ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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1072 - Vol. 8 / Edição 5 / Período: Setembro - Outubro de 1940
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 335 a 340
A SIFILIS EM NARIZ, OUVIDOS E GARGANTA (1)
Autor(es):
DR. SYLVIO MARONE (2)

ESTATISTICA SOBRE 1.223 CASOS

Desejando apresentar nesta PRIMEIRA CONFERENCIA NACIONAL DE DEFESA CONTRA A SIFILIS alguma contribuição da oto-rino-laringologia á sifiligrafia, procuramos realizar um modesto estudo estatistico sobre as incidencias lueticas em nariz-ouvidos e garganta, valendo-nos, para isso, da benemerita Liga de Combate á Sifilis, filantropica instituição do Centro Academico "Osvaldo Cruz", da Faculdade de Medicina de S. Paulo, a qual presta relevantes serviços á classe pobre de S. Paulo e da qual nos orgulhamos ser medico assistente.

Assim, em 21.000 doentes da LIGA DE COMBATE A' SIFILIS, encontramos 1.223 incidencias lueticas manifestadas no terreno da Oto-Rino-Laringologia, perfazendo 5,8%, numero significativo e consideravel que deve chamar a atenção dos especialistas principalmente quando essas lesões se localizam num departamento que escape do alcance do sifiligrafo, harmonizando-se, destarte, ambas as especialidades co-irmãs.

Assim foi a distribuição das manifestações lueticas:





A analise dessas incidencias, por ordem de frequencia, foi a seguinte:

BOCA

Encontrámos nessa cavidade 600 manifestações lueticas que assim se agrupavam:

6 PROTOSIFILOMAS, numa porcentagem de 1 % dos casos bucais e assim espalhados: 3 do labio superior ou seja 50% dos protosifilomas bucais, sendo 2 em mulheres e 1 em homem;
2 do labio inferior ou seja 33,3%, sendo 1 em homem e 1 em mulher; e 1 protosfiloma da lingua, em mulher;

496 casos de SIFILIDES SECUNDARIAS ou seja 86,6% da lues bucal ou 2,3% sobre o total dos casos observados, sendo 321 em homens e 175 em mulheres;

98 casos de SIFILIDES TERCIARIAS ou seja 16,3% dos casos de lues bucal, sendo 64 em mulheres e 32 em homens, com o seguinte agrupamento:

40 gomas do palato mole ou seja 40,8% em 28 mulheres e 12 homens
30 gomas do palaco duro ou seja 30,6% em 19 mulheres e 11 homens
12 gomas da língua ou seja 13,1 % em 4 mulheres e 8 homens
11 gomas do Maxilar sup°. ou seja 11,3 % em 4 mulheres e 7 homens
3 goma do sulco naso labial ou seja 3,0% em 2 mulheres e 1 homem
2 goma do labio superior ou seja 2,0% em 1 mulher e 1 homem

FARINGE

As 399 manifestações lueticas faringéas assim se repartiam:

2 PROTOSIFILOMAS AMIGDALIANOS ou 0,5% dos casos faringeos ou 25,0% da lues primaria oto-rino-laringologica, sendo 1 em homem e 1 em mulher;

319 casos de SIFILIDES SECUNDARIAS ou 77,9% dos casos faringêos, e 1,5%, sobre o total dos casos observados, sendo 204 em homens e 105 em mulheres;

78 casos de SIFILIDES TERCIARIAS ou 19,5 % dos casos faringêos, sendo 44 em homens e 34 em mulheres e assim distribuidos:

37 gomas do ore-faringe ou seja 19,5 % em 20 homens e 17 mulheres
26 gomas das amígdalas ou seja 33,3 % em 18 homens e 8 mulheres
14 gomas do naso-faringe ou seja 17,9 % em 6 homens e 8 mulheres
1 goma do pilar. ou seja 1,2 % em 1 mulher

NARIZ

As 15 7 manifestações da lues nasal assim se repartiram:

13 casos de SIFILIDES SECUNDARIAS ou 32 % dos casos nasais e 0,6% sobre o total dos casos observados, sendo 8 em homens e 5 em mulheres;

144 casos de SIFILIDES TERCIARIAS ou 91 % dos casos nasais, 73 em homens e 71 em mulheres e assim distribuidos:

86 gomas dos ossos próprios ou seja, 59,7% em 40 homens e 46 mulheres
50 gomas do septo ou seja 34,7% em 30 homens e 20 mulheres
6 gomas do sulco naso- geniano ou seja 4,1% em 4 homens e 5 mulheres
2 gomas das narinas ou seja 1,3% em 1 homem e 1 mulher

LARINGE

Assim se repartiram as 46 manifestações lueticas do laringe:

22 casos de SIFILIDES SECUNDARIAS ou seja 47,8% dos casos de lues laringéa e 1,4 % sobre o total dos casos observados, sendo 17 em homens e 5 em mulheres;

24 casos de SIFILIDES TERCIARIAS ou seja 52,1 % dos casos laringêos, sendo 22 em homens e 2 em mulheres e assim distribuidos:

22 gomas do laringe ou seja 91,6% em 20 homens e 2 mulheres
2 paralisias vocais ou seja 8,4% em 2 homens.

