As crianças surdas em idade escolar apresentam um problema diferente das crianças duras de ouvido. A maioria das crianças surdas ou é surda de nascença ou perde a audição antes que os habitos de linguagem e falar tenham sido estabelecidas. Por criança surda nos referimos aquelas que não possuem poder auditivo suficiente que lhes permitam entender a palavra com facilidade, mesmo com o auxilio do aparelho, sem aprendizado especial. Mesmo aquelas crianças que perdem a audição depois de firmemente estabelecidos os habitos de linguagem e fala, ficam com a linguagem mais defeituosa do que as crianças duras de ouvido. No entretanto, a criança surda de nascença não é debil mental. Seu mecanismo de falar é normal, mas ela simplesmente nunca aprendeu a falar.
Nos seus anos de formação as crianças aprendem a falar a linguagem, tanto expressão como recepção principalmente através cio ouvido. Pronuncias e acentos aprendidos na infancia tendem a permanecer por toda a vida. No mesmo sentido nosso uso e entendimento da linguagem, naturalmente dependem primeiramente do ouvido. A criança surda de dois anos não possue linguagem verbal util, enquanto que a criança da mesma idade que ouve começou a desenvolver um importante vocabulario, tanto de palestras como de ouvido. Assim sendo, meios de comunicação com a criança surda devem ser providenciados, através de sistemático e laborioso trabalho.
DESCOBERTA E DIAGNOSTICO DA SURDEZ
A descoberta e diagnóstico da surdez na criança, especialmente naquelas de menos de cinco anos, é um problema particularmente dificil, porque a ausencia dos meios usuais de comunicação com a criança inutiliza os testes comuns.
No entanto a propria falha da criança em falar e em entender a linguagem na idade normal, deveria levar os pais a suspeitar a surdez e a consultar um otologista para determinar o estado da audição da criança. Mesmo que a criança não ouça suficientemente para permitir que aprenda a falar sem auxilio de outrem, é importante que se descubra o mais cedo possivel e acuradamente, a quantidade de audição que possue, pois isto será muito importante na escolha do seu programa educativo.
Quando há suspeita de surdez na criança o otologista deve recorrer a uma infinidade de testes, os quais mesmo não sendo concludentes, em conjunto oferecem consideraveis informações. É óbvio que os pais devem ser interrogados sobre as reações da criança não somente quando a fala como a outros sons, tais como o radio, telefone, campainha, busina, avião, palmas e latidos de cães
O otologista então tenta varias assobios, tambores, apitos, chocalhos e grilos mecanicos, procurando sempre alguma indicação de que a criança espantou-se com algum desses ruidos.
Se a criança parece ouvir, deve se repetir o som, permitindo que a criança ouça e veja o instrumento que o produz. A mesma desenvolve uma associação de idéia entre o som e a fonte deste e pode mostrar se já discrimina os diversos sons.
Estando a criança de olhos fechados, o otologista faz um determinado som e lhe pede que identifique o objeto que o provocou. A distancia do objeto ao ouvido da criança deve variar, a fim de permitir um calculo da "audição residual", se é que existe. Os diferentes sons produzidos pelos diversos instrumentos tambem fornecem alguma informação sobre a natureza qualitativa da perda de audição.
Metodos engenhosos para provocar a criança durante esses testes e confiar menos na observação e interpretação do médico, foram descobertos recentemente nos Estados Unidos e na Europa. Por exemplo, ao invés de fazer a criança apenas apontar o objeto que produziu o som, uma atividade atrativa, tal como colocar blocos coloridos numa determinada posição e associada ao som dado. Arranjos atraentes de luzes coloridas tambem são muito uteis. Os testes tornaram-se mais especificos, usando-se geradores de sons que produzem sons altos, baixos e intermediários.
A propria fala é usada nos testes. Vários elementos fonéticos simples de palavra e combinações de elementos, são falados ao ouvido da criança e pelo metodo de associação a habilidade da criança em discrimina-los é determinada. Motivação adequada para a criança e uma atmosfera agradavel para desenvolver os testes são extremamente importantes.
