ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
Listagem dos arquivos selecionados para impressão:
Imprimir:
1143 - Vol. 12 / Edição 3 / Período: Maio - Junho de 1944
Seção: Várias Páginas: 202 a 217
OTORRINOLARINGOLOGIA EM TEMPO DE GUERRA
Autor(es):
DR. MARIO OTTONI DE REZENDE

Sumula geral dos trabalhos apresentados na Secção de O. R. L. da Associação Paulista de Medicina durante o ano de 1943.

Comentarios pelo Snr. Presidente
DR. MARIO OTTONI DE REZENDE

ROBERTO OLIVA, falando sobre o como orientar a organisação da O.R.L. em tempo de guerra, pensa que este serviço deveria ser concentrado, em cada nucleo de população, em um dos serviços existente e não dispersos pelas diferentes zonas. Julgo que só nos hospitais de base deva existir um serviço completo de O.R.L., sendo os demais especialistas, treinados no serviço de cirurgia geral, podendo, neste caso, resolver, como natural, os casos de O. R. L. que surgissem nas linhas de combate em que estiverem servindo como cirurgiões. No caso de guerra a necessidade de cirurgiões gerais aumenta em tal gráu, que seria um erro não se aproveitar, na cirurgia geral, os que nela já mourejam si bem que em territorio especialisado.

MARIO GRAZIANI expôs, com clareza os problemas odontologicos em tempo de guerra. De seu trabalho chocou-me, porem, a disparidade entre a localisação que deu às diferentes bases hospitalares e o alcance das armas de guerra atuais, sobretudo em sua parte motorizada, que age em velocidade. Hospitais, hoje, só localisados bem longe da linha de fogo, a menos que sejam móveis e montados, somente, para serviços leves.

REBELO NETO, que teve a seu cargo a mais importante das conferencias deste ano, falou sobre "A cirurgia plastica de urgencia, da cabeça e pescoço, em tempo de guerra", digo melhor, não quiz se referir a esta cirurgia em tempo de guerra, pois dizia não ter dela pratica em tais situações. Mesmo achando muito louvavel a sua atitude profissional, de quem só quer se referir áquilo que teve ocasião de praticar em identicas condições, penso que para o caso dos medicos brasileiros que ainda não estão, efetivamente, em guerra ativa, os conhecimentos de colegas envolvidos na ação e durante ela obtidos, devem ser aproveitados pelos que, ainda de longe, seguem a soma enorme de ensinamentos acumulados por eles. Assim é que sobre o assunto John Marquis Converse, de New-York, acaba de lançar, no Annals of Otology, setembro de 1943, um magnifico artigo que o elucida com grande clareza e resolve inumeros problemas, urgentes ou não, essenciais não só para a estética como para a vida dos feridos de guerra nas regiões em estudo. Para maior facilidade divide o mesmo seu trabalho nos capítulos seguintes:

1) manipulação das lesões de guerra das partes moles da face;

2) princípios gerais de tratamento das feridas de guerra complicadas da face;

3) considerações sobre as fraturas dos ossos da face envolvendo a região fronto-etmoidal, com rinorréia cérebro-espinhal;

4) manipulação das fraturas cominutivas do osso malar com ptósis do globo ocular.

O primeiro capítulo subdivide-se no estudo em:

a) lacerações e ferimentos pequenos;
b) feridas explosivas;
c) avulsões;
d) ferimentos por esmagamento;
e) queimaduras da face.

No capítulo do tratamento ressalta as duas condições básicas exigidas do cirurgião: prevenir e tratar a deformidade e restaurar a função. São suas palavras: "É preciso ter-se em mente, no entanto, que a face difere do resto do corpo, diferente porque é o veículo da expressão individual e da identidade da pessoa, difere, também, por sua notavel resistencia à infecção. Talvez pelo possível habito de estar, constantemente, em meio intensamente microbiano, mas sobretudo pela sua forte irrigação sanguínea, os ferimentos da face toleram bem a contaminação pela saliva e pelas secreções nasais. As feridas complicadas da face drenam do lado interno pelas cavidades, sinus e faringe. A gangrena gazoza nunca é vista nesta região, devido á profusa irrigação de que é suprida, assim, tambem, raramente se observa supurações profundas e trombose do seio cavernoso, mesmo nos traumas faciais mais severos. Por todas essas causas os debridamentos das feridas da face, devem ser economicos e não tão extensos quanto os das feridas das extremidades. Os fragmentos dos ossos fraturados da face devem ser conservados a menos que completamente destacados. Três princípios basicos dever ser seguidos no tratamentos das lesões traumaticas da face:

1) Evitar a tensão da ferida: sutura frouxa dos bordos das feridas.

