ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
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119 - Vol. 22 / Edição 3 / Período: Maio - Junho de 1954
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 193 a 196
PEQUENA MODIFICAÇÃO NA TÉCNICA DA AMIGDALÉCTOMIA PELO SLUDER
Autor(es):
Dr. CELSO FERREIRA - Prof. Catedratico de O. R. L. na Faculdade de Medicina da Universidade de Paraná CURITIBA

O processo da amigdaléctomia pelo Sluder-Ballenger, do conhecimento de todos, tem sofrido as mais variadas modificações, algumas das quais bem engenhosas.

Isso não deprecia em nada o famoso aparelho que se mantém ainda em lugar de destaque na cirurgia amigdaliana, sendo, mesmo, na criança quase insubstituível.

Lembraremos por alto algumas dessas modificações já por certo bem conhecidas.

Popper e La Force operam com um amigdalótomo provido de duas lâminas, uma romba que comprime, prensando a amígdala e outra afiada que a corta. Jacob Braun, conforme cita C. Imperatori, usa uma alça metálica juntada ao anel do aparelho para seccionar a tonsila por estrangulamento.

Alvaro Costa realiza a amigdaléctomia com seu amigdalótomo elétrico. Reverchon emprega o aparelho de Sluder em ângulo obtuso. Le Mée, uma espécie de cremalheira que mantém fechado o aparelho, firmando a pegada. Existe até um abridor de boca ou protetor digital que consiste em um cilindro oco anexado ao Sluder por R. Canaveris.

Especialistas há que, praticando a dissecção, usam o Sluder no fim do ato cirúrgico em lugar da alça fria.

L. Ducuing, após a pegada da amígdala pelo Sluder, libera o pilar anterior a bisturi como na amigdalectomia por dissecção e descola depois com o dedo.

Modificações outras existem que consistem em pequeninos detalhes de técnica ou de alterações mínimas no próprio aparelho que seria fastidioso enumerar.

Quanto á indicação do Sluder o acordo é geral no que tange à criança. Cabe lembrar aqui a manobra de Paulo Brandão que é por muitos empregada especialmente nessa idade.

Quando se trata de adultos as opiniões se dividem. A maioria adota a dissecção; esta mesmo com pequenas variações a gosto de cada um. O prof. Sanson por exemplo, liga sistematicamente os vasos da loja, a evitar possíveis hemorragias.

Há quem suture habitualmente os pilares, e até agrafes têm sido empregados e deixados em plena loja, por incrível que pareça.

"A nossa pequena modificação refere-se tão somente ao descolamento da amígdala. Empregamo-la no adulto e com anestesia locoregional. Usamos o amigdalótomo de Sluder-Balleiger com cremalheira (fig. 1). (A lâmina da cremalheira póde ser erguida, desfazendo o contacto do entalhe e o aparelho funcionará como um Sluder comum. A fig. 1 é do Catálogo D. Simal com pequena modificação)

[FIGURA 1 PAG 194]
Fig. 1

Uma vez insinuada a amígdala no anel do aparelho como no Sluder clássico e firmemente segura pela lâmina da guilhotina, a cremalheira, situada na parte inferior do cabo do amigdalótomo, mantem fechado o aparelho, comprimindo enérgicamente a amígdala por um certo tempo (1 a 2 minutos). Esse tempo é em geral suficiente para garantir a hemostase.

A fig. 2, retirada do tratado de Canuyt, mostra quão fácil se torna a abordagem da amígdala estrangulada no anel do aparelho e bem fixada pela ação da cremalheira.

[FIGURAS 2 E 3 PAG 195]
Fig. 2

Fig. 3

Em vez de retirar a amígdala com o dedo, manobra incontestavelmente brutal, no adulto especialmente, descolamo-la pelo lado de dentro (fig. 3) com um descolador de lâmina delgada, isto é, não muito romba. Essa manobra pode ser enérgica, agindo-se com firmeza, bem rente ao aparelho, sem perigo da loja nem dos pilares, pois que a lâmina da guilhotina tem ação isolante e protetora.

Antes de terminar o descolamento pinçamos a amígdala para que esta não caia ou não seja deglutida.

Retirado o aparelho é notavel o estado da loja: lisa, regular e quase sem sangue e os pilares perfeitos.

Por esse meio obtem-se uma amigdalectomia praticamente exsangue e nessa ausência de sangue está, incontestavelmente, a principal vantagem do método.

A princípio tentávamos a retirada da amígdala com o bisturi e até com o gálvano-cautério mas atualmente usamos exclusivamente o descolador, embora o bisturi proporcione mais rapidez porque corta. Ainda uma vez insistimos que o resultado com o descolador é muito melhor justamente porque não corta.

Verdade é que o próprio bisturi, quando com êle operávamos dava, assim mesmo, menos sangue do que com o descolamento clássico do Sluder.

Para os que iniciavam o aprendizado recomendávamos algumas vezes que executassem a sua primeira intervenção com o bisturi por ser mais fácil. Aconselhávamos ainda um bisturi cortante apenas na extremidade cuja vantagem é fácil de compreender.

Com o nosso módo de proceder temos retirado com facilidade restos de amígdalas, amígdalas encastoadas e fibrosas, em adultos e até mesmo em velhos.

Até agora a única dificuldade que encontramos foi em um caso de apófise estilóide alongada.

Naturalmente há casos, como em qualquer intervenção, mais trabalhosos que outros. Basta atentar a esses doentes nervosos, indóceis ou pusilânimes que põem à prova a paciência de qualquer cirurgião, especialmente em se tratando de região móvel como a da garganta e operando, como nós o fazemos, sem narcose. Mas, em geral, o ato operatório é calmo; menos movimentado e menos traumatisante do que com o arrancamento digital do Sluder que acarreta perda de sangue mais importante, cavidade operatória maior e cicatrisação mais demorada.

Como consequência natural da operação, o pós-operatório habitualmente ocorre favorável e satisfatório para sossêgo do doente e tranquilidade do médico.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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