ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1188 - Vol. 1 / Edição 5 / Período: Setembro - Outubro de 1933
Seção: Associações Científicas Páginas: 396 a 402
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es):
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ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Secção de Oto-rino-laringologia.


Sessão de 17 de Agosto de 1933


Presidida pelo Dr. Homero Cordeiro e secretariada pelos Drs. Rebello Neto e Gabriel Porto (secretarios ad hoc), realisou-se no dia 17 de Agosto a setima sessão ordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.


ORDEM DO DIA:

1.º - DR. GABRIEL PORTO (Campinas) - "Corpos estranhos das vias aero-digestivas observados durante o ano de 1932 no Instituto Penido Burnier.

Resumo: O. A. relatou sucintamente 9 observações de corpos estranhos: 2 no laringe, 1 na traquéa, 2 no bronquio e 4 no esofago.

Com a tecnica habitual, em posição de Boyce e sem anestesía, retirou por via bucal, do laringe de creanças dois corpos estranhos: 1 carrapicho e 1 caramujo. Chama a atenção para a pouca frequencia desses corpos, mostrando que em uma estatistica de Albrecht, dentre 1.243 casos só foi encontrado um caramujo: Mostra a possibilidade da broncoscopia bucal em creanças abaixo de 2 anos, apresentando observação de uma creança de 9 mezes de cuja traquéa extraiu por via bucal, um caroço de lima.

Do bronquio conseguiu ainda retirar um grão de milho e, noutro caso, um prégo, sempre por via bucal. O primeiro causou em menino de 4 anos, enfisema mediastinal agudo. Praticada a mediastinotomia cervical posterior pelo Dr. Bernardes de Oliveira, é feita 2 dias depois a extração do grão de milho, restabeleceu-se o paciente.

O prégo foi extraído do bronquio de um menino de 11 anos, com ótimo resultado. Narra depois, caso de um homem de 41 anos em que a extração de fragmento de osso encravado no esofago cervical, determinou perfuração deste seguida de enfisema agudo do mediastino. Executada imediatamente a esofagotomia externa e mediastomia cervical posterior pelo Dr. Bernardes de Oliveira, o paciente melhorou vindo, porém a falecer alguns dias depois por processo infeccioso. E' o 2.º casa de obito verificado em 70 casos de corpos extranhos das vias aero-digestivas observados no Instituto Penido Burnier.

Refere-se ao valor da mediastinotomia nos casos de infiltração de ar no mediastino, citando 2 dos seus casos operados pelo Dr. Bernardes de Oliveira e um pelo Dr. Aresky Amorim, que o apresentou a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro.

Cita ainda 2 fragmentos de osso, extraídos do esofago, com ótimo resultado, sendo um deles em paciente de 79 anos. Mostra a radiografia de um; apito metalico no esofago toraxico de creança de 7 anos, retirado sem acidente. A comunicação foi documentada com fotografia dos corpos extranhos e varias radiografias.

DISCUSSÃO:

Dr. Mario Ottoni de Rezende: Acha tão interessante o trabalho de hoje, quanto outro, identico, apresentado pelo Dr. Porto o ano passado. Cita a observação de um caso da clinica do Dr. Homero Cordeiro, onde foi feita sem incidentes, a extração de um prégo que permanecêra no bronquio quasi um ano. Quanto as lesões do esofago acompanhadas de complicações mediastinais, de enfisema, a opinião dominante entre os autores confirma a orientação seguida pelo Dr. Porto. Já teve ocasião de referir a observação de uma doentinha de 4 anos que havia engulido uma moeda. Quatro dias após a sua extracção pelo "panier>> formou-se o enfisema seguido de um enorme abcesso na 'face lateral do pescoço, terminando felizmente pela cura, após drenagem do abcesso e uma convalescença entrecortada de outras complicações.

Dr. Homero Cordeiro: Felicita o Dr. Porto pela interessante contribuição trazida a plenario. Na sua clinica teve ocasião de tambem observar a queda imediata da temperatura após extração de corpos estranhos dos bronquios. Quanto ao seu caso referido pelo Dr. Ottoni, teve que recorrer a traqueotomia prévia devido a pessima respiração do doente e em seguida a broncoscopia inferior, que muito facilitou a extracção.