2) Eliminar as areas abertas da ferida: a) sutura precóce e, quando esta não possa ser praticada; b) enxerto de pele;
c) nas lesões comunicantes com uma cavidade revestida de mucosa, suturar a mucosa com pele.

3) Preservar as posições anatômicas dos tecidos: este item estará parcialmente preenchido pelo segundo.

A sutura das feridas da face devem ser praticadas o mais cedo possível e desde que as condições o permitam, assim a plastica posterior se tornará mais facil. Esta sutura deverá ser precedida de limpeza, a mais completa possivel, com remoção dos corpos extranhos e debridamento. Remoção da terra, areia, lavagem com sabão e, ás vezes, mesmo com escova, só deste modo serão evitadas as cicatrizes pigmentadas. Nenhum antisético deverá ser usado pois, geralmente, produzem fixação das celulas. Debridamento, neste caso, quer dizer ressecção dos bordos da ferida de modo a serem eliminadas as partes contusas e desvitalisadas, antes de se praticar a sutura. Não será muito repetir que, na face, estas ressecções devem ser grandemente economicas devido á rica vascularização que ela possue.

Agulhas e material de suturas finos, cuidar as feridas com delicadeza a praticar a sutura plano a plano depois de hemostase cuidadosa. Curativo elastico, levemente compressivo afim de ser evitada a formação de hematoma e edema.

É conceito geralmente aceito que a sutura, para ter sucesso, deverá ser feita nas primeiras seis a oito horas depois do acidente, É bem de vêr que ha casos para os quais a sutura não poderá ser praticada de imediato.

Curativo de espera, á base de sulfanilamida. A ferida será tamponada com gaze embebida em vaselina contendo o medicamento. Neste caso a sulfanilamida é a, mais soluvel nos tecidos, não formando bôlo. A sulfapiridina, o sulfatiazol e a sulfadiazina sendo menos soluveis devem ser usadas em pequena quantidade, pois atuam, nas feridas, como corpo extranho.

TRATAMENTO DAS QUEIMADURAS DA FACE EM TEMPO DE GUERRA

Muitas das queimaduras em tempo de guerra se infectam a este fato tem duas razões: a) tratamento tardio; b) uso do acido tanico sobre as areas queimadas que, ás vezes, devido ás más condições do ambiente, é aplicado mesmo nas queimaduras de terceiro gráu. O emprego do acido tanico só deve ser feito cedo, após limpeza cuidadosa da ferida com água e sabão. Nas queimaduras profundas este acido forma, com a pele destruida, um coagulo firme e duro, dificil de separar-se, constituindo um obstaculo ao tratamento da supuração e ao enxerto de pele.

As substancias tanigenas são desconfortaveis ao redor do orificio bucal e perigosas em volta das palpebras, podendo causar exposição do globo ocular.

O tratamento das queimaduras do 3.° gráu, é baseado na substituição da pele destruida por um enxerto de pele.

O emprego de uma pomada de sulfanilamida sobre as areas queimadas, depois de cuidadosa limpeza, constitue o modo mais pratico de tratamento das queimaduras da face. Agua e sabão e, em seguida, tricloroetileno, para dissolver o oleo que comumente cobre a ferida, especialmente nas feridas recebidas a bordo de navios de guerra.

A base do tratamento das queimaduras superficiais é prevenir a infecção.

Quando a pele apresenta-se branca, seca, parecendo pergaminho, movendo-se no seu todo como uma massa, etc., deve-se pensar numa queimadura do 3.° gráu. Neste caso o ideal é a ressecção imediata da area queimada, seguida de enxerto de pele, mas como, no momento, não é facil conhecer-se os limites da extensão da área queimada, é melhor esperar-se, mais ou menos, 10 dias, tempo em que estes limites se evidenciarão por si mesmo. Neste periodo de expectativa a vaselina sulfanilamidada isolará a região queimada. Antes da aplicação do enxerto a ferida deverá ser revestida de uma camada de sulfanilamida em pó, o que favorecerá, grandemente, a péga do enxerto.

