ISSN 1806-9312  
Quinta, 2 de Maio de 2024
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1256 - Vol. 7 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1939
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 475 a 484
TESTEMUNHO PESSOAL DOS PROGRESSOS DA TRÁQUEO-BRONCO-ESOFAGOSCOPIA NESTES ÚLTIMOS TRINTA ANOS
Autor(es):
PROFESSOR JOÃO MARINHO

Na redação da ata da sessão de outubro, lida na de 3 de novembro, retificámos para 1913 o 1910, dado por equívoco como tendo sido o ano em que fizemos nossa primeira extração de corpo extranho do esofago pelo processo de endoscopia direta, feita com o aparelho de Brünings. Prometemos trazer com desenvolvimento a retificação, cumprida agora em relance histórico, tanto quanto fomos testemunha pessoal, acêrca dos progressos da traqueo-bronco-esofagoscopia nestes últimos trinta anos, e do modo porque, há quarenta e cinco, extraiam-se corpos extranhos do esofago.

Como apreciassemos, na sessão de outubro, a preocupação de um jovem colega orientar, pela endoscopia, a sutura do esofago executada pelo cirurgião que vinha de retirar corpo extranho pela esofagotomia externa, avançámos não ter a importância que a primeira vista parecerá à geração de hoje, o fechamento imediato da incisão operatória.

Quando internos do Professor Oscar Bulhões, participámos em mais de uma dessas operações. Isso no ano de 1894. Lembra-nos uma por dentadura, outra por caroço de cambucá. Em ambas, como em tódas, deixava o Mestre a ferida esofagiana aberta. Nem ponto de "aproximação", quer no esofago, quer nos tegumentos superficiais. Um dos assistentes do saudoso professor, o Dr. Eduardo Moscoso, êsse mesmo nosso contemporâneo, pai do ilustre higienista, Dr. Alexandre Moscoso, teve depois ocasião de algumas esofagotomias externas, também sem costura, prudência de porta aberta a prevenir possível mediastinite, consequente à supuração post-operatória, habitual ao tempo.

Alimentava-se o operado pela sonda. Não tardavam a sarar. Ao se lhes fazer beber água sem sonda afim de avaliar o grau de adiantamento à cicatrização, acontecia sair o líquido pela ferida não de todo fechada, o que não impedia fazê-lo sem acidente, pouco depois.

Onde isso vail KILLIAN só aparece daí a quatro anos. A esofagoscopia, antes dele, constituia mais raridade para admirar, que recurso técnico para imitar. A primeira, não foi a mais difícil, feita por Kussmall, em 1868, num engole-espadas. Oito anos mais tarde, 1906, ainda constituia intervenção na perícia de poucos. A um, depois tornado mestre, assistimo-lhe as primeiras hesitações. Foi em Viena, passou-se com KAHLER, êsse mesmo sucessor de Killian na Universidade de Friburgo. Nem se tratava de extração de corpo extranho, mas simples endoscopia, já não nos lembra para verificar qual diagnóstico no esofago.

Deitado sôbre a mesa de operações, anestesiou o caso pelo clorofórmio. Caido, sentou-o molemente sôbre a mesa, onde permaneceu amparado por dois assistentes. Um terceiro fixou-lhe as pernas, debruçado sôbre os joelhos. O operador subido a banco-escada junto à mesa, lá de cima, a bôca do examinando mantida aberta com abridor, procurou introduzir o broncoscópio e só o conseguiu depois de umas tantas tentativas malogradas, ou interrompidas, ou pela necessidade de atender à anestesia, suspensa com intermitências ao tempo do cirurgião lidar com o tubo.

Lograda a introdução, deitaram os assistentes o homem de novo, de maneira a deixar-lhe a cabeça pendente, diante da qual sentou-se o operador. Mais algumas baforadas de clorofórmio e, ao tubo, meio saído pela bôca, procurou ajustar o cabo de iluminação, o que- não foi possível logo da primeira vez. Daí lhe viria mais tarde a idéia de modificar os cabos em ângulo, para o seu em linha reta, embora tenha dado como pretexto torná-lo "universal", a servir também a retoscopia.

Em 1908, reforma BRÜNINGS, assistente de KILLIAN, a aparelhagem do Mestre. Já no ano seguinte, 1909, no Congresso de Medicina realizado no Rio de Janeiro, Eliseu V. Segura mosrou exemplar do novo aparelho acabado de trazer da Europa.