Um observador bem treinado de ouvido pode prestar atenção a voz da criança e as suas exclamações extemporâneas, procurando anormalidades em seu ritmo, fluência e qualidade delas, tirando algumas conclusões quanto ao estado da audição da mesma. Quase sempre longos periodos de cuidadosa observação são necessaries para ter-se um resultado certo e descobrir-se outras desordens, tais como afasia, que é um disturbio da função da linquagem. Quasi sempre, se a audição de uma criança é tão defeituosa que ela não conseguiu aprender a falar até a idade de 4 ou 5 anos, descobre-se que a surdez é do tipo de nervo, ou total ou bastante grave, e usualmente o tratamento médico nada oferece para melhorar a audição.
AFASIA
A Afasia nos adultos e em crianças mais velhas, quer dizer, uma perda parcial ou total da habilidade de expressar idéias por meio da palavra ou da escrita. Essa condição é devida a um distúrbio no cerebro e não no ouvido ou nos musculos da voz (palavra). É logico que se admita a existencia de condição semelhante em crianças antes que surja a fala. Chama-se a isto de afasia congénita, mas um otologista chamou-a de surdez.
Crianças afásicas não entendem os sons que as rodeiam e logo os ignoram completamente. Frequentemente são diagnosticadas como surdas. Acessos de raiva e um extremo negativismo, são as características do comportamento de crianças afásicas. A qualidade da sua voz, chorando ou balbuciando, bem como a resposta a alguns sons habituais indicam que elas podem ouvir. Uma memoria falha na linguagem é característica. Essa memoria fraca para falar e a falta de entendimento da linguagem, impedem à criança afásica de aproveitar os metodos usuais empregados na instrução aos surdos. Quando colocados em uma escola para surdos ela é quasi sempre classificada como retardada mentalmente, e em algumas escolas ela pode ser transferida para o manual departamento e em outras escolas ela pode ser até enviada a uma instituição para debeis mentais.
A associação através de todos os canais sensoriais deve ser empregada no desenvolvimento da compreensão da criança afásica. O comportamento melhora com a compreensão e a criança começa a usar seu ouvido quando a linguagem se torna compreensiva. A rehabilitação é possível para elas mais cedo do que para uma criança surda. Se uma criança afásica começa a sua educação especial em idade de jardim de infância, ela usualmente estará pronta para uma vida escolar normal no 2.° ou 3.° ano.
ORALISMO E MANUALISMO
Quando os testes diagnósticos mostram que a criança não pode entender a palavra falada, mesmo com o auxilio de um aparelho auditivo e quando o tratamento médico não consegue melhorar a audição da mesma, um programa especial de educação planejado expressamente para auxiliar a criança surda deve ser iniciado.
De importância fundamental nesse ponto é o meio básico de comunicação. É claro que ela deve aprender a ler e escrever, mas para a comunicação comum, face a face, deve ela aprender o metodo oral, que a ensina a falar e ler os labios ou deve aprender o metodo manual que a ensina a soletrar suas palavras pelos dedos e ler, o alfabeto manual nos dedos dos outros? Ou deve ainda ela aprender um metodo que combine os melhores aspectos do oralismo e do manualismo?
Acidentalmente, o alfabeto manual deve ser destacado da linguagem dos sinais. O primeiro usa representações nos dedos das letras do alfabeto para expressar o pensamento através das palavras, o segundo emprega gestos significativos e predeterminados para expressar unidades de pensamento diretamente sem recorrer ás palavras como veículo do pensamento. A linguagem dos sinais geralmente não é empregada formalmente como metodo de ensino em classes para surdos, mas é amplamente usado como meio de comunicação entre os surdos e seus familiares.