PRINCIPIOS GERAIS DE TRATAMENTO DAS FERIDAS DE GUERRA COMPLICADAS DA FACE

O tratamento de emergencia destas feridas consiste no parar a hemorragia pela ligadura dos vasos e tamponamento a gaze. Especialmente nas fraturas complicadas do maxilar inferior, a lingua deverá ser conservada fóra da boca, afim de se evitar a obstrucção das vias aereas. Um meio pratico de se conseguir isto será a aplicação de um alfinete de segurança. Depois destas primeiras medidas de urgencia, a paciente poderá ser transportado.

Qual deverá ser tratado em primeiro lugar a sutura dos tecidos moles ou a redução dos ossos?

Póde-se dizer que a ordem de procedimento varia de acordo com cada caso, mas a regra é que a sutura deve ser feita em primeiro lugar, pois constitue um caso de urgencia, podendo a fratura ser reduzida mais tarde."

Em seguida, Converse entra no capitulo das fraturas dos ossos da face complicadas de rinorréia. O problema é dificil pois que muitas considerações podem ser feitas em torno dele. Cada caso deverá ter sua propria solução. As fraturas do malar e elos ossos proprios completam seu interessante trabalho.

O que aqui fica dito ainda não é tudo, mas serve para pôr em destaque a importância das feridas da face na cirurgia de guerra e os cuidados que o cirurgião, da linha de batalha, deverá ter com pacientes desta especie, afim de favorecer, com atitude acertada e criteriosa, o futuro fisico e moral dos feridos.

JORGE FAIRBANKS BARBOSA falou sobre "vacinoterapia e soroterapia em O. R. L,". Discorreu, e muito bem, sobre os fundamentos, efeitos e indicações, de ambos, em suas aplicações medicas e cirurgicas. O uso, na guerra, das vacinas, muito restrito no ponto de vista, curativo, póde e deve ser grandemente ampliado na prevenção das molestias transmissiveis : difteria, tétano, variola, febre tifóide, tifo exantematico, colera, etc., e como curativo nas afecções produzidas por krebiselas tão comuns em campos de batalha, no tétano, difteria, peste, colera, etc.. A soroterapia só tem, hoje, aplicação, e não muito grande, nos hospitais de base: septicemias, a meu vêr sobretudo pneumocócicas. Os imunosôros curativos costumam dar, em mãos habeis, resultados bastante encorajadores em determinadas afecções.

REZENDE BARBOSA disse, por duas vezes, sobre "o ouvido e a aviação". De um lado falou sobre a relativa importância do labirinto posterior na, aviação. Esta guerra veio demonstrar que as teorias antigamente aceitas, de que a função perfeita, do labirinto posterior, fosse basica para os que pretendem voar, não estavam certas senão em pequena parte. O vôo cego, exigindo a atenção total do piloto, não dá tempo a que perceba o relativo desequilibrio de seu labirinto.

Na segunda palestra fez ressaltar a importancia total da audição durante o vôo - o controle dos aparelhos receptores das ordens de comando, as perturbações de função das trompas, cuja permeabilidade deverá ser absoluta, pois que afecções tais como a aerootite podem ser causa de desastre irremediavel, alem de sofrimentos martirizantes dos que dela sofrem.

REZENDE BARBOSA pôs, além disso, em relevo a, necessidade e a importancia de um exame prévio cuidadoso de todo aviador ao ingressar nesta arma de guerra e, ainda, dever ser evitada sua entrada em serviço no caso de estar sofrendo, mesmo passageiramente, de afecções agudas das vias aereas superiores, sobretudo resfriados.

REZENDE BARBOSA teria dado uma orientação completa ás suas palestras se nos dissesse de como o medico de bordo, ou o medico de terra, devesse resolver cada caso, dando alivio imediato ao paciente, por vezes desorientado pelas dôres terriveis e pela surdez e quais as providencias a serem tomadas em tais casos e qual o periodo médio de repouso necessario á cada doente isoladamente.

PLINIO MATTOS BARRETTO foi outro que não quiz aproveitar-se do que já existe escrito, resultante da observação dos feridos em campo de batalha, pensando que só deveria dizer do que sabia aprendido em clinica privada e hospitalar, sem mencionar, ao menos, como solucionar os casos gravissimos de traumas laringêos, na linha de combate, e como prepara-los para serem transportados aos hospitais de báse. Falou-nos, mesmo, de tratamentos das estenoses consequentes, casos estes, geralmente, de cura a posteriori, e deixou-nos sem resolver as lesões agudas e urgentes do campo de batalha.