SEIOS DA FACE

As 14 manifestações lueticas dos seios da face apresentavam a seguinte incidencia:

14 casos de SIFILIDES TERCIARIAS ou seja 100% dos casos sinusais, sendo 8 em mulheres e 6 em homens e assim distribuidos:

9 sinusites frontais ou seja 64,3% em 4 homens e 5 mulheres
3 sinusites fronto-maxilares ou seja 21,4% em 1 homem e 2 mulheres
2 osteites maxilares ou seja 14,3% em 1 homem e 1 mulher.

Nestes casos de sinusites especificas havia sempre a concomitancia de comprometimento do nariz por goma, explicando-se, pois, de acordo com os AA., a contaminação sinusal por continuidade.

OUVIDOS

Os 7 casos encontrados com comprometimento auditivo e nos quais se podia incriminar a sifilis apresentavam surdez bilateral, perfazendo sobre o total de casos encontrados a porcentagem de 0,61 % .

Chamamos, pois, a atenção para o fáto de que o exame otoneurologico deve ser sempre feito quando se envia um luetico para o tratamento especializado. Si assim se tivesse efetuado, naturalmente maior seria o numero de casos encontrados com comprometimento dos ouvidos.

Em estudo comparativo com os dados obtidos nesta estatistica, concluimos que:

Em oto-rino-laringologia as lesões lueticas da boca são as mais frequentes, qualquer que seja o seu periodo: primario e secundario, sendo só ultrapassado na lues terciaria pelo nariz. Aquela maior incidencia bucal, que deve merecer maximos cuidados tanto do sifiligrafo como do oto-rino-laringologista, é explicada, para o protosifiloma inicial, por ser a boca porta de entrada de multiplas infecções e tambem da sifilis.

No periodo secundario a incidencia foi a seguinte:





A grande incidencia secundaria na boca e faringe é condicionada pela existencia nessas regiões de terreno mais favoravel á evolução das sifilides e devido ainda a numerosas causas de irritação de suas mucosas, tais como dentes careados, tartaro, alcool, fumo, etc., o que torna essas sifilides mais encontradiças nos homens como se viu nesta estatistica;

Para a boca e faringe é que se deve voltar toda a atenção do medico não só para o estabelecimento preciso do diagnostico - dado os numerosos aspectos de que se revestem as manifestações secundarias algumas das quais com a coloração da mucosa sã - como para efeito de profilaxia sabido como é a alta contagiosidade dessas fórmas secretantes.

No periodo terciario a incidencia foi a seguinte:





A grande incidencia da lues III no nariz é devido à enorme preferencia daquela pelos ossos deste, o que deve merecer por parte dos especialistas atenções cuidadosas, instituindo-se tratamento intenso e continúo, prolongado e sério sempre sob o contróle do sifiligrafo. E com tratamento precoce e frequente de todo luetico que se faz a profilaxia das grandes deformações nasais devidas à lues;

Pelo fato de se encontrarem associados o terciarismo nasal com o sinusal, um decorrente do outro, a sua profilaxia evita profundas e perenes mutilações da face;

Um estudo mais bem feito do acometimento do ouvido pela lues não poude ser efetuado nesta estatistica devido à escassez de dados principalmente oto-neurologicos que pudessem permitir uma classificação das lesões lueticas no amplo campo do ouvido. Isto deve ser ponto de cuidados maiores por parte de ambas as especialidades, não só para se computarem as lesões, como principalmente para maior avaliação das acções da lues em Otologia e sua bem orientada terapeutica.

Os casos desta estatistica representam manifestações seguras oto-rino-laringologicas devidas á sifilis em seus diversos estadios. As porcentagens notavelmente observadas seriam indubitavelmente maiores ainda, si envez de se obter num serviço de sifiligrafia esses mesmos dados fossem recolhidos em serviços oto-rino-laringologicos.

Num posterior trabalho tratar-se-á das caracteristicas clinicas das fórmas morbidas de que é objecto a presente nota. Dada a finalidade eminente estatistico-social do presente Congresso, limitámo-nos à exposição dos dados estatisticos; relevamos, porém, a importancia que a sifilis tem como causa das afecções oto-rino-laringologicas, o cuidado que se requer do especialista para este frequente dado etiologico, a importancia que tem a observação acurada dos casos que se apresentam nos serviços de Medicina geral ou de especialidade não dermo-sifiligrafica para o reconhecimento dos casos de lues e a importancia que disto deriva para os fins de profilaxia, porquanto esta se basêa fundamentalmente no diagnostico dos casos de infecções e na rapida cura das fórmas contagiantes.




(1) Trabalho apresentado na Primeira Conferencia Nacional de Defesa Contra a Sifilis, realizada no Rio de Janeiro, de 22 a 29 de Setembro de 1940.
(2) Medico da Liga de Combate á Sifilis e oto-rino-laringologista da Clinica da Faculdade de Medicina e Policlinica de S. Paulo.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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