A controversia oral-manual tem profundas raizes históricas. Nos Estados Unidos a influencia de I' Epée através de Laurent Clerc e Thomas Hopkins Gallaudet, estabeleceu a tradição do manualismo no começo do século dezenove, e foi somente depois da metade desse mesmo século que o oralismo começou a se estabelecer. Atualmente 75% das crianças inscritas em escolas para surdos, aprende o metodo oral de comunicação. Apesar do fato de todas as organizações educativas para surdos serem oficialmente registradas como uma oportunidade para todas as crianças surdas aprenderem a falar e ler a palavra falada, o fato de 25% dessas crianças aprenderem o metodo manual, mostra que existe uma significante (e quasi sempre inflamada) diferença de opinião Sobre o que constitui realmente essa oportunidade.
O critério de transferir uma criança de uma classe oral, para uma manual, provavelmente porque ela não mostra aptidão para o oralismo, é quasi sempre vago e nebuloso. Alguns educadores fazem a transferencia durante o primeiro ano da criança na escola; outros esperam até que a criança esteja na escola 3 ou 4 anos e ainda alguns outros ministram instrução oral todo o tempo de estudo, mas permite que elas se associem no dormitório com as crianças de instrução manual.
O último plano, óbviamente, torna a instrução oral menos eficiente, porque a criança que fala deve se ajustar á que não pode falar e uma valiosa prática na comunicação oral se perde. Aqueles que advogam algum manualismo, geralmente argumentam que quasi sempre os resultados de um ensino exclusivamente oral não são satisfatórios e que a criança surda tem dificuldade em se fazer entender por um leigo. Ainda mais, argumentam, que muitas crianças não possuem a aptidão para se beneficiar com a instrução oral e o tempo gasto nesse tipo de instrução poderia ser aproveitado mais na concentração do desenvolvimento mental da criança do que nos seus meios de comunicação. Alguns adeptos do manualismo acham que os surdos preferem se associarem a outros surdos e assim sendo quasi não têm necessidade de comunicação oral.
O fundamental argumento dos oralistas (adeptos da instrução oral para os 2 surdos) por outro lado, é que um treinamento no falar e na leitura da palavra, dá um reajustamento mais facil a um mundo no qual a palavra é o principal meio de comunicação. Não sujeita o surdo a se associar apenas àqueles que conhecem o alfabeto manual ou àqueles que tiverem disposição a recorrer ao lapis e papel. Quem procura um empregado tende mais a aceitar o surdo que poderá receber instruções orais do que aquele que tem necessidade de se comunicar por gestos ou por escrito.
Nem sempre é possível, principalmente em cidades pequenas, aos surdos encontrarem emprego ou convivência social entre outros surdos. Os oralistas acham que, quasi sempre, as crianças treinadas oralmente têm sido bem sucedidas e tendem a melhorar, à medida que mais professores sejam treinadas adequadamente nos métodos de instrução oral.
A controversia oral-manual ainda não está resolvida, e não existem dados científicos convincentes nos quais se possa basear uma conclusão objetiva. Não nos deteremos nos argumentos; mas desde que todos aqueles que se dedicam profissionalmente à instrução dos surdos concordam que toda a criança surda deve ter, pelo menos a oportunidade de aprender a falar e a ler a palavra e como nós tambem estamos convencidos da conveniencia do oralismo, manteremos a nossa discussão da educação da criança surda ao oralismo.
A HABILIDADE MENTAL DA CRIANÇA SURDA
A habilidade mental da criança surda como um grupo é igual, exceto a linguagem, à daquelas que podem ouvir. Os seus feitos acadêmicos podem, é claro ser muito inferiores se não aprenderem a se comunicar com os outros. A velha idéia de que os surdos são fundamentalmente inferiores, entupidos e "bobos" ainda persiste, mas testes apropriados de inteligência e de habilidades mentais especificas mostram que, pondo de lado as óbvias limitações dos campos da linguagem e tambem um retardamento forçado na educação daqueles que não aprenderam a falar e a ler a palavra em seus primeiros anos de vida, os surdos são mentalmente normais.