PAULO SAES é e não é um partidario da extirpação profilatica das amigdalas, para os que partem para a guerra. É por acha-la de grande sabedoria e de muito proveito para os soldados que irão estar sujeitos á todas intemperies a que os expõem as condições de guerra; não é por acha-la impraticavel, numa convocação geral, em que o numero dos convocados é milhares de vezes maior que o dos cirurgiões disponiveis para examina-los e opera-los. Uma pequena consideração, porem, poderia ter lugar aqui, e é : de principio só os soldados arregimentados e treinados se prepararão para seguir, imediatamente, para a frente, estes, em suas admissões na tropa, já devem ter passados todos os exames medicos e fisicos necessarios ao engajamentos. Os novos conscritos, que parece, terão tempo suficiente de serem examinados e tratados, sendo, pois, possivel, nessa ocasião, selecionar os necessitados urgentes de inter-
venção e opera-los. Mandar para frente um indivíduo com máus dentes e com amigdalas infectadas é prejudicar a eficiencia que dele se espera quando em trabalho.

PALIA ASSIS fez uma palestra sobre "processos agudos nas vias aero-digestivas superiores em tempo de guerra". Bôa conferencia no ponto de vista teórico, mas não tanto quanto ao seu lado pratico. Discorreu bem sobre as diferentes molestias agudas das vias aero-digestivas superiores, mas não nos quiz dizer do modo mais simples de resolve-las na frente; o que fazer com estes pacientes; quais os cuidados imediatos exigidos em cada caso; o como conseguir diminuir o prazo de afastamento do soldado doente da linha de combate; como selecionar os que podem permanecer na frente e os que devem ser transportados á retaguarda, etc.

PRUDENTE DE AQUINO deu-nos magnifica lição teórica sobre transfusões, plasma, etc., seus efeitos sobre o organismo e sobre a crase sanguinea, mas passou por alto sobre o que seja choque, sua gravidade, sobre a. orientação em sua prevenção e tratamento metodisado, dando, agora, a aplicação pratica e ampla dos bons conhecimentos expostos em sua palestra. Assim deixou de nos dizer sobre os sinais precursores do choque e o modo de pesquiza-los.

Quais são esses sinais precoces do choque?

1) Em primeiro lugar está a tendencia ao abaixamento continuo da pressão arterial sistolica, daí a necessidade de toma-la cada 10 ou 20 minutos; uma pressão elevada não exclue o choque, pois póde, no caso, tender ao abaixamento continuo e, com este, o aparecimento do estado de choque. É um sinal presuntivo, não patognomonico.

2) A diminuição da irrigação sanguínea periferica, sobretudo das extremidades. E' um fenomeno precoce e quase sempre presente. Um modo simples de pesquiza-lo é o indicado por Blalock e Price e consiste na pressão, com o dedo, contra o esterno, deixando-o rapidamentae e notando-se, em seguida, o tempo que leva a mancha branca, deixada pela pressão da pele, em recuperar seu vermelho primitivo. Nos casos normais, em menos de um segundo voltará a côr vermelha, nos de choque tardio a reacção será lenta.

3) Respiração superficial.

4) A redução do conteúdo de oxigênio no sangue venoso. Neste caso a analise, para se conhecer desta redução, não seria pratica por demorada, mas quando do tempo operatorio a observação do enegrecimento intenso e rapido do sangue, servirá de aviso, como sinal precursor de um choque eminente.

Como vêm ha um conjunto de sinais que nos fazem perceber, com rapidez, a existencia de um estado de choque, que exige, sempre, cuidados de grande urgencia. Como preveni-lo e trata-lo? Inumeras medidas poderão ser postas em ação, e entre elas, temos:

a) controlar a perda massiça de sangue;

b) morfina;

c) corrigir a desidratação;

d) reduzir as fraturas sobretudo do fémur;

e) exercer pressões sobre pernas esmagadas;

f) cabeça baixa;

g) medicamentos vasoconstritores;

h) oxigenio em elevada concentração;

i) extrato de cortex suprarenal;

j) calor ;

k) soluções cristalóides;

l) sangue total, plasma, sôro, albumina concentrada.

A aplicação de oxigenio, em campanha, não é praticavel dado o perigo de explosões.

O cortex suprarenal não é aceito por todos, se bem que, diminuindo a permeabilidade capilar, diminuirá, tambem, a perda de plasma pelos vasos sanguineos.