No seguinte, 1910, procuramós Killian em Friburgo. Confessamo-lhe o não saber como repetir o que, a julgar pelas hesitações, nos parecera difícil em Viena. A sua tranquilidade refletia a da encantadora Friburgo. Sorriu-se de nosso enleio, assim como a dizer que como êsse toda vida aos principiantes. Iria entrar férias. Recomendou-nos por um cartão a Brünings, transferido havia pouco para leria. Completou o conselho com o de adquirirmos, ali mesmo, em Friburgo, na Casa Fisher, o instrumo tal, "feito sob as vistas do Autor", o que logo realizámos, tanto por seguir a preciosa indicação, como pelo mau êxito de um modêlo Killian, adquirido, três anos antes em Berlim, e, por defeito de fabricação, nunca o podemos experimentar, a começar pelo cabo iluminante não se adaptar aos tubos. Ainda conservamos virgem o modelo trouxe-more, guardado, já agora, como documento filiação histórica de aperfeiçoamentos posteriores.

Com Brünings, em 1910, praticámos a bronco-esofagoscopia, a começar por facílima em exercitadíssimo doente-escola. Èle mesmo punha-se em posição, abria a bôca, e já mostrava a epiglote, as aritinóides. Aí mesmo adquirimos a 1.ª edição da Direkte Laryngoscopie, Bronchoskopie und Esophagoscopie, aparecida nesse ano e assinada por Brünings, ainda com Privatdozent da Universidade de Friburgo I, Br. Aí está o 1910 equivocado na ata e pretexto a estas reminiscências.

Em 1913, extxaimos o nosso primeiro corpo extranho, dentadura de dois dentes no esôfago. Seria o primeiro extraído entre nós por endoscopia direta. E a radiografia, é provável, também a primeira, do DR. JORGE DODSWORTH, que com o DR. HENRIQUE DODSWORTH PAI vinham de aparelhar nesse ano um dos primeiros senão o primeiro gabinete de Raios X no Rio de Janeiro. Em 1914, outra dentadura, apresentada em comunicação à Sociedade dos Hospitais, com séde no Pavilhão MIGUEL COUTO, na Santa Casa de Misericórdia, presidida não precisa dizer por quem, secretariada pelo hoje professor DR. JOAQUIM MOREIRA DA FONSECA e em que eram sócios da assiduidade exemplar os Professores ROCHA FARIA, MIGUEL PEREIRA, JULIANO MOREIRA. A extração testemunhou-a o DR. GUI LHERME DA SILVEIRA e NELSON BARBOSA, que nos trouxera o caso. Já não falando dos companheiros de trabalho, DRS. AFRÂNIO CAMARÃO, CARLOS ROHR, PAULO BRANDÃO, ainda estudante.

Queira o auditório descontar no empenho de certificado à História (não a histórias... ) o fastio de pormenores e arrolamentos de testemunhas. Se fomos o primeiro, mais não foi que pela pouca probabilidade de poder ter havido alguêm antes. Acabavamos de sorver o progresso na fonte.

Como a ninguém é dado progredir à vontade, êsses dois corpos extranhos retiraram-se em anestesia geral pelo clorofórmio. Todavia, já com progresso de doente deitado de começo ao fim, convem lembrar, dispensado o tempo de sentado ao modo de 1906 em Viena.

Com CASTILHO MARCONDES, 1915, progrediu a endoscopia direta no Brasil. Interno do Professor HILÁRIO DE GOUVÉA, Marcondes, recemformado, partiu para Europa, onde junto a KILLIAN praticou longamente. Foi o primeiro, aqui, a extrair corpo extranho da árvore tráqueo-brônquica. Distinguiu-se logo. A brevidade de sua vida, desaparecida no início de prometedora ascensão, não lhe deu para estatísticas de vulto. Os seus corpos extranhos não passariam de meia duzia. Contudo, pelas endoscopias frequentes, o bastante, para, assistente da Clínica O. R. L. da Faculdade do Rio de Janeiro, aí fazer escola a êsse respeito.