MANEIRAS SOCIAIS
A criança surda geralmente tem dificuldade em adquirir o que chamamos algumas vezes de "boas maneiras". Por exemplo: a criança surda não aprende com facilidade a empregar a agradavel conversa fiada. Se alguem diz: "Que dia lindo" a criança surda pode não responder, pois acha isso tão óbvio que não considera que uma resposta seja necessária. A não ser que aprendam especialmente, as crianças surdas podem deixar os seus amigos embaraçados com o barulho do arrastar de seus pés, do seu mastigar e do seu engulir, dos quais naturalmente, elas não têm noção.
Muitas crianças surdas vivem uma grande parte de suas vidas na relativa atmosfera comunal do internato. O seu pensamento é habitualmente concreta por causa do uso constante das demonstrações concretas dos significados das palavras, e as idéias abstratas apresentam para elas uma grande dificuldade. Talvez sejam estas as razões pelas quais uma atenção especial deve ser dada ao instruir-se essas crianças nas questões sociais basicas tais como a invasão da intïmidade alheia e os direitos de propriedade dos outros.
CURSOS POR CORRESPONDPNCIA
Para os pais das crianças surdas de pouca idade, foram estabelecidos cursos por correspondência os quais oferecem conselhos, sugestões, práticas e informações referentes aos cuidados com a criança no lar antes dos anos do jardim da infância. Pais inteligentes e compreensivos acharam esses cursos muito uteis, dando a eles explicações muito claras sobre o inicio da leitura do falar e uma ótima aproximação psicológica à criança surda. Outras explicações incluem o desenvolvimento da discriminação visual, fazendo exercício de combinação de cores e quadros e comparação de objetos que variam em tamanho e feitio; praticar a discriminação de odores e paladares; exercício de imitação dos movimentos do corpo e o uso de materiais que auxiliem a criança a atingir uma boa coordenação muscular. Esse treinamento continuará no jardim da infância numa escala mais intensiva e avançada.
Tal curso por correspondência é muito util para aqueles que estão muito afastados para obter informações e conselhos pessoalmente de uma das bem estabelecidas escolas para surdos. As crianças instruídas por pais que fizeram um curso por correspondência ficam melhor preparadas para receber um benefício imediato ao entrarem no jardim da infância.
JARDIM DA INFÂNCIA
Reduzir o retardamento escolar da criança surda, e coloca-la tanto quanto possivel em pé de igualdade a seus irmãos e irmãs de ouvido normal é uma tarefa que requer metodos especiais de ensino e uma grande habilidade do professor, desde o jardim da infância até pelo menos ao curso elementar. O jardim da infância, atualmente é recomendado a todas as crianças, apesar, de nem todas as crianças normais se adaptarem perfeitamente a êle. As vantagens para um ajustamento e um crescimento social normal, oriundas dos brinquedos bem orientados de repartir com os outros e as rotinas habituais, são no entanto, muito mais importantes para a criança surda do que para as que ouvem. Os primeiros passos em leitura labial e em aprender a falar podem ser iniciados nessa época com grande vantagem. Começar bem cedo instrução em ler a palavra ou fala é essencial, pois ela torna possivel uma aproximação com a criança através da palavra. Quando a criança normal atinge a idade escolar, ela já adquiriu um suficiente domínio da linguagem para contar histórias simples, fazer perguntas e expressar suas idéias e sentimentos. A criança surda pode apenas fazer gestos, é quando esses gestos ou palavras não são suficientes, seu desapontamento se demonstra em acessos de raiva ou por uma indiferença completa aos que os rodeiam. Quanto mais cedo ela aprender a falar inteligentemente, mais cedo terminarão os acessos de raiva e os desapontamentos.
A criação de jardins da infância nos internatos para surdos têm sido objeto de muitas controversias. Aqueles que são adeptos do jardim da infância enaltecem as vantagens de uma precoce aquisição do falar e ler a palavra e aqueles que se opõem a ele, ressaltam a insegurança da criança separada tão cedo dos pais. Talvez a situação ideal fosse um jardim da infância sem internato, mas infelizmente nem toda a criança surda vive em cidades nas quais isso seja possivel.