Os pacientes em estado de choque têm, geralmente, as extremidades frias pela vasoconstricção e pela diminuição do volume sanguineo. São as extremidades as que mais sofrem, quando da redução da corrente sanguinea, em todo organismo. E' geralmente aceito que o paciente em choque deve ser aquecido. Ha, porém, uma distinção a ser feita entre o conservar-se o corpo quente e aquece-lo artificialmente. O uso de objetos quentes, em volta das extremidades, ocasionando uma vasodilatação destas, o sangue necessário às partes vitais do organismo será diminuido produzindo, daí, resultados grandemente nocivos. O aquecimento das extremidades só deverá ser praticado, no caso de estarmos preparados para aumentarmos, ao mesmo tempo, o volume do sangue dentro do sistema vascular.

O emprego das soluções salinas, ou de glicose, é vantajoso no corrigir-se a desidratação mas poderá ser nocivo se usado em grande quantidade no tratamento do choque traumatico. Este fato é, ainda, mais verdadeiro, no tratamento das queimaduras. O aumento da permeabilidade associada a lesões de amplas areas cutaneas permitirá, ainda, maior perda de proteina quando do uso de soluções cristalóides.

A diminuição acentuada, na concentração da proteina no plasma sanguineo, resulta na menor capacidade do plasma em atrair liquido para a corrente sanguinea e em rete-lo nela. Daqui a necessidade de se injetar substancia contendo proteinas.

O ideal numa terapeutica de substituição será a administração de um liquido da mesma composição que o perdido.

Ha poucas contra-indicações para o uso do sangue total, sendo, no entanto, preferivel, nos casos de grande hemoconcentração, tal como se observa nas queimaduras, o uso de um liquido com o plasma sanguíneo. Plasma e sôro têm a vantagem de poderem ser aplicados, de urgente, sem a necessidade de qualquer exame preliminar. Mesmo nas grandes hemorragias restará, na circulação, grande quantidade de globos sanguíneos que necessita, tão só, de liquido apropriado para circular.

Quando haja indicação o sangue total e a proteina devem ser administrados em quantidade e rapidamente. A quantidade a ser empregada deverá ser a de que necessite o paciente e não em pequenas doses.

O capitão Frederico Hook, diz que o medo é uma das mais fortes causas de choque e que tratamento deste, excepto o controle de uma hemorragia, deve preceder a qualquer outro. Não vê utilidade no transporte do doente para sala de cirurgia quando, ainda, em estado de choque, excepto em presença de hemorragia, quer interna, quer externa em que a cirurgia, então fará parte do tratamento do choque.

A qualidade do pulso, rapido e móle, é considerada de grande valor, segundo Hook, no diagnostico do estado de choque, melhor mesmo, como sinal deste, que a tendencia continua á queda da pressão sanguínea, que nos indivíduos jovens permanecerá nos limites normais até poucos minutos antes da morte.

Coller, em varias mensurações da perda sanguinea na mesa operatoria, dá uma melhor compreensão do papel que o sangue perdido tem sobre a causa do choque. Diz ele que 1/13 do peso do corpo é constituído de sangue e que todos os pacientes suportam uma perda de 15% de seu sangue sem apresentar evidencia de choque; quando esta perda alcança 20%, cerca de 50% dos doentes apresentam choque; e se a perda aumentar para 23%, todos os pacientes entram em choque.

Como em batalha, embora todo pessoal tenha em sua ficha, o tipo de seu sangue, não é possivel praticar-se transfusão, para.substitui-la o serviço deve possuir plasma sanguineo, sôroalbumina humana, para uso da tropa. Plasma liquido é usado em todos os hospitais em que seja possível encontrar-se doadores.

A sôroalbumina humana deve acompanhar, tambem, o fornecimento de plasma liquido e sêco. E' sabido que a albumina humana contem 65% da proteina do plasma sanguineo e exerce, aproximadamente, 85% da pressão osmótica exercida pelo sangue, de forma que um continente de 100 cc. com 30% de sôroalbumina humana, possue a mesma pressão osmótica que 1.000 cc. de sangue total ou de 500 cc. de plasma sanguineo. Devido a este poder osmótico elevado, a sôroalbumina humana não deverá ser usada nas pessôas que estejam completamente desidratadas a menos que sejam dados outros líquidos pela via intravenosa. Outros substitutos estão sendo experimentados: plasma bovino, albumina bovina, hemoglobina cristalisada, hidrolisado de caseína, pectina, goma, etc. Destes a albumina bovina é o mais prometedor até o presente.

Os cirurgiões militares devem ter em mente o fato de que nenhuma ferida de guerra, por menor que seja, pode ser ignorada sobre o ponto de vista do choque.

