamadas "rugae laterales linguae", que continuam, rostralmente, a parte "foliata" e constituem um orgão de função mecanica, correspondente ás "séries" ou "cristas papilares" das chamadas "pp. filiformes" do dorso da língua, com as quais elas frequentemente se continuam.
Deixo de lado, como é natural, mesmo simples esboço da arquitetura das duas porções do orgão folhado, mal diferenciaveis macroscopicamente. Mas as "pp. foliatae" propriamente ditas, mesmo se nem sempre têm claramente a "forma: papílar", como a sequencia das "rugae laterales l nguae", oferecem-nos uma série toda de variações, não só de indivíduo a indivíduo, mas quasi sempre de um lado a outro.
As "laminas" da pp. folhada, seja esta do "tipo difuso" ou do "reunido" de HOU-JENSEN, excecionalmente são simetricas ou perfeitamente uniformes nos diversos indivíduos, por numero, profundidade dos sulcos separativos, pela extensão em direção latero-medial, pela obliquidade em relação á margem dingual, pela saliencia evidente na superfície.
Certo a variabilidade das duas partes do "orgão de MAYER" é menor que a da série das formações que constituem o "arco papilar valado"; todavia, a mesma variabilidade é inegavel e deve ser adicionada áquela dos "orgãos valados" e de outras formações papilares, ainda que essa variabilidade possa e deva apresenta se com "graus" diferentes nas diversas porções da mucosa.
Acrescentaremos, sobre os orgãos folhados, qualquer que sejam as divergencias em torno do mecanismo ou da interpretação dos achados, (AITAI, GMELIN, STAHR, HOUJENSEN), que é justamente justamente neles que melhor se conheceram as modificações ocorrentes nas varias idades, sem que, todavia, tais modificações possam infirmar a constatação objetiva da sua grande variabilidade na nossa especie.
Conhecidissimo de todos é certamente o polimorfismo halbitual das chamadas "papillae fungiformes" tanto na idade jovem como no adulto e no velho. A consideração da idade é aqui particularmente interessante porquanto as pp. fungiformes funcionam, na criança, como os orgãos recetores específicos gustativos principais ("pp. gustatoriae longae neonatorum" ou melhor "infantum" de STAHR) ; enquanto que a mesma função é cedida mais tarde ás "pp. gustativas deJfinitivas e permanentes", representadas pelos "orgãos valados" e pelos "orgãos folhados" antes examinados; como orgãos gustativos, as pp. fugiformes seriam, pois, essencialmente transitorias.
Correlato com a evolução funcional das mesmas é talvez o aspecto muito diverso que elas assumem, segundo a região ou os indivíduos, podendo-se afirmar que entre as chamadas "pp. fungiformes" estão incluídas, não só formações que bem justificaram tal denominação pelo aspecto de um "cogumelo", mas tambem outras claviformes, até formações conicas ("pp. elavatae", "pp. lenticulares", "pp. conicae"), explicando-se de tal forma tambem a nomenclatura diferente usada pelos diversos AA.
A denominação de "pp. conicae", para algumas formas, não é isenta de inconvenientes, pelo facto que a mesma é, por exemplo, usada por outros AA., para o conjunto das "pp. filiformes"; mas, ao mesmo tempo, pôde servir para lembrar a transição das fungiformes, em geral, para determinadas modalidades das chamadas " pp. filiformes". A função gustativa das fungiformes não é ligada de modo algum á presença, de glandulas serosas ou gustativas (ou de ATTO TIGRI-EBNER) :- e o apagamento dessa mesma função no adulto é acompanhado, além do desaparecimento dos orgãos recetores, de uma corneificação mais ou menos marcada do epitelio correspondente e da modificação "formal" da papila, particularmente sobre a sua superfície terminal.
Disto se deduz uma instabilidade individual segundo a idade no que respeita a "forma" destes orgãos, bem como talvez quanto ao seu numero.