Nossa propria experiencia no Instituto Central para Surdos, nos leva a crer que qualquer sentimento de insegurança que a criança tenha no período do jardim da infância tem sua recompensa pelo treinamento precoce em falar e ler a fala e no progresso escolar quasi normal que daí advem.
Qualquer sentimento de insegurança nessa tenra idade é menor que o sentimento de insegurança dos que só conseguem entrar no ginasio com dezoito anos ou mais; então, colocados para competir com crianças de 14 anos elas avaliam a diferença ela sua idade com o seu atrazo escolar e sentem-se inferiores e sem segurança. De fato, por esse motivo muitos deres deixam o ginásio.
Fizemos uma comparação entre um grupo de crianças cuja educação começou no jardim da infância e um grupo que entrou em nossa escola depois dos 5 anos: ambos os grupos aprenderam na mesma escola, pelos mesmos metodos e tinham aproximadamente a mesma inteligência. O grupo do jardim da infância era menos retardado em educação e completou o 8.° ano com a idade de mais ou menos 15 anos e 3 meses; e todos eles continuaram a sua educação em escolas comuns para os que ouvem. O grupo que entrou em idade escolar mostrou uma grande diferença entre inteligência e atuação e somente menos da metade desse grupo entrou para o ginásio.
Portanto levando em consideração o futuro da criança, ela deve entrar para o jardim da infancia para crianças surdas, afim de ter melhor oportunidade para uma vida social e escolar normal e um melhor justamento vocacional no mundo dos que ouvem.
PRIMEIROS PASSOS NO TREINAMENTO DA FALA E DA LINGUAGEM
Para inicar a criança surda na estrada educacional, torna-se necessário equipa-la com os instrumentos de comunicação, e para conservar esses instrumentos afinados, por meio de uma prática regular através de toda a sua vida escolar e algumas vezes, mesmo depois de terminada a escola. Esses instrumentos são: o falar, a leitura do falar e a linguagem. O primeiro permite à criança expressar seus pensamentos oralmente; o segundo: a prepara para entender os pensamentos falados dos outros; e o último é o instrumento basico do qual dependem os dois primeiros. Essas habilidades são melhor ensinadas a criança surda, tirando partido de todos os sentidos. A visão é o mais importante de todos, é claro, mas o tacto e o senso de movimento ajudam bastante. Se a criança tem 'alguma audição, tambem esta é utilizada ao máximo.
O principio de utilizar os outros sentidos é bem ilustrado no ensino da fala ao surdo. Numa aula típica, o professor coloca as pontas dos dedos da criança na sua face, orienta-o a olhar e sentir a produção de um elemento fonético como "m" ou uma combinação de elementos como "mão". Encorajado pela impressão visual e tactil da fala do professor, a criança tenta imitar o modelo da fala e reproduzir e "sentir" o movimento muscular necessário para a sua reprodução acurada.
Pela repetição e insistência o professor consegue desenvolver uma articulação precisa (a formação e junção de sons individuais) e uma qualidade natural da voz. Precisão de articulação e naturalidade da voz são princípios básicos, mas, acentuação, ênfase, fraseado e ritmo são fatores vitais tambem para uma boa dicção. Estes tambem se desenvolvem por meio de metodos engenhosos que utilizam todos os sentidos funcionais da criança. Ela pode ouvir a palavra natural e variados sons musicais através de um forte aparelho auditivo; ela pode sentir acentos diversos no teclado de um piano e pode tambem aprender a associar essas impressões através de moldes visuais de luzes, à palavra escrita ou outros símbolos.
Por exemplo: se a criança aprendeu a articular a palavra método mas apesar dos esforços iniciais do professor, a pronuncia método, acentuando a segunda silaba, essa palavra não seria inteligivel para o leigo. O professor teria então que fazer a criança sentir a acentuação certa ao piano, tocando um acorde forte e depois outro fraco, simbolizando-os no quadro negro como a palavra método. A acentuação errada seria assim corrigida. Por tais metodos a criança aprende a complexa arte da palavra.