Outras precauções não devem ser esquecidas ao tratar-se de um paciente em choque. Quando o choque se dá por hemorragia, a administração da albumina restaura a pressão sanguínea e pode causar, posteriormente, hemorragia a menos que os pontos sangrentos tenham sido cuidadosamente ligados, daí a necessidade de hemostasia meticulosa e do exame frequente do paciente após a injeção da albumina, afim de se estar senhor de uma possivel repetição do surto hemorragico. Nestes a aplicação, tanto da albumina quanto do plasma, só deverá ser feita de emergencia e deverá ser seguida de transfusão, ou sangue total, logo que seja possível.

As anemias gerais post queimaduras devem ser tratadas antes com sangue total que com albumina. O uso da albumina concentrada é contraindicado em presença de descompensação cardíaca onde um subito aumento do volume sanguineo poderá produzir consequencias graves.

HARTUNG, encerrando a serie de palestras, discorreu sobre "explosões e traumas sonoros em tempo de guerra". Disse das lesões que poderiam ser causadas pelo efeito das explosões quer em seus efeitos fisicos : ruturas timpanicas, hemorragias do ouvido médio e interno, comoções mecanicas do labirinto, etc; quer pela propria ação de uma onda sonora, de grande intensidade, sobre as terminações nervosas de ambos labirintos. Mencionou os cuidados necessarios aos pacientes sujeitos a esta especie de traumas e procurou resolver cada caso em particular, quer os que devessem ser cuidados, ainda, na frente de batalha, quer aqueles cujo tratamento requeresse transporte ás bases da retaguarda afim de, melhor examinados, se submeterem a tratamento mais adequado. Este assunto, de grande vastidão, não pode ser tratado numa simples palestra pois só o capitulo das psicoses traumaticas dá para muitas delas. HARTUNG fez o que poude e não foi pouco.

Aqui está a sumula das idéias que me ocorreram ao ouvir cada uma das bôas palestras ditas neste recinto. Senões não houve nenhum, aqui e ali falhas por não terem elas sido, em grande parte, orientadas no sentido pratico.

Muito embora, como deixei dito, nenhum de nós estivesse estado em ação em campo de batalha e, por conseguinte, sujeitos ás dificuldades dos variados ambientes que, cada um, muda a toda hora, o feitio de nosso modo de agir, penso que os quatro anos desta grande guerra, já nos ensinaram muito cousa pratica e util que poderia ter sido aproveitada na confecção desta serie de palestras em beneficio daqueles que possam ter, ainda, ocasião de prestar seus serviços aos soldados brasileiros em plena ação.

O pouco que eu relatei, fóra do ambiente analitico de cada palestra, deixou a evidente necessidade de transmitir, aos nossos colegas, o aprendido pelos que seguem, de perto, as calamidades e os sofrimentos proporcionados pela guerra. Não vejo porque sejamos obrigados a nos ater a nossa propria pratica, que no caso é nenhuma, deixando de lado, a obtida da realidade, por colegas distintos e observadores, em partes as mais diversas do mundo e em clima e condições as mais variadas.

Agradeço, é bem de vêr, a bôa vontade, o esforço e a contribuição de todos aqueles á quem solicitei o concurso para realisação desta série, embora pequena, de bôas conferencias, e que acederam, tão gentilmente, ao meu pedido.

SEGUNDO CONGRESSO SUDAMERICANO DE OTORRINO-LARINGOLOGIA

Secretaria General: Dr. Juan Carlos Oreggia, Yi, 1491
Secretaria del Exterior: Dr. Julio César Barani

MONTEVIDEO

Distinguido colega:

Tenemos el honor de informar a Vd. que el Segundo Congreso Sudamericano de Otorrinolaringología tendrá lugar en Montevideo del 11 al 15 de octubre del corriente año.

Los Relatores y temas oficiales elegidos para este Congreso, son:

Argentina: - Prof. Dr. Eliseo V. Segura. Colaborador: Prof. Dr. Eduardo Casterán. Tema: "PROFILAXIS DE LA HIPOACUSIA".

Bolivia : - Prof. Dr. Félix Veintemillas. Tema: "EL POST-OPERATORIO DE LA MASTOIDITIS".

Brasil: - Dr. Plínio de Mattos Barretto. Tema: "BRONCOSCOPIA COMO MEDIO DE DIAGNÓSTICO Y TERAPÉUTICA".

Chile: - Dr. Riesco M. C. Colaborador: Dr. César Fernández Fernández. Tema: "LA IMPORTANCIA DEL EXAMEN FUNCIONAL DEL OCTAVO PAR EN LOS TUMORES DEL ENCÉFALO".