Dr. Gabriel Porto (encerrando a discussão): Agradece as referencias feitas ao seu trabalho. A questão da drenagem do mediastino tem sido muito debatida, principalmente nos casos de enfisema agudo. Parece mesmo que entre nós não tem sido praticada essa operação com mais frequencia, cujo alcance é de real valor.

2.º - DE. PAULO SAES (S. Paulo) - "Um pouco de oto-rino-laringologia de guerra no sector sul".

Resumo: Tendo estado em Itapetininga como oto-rino-laringologista no sector sul, faz o A. considerações sobre as condições tecnicas em que foi obrigado a trabalhar. Faz um estudo estatistico das afecções encontradas, tecendo comentarios ao redor dos casos mais curiosos. Admira-se do numero reduzido de ferimentos craneo-faciais, em proporção ao vulto das operações militares. Foram muito frequentes as sinusites frontais agudas e exacerbadas, tratadas com banhos de luz. Anginas flegmonosas, lacunares e catarrais em grande numero. Fez varias amigdalectomias em soldados que de novo retornaram para as trincheiras. 9 casos de otite media aguda e 4 de mastoidite. Otites cronicas, rolhas de cerumen, polipos de ouvido, mereceram o devido tratamento. A rinite atrofica fetida (ozena), em regular numero, deu grande mal estar aos seus portadores durante a permanencia nas trincheiras, tendo surgido 3 casos complicados de miíases nasais. Foram operados varios polipos do nariz e outros de menos importancia. Quanto a lesões proprias de guerra, tratou 2 casos de rotura traumatica do timpano e 5 de comoção labirintica, um dos quais com surdez total e definitiva. Bala no conduto auditivo com lesão do facial, um caso. Uma tentativa de suicidio em uma jovem, com bala encravada no conduto e rochedo, foi operada satisfactoriamente.

DISCUSSÃO

Dr. Gabriel Porto: Felicita o Dr. Sáes pela maneira exata e feliz pela qual relatou o assunto. Tendo ocupado no Sector Norte as mesmas funcções, observou mais ou menos os mesmos factos passados com o Dr. Sáes. Refere-se a um caso interessante ocorrido durante a luta no Tunel, onde um soldado, tendo recebido uma bala na região parietal, deitou-se ao ar livre, aguardando a evacuação, tendo em certo momento cuspido o projectil. Tudo fez crêr que se tivesse eliminado pelo etmoide. Observou, entretanto, com maior frequencia, casos de comoção labirintica.

3.º - DRS. ANTONIO PRUDENTE e HOMERO CORDli1R0 (S. Paulo) -

Adenoma tubular do palato móle. Tratamento electro-cirurgico

Resumo: Os AA. referem-se a observação de um lavrador com 29 anos, o qual apresentava no palato móle, a 1 cent. a direita da uvula, uma pequena massa tumoral, iniciada ha 4 anos, de aspecto mamelonado, rosea, sessil, móle, indolor, não sangrando ao toque. Foi feito uma biopsia, revelando o exame histo-patologico executado pelo Prof. Donati, tratar-se de um "adenoma tubular".

Os AA. fazem, a, seguir, considerações de ordem teórica, procurando restabelecer a genese do tumor, concluindo pela responsabilidade das glandulas disseminadas na face bucal do palato móle. Salientam, ainda, a dificuldade de diagnostico clinico, que oscila em geral entre formas mais frequente: lipomas, fibromas, papilomas, dermoides, angiomas, tumôres mixtos e epiteliomas. Abordam a questão de prognostico, funcção da transformação maligna do adenoma, formação benigna em si.

Terminam permenorisando a tecnica empregada: Doente em posição de Rose; anestesia local pela sol. de novocaina a 1 %. Incisão circunscrevendo o tumor com o bisturi electrico ligado ao Penetro-Therm-Duplex de Sanitas. Exerése em camadas sucessivas, a branco, pela alça diatermica, feita de molde a não perfurar o palato móle. A cicatrisação processou-se normalmente, no prazo de 20 dias, deixando uma cicatriz lemente esbranquiçada, deslocando a ovula ligeiramente para o lado, sem acarretar entretanto, perturbação da deglutição nem da sucção.