O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
O desenvolvimento da linguagem, tambem desafia a habilidade do professor. Logo no inicio as palavras são associadas às experiencias concretas da criança. Para ensinar a palavra "bola", mostra-se uma bola a criança; depois mostra-se ao mesmo tempo a palavra impressa num cartão e o objeto. Para ensinar a palavra "pulo" o professor pula e associa a ação à palavra. Mas as abstrações e as formas complexas da linguagem e as construções gramaticais apresentam uma dificuldade ainda maior, e até mesmo um professor experiente fica perplexo com o limitado vocabulário e as interpretações literais das palavras pela criança surda. A criança surda não aprende a manobrar a linguagem, com os tons diferentes e significativos das palavras e com a inflexão cia voz. Elas desenvolvem as aptidões de pensamentos que são absolvidas inconscientemente pela criança que ouve a linguagem diariamente.
Por exemplo: um professor de geografia elementar estava preparando as crianças para uma compreensão de direção. Ele empregou a seguinte sentença ilustrativa: "A rua tal corre de norte a sul". Uma das crianças imediatamente se levantou e com uma expressão de incredulidade no olhar, explodiu: "Isto não pode ser verdade. Da. fulana, a rua tal não tem pernas". A professora havia confiado demais na compreensão dos alunos. As crianças ainda não haviam aprendido os vários significados do verbo "correr". No entanto, através de um contacto contínuo com o vocabulário e as fôrmas da linguagem e através de várias experiencias constantemente traduzidas para a linguagem o domínio da língua é vagarosamente, mas certamente expandido e enriquecido na criança.
ESCOLAS PARA A CRIANÇA SURDA
As relativas vantagens do internato e do externato têm sido longamente debatidas. Primeiramente, deve a criança entrar para um internato ou um externato? No internato, a criança surda tem a vantagem de ser guiada por pessoas habilitadas o tempo todo. Professores e monitores discutem os problemas da classe e dos dormitórios. No internato, as crianças podem se preparar, para atividades extra-escolares por meio de um aprendizado recreacional. Por exemplo: antes da criança ir ao circo algumas palavras referentes a êle são ensinadas. Todas as crianças assistem ao mesmo espetaculo e todas as classes reunem-se para discutir o circo.
Morar num dormitório ensina a criança surda a repartir corem os outros, a aceitar responsabilidades e cooperação. As palavras aprendidas na classe são usadas tambem na mesa e nos brinquedos. Um internato possue classes bem dirigídas, ao passo que somente as grandes cidades têm número suficiente de crianças surdas para tornar possível classes bem organizadas em externatos.
Por outro lado, a frequência ao externato não prejudica a vida em família, e a criança tem a oportunidade de participar em todas as atividades familiares.
Essa criança surda tem mais liberdade na visinhança e mais oportunidade de brincar com crianças que ouvem. Os pais e amigos no entanto, devem ter muito cuidado para não conceder favores especiais a uma criança porque ela é surda. As, outras crianças da família se ressentem ao ter que dar seus brinquedos favoritos a um irmão ou irmã que é surdo e tambem sentem ao serem punidos por faltas que quando são cometidas por crianças surdas ficam sem castigo.
OS BRINQUEDOS DAS CRIANÇAS SURDAS
Nas escolas e no lar, os brinquedos das crianças surdas apresentam uma série de problemas. Deve a criança surda associar se aos que ouvem ou aos surdos?
Em crianças em idade de jardim da infância isto não parece fazer diferença; surdos ou não, brincam juntos sem dificuldade e a falada criança que ouve não é essencial a êssas atividades. Numa experiência, notou-se que as crianças surdas que estavam aprendendo a falar e a ler, a fala no jardim da infância, vocalizaram mais do que as crianças que ouviam, quando brincavam juntas. Nas classes elementares mais atrazadas, as crianças surdas participam dos jogos das crianças que ouvem se esses jogos forem ativos, mas elas não conseguem acompanhar o tipo de jogo imaginativo, iniciado pelos que ouvem. Crianças surdas brincando juntas, no entanto, tomam parte em jogos imaginativos, conseguindo transmitir idéias uns aos outros por meio de gestos e imitação.
