JUIZ DE FÓRA.
(VIA TRANS-SUPERCILIAR)
Venho ocupar vossa benevola atenção tratando de um assunto relevante que consiste na recomposição do nariz em sela. E' um assunto que deve interessar ao oto-rino, ao oftalmologista, bem como ao clínico em geral para que eles possam emitir opinião e satisfazer a solicitação de seus consulentes. A operação do nariz em sela tem sido objéto de uma vasta literatura, baseada nos dominios da cirurgia geral e da oto-rino. E' grande o número dos doentes que arrastam sua deformação pela existência à fóra, uns por medo de se sujeitarem à uma pequena operação, e outros pelo receio de sucesso definitivo, e ainda por falta de quem os encaminha às mãos do cirurgião, não se falando nos casos em que o paciente persiste na sua teimosia, regeitando todos os meios que a ciência lhe fornece. As deformações permanentes muitas vezes impedem as realizações e as ambições do indivíduo, e a vida é encarada como uma verdadeira via-crucis, sem os encantos de viver. Na verdade o doente sente-se diminuído, recalcado, tímido para lutar com o meio, do qual êle deveria tomar parte e integrar-se. E' sempre um atrazado social, e se vê isolado, e muitas vezes impedido de colocar-se nessa ou naquela profissão, porque não tem coragem de operar-se. Não ha duvida que o tratamento cirurgião pôde falhar, mas nem por isso diminue o seu valor. Dia à dia essas intervenções vão entrando no domínio da banalidade, porque o que se faz bem feito torna-se facil e seguro. O senso clínico tem importância capital, para colocar o doente em condições tais para que possa ser usada a substância alo plastica ou auto plastica. O emprego de peças metálicas já vem sendo desde longo tempo aplicadas por Diffenbach, e observou que as mesmas eram eliminadas posteriormente. Gluck substituiu o maxilar inferior por uma peça de marfim. Joseph empregou-o depois de convenientemente preparado e modelado afim de corrigir o nariz em sela, nas rinoplastias parciais e totais. Segundo a sua natureza, as substâncias empregadas são: - l.° alo plasticas quando retiradas fóra do organismo, tais como marfim, parafina, a celuloide, a borracha, etc. 2.° auto plasticas, quando retiradas do proprio doente, tais como cartilagem costa], cartilagem da orelha, do nariz, do septo, bem como a pele e gordura, etc. Os tecidos osseos tais como: - fragmentos de costela, tibia, ilíaco têm sido empregados com bom resultado. O tecido adiposo foi tambem tentado para encher as pequenas depressões.
Vias de introdução: - As introduções alo-plasticas e auto-plasticas na reparação do nariz em sela ou de Fournier são varias: - via endonasal, lobulo nasal, raiz do nariz e outras. Prefiro a via trans-superciliar para fugir do meio céptico.
Patologia: - O nariz em sela pode ser congenito, geralmente devido a sifilis hereditaria ou posteriormente adquirida, desempenhando seu maior expoênte, as gomas sifilíticas. Pode ainda, sobrevir à molestias tropicais, operações excessivas sôbre o septo, abcéssos, furunculos, tumores benignos e malignos e também aos traumátismos.
Tratamento prévio: - Deve ser local si fôr preciso, geral cercando o doente de garantias com o fim de melhorar o terreno receptor: - aconselha-se à extração dos dentes estragados, tratamento das vias lacrimais, si houver dacriocistites e também das sinusites. Nesses casos é dever do médico submeter préviamente as operações de vizinhança, para que o seu trabalho não seja perdido.
Considerações gerais: - A plastica nasal tem estado mais no apanagio da oto-rino pelo fáto de sua vizinhança proxima, com seus conhecimentos, relêvos contratempos, decepções e intervenções. Isso não quer dizer que o cirurgião não possa efectuá-la com a mesma habilidade, pois os vários trabalhos atésta a maestria indiscutível do mesmo, realizando a verdadeira escultura humana.
Si essas intervenções tendem reparar uma função organica, visam também reconstituir, recompôr ou substituir uma deformidade.
Anestesia: - E feita com novocaina à 1 % por infiltração e descolamento da pele, ajuntando-se algumas gôtas de adrenalina; convém não furar a pele e a mucosa na região em que deve estacionar o marfim. Anestesia-se a região do lobulo nasal, partes
Ficha clínica: - Serviço de oftalmologia. M. P. F., 18 anos, solteira, brasileira, domestica. Compareceu ao nosso serviço para se tratar dos olhos, Sentia embaçamento em ambas as vistas e visão diminuida. Foi encaminhada ao serviço de oto-rino, em vista da deformação que apresentava no nariz; não foram encontradas lesões nasais e nem perturbações respiratórias. Depois foi-lhe prescrito tratamento bismutado em vista de ter uma queratite intersticial. Mais tarde efetuada a operação plastica e sem nenhum acidente e contratempo.
Resultado: - Perfeita tolerancia e a doente teve alta poucos dias depois, completamente restabelecida.
BIBLIOGRAFIASHEEHAN - Plastic Surgery of the Nose.
LOEB - Operative Surgery.
DAVIS - Plastic Surgery.
J. JOSEPH - Nasen plastik.
NOTA: - Esta comunicação foi apresentada ao Syndicato Medico de Bello-Horizonte, por ocasião da Quinzena Medica eli realizada.