Paraguay: - Prof. Dr. Crispin Insaurralde. Tema: "LEISHMANIOSIS EN OTORRINOLARINGOLOGIA".

Perú : - Prof. Dr. Juvenal Denegri. Tema: "EL RINOESCLEROMA".

Uruguay : - Prof. Dr. Justo M. Alonso. Tema: "EL CÁNCER LARINGEO".

Los relatos oficiales deberán ser presentados en escritura a máquina con un renglón de espacio interlineal sobre papel carta común. Deberá tenerse presente que, incluídas fotografias, gráficas, etc., el número de páginas no sobrepasará de cien, máximo establecido para ser posible su impresión tipográfica. Asimismo dichos relatos deberán hallarse en poder de la Secretaria General del Comité Organizador, no después próxima mes de julio.

Los relatores oficiales, ya designados, poderán aceptar la colaboración de los profesionales que desearen participar del relato, pero se entenderá que éstos sólo podrán intervenir en la discusión como simples asistentes al Congreso, y si desearen tener mayores atribuciones, habrán de presentar una comunicación independiente del trabajo oficial. Los relatores dispondrán de 20 minutos para exponer sus trabajos, y de 5 minutos como máximo para cada contestación.

Las comunicaciones índependientes del relato oficial se ajustarán a un máximo de 20 páginas, en las condiciones del relato oficial, y su expositor dispondrá de 10 minutos para su presentación y de 5 minutos en total para responder. Estas comunicaciones se hallarán en la Secretaria General del Comité Ejecutivo-Organazidor, antes del 31 te agosto de 1944.

La cuota de -inscripción es de $12.- (pesos uruguayos), dando derecho dicha cuota a las actividades científicas y sociales y a rebicir las publicaciones de los relatos y comunicados.

Los que deseen adherirse deben dirigirse al Sr. Presidente de la Sociedad de Otorrinolaringologia de su país o a Segundo Congreso Sud americano de Otorrinolaringología, Dr. Juan C. Oreggia, Banco Comercial, Montevideo, Uruguay.

Durante el Congresso habrá una Exposición dirigida por el Dr. Enrique Apolo. Los que deseen intervenir en ella deben enviar el material con su debida antelación. En ella se expondrán dibujos, fotografías, piezas anatómicas, instrumentos originales, etc.

Los datos que Vd. crea conveniente consultar referentes al viaje y alojamiento le será facilitados por "Exprinter" al que hemos delegado oficialmente esa labor.

Aprovechamos esta oportunidade para saludar a Vd. con nuestra más distinguida consideración.

Julio César Barani,
Secretario del Exterior.

Juan C. Oreggia,
Secretario General.

PREMIO DEL RIO

A Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina acaba de ser convidada pelo D.D. Presidente da Sociedade Argentina de Oto-rino-laringologia, Prof. Juan Manuel Tato, a aderir á louvavel iniciativa do Dr. Artur Tello, digno Diretor da Revista Chilena de Oto-rino-laringologia e representante da Sociedade Chilena de O.R.L., de crear um premio ao melhor trabalho publicado em uma das Revistas de O.R.L. da America Latina.

Como uma homenagem mais do que justa áquele que foi o primeiro Mestre da O.R.L. Chilena, designou-se o mesmo como "Premio Del Rio".

Já aderiram á feliz iniciativa, alem da Sociedade Chilena de O . R . L., a Sociedade Argentina de O . R . L., representada pelo Prof. Juan Manuel Tato, a Sociedade de O . R.. L . del Litoral, representada pelo Dr. José Ameriso, bem como a Secção de O.R.L. da Associação Paulista de Medicina que, em sessão de 17 de maio deste ano, aplaudiu a idéia e indicou como seu representante o Dr. J. E. de Rezende Barbosa.

Resolveu-se crear um premio, por enquanto bianual, de 500 pesos e uma medalha de ouro. A contribuição de cada Sociedade Latino-Americana de O.R.L. orçará portanto em 50 pesos.

Os detalhes referentes ao premio serão resolvidos entre os representantes das Sociedades, assim como a eleição dos julgadores. Entretanto são sugeridas as seguintes bases:

1) Com o fim de melhor compreensão latino-americana e de estimulo institue-se um "Premio", designado "Del Rio", constituido por uma medalha de ouro, certificado e certa quantia.

2) Este Premio será anual ou bianual de acordo com a resolução antecipada da "Comissão Permanente".