À medida que os jogos se tornam mais complexos e melhor organizados, os que ouvem excluem os surdos ao envez de tentarem, explicar as regras dos mesmos. Em jogos organizados, como futebol, baseball, bola ao cesto e hockey, a criança surda é tolerada se fôr um bom atleta, mas será excluída se fôr mediocre. Torna-se portanto uma obrigação da escola ensinar como parte do currículo, o vocabulário dos diferentes jogos e as habilidades essenciais à prática dos esportes no mundo dos que ouvem.
CURRÍCULO ESCOLAR PARA SURDOS
Na escola a leitura deve ser considerada o assunto mais importante do currículo. A leitura para a criança surda; torna-se uma fonte de informações e um meio dela adquirir um vocabulário mais extenso. Para a criança surda fazer progressos na escola, ela deve ser forçada a tomar gosto pela leitura, tanto na escola como em casa. Durante todo o seu curso a criança é encorajada constantemente a desenvolver o seu conhecimento da linguagem, e através da fala, a leitura labial; leitura e escrita, afim de aumentar os seus conhecimentos no campo escolar da matemática, estudos sociais, ciência, literatura, história e habilidades vocacionais.
Uma pergunta que é sempre feita: uma constante associação dos surdos entre si num internato torna o contacto com crianças e adultos normais mais difícil?
Devem os pais e as escolas encorajar o contacto com as crianças normais ou a criança surda se sente mais infeliz quando no meio delas? Em cidades pequenas a questão se resolve por si, pois o numero de surdos é muito pequeno. Podem existir apenas 1 ou 2 crianças surdas, e portanto, elas forçosamente se associam aos que ouvem. A idéia de começar e manter contactos da criança surda com os que ouvem, tem relação com o futuro da criança tanto na ginásio como depois de adulto. No futuro, a criança surda deve associar-se aos que ouvem quando trabalhar. Parece justo então, que durante a sua vida escolar a criança surda tenha contacto com crianças normais em atividades extra-curriculares.
Antes de se formar na escola para surdos afim de continuar sua educação, na escola comum, a criança surda deve receber preparação extra para a instrução que irá receber na nova escola, para que tenha confiança em si e no seu programa educacional. Por exempto: as crianças que estão completando o oitavo ano no Instituto Central para Surdos, começam a aprender álgebra durante o seu último mês na escola. Isto lhes proporciona o vocabulário e preparação para a nova matéria necessários as crianças ao começarem o seu ajustamento no ginásio no ano seguinte. O professor de linguagem lhes dá instruções referentes a como proceder nos diferentes clubes existentes no ginásio afim de que tomem parte ativa inteligentemente nos mesmos. A familiarização com esses conhecimentos os põe em condições de bem impressionar as crianças normais e facilitam a criança surda a travar conhecimentos e a participar das atividades escolares.
PREOCUPAÇÃO DOS PAIS
Quando os pais suspeitam que sua criança é surda, sua primeira reação é de profundo pesar e este pesar tem seu curso antes de que qualquer medida objetiva e prática venha a ser tomada sobre o futuro tratamento da criança. Não é agradavel ouvir que uma criança é surda e que não há esperança de tornar a ouvir. Infelizmente alguns pais recusam-se a enfrentar diretamente o problema. Começam então a fazer peregrinação de um médico para outro, esperando sempre por um milagre e não tomando as devidas precauções para uma educação especial.
Dessa forma, eles desperdiçam dinheiro e perdem valiosos anos que poderiam ser dedicados ao jardim da infância, procurando "curas" sobre as quais leram algo, fazendo viagens aéreas, procurando cirurgiões.
Outros pais cercam a criança surda de um "amor" exageradamente protetor assim que tomam conhecimento da surdez da mesma. Eles querem fazer tudo pela criança, para compensar o seu defeito físico, êles a vestem, alimentam, e distraem e evitam que a mesma tenha contacto com outras crianças. Com esse proceder os pais privam a criança de um desenvolvimento normal e a sua educação se atraza.