Mas, dada a distribuição prevalecente dessas papilas, com as diferentes modalidades, ao nivel da parte apical da mucosa do dorso, ao longo das margens da mesma superfície dorsal, ao nível do angulo reentrante do arco papilar valado, si bem que irregularmente e esparsamente presentes nos tractos intermedios, tambem na linha mediana, compreende-se logo como seja excecionalissimo encontrar-se uma morfologia das pp. fungiformes exatamente identrca em casos diferentes, ainda que em indivíduos da mesma idade. E acrescente-se a sua evidenciabilidade diferente em uma série de linguas, tambem de vivos, não só pelos caráteres peculiares das pp. fungiformes de cada uma das regiões, mas sobretudo pela peculiaridade mutavel, por muitissimas causas, das formações papilares que circundam imediatamente as pp. fungiformes, isto é, as chamadas "filiformes".
No vivo a evidenciabilidade das "pp. fungiformes", pela sua saliencia sobre a superfície mucosa, pelo seu colorído mais ou menos roseo, pôde ser diversa no mesmo individuo mesmo em diferentes horas do dia: e é bem conhecida por todos os clínicos a influencia da dieta e do estado geral do individuo sobre a facilidade ou dificuldade de distinguir as pp. fungiformes no exame da língua. E já foi dito, tratando das formações vaiadas, das relações morfologicas com as "pp. fungiformes através das chamadas "papilas de transição"; acrescentarei apenas que, em casos especiais, encontram-se "verdadeiras" pp. fungiformes entre, ou, tambem, atráz dos orgãos vaiados; como tambem ocorrem salienças com todas as aparencias morfologicas e arquiteturais das. fungiformes, implantadas sobre laminas do "orgão folhado". E estas ultimas são disposições que, ainda que raras, contribuem para aumentar a já grandissima variabilidade da mucosa lingual tambem naquilo que depende das "pp. fungiformes".
Devemos ainda examinar rapidamente - das formações papilares do dorso lingual - aquelas, entre as quais estão imersas as papilas fungiformes, isto é, as complexas formações que recebem o nome comum de conjunto, nem sempre e nem em todos os lugares adequados de "pp filiformes". Propositadamente devo ser sucinto, tanto mais que não me seria possível acrescentar muito á ilustração bastante demonstrativa que foi dada por NEUFFFR (1925).
Trata-se de um conjunto de disposições, que determinam o conhecido aspecto aveludado, viloso, aspero do dorso lingual até o apice e mesmo um tanto caudalmente a este, e ás margens laterais do "corpus linguae".
Limitando-me ao essencial, recordarei que se trata em geral de "cristas papilares", maiores ou menores, trazendo sobre o seu cume, "papilas" mais ou menos altas e de aspecto diferente. As cristas papilares são, atrás, sensivelmente paralelas entre si e aos braços correspondentes do arco valado; por isso, são, no seu conjunto, obliquas de fóra para dentro, de diante para tráz. Os angulos, segundo os quais se encontrariam as séries de cristas, diminuem de amplitude, em direção rostral.
As cristas são mais grosseiras e tambem mais visiveis lateralmente. Para o lado da parte média do dorso, seja porque as cristas aí são mais apinhadas, seja porque as pp. secundarias, implantadas nelas, são mais altas, pôde estar mascarada a disposição esquematica de cristasinhas fundamentais, mais ou menos paralelas entre si, nó mesmo lado da linha mediana, como tambem a convergencia com as do lado oposto. Resulta, muitas vêses, ao nível da linha mediana, a uma certa distancia e adiante da zona angular valar, um apinhar-se particular, um "normalen Belag" (UNNA,, TOLDT), sob forma de um campo mais ou menos exatamente circunscrito, habitualmente oval, um tanto saliente.