Em 1920, os professores SEGURA, e MANUEL QUINTELA, de Montevidéu (o predecessor de JUSTO ALONSO), convidaram-nos à 2.ª Reunião anual da Sociedade de Otorinolaringologia Rioplatense, delegando-nos a incumbência da escolha de outros convidados. Representaram o Brasil, HENRIQUE LINDENBERG, nome já feito em S. Paulo, e CASTILHO MARCONDES. Em Buenos Aires, no Serviço do Professor Segura, teve Marcondes oportunidade de extrair semente de fava encravada em brônquio de criança, adormecida pelo clorofórmio, segundo o costume da época. Em alguns mais, retirados aqui, Marcondes pedia, até com instância, ao anestesista, que lhe adormecesse profundamente a criança, afim de evitar embaraçá-lo no manejo instrumental. Só depois dele desaparecido entre os vivos, viemos a cair na advertência de Chevalier Jackson, vale dizer, nos riscos da anestesia geral em criança sujeita a tráqueo-bronco-esofagoscopia.

Em 1918, encaminha-nos o Professor Hilário de Gouvêa dentadura no esôfago. Ainda lhe conservamos o cartão ... E, porquê não a Marcondes, o preferido para corpos extranhos? Procuravam-nos, de ordinario, primeiro, que a opinião pública - ai! dela, por seu mal - sempre tarda em saber onde a competência no particular de cada caso. E' que Marcondes estava a tratos, meio pneumônico, da gripe espanhola, memorável surto epidêmico aquele tempo. Sucedeu-nos sem dificuldade a extração. Já agora, progresso, o doente (adulto... ) acordado C sentado, ao modo de Brünings, posto que não na cadeira de seu modelo, sim em comum, apenas mais baixa que as do costume.

Sentado tambêm, outra esofagoscopia, em oficial do nosso Exército, acompanhado pelo Dr. Jefferson de Lemos. Tão pouco osso engasgado no esôfago, que a procura de outro fragmento suspeitado mais embaixo, reintroduzimos o tubo, suportado de novo sem moléstia. Ao retirá-lo, chegado; ao ponto de confluência do esôfago com o laringe" descerro-lo pela traquéia, meio por pesquizar, meio para demonstrar ao colega ao pé a arvore brônquioa de que se mostrara curioso.

Já a êsse tempo (1924, ou 25), faziamos a anestesia ao modo descrito na Semana Otorinolaringológica de S. Paulo em 1926, limitada apenas à bôca do esôfago, anestesia suficiente à do laringe (a traquéia pouco ou nada sente), tornada depois habitual no serviço clínico do Hospital S. Francisco. Fará quinze anos, só por essa anestesia, com assistência do Dr. Garfield de Almeida, demonstrámos ao eminente professor, traquéia e brônquios de um seu cliente, a procura aí de possível vaso responsável por hemoptises intermitentes, sem sinal apreciável de tuberculose no parênquima.

Em 1922, PAULO BRANDÃO leva à primitiva Sociedade de Otorinolaringologia, 12 casos de corpos extránhos retirados do esôfago. Nesse ano, fundou-se o Hospital S. -Francisco de Assis. Rápidamente subiu-nos a estatística a 76 do esôfago, 2 da traquéia, 14 dos brônquios. Quasi todos retirados por Paulo Brandão. Nos Excertos de Otorinolaringologia ("Formulário Infantil Santos Moreira", 6.ª ed., 1938), publicamo-lhe um de brônquio, criança de onze mêses de idade, chave de parafuso de máquina Singer, tempo de permanência quinze dias, acessos fortes de tosse, foco de bronco-pneumonia no ponto em que a radiografia localizara o corpo extranho (exame clínico pelos Drs. Lafayette Stockler e Leonel Gonzaga), alta curada dez dias depois da extração.

Em fins de 1921, apresenta SEIFFERT aperfeiçoamento ao aparelho de suspensão inventado por Killian em 1912, ambos com o adiantamento de, exposto o laringe, ficarem as mãos do operador livres só para o manejo das pinças apreensoras, tubo aspirador de secreção, porta-algodão e o resto. ESTEVAM REZENDE, seu discípulo, logo adquire um dos primeiros exemplares postos no comércio. O primeiro a trazer o exemplar em maio de 1922 para o Brasil, nesse mesmo ano sucedeu usá-lo em criança que lhe enviámos e nos procurara com anamnese de corpo extranho em brônquio. Não o encontrou. O que deu ensejo a que mais longamente lhe apreciassemos o desembaraço na pesquiza, realizada de modo inédito entre nós. Exposto o laringe pelo Seiffert, ficaram-lhe as mãos desembaraçadas para o que desse e viesse no tempo a seguir, da introdução do tubo etcétera. Dêsse modo retirou, depois, mais de um corpo extranho contribuindo à estatística acima referida.