A comunicação é ilustrada com a projecção de dois diapositivos.

DISCUSSÃO:

Dr. Roberto Oliva: Opina pela excelencia do metodo electrico-cirurgico em certas afecções da esfera oto-rino-laringologica, cujo tratamento é facilitado sobremaneira, alem da enorme vantagem decorrente da hemostáse que o metodo assegura. Ainda recentemente teve oportunidade de verificar miais uma vez tais vantagens durante uma tirotomia.

Dr. Gabriel Porto: Cita um caso de epitelioma espino-celular assestado no pilar anterior, cuja extirpação foi simplificada graças a electro-coagulação.

Dr. Homero Cordeiro: Acentúa os pontos mais importantes do caso clinico relatado e conclue incitando os oto-rino-laringologistas a lançarem mão com mais frequencia do metodo electro-cirurgico, que está ao alcance de todos e tão grandes. vantagens oferece.

Sessão de 18 de Setembro de 1933

Presidida pelo Dr. Homero Cordeiro e secretariada pelos Drs. Raphael da Nova e Silvestre Passy (ad hoc), realisou-se a 18 de Setembro ultimo a oitava sessão órdinaria da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

No expediente, o Presidente pede aos socios presentes que se inscrevam no livro de adesões ao proximo Congresso Medico Paulista, patrocinado pela Associação Paulista de Medicina.

ORDEM DO DIA

1.º - DR. J. E. DE PAULA ASSIS (S. Paulo) - "Corpo estranho do maxilar superior.

Resumo: O A. apresenta um caso que classifica de raro. Trata-se de um pedaço de madeira de 2 1/2 cent. por 1 cent., retirado do seio maxilar esquerdo do individuo Estevam V., yugo-slavo, com 57 anos de edade, que procurou o serviço de oto-rino-laringologia da Santa Casa em 2 de Junho de 1933. Vinha de outra enfermaria com diagnostico de tumôr maligno (Ca?) do maxilar superior. Apresentava abaulamento doloroso e endurecido da região em cujo centro via-se urna fistula, por onde safa pús esverdeado.

Fez o A. o diagnostico de tumôr do antro (tipo osseo). Procedeu a operação radical Caldwell-Luc, retirando o corpo estranho mencionado. Este penetrára 8 mezes antes em consequencia de uma queda que sofrera, quando rachava lenha. Faz considerações sobre a dificuldade de diagnostico e sobre a falta de esclarecimentos fornecidos pela radiografia. discutindo processos terapeuticos diversos, preferindo o que empregou.

DISCUSSÃO

Dr. Mangabeira Albernaz: A raridade do caso apresentado está no facto de ser o corpo estranho um pedaço de madeira. Com frequencia encontra-se no antro, balas, fragmentos de gaze, introduzidos nos alveolos por dentistas, assim como fragmentos de dentes após extracções,

Dr. Roberto Oliva: A curiosidade do caso está em ter vindo rotulado com o diagnostico de Ca. do maxilar superior.

Dr. Francisco Hartung: Conhece 2 casos de corpos estranhos do maxilar superior, num havia uma bala, noutro um pedaço dei agulha partida durante uma puncção exploradora, tendo sido necessaria uma operação.

Dr. Homero Cordeiro: Relata um caso por ele observado num acidente de trabalho (traumatismo da região naso-facial por fragmento de madeira projectado por polia em grande rotação). Passado 20 dias após o acidente, o paciente queixava-se de obstrucção nasal, com saída de secreção purulenta pelas narinas. Pela rinoscopia anterior, verificou-se a existencia de um fragmento de madeira, que tendo destruido o septo nasal, encontrava-se encravado em parte no seio maxilar, tendo perfurado a parede sino-nasal.

Dr. Paula Assis (encerrando a discussão): Agradece os comentarios sobre a sua observação.

2.º - DR. GABRIEL PORTO (Campinas) - "De um caso de trombo-flebite do seio cavernoso>.