Eu e LOCCHI (1932), que notamos ser, no material examinado, excecional a existencia de um " sulcus longitudinalis dorsalis linguae", sendo, ao contrario, muito mais frequente a sua completa ausencia (de resto, tambem SONNTAG considera o sulco lingual dorsal como uma ocorrencia relativamente rara, na maioria dos Mamíferos), pudemos, no entanto, observar, diseretamente frequente,; o "Belag" normal lie UNNA-TOLDT, sob forma de um campo bem nitidamente saliente, carregado na sua superfície livre de abundantes papilas, entre as quais tampem as fungiformes, e circunscrito de cada lado por um sulco evidente, como que produzido por uma bifurcação, em angulo muito agudo, de um sulco longitudinal, existisse este ou não adiante da saliencia em direção ao apice lingual. Foi para esta zona saliente que nos demos o nome de "torus longitudinalis linguae" e que julgamos perfeitamente homologa ao "relevo intermolar" caracteristico, constante e muito mais saliente e melhor circunscrito em uma série grande de outros Mamiferos.
As cristas papilares, como as proprias papilas, diminuem de tamanho, á medida que se dirigem para o apice ; as distancias entre as cristas são maiores, tornando-se a sua direção mais ou menos paralela á linha mediana, seja que nesta exista ou falte um sulco longitudinal.
Em alguns distritos, além das "cristas papilares", podem aparecer "papilas filiformes isoladas"; e isto particularmente atrás, logo anteriormente aos orgãos valados; mas, como tais, podem aparecer, como acontece tambem para as fungiformes, "entre" os orgãos valados; e, muito mais frequentemente do que se dá com as pp. fungiformes, podem ser encontradas "pp. filiformes" isoladas "atrás" do arco papilar valado, entre ele e o braço correspondente do "sulcus terminalis", ou entre ele e as primeiras formações foliculares da "radix linguae". Verdadeiras pp. filiformes existem, tambem no adulto, entre o limite posterior do orgão folhado, lateralmente ao orgão valado mais lateral, extendendo-se para trás, logo medialmente ao arco palatoglosso, em direção da tonsila lingual.
Para todo o conjunto papilar, que recebe a denominação generica de " pp. filiformes" (pp. conicae" de SONNTAG e de outros AA.), póde-se admitir, na nossa especie, essencialmente, uma função de sensibilidade geral, representando, na sua totalidade, as "pp. de função mecanica" de muitissmos outros Mamiferos. Mas, o que poderá parecer estranho, só com os estudos relativamente recentes de HEIDENHAIN (1911) e de seu discipulo NEUFFER (1925) foi aplicado, para a investigação da sua arquitetura, o systema dos cortes seriados "paralelos á superficie lingual"; só assim poude ser bem firmemente estabelecida a ordenação em "cristas papilares", diversamente dispostas conforme as regiões consideradas, e a implantação, na sua parte saliente, das "papilas filiformes". E tambem é curioso lembrar, que (bem poucas são, em Atlas e Tratados, as reproduções exatas, e convincentes do comportamento de tão ampla região papilar da lingua (SAPPEY, TANDLER, BRAUS).
Tal região se extende, na nossa especie, um tanto ao longo de uma zona marginal da face inferior, seja lateralmente, como para o apice, devendo-se, todavia., excluir os casos nos quais essa invasão se mostra pelo menos exagerada, por isso puramente aparente, em material fixado, o que significa, ás vêses, coarctado. A linha de separação marginal é habitualmente nitida, mas um exame minucioso da morfologia papilar ventral está ainda para ser feito !
Para a presente ocasião, encontro-me bem autorizado, tambem para a zona papilar ultima considerada da mucosa dorsal da lingua, a notar mais uma vês a variabilidade Extraordinaria, mesmo se dados preciosos, minuciosos, como para outras formas papilares, ainda faltem. Repetirei o que disse das pp. fungiformes : que as formas e aparencias diversas, nas varias regiões do dorso da lingua, das formações chamadas "filiformes", raramente são identicas nos varios individuos; e que a sua variação se une, se associa, e ás vezes se confunde com a de outras disposições, mesmo se só aparentemente mais manifesta.