3) Poderão inscrever-se para a conquista do Premio os autores que publiquem o ou os trabalhos com os quais aspiram o honroso estimulo em uma das Revistas Latino-Americanas que tenham aderido a este plano ou que representem algumas das Sociedades de O.R.L.

4) Todo assunto a respeito deste Premio será tratado e resolvido por uma "Comissão Permanente" constituida pelos representantes de cada uma. das Sociedades ou Revistas aderentes. Serão eleitos um Presidente, Secretario e Tesoureiro por votação.

5) Para seleção do trabalho a ser premiado terão preferencias:

a) trabalhos de investigação.
b) trabalhos de conceito, idéias ou técnicas pessoais ou aperfeiçoadas.
c) trabalhos de casuistica e conjunto.
d) trabalhos de symposium e divulgações.

A escolha do melhor trabalho será decidida por maioria de votação do conselho ou comissão permanente. Tambem poderá deixar de ser distribuido.

Em caso de empate será resolvido si se concede um primeiro e segundo Premios ou si se divide em dois o primeiro
Premio.

6) O certificado que credita a concessão do Premio será assinado pelo Presidente e Secretario, ou Diretor e Secretario e o membro da C. P. de cada uma das Sociedades aderentes. A entrega do Premio será feita pela Sociedade á qual pertence o autor.

7) O regulamento definitivo será proposto pela C. P.

A Revista Brasileira de O. R. L. que se bateu sempre pelo maior intercambio de amizade e ciencia entre os especialistas latino-americanos, aplaude e adere á feliz iniciativa do distinto colega Chileno. Outrossim, convida aos distintos colegas brasileiros, do norte, centro e sul, a todos sem distinção, que apoiem e contribuam para que o "Premio Del Rio" represente pelos tempos afóra um vinculo de amizade latino-americana e um índice seguro do progresso da ciencia oto-rino-laringológica.

PREMIO ALVARENGA

A Academia Nacional de Medicina acaba de conferir o Premio Internacional Alvarenga à monografia sobre "Amígdalas. Infecção focal: clinica, hematologia e patologia", de autoria dos distintos colegas paulistas Drs. J. A. de Mesquita Sampaio, J. de Paula e Silva, A. Vicente de Azevedo e J. de Mattos Barretto.

J. A. de Mesquita Sampaio, chefe da Secção de Glandulas Endócrinas do Ambulatorio de Neurologia da Sta. Casa de Misericordia de S. Paulo e da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo, assistente efetivo de clinica médica da mesma Faculdade; J. de Paula e Silva, assistente da Secção de Glandulas Endócrinas e assistente voluntario de clinica médica da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo; A. Vicente de Azevedo, adjunto da Clinica de O. R. L. da Sta. Casa de Misericordia de S. Paulo (Serviço do Dr. Mario Ottoni de Rezende) e. J. Mattos Barretto, livre-docente e assistente da Clinica de O. R. L. da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo (Serviço do Prof. Paula Santos), conquistaram, com precioso trabalho de pesquiza em conjunto, uma das laureas mais almejadas pelos cientistas patrícios e distribuida, ha mais de meio seculo, pelo mais tradicional e graduado Cenáculo cientifico-médico do País - a Academia Nacional de Medicina.

Afim de premiar o melhor trabalho sobre qualquer assunto médico, abrangendo todos os gamos da medicina clínica sou experimental, de pesquisa pura ou de clínica e cirurgia gerais ou especializada, Costa Alvarenga, natural do Piauí criou o "Premio Alvarenga, do Piauí, Brasil', a ser distribuido anualmente, com caracter internacional, pois, contemporaneamente, nas mesmas normas acima expostas, outras sete sociedades sabias do mundo o distribuem - em Paris, Viena, Berlim, Stockolmo, Londres, Filadelfia e Lisbôa.

A entrega do Premio que consiste em um diploma e certa quantia em dinheiro de acordo com as disposições estatutarias, realisa-se em sessão especial da Academia Nacional de Medicina em 14 de julho, não somente pela significação da data como tambem por ser um premio internacional.

A Revista Brasileira de O. R. L. congratula-se com os distintos e ilustrados colegas e colaboradores por tão bela conquista que representa, de fato, um entranhado amôr à observação e pesquisa, fazendo éco, tambem, dos cumprimentos de todos colegas oto-rino-laringologistas brasileiros.




(1) Apresentado á Secção de O. R. L. da Associação Paulista de Medicina em 17-12-1943.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


Imprimir:
Todos os direitos reservados 1933 / 2024 © Revista Brasileira de Otorrinolaringologia