Subiria, na Clínica O. R. L. do Hospital S. Francisco, a caminho de milheiro as traqueoscopias, máxime as esofagoscopias, se nelas fizessemos entrar exames pára outros fins que o de retirar corpos extranhos.

Pouco depois surge o aparelho de HASSLINCER, de conhecimento hoje vulgarizado. Logo que apareceu lembrou a generosidade do Autor nô-lo enviar, remetido pela solicitude de amizade do Professor Henrique Lindenberg, no momento em Viena. Fê-lo acompanhar de duas linhas: "O traqueoscópico de Hasslinger, pela facilidade de seu manejo, vai vulgarizar no mundo a fama das poucas mãos e olhar capazes de operar polipos do laringe .

Por essa circunstância meramente ocasional de contemporâneo da invenção, fomos o primeiro a ensaia-la entre nós. Meia coluna do Brasil Médico da época guarda memória, em língua portuguesa, dêsse passo na evolução dá endoscopia direta traqueo-brônquica-esofagiana.

Cedo abandonamos o uso do aparelho. Empregamo-lo logo em polipo do laringe e no H. S. Francisco de Assís. O ponto de apoio de um dos ramos à parede esofagiana, como a comprime de encontro a coluna vertebral, deixa doída a região por algum tempo. A arte grosseira de poder o primeiro curioso por à vista corda vocal e retirar-lhe o polipo, não se compara com a leveza de mão retirando-o à luz da laringoscopia indireta na mesma meia hora da primeira consulta. Não deirará ruído à gloria, a, só na aparência, facílima intervenção. Todavia, dela levanta-se contente, com a voz logo recobrada, sem dor durante nem depois da "operaçãozinha", quem meses e anos levara em contínua suspeita de tuberculose, do laringe.

Como ainda não caiu nenhum mestre já feito do céu, pedimos um momento de benevolência aos de experiência acabada, para dirigirmo-nos aos que não tenham ainda tido ocasião de fazer a sua primeira traqueoscopia, ou que nela hajam encontrado dificuldade, para- aembrar-lhes, como fundamentais duas circunstâncias: A) - Exercitar-se, para começar, em paciente sentado, porquê é bem mais fácil introduzir-lhe nessa posição o tubo, que na deitada. O conselho é de Brünings. Como corolário dessa advertência, evitar aprendizagem na criança, por motivo evidente de ser preferível fazer-lhe deitada a broncoscopia; B) - Deixar a língua sôlta dentro da cavidade oral, isto é, não mandar pô-la de fóra, nem, muito menos, puxá-la. Nessa segunda advertência, caímos a sós comnosco. A princípio, seguiamos pontualmente a Brünings, que nos recomendara o contrário e ainda perseverou na mesma lição em seu livro: "Der Patient neigt den Kopf nur ganz Wenig nach hinten und hált sich die Zunge mit der linken hand fest, damit sie keine stõrenden Bewegungen ausführt" : "segura firme a língua com a mão esquerda para que não venha com movimentos embaraçar a operação" (loc. cit. edição de 1910, pág. 187). A imobilização da língua, atribuímos a principal dificuldade encontrada em nossas primeiras traqueoscopias. Nem pudemos nunca cair no de onde viria a Brünings recomendá-lo. O puxamento como fixa o osso hióide, exige do operador esfôrço contraproducente para trazer o aparelho muscular-hiodeu à situação conveniente de expôr o laringe em linha com a arcada dentária. Em homem atarracado, pescoço curto, dêsses "grossos", constitucionais piquínicos de Kretchsmer, por não conseguirmos fazê-lo pôr nem a língua de fóra, muito menos agarrar a ponta, introduzimos o tubo traqueoscópico, desesperançados de bom êxito. Balizada a epiglote, logo sentimos, com desusada facilidade, o conjunto suprahiodeu ceder para diante e descobrir-se o laringe. E nunca nos demos mal daí por diante na preocupação de deixar a língua bem largada, mole, sôbre o soalho da bôca.