DIFICULDADES
Mais cedo ou mais tarde todos os pais chegam à conclusão de que uma educação especial é necessária; mas ao mesmo tempo ficam atrapalhados sem saber o que fazer. "Meu filho é surdo, mas o que devo fazer?"
Otologistas, educadores e psicólogos, podem ajudar os pais a tomarem as providências para uma educação que mais se adapta às necessidades da criança. As crianças diferem, as escolas diferem, as cidades diferem. Uma solução sómente não servirá para resolver os problemas das crianças surdas de várias cidades. Nós delineamos alguns dos princípios de educação para a criança surda, mas a escolha de uma determinada escola torna-se quasi sempre um problema difícil.
COOPERAÇAO ENTRE OS PAIS E AS ESCOLAS
Finalmente, após a escolha da escola para a criança surda, surge uma estrada difícil para os pais, um longo periodo de aprendizado para poder cooperar com eficiencia, junto a escola através de toda a carreira educacional da criança. Os pais ficarão mais aptos para esse terceiro e importante estágio da sua atitude emocional, se reconhecerem que a sua preocupação e dificuldades passadas foram dominadas e pacientemente compreendidas, e conselhos bondosos, claros, mas não insistentes, foram recebidos.
Nesse ponto a responsabilidade da escola é bastante grande: primeiro, reconhecer a natureza das fortes emoções que cercam as relações dos pais com a criança surda, e segundo, encorajar a cooperação do lar mediante relatórios construtivos e informativos, promovendo visitas frequentes e observações dos pais durante as aulas.
Os pais devem aproveitar todas as oportunidades para que a criança pratique em casa a leitura de livros e a leitura labial que aprendeu na escola. Eles podem ajudar materialmente no desenvolvimento e correção da fala da criança, procurando enriquecer o seu vocabulário, animando-a a traduzir as experiências infantis em linguagem accessivel. Se a criança estiver em um internato, um contacto contínuo com o lar deve ser mantido através de cartas e fotografias. Noticias de casa são essenciais a felicidade da criança surda. Relatórios dos professores, e pelo menos uma visita anual, mantem os pais em contacto com o progresso da criança.
Ao atingir a adolescencia a criança surda tem as mesmas necessidades básicas que as outras crianças! Ela logo deve estar apta a ganhar a vida, tomar decisões, associar-se com o sexo oposto e competir socialmente com os que ouvim. A escola e o lar devem preparar a criança surda para estas mais importantes atividades.
Professores, pais e os dirigentes da escola devem cooperar novamente para escolher a escola superior ou a escola vocacional, após a formatura da criança na escola para surdos. De novo, fatores variados afetam a escolha; tais como a idade da criança, sua inteligencia, seu currículo escolar, seus interesses e habilidades e as facilidades de escolas e oportunidades vocacionais na cidade!
Geralmente falando, uma escola pequena para surdos é a melhor escolha. Os pais devem tambem fazer um esforço sincero para ajudar a criança surda a conquistar amigos na cidade onde mora.
SATISFAÇÃO
Quando os pais contemplam os frutos do seu longo trabalho, têm a satisfação confortadora de que seus esforços, reforçando aqueles da escola, tiveram uma significação tremenda no feliz ajustamento de seu filho. Por parte da escolha, não deve existir uma filosofia de conformação, mas sim uma atitude de realística compreensão do problema dos pais, o que muito virá facilitar o problema de ajustamento dos pais.
Os pais não devem esquecer o quanto devem aos professores, cuja paciencia, conhecimentos e compreensão tornaram possível o desenvolvimento e desembaraço da criança surda. O trabalho destes professores está melhor descrito por este comentário de um conhecido perigo quando visitou uma escola para surdos. Ouvido eles não têm, mas ouvem, graças ao amor e a compreensão.
(*) Trabalho apresentado no II.° Congresso Latino-Americano de O.R.L. B.E., realizado em S. Paulo de 8 a 14 de Julho de 1951.
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