Poderiamos agora ser tentados a extender as nossas observações e considerações de morfologia da lingua humana tambem á sua face ventral. "Sulco mediano ventral", "frenulum", "plica. fimbriata", "caruncula" e "crista sublingual", caratéres gerais da mucosa, tão diferentes dos da face dorsal; formações papilares do dorso, invadindo, ao nivel das margens laterais, a face inferior, e modalidades de transição entre a orla papilar e a mucosa ventral; formações similepapilares e em tuberculos, correspondentes ás aberturas dos condutos excretores -das glandulas linguais anteriores, são tambem estas disposições que se apresentam bastante variaveis, por diferentes causas, na lingua humana. Mas, á parte o que sobre algumas delas dirá mais tarde um meu colaborador, Dr. O. MACHADO DE SOUSA, a variabilidade das disposições agora enumeradas, para os efeitos do meu escopo presente, tem uma. importancia, um significado e uma extensão relativamente secundarias. Posso, pois, restringir-me, para a face ventral da lingua, apenas á enumeração que procede, e recolher assim, e finalmente, as velas da minha viagem, certamente muito fastidiosa para os meus cortezes ouvintes !
O orgão, do qual tentei esboçar a infinita variabilidade individual, naturalmente no ámbito de um "tipo" nitidamente carateristico para a nossa especie, aparece, na conformação do seu revestimento mucoso, e particularmente do da superficie dorsal, da "pars buccalis", de um lado, e do da ".pars pharingea" de outro lado, extremamente complicado. Certamente, tal complicação, como a correspondente variabilidade, é muito maior do que se poderá supôr pelo exame, não digo de um "Abregé", mas mesmo de uma descrição extensa feita com fins didáticos. E nem possuimos, que eu saiba, mesmo depois dos magnificos estudos de assuntos especiais, como os acima citados, uma monografia de conjunto, completa !
Quem seja curioso dos problemas gerais de Morfologia humana, poderá talvez afirmar que o mesmo fenomeno, isto é, uma variabilidade infinita, se observa, pelo menos provavelmente, para muitos orgãos do nosso corpo, tambem daqueles de função exclusiva ou essencialmente vegetativa. Mas todos sabem, como de uma verdade de valor axiomatico, que são os orgãos de função predominantemente, si bem que certamente não sempre exclusiva, para a vida de relação, os que oferecem tal infinito polimorfismo, uma variabilidade tão extensa, ás vezes não presuponivel mesmo pelo anatomico mais consumado.
E cito uma das verdades chamadas "lapalissianas", constataveis na economia humana com banal facilidade! A sulcatura do "pallium" cerebral, das partes suprasegmentais do telencefalo, e os relativos giros ou circunvoluções! Para a cortiça cerebral, ,precisamente, mesmo fazendo abstração da "cítoarquitetonica palleal", da distribuição topografica de "areas", segundo CAMPBELL, ELLIOT SMITH, BRODMANN, ECONOMO, etc., não ha necessidade de muitas palavras para lembrar que, no ambito do típo perfeitamente humano, haja tanto de "diferente" de caso a caso, de individuo a individuo, de modo a justificar plenamente o velho apoftegma dos psicologos, dos filosofos, dos "lógicos", isto' é, "tot capita, tot sententia", relacionando ao orgão, mais uma vez, a sua função.
E, ao lado dos sulcos e dos giros do "pallium", podemos inserir imediatamente a série inumera de " caráteres exquisitamente pessoais", de forma a serem adotados, como criterio mais seguro, para a identificação "individual", que nos oferecem os "datiloglifos" dos dedos da mão e do pé, em primeiro plano, dos coxins palmares e plantares, em segundo.
E a mesma afirmação póde-se fazer para a musculatura mimica!
Como outro grupo de disposições com analogos caráteres de variabilidade, apresentando oscilações de forma não suficiente ou adequadamente considerada antes, de modo particular para as "combinações" referiveis ao comportamento dos diversos "orgãos" linguais aqui examinados, oscilações e combinações "numericamente infinitas", eu não hesito em colocar no mesmo, plano os "glossoglyphos" do orgão da palavra falada.
