Noma é um segundo nome da estomatite gangrenosa, infecção rara e que ataca as creanças de preferencia.
As doenças debilitantes infecciosas, e quasi sempre o sarampo, assim como as pessimas condições nutritivas, predispõem o organismo para o seu aparecimento. A sua feição endêmica, já por vezes observada, põe em evidencia o seu carater contagioso, posto que até agora ainda não se tenha descoberto o seu germen responsavel.
PERTHES, estudando o noma, encontrou em suas ulcerações e tecidos visinhos, o bacilo fusiforme, assim como grandes espiroquetas, que desempenham um grande papel nesta infecção.
Mas ainda se discute se `si devem culpa-los como os unicos agentes morbidos ou se agem associados a outros.
A enfermidade começa na mucosa bucal, ao nivel da implantação dentaria, com o aspéto de uma vesicula branco-azulada, que rapidamente se transforma em vesicula gangrenosa, com odôr putrido lembrando a fetidez da decomposição, avança rapidamente pelo tecido da face, que em breve se torna destruida, como o foi neste caso. Cura de caso de noma do ouvido, até hoje não existe na literatura médica, mas o mesmo não se dá com o noma da face, como no caso presente, onde a intervenção cirurgica evitou um desfecho letal.
A história do noma de hoje é o de uma menina, M. N., de 4 anos, residente nesta capital. Em Fevereiro deste ano teve sarampo, ficando restabelecida em 9 dias. Começou a se queixar de dôres de dente e aplicavam-lhe cataplasmas caseiras. Houve perfuração da péle e aparecimento de mau cheiro. Levaram-na á Santa Casa, donde a encaminharam para o Hospital do Isolamento; aí desenganada, transportaram-na para casa, onde foi examinada por 4 colegas, que não desejaram intervir.
Fui chamado para vê-Ia e encontrei uma grande ulceração do lado esquerdo da face, com exposição do maxilar superior e limitando-se á aza do nariz, labio superior esquerdo (quasi destruido) e indo até um pouco abaixo do rebordo inferior da orbita e proximo á articulação temporo-maxilar.
Pedi uma fotografia, que se acha aqui presente (fig. 1) e fi-la remover para o Hospital da Beneficiencia Portuguesa, onde deu entrada em 27-12-1932. Pratiquei, juntamente com o Dr. Rubens Guimarães Rocha, a retirada de todo o tecido gangrenado e aplicação larga do termo-cauterio sob anestesia geral. Foi medicada com digaleno, sôro anti-gangrenoso e aplicações locais de neosalvarsan. Permaneceu no Hospital durante uma semana e desde aí curativos diarios, alternando o poder cicatrisante do neosalvarsan com a irritação granulosa do nitrato de prata, escarificações com bisturi. Pedi nova fotografia (fig. 2) em 23-3-1932, isto é, 25 dias depois e pude ver que a plastica, que eu esperava fazer, poderia ser dispensada, como poderão observar na nossa doentinha aqui presente.
Este é o ponto interessante da minha despretenciosa observação que me trouxe a esta casa. Agradeço aos meus colegas a atenção que me dispensaram.
Fig. 1
Fig. 2