Resumo: Estudando sucintamente a frequencia, etiologia, patogenia, sintomatologia, prognostico e tratamento da tromboflebite do seio cavernosa, o A. assinala a influencia nociva da cirurgia em alguns caso de supuração cervico-facial e mostra que ao contrario do que afirmam muitos autores, a tromboflebite pode evoluir para a cura, com a conservação da visão. Relata depois a observação de um menino de 11 anos em que a trombo-flebite do seio cavernoso evoluiu para a cura, com a conservação integral da visão. Entretanto 36 dias após a cura do processo septicemico, surgiu um fóco de osteite no temporal, que exigiu intervenção cirurgica, vindo o paciente a falecer 9 dias depois de operado. Finalisou tecendo comentarios em torna do caso apresentado.

DISCUSSÃO:

Dr. Mangabeira Albernaz: Acentua a raridade dos casos de trombo-flebite do selo cavernoso na pratica diaria.

Dr. Francisco Hartung: Para explicar a origem do fóco secundario, uma vez que haviam desaparecidos os fenomenos septicemicos, lembra a opinião de Eagleton, pela qual a infecção secundaria proviria não mais do seio cavernoso, mas da propagação ao temporal de uma lesão do etmoide, pela afinidade embriologica entre esses dois ossos.

Dr. Roberto Oliva: Lembra dois casos de trombo-flebite do seio cavernoso em sua clinica em consequencia de um furunculo do lobulo nasal e a um abcesso do labio inferior, respectivamente.

Dr. Gabriel Porto (encerrando a discussão): Admite que a falta de irrigação consequente a um trombo, no caso especial tivesse originado o fóco de necróse do temporal.

3.º - DR. HOMERO CORDEIRO e BRAZ GRAVINA (S. Paulo) - "Sobre um, caso de abcesso do septo nasal, post-traumatico, complicado de meningite."

(Este trabalho sai na integra noutra secção desta revista.).

DISCUSSÃO:

Dr. Raphael da Nova: Cita a respeito um caso que observou na clinica do prof. Hajek, uma doente atacada de sinusite frontal aguda supurativa e, apresentando forte desvio do septo para o lado afectado. Como áto preparatorio, para uma resecção da cabeça do corneto medio, foi feita a resecção sub-mucosa do septo de Killian, logo nos primeiros dias da molestia.

Ao áto cirurgieo sobreveio um estado septicemico com todos os caractéres da trombo-flebite do seio cavernoso, o qual ocasionou a morte da paciente. Acredita que a via de penetração da infecção para o endocraneo tenha sido a mesma que no caso apresentado pelo Dr. Cordeiro.

Dr. Francisco Hartung: Acha oportuno falar do cuidado que se devo, ter nas intervenções do septo, cujo abcesso nem sempre tem as consequencias benignas habituais, realçando a importancia; da asepcia nessas operações.

4.º - DR. FRANCISCO HARTUNG (S. Paulo) - "Dois casos de agranulocitóse".

(Este trabalho. tambem está publicado na integra neste numero da revista).

DISCUSSÃO:

Dr. Dlario Ottoni de Rezende: Chama a atenção para o seguinte facto: James Costen, com a experiencia de 314 casos, depois de verificar 75 % de morte, consegue diminuir o indice letal para 53 % pela irradiação dos ossos longos, emquanto a transfusão e os diversos tratamentos medicamentosos se mostram ineficazes. Só é proveitoso o tratamento nos casos precóces, em quanto existe lesões branco-amareladas nas amigdalas, e geralmente acompanhadás de lesões semelhantes nas gengivas. Nessa fase deve-se proceder a um; exame da formula leucocitaria. No 3.º ou 4.º dia sobrevem necróse, ulcerações branco-cinza, com edema sanguineo negro. Nesta fase o tratamento dá resultados nulos. Costen nota tambem que esses doentes em geral viviam sob a ação de anti-nevralgicos (aspirina, adalina etc.), concluindo que esses remedios produzem o deficit de fúncção da medula ossea, ao qual é devida a agranulocitóse.

São sempre casos de septicemias amicrobianas, não se podendo isolar germens.

Dr. Francisco Hartung (encerrando a discussão): Não fez irradiações, porque os seus casos já eram muito adeantados. No seu 2.º caso, o Dr. Carvalho de Lima conseguiu isolar o entreptococo no sangue.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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