Ainda que se os chamados "orgãos dos sentidos menores", como o sentido do ,gosto, podem ser considerados, até um certo limite, simplesmente como "sentinelas no percurso inicial das vias vegetativas" ("gosto" e "gosto a distancia" de E. KANT!) ; ainda que se deva reconhecer um relativo torpor e lentidão na transmissão das impressões gustativas, a inferioridade hierarquica nas funções sensoriais, seja mesmo apenas como aparelhos recetores, é fartamente compensada, na lingua, pela outra função da vida de relação, a articulação da palavra.
Orgão de sensibilidade geral extremamente diferenciada, de sensibilidade especifica quasi exclusivamente nela localizada, tornase a linguá, pela sua finissima polimorfa mobilidade, um dos "pregos de GODIN" para prender o nosso pensamento!
Cerebro, mãos, "facies", lingua: é uma quadrilha de nomes que se nomea num minimo espaço de tempo! Mas cada um é uma "coleção" verdadeira de "orgãos" na accepção etimologica e raciocinada da palavra, isto é, "instrumentos de função"; e acrescentaremos, de "instrumentos complicadíssimos", e tais tambem pela combinação, em cada um deles, de partes singulares, e pelas correlações funcionais e orgânicas da lingua, da face, da mão, com o cerebro, e inversamente. são essencialmente "orgãos da vida de relação", que se caraterizam pela complexidade variadissima, incalculavelmente mutavel, de muitas das suas particularidades morfologicas.
Si para a Língua pude eu, de qualquer modo, dar aos meus Colegas, uma justificação lógica da minha concepção, não inutil terá sido a minha labuta que, repito, representa a restultante sintetica de muitos anos de atenta e direta observação.
A. BOVERO (7. VII. 936).
RÉSUMÉ
A. BOVERO - INDIVIDUALITÉ DE LA MUQUEUSE LINGUALE HUMAINE
Par sés etudes et de sés collaborateurs, comme par les travaux consignes dans la litterature, l'
Auteur a envisage la langue humaine, dans la totalite des organes multiformes qui la constituent, dans le meme plan uqe peu d' autres organes três differencies, ou reunion d' organes de la vie de relation de chaque individualite humaine.
La Langue de notre espèce, 1'instrument de Ia fonction animale le plus hautement humain, c'est à dire, l'articulation du mot, donée pour cela, d'une motilité volontaire coordenée très rare, est, au méme temps, Iiée à des fonctions de sensibilité générale et spécifique, extrémement fines; elle est, surtout, fonctionellement, en intime rélation avec les appareils de la vie vègétative, c'est à dire, les organea visceraux.
Dans sa musculature, dana son innervation multiple et très compliquée; dans as vascularisation exceptioneliement rche; dans la très grande variabilité de son revêtement muqueux, qui peut bien étre considérée comme caracteristiquement "individuelle", elle présente tous les attributs inhérents à Ia variété et au polymorphisme de ses fonetions.
Comme le cerveau avec la différentiation des sillons et des circonvolutions de son cortex; la peau de la main et de la plante du pied avec Ia série des dispositifa de ses linhes papillaires; la muscula, ture mimique, par la complexité dez ses rélations et de sa potencialité fonetionelle, la, langue peut aussi étre classifiée, de plein drolt, comme falsant partie de la série d'organea qui, dana la manière la plus cure, avèc sa particulière différentiation et, plus encore, avec Ca variabilité difficilement systématisable conservant même touJours craque organe ou réunion d'organes le "type humain", caracterisent notre espéce.
C'eat cette extreme variabilité des eléments de Id. muqueuse linguale humainé, particulièrement de la muqueuse de Ia face dorsal, que 1'Auteur décrit en forme synthetique dana sa conferènce.
(1) Professor de Anatomia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
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