Rivaliza em eficiência com o aparelho de BRONINGS o de CHEVALIER JACKSON. Introduziu-o entre nós ILDEU DUARTE. Com êste pode considerar-se terminado o essencial da traqueo-bronco-esofagoscopia transplantada ao nosso meio.

Feito Escola, emenda-se-lhe a perícia dos grandes técnicos com suas edificantes estatísticas.

Destaca-se logo, GABRIEL PORTO, ex-interno e assistente da Clínica O. R. L. da Faculdade Nacional do Rio de Janeiro, com viagem de aperfeiçoamento, a nosso conselho, não a Europa, mas a Belo Horizonte, com ILDEU DUARTE. De volta, quando PENIDO BURNIER pediu-nos quem lhe completaria em broncoscopia o Serviço clínico de O. R. L. de MANUEL FERREIRA no famoso Instituto de Campinas, logo nos veiu ao ponto o nome de Gabriel Porto, hoje autoridade famosa também a êsse respeito. Outra, em S. Paulo, o Dr. HOMERO CORDEIRO, também ex-interno da Catedra do Rio, aperfeiçoado na Alemanha junto a ESTEVAM REZENDE e MARIO OTTONI. No Norte, ANDRADE MEDICIS, outro ex-interno da Clínica O. R. L. da nossa Faculdade, discípulo de Marcondes, toma para assunto de sua tese de livredocente à de Mediciná do Recife, em 1934, 23 extrações de corpos extranhos do esôfago, realizadas, 19 pelo tubo esofagoscópico, 4 pelo gancho de KIRMISSON. Instrumento inofensivo, expedito, de uso facílimo, só aconselhável para o caso de moedas, ainda constitui recurso oportuno ao médico prático do interior, onde só chega de longe a fama inútil dos seguros técnicos de grandes serviços hospitalares. Quando chefe da Clínica O. R. L. do Hospital das Crianças da Santa Casa de Misericórdia, 1909-1914, empregamo-lo muitas vezes, sem um só motivo de arrependimento. O mesmo dirá o Dr. Paulo Brandão, de prática contemporânea e, depois, por largo tempo, chefe daquele serviço. Não merece o gancho de Kirmisson o desprêzo dos que dele falam sem conhecê-lo. Confundem-no na mesma história triste de acidentes sucedidos a grade-oscilante (pannier de Graefe).

Na interventoria PEDRO ERNESTO, memorável na desassombrada iniciativa hospitalar, CASTÃO GUIMARÃES lança fundamentos ao Serviço de Oto-Rino-Laringologia da Assitência Municipal, desenvolvido ao admirável grau de eficiência alcançado na chefia CAIADO DE CASTRO. Em pouco tempo, conta de extrações de corpos extranhos do esofago, traquéia e bronquios, o três ou quatro dôbro de quantos ajuntados já se extrairam em nosso país. Distingue-se por bem provido Serviço hospitalar e pela dextreza técnica que daí resulta. Ou Kahler na sua comprida hora em 1906, ou Agoncilo Caiado de Castro no milagre de seus segundos em 1939. Os corpos extranhos que ainda procuram à Clínica O. R. L. do S. Francisco, mandamo-los a êle. Dantes, vinham de lá para cá. O nosso museu hospitalar guarda mais de um documento a êsse respeito.

E o progresso já se emenda ao progresso.

Em S. Paulo, no Serviço do PROFESSOR PAULA SANTOS, de Janeiro 1937 a Setembro 1938, foram praticadas 1.850 intervenções endoscópicas pelo Dr. PLINIO DE MATOS BARRETO, conforme relatou ao Primeiro Congresso Brasiliense de O. R. L. o ano passado. Nem tôdas, já se vê, para retirada de corpos extranhos. Também, Chevalier Jackson, em 1932, realisou 3.778 intervenções, das quais só 2,5% o foram por corpo extranho, ou fazendo-lhes a conta, 94 apenas.

O Dr. Barreto a exemplo do seu Mestre de Filadélfia, distingue a endoscopia direta em especialidade dentro da mais geral de Oto-Rino-Laringologia. Os corpos extranhos passam a representar acidente rotineiro da prática diária traqueo-bronco-esofagiana, uma das mais assinaladas invenções da arte médica em qualquer tempo.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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